Capítulo I: Pradarias
Russel está cantando nas pradarias, quando o inverno russo se aproxima, ele faz seu trompete chorar, enquanto sua mãe chora pela matrioska quebrada. A mãe amada de Russel, espatifada no chão em convulsão.
Ele está indo para Budapeste, mas também gostaria de ir para Bellerophon, mas a Grécia está muito longe, são milhas e milhas de distância dos gelados ventos do leste europeu, ventos que o fazem se encharcar na melancolia transparente da vodka. Vãs memórias inundam seu peito, sua mãe entregando-lhe uma rosa, já com o estômago cheio de remédios escolhidos aleatoriamente, engolido com uma garrafa de vodka, cujo resto deslizou até embaixo da mesa, onde via os pés e pernas de sua amável mãe em um terremoto insano. Antes de dizer “Adeus”, sua amada mãe disse: “Apenas diga ao teu pai, que eu o amei muito”.
Sua irmã, Elissa, dormia, e quando Russel tocava seu trompete, Elissa chorava, berrava, e a mãe de Russel a acalmava com seu retorno doce de mãe. E Russel se cansava, pegava seu trompete e se colocava a tocar nas pradarias tristes. Visitava seu pai nas minas, homem forte, porém pré-envelhecido. A sujeira do carvão dava-lhe traços rudes, primitivos.
No frio daquele leste europeu, todas as matrioskas eram incompletas, Russel andava em círculos, nas pradarias contínuas do seu ego e força de viver, mesmo sabendo que nada cresceria ali, nas pradarias inférteis pelo frio. Nas pradarias que ele tanto amava, não existe nada, apenas sua mãe cansada num túmulo triste com apenas uma cruz de madeira, e lobos uivando na noite. Até mesmo, quando viva, a mãe de Russel estava sempre cansada, mesmo nas passeatas onde Russel tocava seu trompete e as baionetas furavam sorrisos descontentes. Matrioskas caiam no chão durante a fúria perante a morte da matriarca, que dizia que se a Felicidade tivesse uma cor, ela seria vermelha. E ela o abraçava, antes de dormir, e quando seu pai chegava, ela chupava os dedos de carvão dele. Pra ela, sua amada mãe, aquilo era um momento de carinho, não importava a sujeira interna e externa de seu pai, que transava com as operárias sujas e suadas nas galerias escuras.
Dentro das casas as matrioskas quebram a mãe de Russel o amava, numa tristeza incontida das baionetas que cantavam lá fora. Por isso, Russel sai correndo em direção às pradarias. Queria ele ir para Budapeste, pois dizem que lá, todas as emoções são ditosas e incontidas. Levaria seu trompete, e o estalar de seus dedos magros e sofridos, percorrem a pradaria do Leste Europeu. Russel amava aquele lugar, assim como o vento amava a face do seu pai, enegrecido pelo carvão, e os cabelos longos e loiros de sua mãe.
Capítulo II: Matrioska e o delírio das pradarias.
A mãe de Russel queria passear nas pradarias geladas. Ela mal conseguia ficar de pé, mas em seu sonho de mulher prestes a morrer, ela se via com os cabelos loiros de saudade balançando no vento gelado. E ela, em seus sonhos ainda lúcidos, balbuciava ao filho que o pai estava chegando enegrecido pelo carvão, surgindo no horizonte, como um soldado voltando da guerra, carregando uma baioneta com a ponta cheia de sangue seco. Era a glória, manchada, tingida de sangue oxidado, coagulado, a beleza da violência fazendo sua mãe sentir desejo reprimido, a crueldade estampada em desejo, imaginava seu velho homem tingindo-se com o sangue do inimigo, via as veias e tendões dos braços, transcenderem em trilhas do desejo, enquanto carregava os corpos para serem jogados em valas fétidas. Depois, sonhava com os olhos dele, azuis quase cinzas de dilúvio… Via as chamas que queimavam os cadáveres dançando nos olhos quase cristalinos, e o fogo e esforço fazendo-o suar, mas ele era apenas um trabalhador das minas de carvão, e ela sabia que estava morrendo, nas pradarias do Leste Europeu. “Russel meu filho, apague a luz, e diga ao teu pai que eu o amo.” Russel apagou a luz, secou as lágrimas, pegou nas mãos de sua irmã, e foram brincar nas pradarias tristes. A matrioska continua incompleta, a saudade fragmentada em mil pedaços.
Capítulo III: O sorriso de Elissa.
Elissa quer correr pelos prados, ela queria sorrir também, mas é uma criança com um sorriso fraturado pelas passeatas onde as famílias carregam seus entes mortos pela guerra, furados por baionetas que cantam uma canção triste de que a ideologia deve ser engolida às forças, com todo o sangue amargo. “Papai vai chegar Russel!”, gritava Elissa correndo em círculos, o olhar triste da mãe perdido no horizonte, enquanto ela penteava os cabelos na janela. Russel tocando seu trompete, intercalando com goles de vodka. Se ele soubesse escrever, seria um poeta bêbado. A mãe gritava da janela que precisaria de panos úmidos, ela sempre falava isso, pois queria limpar o rosto manchado de carvão quando o pai de Russel chegasse, mas ele nunca chegou. Sua mãe sempre dizia que seu pai tinha uma beleza imunda, e a única coisa limpa nele eram os olhos azuis de dilúvio, de uma beleza cristalina quase cinzenta, contraposta a sua beleza enegrecida. Os trabalhos nas minas de carvão deixavam seu pai imundo… Era a fuligem do carvão que o fazia bater na mãe. Quando ele retornava ao trabalho, a mãe sempre gritava que o amava na soleira da porta. Via seu velho homem indo embora, depois dele dar-lhe um beijo e dizer que também a amava. Sempre pedia perdão pelos braços roxos dela, a culpa era sempre da vodka.
“Russel, um dia terá a pele tão áspera quanto a de teu pai, será um herói nas terras sofridas e gélidas, o carvão não nos mata, apenas nos deixa imundos…”
Russel sabia da tosse negra do pai, Elissa quando viu seu pai manchar um velho lenço de escarro negro, por mais que fosse uma criança, sabia que algo muito errado existia ali, mas sua mãe queria o tempo todo se enganar que aquilo era normal. Por isso Russel estava sempre com Elissa, brincando de correr um atrás do outro na pradaria deserta, próximo ao velho casebre de madeira que viviam. Quando Elissa estava com ele, ela sempre o contemplava com um riso de criança, e quando ela chora de saudades do pai, ela corre para os braços roxos da mãe. Russel pega sua garrafa de vodka e caminha sem rumo com seu trompete pelas pradarias gélidas. Notas tristes ecoam, um falcão da pradaria apenas o observa ao longe.
Capítulo IV: Canção Cigana.
A mãe de Russel canta versos ciganos, enquanto Russel brinca com Elissa erguendo ela para o alto. A sobriedade abandonada depois de uma garrafa de vodka o faz querer voar e fazerem os outros voarem. Gostaria de voar por cima dos campos de trigo, e quando se aproximasse dos campos de guerra, carregaria a alma dos soldados mortos junto a Deus. Queria Russel ser um mensageiro, um mensageiro de almas, pegar as almas que rondam próximas as valas lotadas de corpos, já indistintos um dos outros. Existiam ali talvez, civis, soldados… Crianças. Um dia, andando pelas pradarias, encontrou uma família abrindo uma cova para enterrar a filha. A mãe com o lenço envolto na cabeça, com a face molhada pelas lágrimas causadas pelo terrível Ceifeiro. O pai abria a cova, enquanto o irmão mais velho segurava um corpinho frágil envolto por um velho pano branco. Russel viu que uma mecha de cabelo loiro escapava do lençol. Poderia ser sua irmãzinha ali, mas quem cavaria a cova? Ele… Seu pai não existia mais, e quando aparecia era apenas um vulto etílico que estuprava a mãe. Mas sabia ele, que ela gostava daquele “jogo”, preferia pensar que aquilo era um jogo, uma brincadeira de mal gosto de adultos. Gostaria que a guerra estivesse por perto, pois as canções dos tiros das baionetas ao longe, abafariam os gritos hipócritas da mãe.
Olhou para mãe, ela ainda cantava silenciosamente versos ciganos, e eles corriam como uma lebre. Russel sabia, que toda vez que a mãe entoava aquela canção, era porque a saudade queria gritar. E ela gritava, em forma de canção cigana.
Capítulo V: Saudade e Vodka
O pai voltando das minas, Russel jamais espera isso. Ele foi uma alma que partiu, um pobre homem soterrado pelas convicções sujas e negras, ou uma explosão do gás metano, explosão de arrependimento talvez, por ter abandonado os filhos com uma mulher miserável e já doente. Ele se foi, deu um sorriso de canto de boca e um beijo longo em Elissa e Russel. Olhou calmamente para a mãe de Russel, que trançava os cabelos em frente ao espelho, longos cabelos loiros, como os trigais avulsos das pradarias tristes do leste europeu, beijou-a como se fosse a última vez, e num afago nos cabelos, disse apenas que a amava.
O pai de Russel tinha lindos olhos azuis e um silêncio que matava, e por vezes, quando voltava bêbado das minas, mãos que estrangulavam. Mas todas as manhãs, quando Russel acordava e olhava em direção à cama dos pais, via os dois abraçados como se nada tivesse acontecido. E os lençóis ao chão, com manchas negras de carvão. Esta foi última vez que viu o pai junto à mãe, e crê que apesar de tudo, sentia saudades de seu velho, dos momentos em que eles caminhavam pelas estepes a caçar coelhos, tiros de baioneta embalados a goles de vodka. “Cuide delas”, foram últimas palavras de seu pai, e assim, ele sumiu, caminhando nas pradarias, com os olhos azuis baixos de tormenta.
Capítulo VI: O lobo das estepes.
Russel em seu pesadelo corre, e sua mãe afunda na lama, gritando para ele pegar os casacos, as botas e não esquecer-se de esquentar-se junto à fogueira, pois as pradarias e estepes são frias e perigosas. Ele corre, e em sua mente a voz da mãe ecoa como um grito nas montanhas solitárias, “Corra meu filhinho, o inverno chegou e ele dói, suas narinas se abrem, no âmago da sua respiração de fugitivo, e eu sei que você sente o lobo te espreitando na escuridão…”. E ele realmente sabe, tal como sua mãe.
Sabe o quanto o uivo do lobo curioso tem um cheiro agradável, que no fechar dos olhos ao dormir, o Lobo das Estepes o persegue, assim como as digitais dos sujos dedos de carvão de seu velho e desaparecido pai, estampadas no último copo de vodka que ele deixou em cima da mesa antes de partir pra sempre. A sombra do Lobo que o atormenta, responsável pelo ato dele encolher o corpo enquanto dorme, mas deixa em seu rosto um sorriso triste, desesperado, mas com tom de sadismo consumado.
Em seu pesadelo ele vai para os prados e estepes com sua baioneta para caçar coelhos, ele sempre encontra o tal do lobo, mas ele sabe que nunca conseguirá matá-lo. Quando o uivo aproxima-se ele fecha os olhos e tampa os ouvidos, porque a Beleza do Lobo certamente irá cegá-lo e o uivo enlouquecedor, o deixará surdo. A mãe dele, suja de lama, balbucia, “Reze meu filho… Reze”, mas enquanto o lobo rasteja sobre o corpo dele, arranhando-lhe as costas, ele não sente dor. Na cena onírica do lobo em cima dele o lambendo e encarando, um medo com desejo sutil, e sabe ele, que por mais que ele feche os olhos enquanto o desejo permeia em seu sexo, não poderá deixar-se cair em tentação, mas sempre se esquece de rezar. A mordida do lobo na linha tênue do pescoço já se tornou um vício, uma ferida que ele tenta cicatrizar jogando vodka, ferida que arde como paixão dançando nas chamas das fogueiras dos soldados russos em campanha. Será ele hipócrita, ao sentir dor e prazer? Não sabe ele dizer… Ao acordar, assustado, manda três copos de vodka goela abaixo, enquanto as matrioskas da pequena mesa o encaram, cada uma com um julgamento de tamanho diferente, mas não importa, sabe e esconde por baixo de sua matriz de arrependimento, que quando o lobo das estepes se aproxima, as estrelas surgem no seu céu particular, e ele corre… Do uivo que ensurdece e beleza que mata. Na sua baioneta nunca tem bala de prata… E jamais terá…
Capítulo VII: Na beira do rio Neva.
Russel estava tocando uma canção na beira do Rio Neva. Estava ele e Elissa no enterro da mãe. Uma cruz de madeira no chão, algumas flores. Fizeram uma viagem na velha carroça do tio Vlad. Russel sabia que sua mãe pediria uma canção triste e também sabia que queria ser enterrada com sua matrioska. Ela não admitia, mas sua mãe era refém da tristeza, e de alguma forma ela aprendeu a lidar com aquilo, inclusive amá-la. Entoou uma canção cigana, a favorita de sua mãe, e enquanto cantava, veio a lembrança de sua mãe entoando canções ciganas apoiada na janela de sua velha e deteriorada morada na pradaria. Ela sempre começava a cantar com os olhos perdidos no horizonte, e terminava sempre com os olhos fechados e o rosto molhado em lágrimas. Depois que cantava, ela enchia a cara de vodka, e ficava a amaldiçoar os olhos claros e rosto enegrecido de carvão do marido. Russel segurava as mãos magras e trêmulas da mãe. Sua mãe dizia que a única coisa que tinha era um gosto amargo na boca. De fato tinha, era sangue, a doença já estava instalada e a Morte estava chegando a galope. Quando ela deu o último suspiro na cama, Russel sentiu um vento gelado, e não era das pradarias. Foi seu primeiro encontro frente à face fria e invisível daquela que ninguém consegue fugir.
Dias antes, como se ela soubesse do que a esperava, chamou Russel para a beira da cama. Ele estava com um prato de sopa rala de batatas, única coisa que tinha naquela pobre casa, e dava para a mãe comer, as mãos dela não conseguiam mais segurar uma colher. “Russel meu filho, estou encomendada aos anjos. Cuide bem da sua irmã, não me culpe, daqui a pouco seu pai chega, segure as mãos dele sujas de carvão, e vá passear com ele nos Montes Urais. As colinas de Valdai também são bonitas, nos casamos lá. Meu sonho era pegar um trem e partir para São Petersburgo, ver as passeatas de Rjev…”.
Russel deu um sorriso, na última pá de terra da beira do Neva que cobriu o corpo da mãe envolto em um velho lençol de manchas negras que ela se recusava a lavar. De alguma forma, havia ali um pedaço de seu pai, mesmo que seja apenas pó negro de hulha. Lembrou-se do semblante triste da matrioska que ficava ao lado da cama. Um dia, seu pai o levou para as margens do rio Volga. Passaram a noite lá, encobertos pelo frio, aquecidos pela vodka. A baioneta do pai descansava ao seu lado, e dois coelhos assavam na fogueira. Foi ali naquele local, que seu pai disse uma frase ao qual ele nunca esqueceu:
Quando não há mais para onde correr, siga apenas a direção do rio…
Após os últimos ritos do enterro, Russel segurou as mãos da pequena Elissa. Foram passear na beira do rio Neva. Provavelmente Elissa vai morar com o tio Vlad, e então Russel vai desaparecer com seu trompete, cujo som será levado sem rumo pelo vento gelado do leste europeu.
Capítulo VIII: до свидания (Adeus)
Elissa ficou na guarda de seu tio Vlad. Partiram para Praga, onde poderá ter uma vida melhor. Russel resolveu ficar, renunciou todo conforto, quis seguir suas raízes, tão fincadas nas pradarias frias. Carregaria sempre consigo a velha baioneta do pai, será um nômade, trocando seu trompete noite adentro. Sonhará com um lobo salivante mordendo o pescoço, acordará e tomará o primeiro gole de vodka, que descerá inquietante garganta adentro. Talvez aceite algum trabalho temporário nas minas de carvão que encontrar pelo caminho. Conhecerá o amor de várias mulheres, algumas delas dar-lhe-ão um abrigo temporário. Depois ele irá embora, sem se despedir, deixando uma mancha de carvão nos pobres lençóis das matrioskas, que se abriram ao seu toque de homem em arquejos de desejo, que as encheu de calor nas madrugadas frias. Amará cada uma delas, mas as quebrará em milhares de pedaços. Um dia ele vai se apaixonar, mas ele crê que terá que renunciar a dor. A mãe sofreu demais, passando anos e anos esperando seu pai surgir no horizonte. Quando aparecia, deixava nela marcas de embriaguez, e um amor que nem anjos e demônios são capazes de compreender. Ela amava o marido e sonhava com sua vinda triunfante, como um soldado que venceu a guerra. O tempo passou, sua mãe morreu e foi enterrada na beira do rio Neva envolta de lençóis usados e sujos de hulha.
Viu Elissa partindo numa velha carroça com uma mala, partiria depois em um monstro de ferro que a levaria para Praga. Nunca se esquecerá dela, olhando para trás, com os olhos cinzentos em lágrimas e parte do seu cabelo loiro saindo do lenço, que tremulava ao vento. Era mais um dia frio nas pradarias, mas desta vez era um dia bem mais triste, carregado de adeus, e uma saudade eterna, que gritaria para sempre sua dor por todo Leste Europeu.
Russel seguirá então os conselhos do pai, pois não há mais nada que ele possa fazer. Apenas seguir em direção ao rio, e tudo o que ele mais queria, era poder ver o tempo cumprir seu dever, o fogo em linha horizontal, sem rumo, queimando lembranças tristes. Num saco velho, colocou suas coisas, ele nunca teve muito, a pobreza nunca o permitiu nada mais que roupas deterioradas, uma caneca velha, o trompete e a baioneta do pai… Um velho caderno preto com partituras. Bastava cortar algumas lenhas para comprar garrafas de vodka. Tinha os velhos cobertores e lençóis gastos da mãe. Apenas isso bastava. Colocou fogo no velho casebre de madeira. Todo o cheiro ocre de lembranças despedaçadas e transformadas em cinzas. Foi embora, sem olhar para trás. Uma nuvem negra subia para o céu, avisando a todos que ali não tinha mais nada a se fazer, nada a se guardar, todas as matrioskas eram cacos, e não havia tempo para vitrais. A velha porcelana russa perdeu todo o seu valor.
E a voz de seu pai, e a lembrança dos olhos azuis, envolto de rugas de expressão e um cansaço tão triste que chegava a ser belo, foram com ele, na sua busca por acalento onde as baionetas cantavam canções de sorrisos e amores estilhaçados:
“Dê-me sua mão, vamos cantar na beira do Volga, vou te contar um segredo meu filho:
Quando não há mais para onde correr, siga apenas a direção do rio…”
Ele percorreu milhas e milhas, até chegar à beira do rio Volga. E Russel desapareceu, sem deixar rastros, nem folhas de seu velho caderno preto, restou apenas esperança, e a lembrança daqueles que ouviram seu trompete de notas incólumes às tragédias. Ficou a lembrança de seu calor nos dias das mulheres que ele amou. E todas elas, tal como sua mãe, aguardam até hoje, ele surgir no horizonte. Russel desapareceu, mas sua marca permaneceu, e os ventos gelados do Leste Europeu nunca mais foram os mesmos.
“ …entregava-se àquele alheamento profundo, uma espécie de torpor, continuando o caminho sem dar a mínima importância às coisas circunstantes, sem querer reparar no que o cercava. De quando em vez, entretanto, resmungava palavras indistintas, em virtude do hábito de monologar, de que, ainda havia pouco, se confessava atacado. Percebia que, às vezes, as ideias se lhe embaralhavam no cérebro e adquiria consciência de sua extrema fraqueza”. (Fiodor Dostoiesvski)
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