Estava sonhando. Padeceu em castelos de cristal, construídos por Deuses pagãos do Olimpo. Acendeu velas ao entardecer, ajoelhou-se perante seus medos, lapidados em pérolas de ostras do inferno de Hades. Apaixonou-se pelo cão de duas cabeças, tinha o olhar desconcertante de um brilho que nem todas as plêiades juntas são capazes de seduzir. Ela era como, no céu de Aqueronte, a mulher dos olhos de caleidoscópio.
Acordou encharcada de suor. Abriu as janelas e deixou-se levar pela friagem da madrugada. Seu velho e bom homem dormia ao seu lado como um anjo intocável. Deixou-o lá, com seus sonhos de menino. Pegou as chaves de casa, saiu para caminhar nas calçadas de pedras soltas do bairro do subúrbio. Em volta dos postes, as sombras voavam. Pontos negros de mariposas, rodopiando embriagadas em volta das luzes amareladas que tanto seduziram. Era o céu de Vênus, criado na natureza da imaginação dos que criaram a mitologia divina, de Deuses, raios e trovões. Similitudes, cantando, dançando. A pele dourava-se de Vênus, o coração batia cores, tingidos de paixão nunca atingida, incólume contra o tempo, que não tem hora para chegar. Não existem idas e nem vindas, apenas a imortalidade, bruxas voando em feitiços de bom menino. Atirou-se, de corpo e alma nas estrelas que iluminavam as pedras brancas no meio do caminho.