Beyond the Pale

“How can love make that world a minefield of forbidden ground?
A map of untouchable skin and silenced desire?”

[And love was there in vain, profound and deep but traced with pain]

E ela se sente tão segura, nos braços de um homem comum,
E ele se sente tão seguro, nos braços de uma mulher comum,
Numa glória silenciosa homem e mulher deslizam seus pecados,
Num quarto a meia luz de um motel de beira de estrada,
Nas madrugadas tão geladas num sexo selvagem corpos se aquecem,
Homem e Mulher estão a se arranhar como gatos nos telhados,
Estão a se arranhar como o amor e o ódio, paixão e lucidez.
Os olhos são cegos demais nessa meia luz ardente e amarela,
No meio do caos, há sussurros incólumes e despidos de vergonha,
Talvez no dia seguinte não haja nenhum nome a ser chamado,
No meio de lençóis tão casuais havia uma paixão sensata e agora?
Agora existe apenas a ressaca e rostos embriagados no travesseiro.
Corpos nus entrelaçados, garrafas vazias, roupas e sapatos jogados no chão,
Na penumbra de um quarto barato, homem e mulher consomem-se no pecado.

[Naked – Touching – Soft – Clutching]

Caminhos inóspitos percorridos com mãos de fogo,
Um encontro exigente levando a morte, belo e fatal
Homem e mulher a se perderem em lençóis brancos,
Olhos que nunca se encontraram antes consomem-se,
Como se fossem velhos amigos há muito tempo atrás,
No meio de sussurros num sistema de anti-abandono, volúpia sem culpa,
Numa certeza condenada a ser destruída em pleno desejo, é apenas mais uma noite,
Homem e mulher, tomando a verdade em forma de sexo, incrédulos como duas crianças,
A brincar num playground de sentimentos como um parque de diversões adulto.

[Hungry for both the purity and sin, life seemed to him merely like a gallery of how to be]

E ela rolou como uma garrafa de vinho barato vazia no chão,
E por um tempo ele a observou dormir silenciosa como o medo,
E não há nada a recolher, apenas roupas amassadas no chão e alguma ressaca moral,
E então ele foi embora sem olhar para trás, abotoando os botões da camisa amassada,
Levando apenas um perfume que talvez sinta minutos mais tarde e por alguns instantes,
Talvez mais tarde ele se lembre do rosto dela e a forma como ela implorava por amor,
Lembranças em um frame de poucos segundos, a passar várias vezes ao dia,
Como uma bebida barata ele quer experimentar de novo esse pecado sem sentido.

[Sweat, skin, a pulse divine to balance this restless mind- it seemed so wonderfully physical]

Esta é a forma deles conversarem… Um gemido é uma doce conversa,
A cada passo mais a fundo o desejo fica febril e constante, não há nada a dizer,
E os beijos molhados escorregam pela noite como um rio, obtendo respostas,
Correndo rápido em direção ao oceano, devoção e beleza em suor divino,
Os gritos de prazer pagam pela pelas incertezas dos tolos amantes,
E ela segue suja com seu orgulho entre as pernas, é uma velha piada,
E então ela volta para as ruas para pedir apenas um pouco mais de amor,
Talvez seu velho homem a encontre nas esquinas mais uma vez…
E então ela apenas espera… Esse seu velho homem… Nessa velha esquina.

[We were always much more human than we wished to be]
[We will always be more human then we wish to be]

Build 25th

“Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado”

I threw 5 clocks down on my bed
The chimes danced out on golden threads
And turned to footprints on my wall
Sequined tears began to fall

Sentada em muros altos em lugares distantes,
Coração na mão, olhos marejados e lábios selados,
Talvez um gole de absinto me faça bem,
E uns dias estarão lá embaixo olhando pra cima
E um milhão de perguntas estarão a cair?
Um milhão de respostas talvez se revelem,
Ou se escondam por trás de véus de vergonha.
Um milhão de pedras atiradas sem razão, mãos vazias…

E um homem cego pode gritar na soleira de uma porta,
Com suas mãos a tatear o vazio e o silêncio de um milhão,
Um milhão de cores mal compreendidas em um fundo preto,
Um dia o homem cego teve olhos tão bonitos num reino,
Neste reino sem sentido onde os cegos gritam em nevoeiros,
Apenas esperando uma velha ampulheta ser virada,
E desejando um novo dia, apenas um novo dia,
Cortando a escuridão, sufocando os sentidos, abrindo os olhos
Talvez um milhão de flores a se abrirem em cores daltônicas.

Queremos ouvir apenas palavras, palavras bonitas,
Numa válvula de escape rasgamos nossas vidas ao meio,
Punindo-nos numa triste cidade, vamos nos despir no escuro,
Que tipos de sentimentos estão a viver, abrindo o céu?
Pintando um quadro com velhas mentiras tão obsoletas,
Neste frio, vamos nos despir no escuro, num quarto vazio
Uma construção abandonada, eu quero ouvir essa leitura labial
Esses lábios tremendo no frio, eu quero ouvi-los,
Mesmo que não tenham sentido nenhum, eles me levam longe…

There’s a Light…

“But there is a light, there is a light, there is a light”

Freedom is useless to someone who’s never been free
And a church full of angels point to where you want to be
High up in your heaven happiness opens its wings
And beats them in time to the rhythm of silence

Está tudo escuro neste domingo outrora ensolarado, as luzes lá fora,
Continuam amarelas,como o Outono, algumas piscam num ritmo inconstante.
Um dia alguém me disse para não andar nessas ruas escuras,
Mas um dia eu desci no ponto errado e então eu caminhei com medo,
E eu apenas seguia até encontrar uma referência, meus pés doíam,
Mas eu vi um supermercado e uma velha igreja, uma velha igreja sem fiéis.

Aos poucos as luzes estão se apagando e estou num quarto escuro,
Os aromas de incensos espanhóis comprados em lojas místicas,
Cheias de esculturas de velhos deuses antigos, mensagens de paz e amor,
Enquanto meu quarto está sempre perfumado,estou caminhando por ruas estreitas,
As luzes estão se apagando nessas ruas perigosas, e eu só quero ficar sozinha,
Enquanto caminho por estas ruas, eu tenho apenas pensamentos solitários.
Pensamentos solitários iluminados por um senso amarelo de uma luz de poste.

Talvez eu chegue cansada em casa, e então apenas eu pegarei um livro da estante,
Um dos meus livros sobre arte, com imagens bonitas de obras antigas,
Uma arte barroca, um jogo de luz-escuridão, é a forma como me sinto agora,
Nessa lamentação mesquinha de dores de amor, este poema é cantiga amorosa,
E isso soa tão ridículo quanto uma obra de arte dadaísta, mas é como Arte,
Quem se importa?Enquanto isso as luzes da fora continuam suaves e amarelas…
Os bares estão lotados, há fila se formando no Hot Dog Central,os carros passam,
Mas as luzes…continuam amarelas, algumas piscam, e eu continuo andando,
E os meus pensamentos são como as orações naquela igreja sem fiéis.

As palavras nunca estarão perdidas quando se há objetivos,
É nesta pura devoção, aqui neste lugar tão obscuro,
Não existe ninguém para me prejudicar,estou sozinha agora.
Estou tão longe, tão longe de ser encontrada, neste lugar,
Neste lugar que estou agora, as sombras estão caindo,
E é pura devoção, pura emoção, que mantém minha chama acesa,
E nestas ruas, onde as luzes amarelas estão piscando,
É como se eu tivesse meu Amor sozinho, na escuridão.
Naquela Igreja velha na esquina, há algo sagrado,
Sozinha na escuridão de luzes amarelas, eu observo a igreja sem fiéis.

Dê-me as estrelas do céu, como um mapa astronômico,
Quando eu vou numa livraria eu entro em transe amoroso,
Com grandes livros de astronomia com mapas das estrelas,
E o tempo, assim como os livros, caneta e papel, é meu velho amigo,
Algum dia, eu vou acordar, e sem seu consentimento, vou continuar,
Eu posso fazer coisas certas de dia, e de noite, coisas erradas
Coisas erradas como andar nessas ruas durante a noite,
Enquanto as luzes piscam numa encruzilhada perto de um bosque,
Eu busco por movimento numa velha avenida, vai ficar tudo bem.

E um dia alguém me disse, para tomar cuidado nessas ruas,
Um dia alguém me disse, “Se cuida”,
Vai ficar tudo bem, é assim que eu meu cuido, alguém se importa?
Faço coisas certas durante o dia, e de noite coisas erradas,
Mas existem, existem luzes amarelas piscando nas ruas,
Eu sei onde se localiza a moradia dos estudantes, bares de happy hour
E a velha igreja na esquina, uma velha igreja com um jardim bonito.
Um lugar sagrado sem fiéis na madrugada, há jovens no bar da esquina.

Está tudo bem agora…está tudo bem…durma bem agora,se você se importa com algo,
Se você se importa minimamente,saiba que as luzes continuam amarelas lá fora,
Algumas piscam, outras se apagam,como numa arte abstrata,nessas ruas antes desconhecidas,
Eu espero poder lembrar do seu sermão, e serei assim teimosa…
Talvez eu perca as chaves de casa…

When I was a child…

“We’ll be together with a roof right over our heads?”

Está tudo tão alto agora – eu pensava quando criança.
Quando eu era criança, eu queria subir no telhado de casa.
Eu queria fazer isso quando meus pais não estivessem em casa,
As emoções são maiores quando fazemos coisas proibidas não é?
E então um dia, eu subi no muro, apoiei meus pés num encosto,
E lá estava eu no telhado de minha velha casa, eu poderia ser a dona,
Eu me sentia como se pudesse ver tudo lá de cima, eu tinha poder,
Eu era a dona daquele lugar, junto ao ninho de pombas e pardais sujos
E assim, tão alto, tão alto, eu me senti livre, tão alto…tão solitária,
Como um gato, no silêncio, sentada em cima de telhas que poderiam se quebrar,
E algumas se quebravam, mas eu nunca, eu nunca tive medo de cair lá de cima.

E eu gostava daquilo, de ficar lá sozinha, apenas observando os detalhes,
Os carros passando, os cachorros fuçando as lixeiras, a vida lá embaixo,
Essa vida lá embaixo, era tão divertida, e eu apenas ria baixinho, lá de cima.
E foi então que percebi, nos meus tenros 9 anos de idade,
Que as pessoas estão sempre com pressa, com suas sacolas de supermercado,
Muitas vezes cabisbaixas, perplexas, presas em preocupações que eu nem imaginava
Nenhuma delas viu a menininha banguela risonha em cima do telhado, ainda bem…
E então todos os dias, pelas manhãs, eu brincava com meus cães no quintal,
E no meio da manhã, eu subia no telhado de minha velha casa, e lá ficava,
Eu tinha um velho relógio infantil no pulso, quando estava na hora de descer,
Eu esquentava a comida que minha mãe deixava, e partia para a escola.

Então às vezes eu me lembro dessa história, todos possuem algum segredo infantil,
E esse segredo nunca ninguém soube, eles ainda acham que as telhas quebradas,
Era apenas um casal de gatos bagunceiros que se divertiam pela madrugada.
Eu gostava daquele lugar, algumas telhas estavam ou eram quebradas, eu poderia trocá-las.
Mas se eu contasse isso, mamãe poderia descobrir meu segredo, e eu não queria,
Porque quando mamãe brigava comigo, eu subia no telhado, e ela me procurava,
Eu escondia minha velha bicicleta amarela, e então ela achava que eu estava às voltas,
Com minha velha bicicleta naquele bairro, me desviando de carros para comprar doces.
Mas eu apenas estava chorando lá do alto, quando minha mãe brigava comigo,
Eu chorava escondido, olhando ao meu redor, a vizinha e seus cães fugindo do banho,
A vida do alto meu Amor, era muito bonita…a vida do alto era tão diferente!

Roadside & Cigarettes

“I was looking for some action
But all I found were cigarettes and alcohol”

She smoked a cigarette, slipped on her leather jacket
And left town singin’ “Life’s so bittersweet.”

Mamãe dizia que a vida é como uma estrada perigosa e bonita,
Quando olho pela janela dessa vida em movimento,
Eu vejo as faixas sendo engolidas para debaixo do carro,
Paisagens estonteantes, um velho bar abandonado cheio de velhos,
Tomando suas aguardentes de péssima qualidade e jogando cartas.
E então?Então eu poderia acender um cigarro, mas eu não fumo,
Mas essa estrada me dá a terrível vontade de acender um cigarro,
E quando eu tragar esse veneno inteiro, essa onda terrível de prazer,
Eu jogarei o resto deste cigarro num acostamento cheio de pedras,
Talvez eu olhe pelo retrovisor e lhe dê um sorriso com olhos molhados,
E então me pedem para parar de tragar esse veneno, mas este vício…
É como se eu tivesse um maldito cigarro nas mãos, eu queimo meus dedos,
Com este vício eu me embriago numa fumaça de incertezas, distância…
Sentimentos não correspondidos, um rosto bonito, apenas uma lembrança.
E então eu penso, o quão doce pode ser a vida, igual àqueles cigarros de cereja.
Ao mesmo tempo em que a vida pode ser cruelmente enjoada, ela é assim, tão agridoce.
Então…Talvez eu pare no acostamento, acenderei um cigarro após o outro,
E quando as cinzas dos cigarros caírem no chão, embriagada nessa fumaça venenosa,
Eu lhe darei um sorriso, jogado no acostamento, um vício jogado no acostamento,
Como um maldito cigarro agridoce…jogo minhas emoções num acostamento cheio de pedras.

E o Corvo disse: “Nunca mais.”

You’re lighting my dreams
Light up my skin, so far away
You’re holding it in
I’m looking around, watching it spin
God my world outside is changing something within

Em um quadro abstrato eu construo o retrato de um Homem com borrões,
Tinta preta, vermelha e azul, porque estas, nesse meu mundinho,
São minhas cores favoritas, e com borrões de cicatrizes, este homem,
Este homem estou a ferir, com arranhões em forma de borrões vermelhos,
Eu desconstruo esse rosto tão bonito, porque somente eu,
Somente eu com essa minha loucura quero enxergar o que tem ali,
E com traços fortes estou deformando, o que é este Homem agora?Quem é você?
Deixe-me entender o que acontece nessa sua abstração, nessa frieza doce,
Nessas tuas poucas horas de sono diárias, você, Homem, está cansado,
Essas tuas olheiras tão profundas combinam com teus olhos escuros,
E tal como um personagem de Edgar Allan Poe, eu o desenho nas sombras,
Talvez então eu coloque um belo corvo nos ombros,com garras afiadas,
[E o corvo disse: “Nunca mais”…”NUNCA MAIS!”]
E talvez eu desenhe as chamas de uma fogueira ligeiramente pagã,
Nesses teus olhos pequenos e incógnitos, mas tão demoníacos, o que você têm?
E em tuas mãos terá um livro lento e triste, porque nessas tuas poucas,
Nessas tuas poucas horas vagas, você, este Homem se põe a ler, e neste meu quadro,
Há um livro lento e triste, em tuas mãos trêmulas de cansaço, um livro com cheiro velho,
Nesse teu mundinho tão fechado, talvez alguém dance conforme teus passos.
Eu coloco nessas tuas mãos, um livro com páginas em branco…

[Um corvo em teus ombros, labaredas nos teus olhos e nas mãos um livro,]
[Páginas em branco, e talvez um velho relógio ao fundo…]
[Estamos envelhecendo, sim, nós mudamos, todos nós…]
[É engraçado…como envelhecemos…]

E o Corvo disse: “Nunca mais.”

It’s our world, but time moves
Time moves on in our world

Waiting

A insensatez e a incerteza dos Tolos.
“O coração firmado numa reflexão inteligente é como o enfeite em parede polida?”

Um sorriso precioso acordando o silêncio entre os homens,
Estamos esperando novas emoções numa manhã de outono,
Com nossos agasalhos carregados de perfume importado,
Nos pontos de ônibus,estações, bares, centro de compras.
O que estamos esperando então?E o que precisamos agora?
Agora nesse tempo estamos orfãos, presos nas nossas incertezas,
Em sonhos distantes numa oficina de arte fazendo um vitral,
Juntando os pedaços de um amor frágil e desencontrado,
Estamos esperando para adormecer porque queremos apenas fugir,
Dessa distância, frieza, inferno, solidão e páginas em branco,
Estamos apenas esperando uma maldita razão para nossas ações.
Ações mesquinhas, conversas desencontradas e frias, cada vez mais frias,
Estamos apenas esperando um pouco mais de calor nesse outono.

E então dizemos que está tudo bem!Está tudo bem meu amigo!
E então batemos palmas para nossas ações idiotas e crenças infantis.
Garotinhas de 15 anos tão insensatas discutem sobre a vida numa roda,
E nós tão adultos olhamos com desprezo e culpamos a direção,
Os adultos julgam saber a direção que pés descalços percorrem, nesse chão,
Cheio de buracos e pedrinhas pontiagudas, enquanto sangramos, num passo manco,
Apenas esperamos, como garotinhas e garotinhos imbecis de 15 anos,
Esperando algumas doses de pílulas para dormir, para nunca mais acordar,
Porque nesse lugar que estamos agora, tudo é triste e queremos apenas sedativos.

E então?Numa galeria de roupas e coisas supérfluas alimentamos o ego,
Eu quero apenas ficar bonita vestindo uma jaqueta vermelha,
E quando o vento bater nos meus cabelos eu quero apenas rir,
Porque estou apenas esperando, e nada mais importa, apenas esperando,
E talvez eu ande com meu guarda-chuva embaixo de marquises,
E então um imbecil qualquer vai rir na minha cara, e então querido?
Eu não me importo de ser a maldita piada o tempo inteiro,
Porque num mundo de tolos, quem dá as cartas é o rei,quem diverte são os Tolos,
O Tolo diverte, chora, mas um dia ele se aposenta, mas ele continua esperando,
Porque um dia ele se torna Tolo novamente, porque ele espera, os tolos que amam
Que as pessoas lembrem dele como aquele que as fizeram rir,é tão divertido não é?
E os carros passam, em poças de risos, e eu me protejo com meu guarda-chuva,
Estou apenas esperando num silêncio, como uma criança orfã com a mão esticada pedindo esmola,
Me protegendo da chuva, embaixo de marquises com o guarda-chuva aberto…

I’ll still be waiting…
Just waiting for a friend
I say it’s alright,
It’s alright my friend…
Just waiting

“Oh baby, when I feel this way…”

A minute seems like a lifetime
Oh baby, when I feel this day

Olha só esses lençóis brancos nessa cama de solteiro,
Impecáveis e imaculados nesse quarto tão vazio,
Eu ando dormindo num velho sofá, com um livro a tiracolo,
Apenas adormeço escutando o tic-tac voar pela noite,
Apenas um minuto para balbuciar algumas palavras sensatas,
Mas eu sinto que esse tempo congelou tudo ao redor,não há mais palavras,
E quando eu me sinto assim, eu apenas dou um sorriso sarcástico,
Porque o que eu tinha para dizer já foi dito, mas eu repito,
Eu repito quando eu me sinto assim…quando eu me sinto assim,
Meus pensamentos não tem chão…sou eu que escorrego nas horas,
Tic-Tac, Tic-tac…derretendo, dançando,escorrendo,bebendo…sozinha.

Eu estou retomando minha sensatez minuto a minuto,
Mas Amor, é muito difícil pra mim, então eu desisto,
Há muitas coisas a serem ditas, e quando eu me sinto assim,
Estou me embriagando com um vinho barato, sentada num velho sofá,
E então eu acordo e ainda estou com meus sapatos e roupas
Os dias escorregam devagar em minhas emoções, é assim que eu me sinto,
E quando eu me sinto dessa forma, não pergunte porquê, apenas aceite
Apenas aceite os meus lençóis sem vincos, esticados de forma militar,
Por quê?Por quê ando dormindo em um velho sofá, e quando eu acordo,
Quando eu acordo quero apenas voltar a dormir novo, lá onde as horas não passam,
Lá onde estou a recolher roupas amassadas pelo chão, duas taças em cima da mesa,
E pela manhã eu lhe observo do sofá com papéis e caneta, está dormindo agora,
Nessa cama com lençóis amassados…eu posso ouvir sua respiração devagar.
Nessa cama, com lençóis pecaminosos há provas de um crime…

Sittin lookin at the clock
Oh time moves so slow
I’ve been watchin for the hands to move
Until I just can’t look no more

Horas e horas de trabalho todos os dias, talvez eu escreva algo,
Ou talvez eu apenas quero ficar com olhos bem abertos,
Porque cada vez que eu sonho, é como se todas as manhãs,
Durassem uma eternidade, e quando chega a noite,
Há um raio de sol que me aquece, porque durante o dia,
Durante o dia eu tento em vão esquecer aquele que me tira o sono,
E então as horas seguem rolando como as pedras de uma montanha errante,
Durante um terremoto noturno eu ando descalço pelo quarto,
Talvez eu me deite novamente, e de olhos bem fechados, eu peço
Peço para não acordar mais, eu peço por lençóis trocados,
Sapatos, roupas, vergonha, medo, ansiedade, sensatez,
Peço para que tudo isso esteja atirado no chão,
E que eu continue escorregando, deslizando,sem abrir os olhos,
Porque toda vez que eu fecho meus olhos embriagados,
Toda vez que eu me sinto deste jeito, vem um Incubus me visitar…

Trains

Estou esperando numa estação de trem, com agasalhos velhos,
Minhas mãos estão tremendo mesmo usando luvas,
Velhas e brancas como o orgulho e a teimosia dos tolos
Elas mal cabem em minhas mãos agora, mas o que importa?
Enquanto a chuva está caindo torrencialmente, eu espero o trem,
Nessa estação vazia e tão gelada, eu vejo pombos imundos,
Todo mundo foi embora, mas os restos ficaram para trás.

Always the summers are slipping away
Find me a way for making it stay

E quando a noite chega, em meus sonhos, eu toco seus lábios incógnitos,
Eles estão gelados agora, eles se movem, porém eu não entendo nada,
E como num filme de Luis Buñuel, tudo se torna sem sentido,
E eu vejo seu corpo se derreter como uma vela em um altar de romaria,
E numa outra cena desse sonho você está em pedaços, cacos de vidro,
E eu continuo ajoelhada, tentando juntar os pedaços e fazendo um vitral.
Talvez eu possa moldar esse vitral no altar de minha memória.

Talvez eu lhe diga adeus seguindo os trilhos, está chovendo agora
Talvez eu olhe para trás, e então posso fingir então, ao me despedir,
Que este meu rosto molhado é apenas as gotas dessa chuva me lavando a alma.
Eu poderia apenas ficar aguardando na estação, mas o verão passou,
O outono chegou e as folhas estão caindo, e eu estou apenas juntando,
E numa disciplina rigorosa eu as coloco dentro de um saco preto.
Mas com o passar dos dias, eu as jogo no chão novamente, e então eu me deito.
E eu adormeço novamente, e quando o trem passa, eu sigo sem rumo,

E numa próxima estação estarei a esperar novamente, um pouco de Amor.
Como faremos quando as próximas estações adormecerem de novo?
O que farão os tolos de novo ao divertir o rei?
E o meu orgulho será ceifado como uma alma sem salvação?
O que estou fazendo agora?Dormindo jogada numa estação com goteiras,
Seguindo sozinha noite com um terço azul nas mãos e uma prece a murmurar.

Estou beijando concepções vazias e sem razões de existir, falsas convicções, doces ilusões?
Está tudo bem agora…Meu Amor, está tudo bem agora, talvez eu acorde de novo.
E como uma cão sarnento e com fome, estou agora seguindo os trilhos,
E virão então outras estações, na primavera eu cuidarei de minhas flores,
E talvez eu volte numa outra estação, e continuarei a esperar olhando os trilhos,
E quando a locomotiva passar, talvez eu entre e sente ao lado, e então de olhos baixos,
Eu vou tirar a flor de meus cabelos e lhe entregarei, e então eu não direi mais nada,

Descerei na próxima estação, e então ficarei a balbuciar por anjos e demônios.
Ou apenas vou ver rostos na janela, e eu vou acenar um adeus, sentindo frio,
Eu toco seus lábios e eles sempre continuarão gelados, até o próximo verão,

[Numa outra estação, eu aguardo os trens carregados de razão]
[Em todas as estações chuvosas, estou buscando falsas emoções]
[E neste trem de ilusões eu me aqueço nas cores de um inverno]
[E seus lábios estão gelados…você move os lábios, mas eu não entendo]
[Os trens barulhentos estão cantando uma canção triste]
[ E no meu sonho de Luis Buñuel, teus olhos ardem como fogo]

[Mas teus lábios estão sempre gelados…e então eu lhe beijo]
[Tocando-lhe a face com minhas luvas que mal me servem. Porquê?]

Está tudo bem…está tudo bem agora,
Os trens estão passando carregados de desejo,
E a chuva está caindo me encharcando de loucura,
E eu estou sonhando como uma criança,
E nesse sonho eu brinco com locomotivas,
Nos trilhos da sala de estar eu vejo as locomotivas apitarem.
E em círculos elas passam apenas por uma única estação…

When I hear the engine pass
I’m kissing you wide
The hissing subsides
I’m in luck

Está tudo bem agora…está tudo bem agora…

When the evening reaches here
You’re tying me up
I’m dying of love
It’s OK

Volte a dormir agora…
Foi apenas um sonho,
E eu sou apenas uma criança, brincando nas estações.

Miss Sarajevo

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Em 1993 no meio de ruídos de bombas e estilhaços,
Gritos de mulheres que acabaram de perder seus maridos,
Estilhaços de emoções, lágrimas e gritos lancinantes,
Enquanto um homem sem as pernas se rasteja pelo chão,
As pessoas se escondiam embaixo do solo coagulado,
Enquanto o chão treme, as mulheres seguravam seus filhos,
E uma canção de ninar triste sussuravam sem esperança,
E as crianças queriam apenas, brincar lá fora…

E as mulheres estavam correndo, com medo e pressa,
Elas passavam a mão nos cabelos com seus dedos magros,
As mãos trêmulas tentavam sugurar um batom velho,
Não existiam mais lojas de cosméticos e roupas bonitas,
Naquele lugar destruído, a beleza era cercada de medo,
O sorriso daquelas mulheres, existia esperança,
Enquanto o chão tremia, elas se equilibravam em velhos sapatos,
Velhas emoções, um sorriso triste e bonito, enquanto isso…
Os bombardeios cantaram uma canção triste lá fora,
Em volta de um leito frio, mulheres servo-croatas rezavam,
Os soldados chutam um homem agonizante no chão,
¹Refugiados estão voltando para o Líbano, com fome e o Alcorão.

Croatas e bósnios brigavam entre si, nesta guerra cínica,
O que nós estávamos pensando então?Eu era criança…
Mas na televisão eu me lembro, dos noticiários,
Havia uma mulher com os lábios trêmulos, rosto molhado,
Ela segurava seu filho morto nos braços, e eu não queria isso,
E eu me lembro que eu perguntei, na minha inocência,
“Mãe, porque ela está chorando?”, e eu estava esperando,
Apenas chegar a hora dos programas infantis,
E mamãe me dizia: “Intolerância, isso se chama guerra”
E então eu baixava meus olhos e continuava brincando,
E no noticiário, ²Sarajevo estava se destruindo, em pedaços.

E em Sarajevo, em 1993 em um porão celebrava-se a Beleza,
No meio daquelas ruínas, elas queriam apenas uma coroa
Na tristeza de uma guerra, elas provam que ainda há Beleza
Não existia glamour, cirurgiões plásticos, estilistas caros.
A beleza era clandestina, pura e surreal, e lá, existiu um tempo,

³[Is there a time for kohl and lipstick]
[Is there a time to walk for cover]

[Is there a time for different colors]
[Is there a time for tying ribbons]

A beleza segurava uma faixa, a beleza foi retratada com medo,
Em câmeras 8mm elas queria apenas pedir ao mundo:
“Não deixe que eles nos matem”…
E a Miss Sarajevo se tornou uma lenda, ela recebeu uma coroa  (4)
E enquanto as bombas estremeciam o chão, ela sorria,
E todos os olhares outrora tristes se viraram pra ela:

(5)[Here she comes, beauty plays the crown, here she comes…]
[Surreal in her crown]

(6)[Dici che il fiume, trova la via al mare]

(7)Em tempos de guerra o rio Miljacka continuou correndo,
Ele ficou poluído de limpeza étnica, a sujeira dos homens,

(8)[E come il fiume giungerai a me,Oltre i confini]

As mulheres choraram a morte de seus filhos e entes queridos,
E no céu sem Deus nenhum, elas poderão tê-los de volta?

(9)[Dici che come fiume, come fiume, L’amore giunger…L’amore]

E o Amor sempre estará presente, independente das guerras,
Enquanto existir o Amor, eu me pergunto…continuaremos vivos?

(10)[E non so pi pregare, e nell’amore non so pi sperare]

Estamos orando todos os dias, pedindo aos céus um pouco de Amor,

Porque nós acreditamos nele não é?Na sua beleza e na sua Força.

(11)[E quell’amore non so pi aspettare(…)Oltre i confini e le terre assetate]

E eu estou esperando o Amor…ele virá até mim?
Virá correndo majestoso como um rio e quente como um deserto?

Ou este meu Amor é apenas um rio numa miragem deste deserto?

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Glossário:

1 – Muitos servo-croatas de religião e descendência muçulmana se refugiaram no Líbano durante a guerra.

2 – Sarajevo é a capital da Bósnia-Herszegovina, antigamente chamada de  República Socialista de Bosnia y Herzegovina. De uma forma geral, a guerra civil ocorria em toda a região dos Balcãs, mas os noticiários da época se concentravam nesta região em específico.

3 – Neste ano, como forma de protesto, foi realizado um concurso de beleza, chamado “Miss Sarajevo”. A vencedora foi uma garota de 17 anos, chamada Inela Nógic, estudante, nascida em Sarajevo e muçulmana. Na época era estudante, e por causa do documentário realizado por Bill Carter, ela se transformou no principal símbolo da luta contra a guerra étnica em toda a antiga República Federativa da Ioguslávia, que foi desmanchada após os conflitos.

4 – “Existe um tempo para usar batom e maquiagem”,

“Existe um tempo para correr para os abrigos” – o concurso foi realizado em um porão, que servia de abrigo durante os bombardeios.

“Existe um tempo para cores diferentes”

“Existe um tempo para usar fitas de amarrar cabelo”

5 –

“Lá vem ela
A mais bela recebendo a coroa
Lá vem ela
Surreal em sua coroa”
6 – “Você diz que o rio, encontra seu caminho para o mar”
7-  O Rio Miljacka é o rio que corta a cidade de Sarajevo.
8 – “E assim como o rio, você virá para mim”
9 – “Você diz que, como o rio, semelhante ao rio, o amor virá”
10 – “”E eu não consigo mais rezar de forma alguma, e eu não consigo mais acreditar no amor de forma alguma”
11 – “E eu não consigo mais esperar pelo amor de forma alguma…Além das fronteiras e dos desertos”