Andei por aí sem olhar para atravessar a rua. Senti pressa ao atravessar fora da faixa. Onde os carros viravam eu não tinha visão nenhuma, mas eu tinha muita pressa para chegar ao outro lado, e eu sei que ninguém me daria a mão para atravessar a avenida. Não sou mais uma garotinha que dá as mãos para um adulto, mas sou uma criança que anda por aí chutando o que restou das folhas do outono passado. De vez em quando sinto medo do escuro, e se eu pudesse, como nos meus sonhos de criança, pegar um pincel e jogar 29 cores nessa minha escuridão, talvez eu veria o amanhecer com mais otimismo, pois na madrugada passada eu brinquei de pintar um quadro com as cores do meu medo. Peguei cada um deles e joguei numa vela tela em branco que encontrei no porão de minhas lembranças. Um rosto tão antigo, uma fisionomia de uma velha lembrança parecendo numa porta em meu momento de desassossego. Enquanto tomava meus goles de razão, a fisionomia de uma velha lembrança que deixei pra trás, com a convicção de ter superado, um velho amor do passado a entrar pela porta de meu mundinho até então quietinho nos meus dias sem graça tentando ser racional e não me entregar à tolices.
E eu tentei negar toda a mistura de minhas cores, jogando para o alto as milhas que eu caminhei todo esse tempo, procurando por cores desatentas ao meu olhar tão cansado, mas sempre por onde eu passei, eu pisei em tons escuros, onde as cores não se misturam. Eu me recordo das aulas de artes e a teoria da mistura das cores. E eu pintava quadros bonitos, eu desenhava bem, eu poderia desenhar todo o perfil do teu rosto imberbe, mas estavas tão bonito, mesmo assim, estava bonito, e eu lá, toda descolorida, tingida de uma timidez e uma vontade de sair correndo. A cada gole de vinho e tentava firmar minha felicidade repentina naquele misto de surpresa, diante de um dia tão incomum, diante de todas as surpresas que estão batendo na minha porta, me chamando para entrar, mas diante de um lapso de razão, estou sendo educada e apenas espreitando na soleira da porta. De vez em quando eu olho de canto de olhos, mas tento manter minha frieza, finjo não estar nem aí para o que aconteceu ou deixou de acontecer. Ando numa fase extremamente egoísta, evito toda e qualquer demonstração de amor, pulo a parte de cenas românticas de livros, partindo para livros de história, sociologia, filosofia. Sem as baboseiras de amor. Amor é para os fracos, e eu não quero viver de ilusões e de expectativas. A vida poderia ser um poesia, mas está mais para uma prosa sem pé nem cabeça. Eu queria, naquela fatídica quinta-feira não pensar em nenhuma espécie de poesia. Queria apenas sentar, encher a cara e ir pra casa dormir, semi-embriagada, pois afinal, naquele dia, eu teria de ir embora de ônibus, e estar sóbria o suficiente para saber onde era o ponto que eu tinha de descer. Não queria lembrança nenhuma, mas eu nunca esqueço uma fisionomia. Como eu poderia simplesmente ignorar, e ficar apenas observando, tal como um gato em cima do muro, poderia passar por despercebida, eu, minha taça de vinho e meu prato de frios, mas depois de tal surpresa, tal como uma imagem num telescópio em céu nublado, eu não pude conter meu misto de satisfação e surpresa. Talvez se eu tivesse ignorado, eu poderia ter tido sonhos mais leves. Se eu fosse uma pessoa religiosa, estaria me confessando ao padre por ter sonhos impúdicos. Ainda se fosse somente sonhos impúdicos regados a 100% de agave (ahhh, a tequila…) e a maldita ressaca de sexta-feira, impermeada de uma noite mal dormida, eu ainda estaria bem, destinada a apenas alguns dias no inferno, tal como as pinturas de Gustave Doré para a “Divina Comédia”. Eu poderia estar bem até, acho as partes do paraíso um pé no saco. Talvez eu goste de fazer da minha própria vida um inferno/purgatório dantesco, e quando eu achei que encontrei minha paz, dentro do meu inferno pessoal, a Beleza chegou subitamente num dia de total despreparo, um dia enlouquecido, em que eu peguei a primeira roupa do armário, passei o primeiro perfume que vi pela frente, um dia sem pretensões, sem esperas, apenas mais um dia comum em que eu não estava nem aí pra merda alguma. Um dia em que eu me senti um retrato do diabo de feia, com minha estima lá embaixo, literalmente, me sentia um pobre diabo. Mas o pobre diabo foi embora pra casa com um sorriso no rosto, e uma velha fisionomia na memória. Uma fisionomia incrivelmente mais bonita pessoalmente. Imberbe, mas bonita.
Ao final da noite, o garçom que tinha pedido para entregar as duas doses de Tequila 1800 e o bilhete escrito com minha letra horrorosa e tremida veio conversar comigo. Me disse: “Eu achei que ele iria devolver as doses, mas poxa, “mó” bonita a atitude dele! Tirei meu chapéu”. Eu respondi dizendo que era algo que eu não esperava, e que me deixou feliz e quase embriagada, seja poeticamente e literalmente. A beleza me deixa embriagada, por isso fujo dela. “Você gosta dele não é? Deu pra perceber enquanto conversava…”, disse o garçom enquanto tirava minha taça de água. Eu apenas dei uma risada, irônica, aquelas com o olhar pra baixo e um sorriso, e terminei de matar meu segundo café expresso para terminar a noite. Eu poderia ter entregue o bilhete, as doses, e simplesmente ter ido embora logo em seguida. Mas enfim, pedi uma terceira taça de vinho seco, peguei mais queijos e pensei em tolices, tolices fora do meu escopo de razão planejado para minha nova vida. Uma, duas, três, quatro taças. Para finalizar, a ultima taça foi de um vinho doce, tão doce e bem-vinda quanto aquela fisionomia que eu nunca esqueço. Fisionomia mais bonita pessoalmente, do que eu imaginava. Já não é mais aquele garotinho que eu me lembro aos treze anos…
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Eu poderia ter escrito sobre a minha surpresa dessa inesquecível quinta-feira, dia 29 de agosto na madrugada do dia 30, mas isso implicava em escrever com a mistura quase erótica de vinho e tequila. Sendo assim, à princípio, eu pensei, por motivos “éticos?”,”morais?” não iria escrever porra nenhuma sobre o que aconteceu, e fingiria que o tal encontro mais “Eu não acredito o que meus olhinhos de ressaca estão vendo entrar pela porra daquela porta!”(foi mais ou menos isso o que eu pensei, acrescentado de “Só podem estar zuando com a minha cara, era tudo o que eu precisava!”). Mas eu sou sim, um pobre diabo, e sendo pobre diabo, não perco minhas manias malditas. Mas enfim, escrevi isso sóbria, mas eu estou ocultando 60% das coisas que eu pensei. E não tocarei mais no assunto. Preciso de uns dias para digerir meus sentimentos e escondê-los novamente dentro da minha caixa de “Causas perdidas”. Preciso de mais uns seis meses para fingir novamente que eu não me importo mais.
As ondas, quebradas à beira mar…
Molhando meus cabelos, meu corpo…
Sinto então o salgado mar, que ironia!
Escorrendo nos lábios, já sentiu isso antes?
É desconcertante, a sensação,
De um milhão de fagulhas salgadas,
Meu suor, minha dor, meu paladar,
Tudo tão salgado…Áspero…
Feito o mar de todos os Deuses,
Feito a areia que escorre entre os dedos…
O sol, a iluminar, o meu sorriso, incrédulo?
Talvez…
Os olhos, os cabelos, o rosto…Quentes,
Com os raios de sol que um dia nos matará,
O fim chega pra todos nós… e o meu Amor?
Acabará um dia, ou o levarei comigo,
Para uma eternidade, um lugar que ninguém,
Nunca voltou pra dizer que existe…Sou cética?
Talvez…Mas meu Amor, olhe o céu lá fora…
Cores alaranjadas, raios de luz, estrelas brilhantes,
Por um instante, um único instante, porém tão Eterno…
Eu olho para os céus, inquieta…e me calo,
Me calo na calada da noite, nos raios de sol, estrelas…
Mantenho-me calada…O silêncio me move.
All flowers in time bend towards the sun,
I know you say that there’s no-one for you
But here is one, here is one… here is one
Um sorriso estarrecedor do Amor velho, surdo e mudo,
Meus olhos te veêm como uma escuridão mal-compreendida,
Sua natureza cheia de dualidades, na sua escuridão,
Eu posso ver suas cores embora não acredite nisso,
Nesta noite, pode acreditar, meu sorriso tão tímido,
Meu sorriso seria mais completo se estivesse por perto,
Mas você não acredita nisso, sou apenas uma mulher,
Querido, sou apenas uma simples mulher nesta noite,
Voltei para casa nesta noite, pensando em ti,
Com um sorriso triste, eu olhei pela janela,
Então eu pude relembrar sua imagem, atravessando a rua,
No mesmo lugar que eu lhe vi dias atrás, dentro de um ônibus,
E eu me lembro, que naquele momento, tristemente,
O tempo, a razão, tudo parou naquele momento, sem sentido
E então eu não pude fazer nada além de sorrir,
A vida naquele momento, estava em movimento…
Eu acredito velho Amor, eu existo, uma simples mulher,
Talvez seu ódio ou medo me afaste, eu sinto o Tempo,
Me enamorar com os olhos, somente ele, me vê agora,
Nesta manhã sonhei contigo, mas o que lhe importa isso?
A única coisa que eu tenho de ti, são meus sonhos,
E muitas vezes eu não consigo mais recordar que vi teu rosto,
A única coisa que eu vejo são traços difusos, como uma pintura,
Uma pintura triste, com vários borrões, mas eu sinto,
Seu cheiro numa forma tão realista que acordo assustada,
E por instantes eu gostaria de nunca mais acordar.
Mas meu amigo, o que importa?Você não se importa?Sinceramente, eu não sei…
Eu me curvei aos seus pés, eu ainda permaneço de joelhos e eu continuo te olhando,
Mas meus joelhos doem tanto, se ao menos eu conseguisse, me levantar,
Eu poderia lhe dar um beijo imaginário de Adeus, quando eu me levantasse,
Eu olharia dentro de teus olhos, poderia acariciar teu rosto pela primeira e última vez,
E poderia como uma ciborgue, emular um frieza destemida e dizer-lhe,
“Adeus meu velho amigo, adeus meu velho amor, adeus minha coisa doce,
“Adeus criança bonita”, eu lhe toco com minhas velhas luvas brancas, apenas para não sentir,
Estas minhas mãos tão frias e trêmulas a lhe tocar suavemente.
Esta noite eu poderia cantar alguma canção, mas minha voz desapareceu…
E eu me sentia tão completa quando você me olhava nos olhos,
Porque tu, meu velho e singelo Amor, com sua deliciosa conversa de fim de dia,
Foi o único a ver minhas verdadeiras cores, e não um esboço, em preto e branco,
E então a única coisa que me resta é apenas suas fotografias que eu evito,
E hoje eu vejo, que era somente isso que eu poderia ter, tua beleza estática.
Oh Deus!Abençoe cada momento dessa Mulher tola incapaz de esquecer,
Oh Deus!Abençoe cada momento deste Homem que amo, tão distante e frio
Talvez querido, se eu tivesse te tratado mal, como um brinquedo velho,
Um jogo de marionete, talvez se eu tivesse pisado e cuspido no seu ego,
Talvez se eu tivesse zombado do seu orgulho, mas eu apenas te amei,
Eu apenas te amei e sinceramente também te odiei nesse teu silêncio,
Criança bonita, só Deus sabe o quanto eu te amo silenciosamente,
Apenas Deus sabe que ao mesmo tempo que eu lhe ofendo em pensamentos,
Quando eu te mando para o Inferno, eu queria ir contigo também.
Somente fui sincera o tempo todo dando esse meu rosto para bater,
E eu sinto ele tão dolorido o tempo todo, eu amava…Deus sabe o quanto eu amava,
Passar a noite conversando contigo…e o Tempo passava tão rápido, e eu me sentia tão bem.
E eu me pergunto o tempo todo, o que eu fiz de errado?Sou tão imbecil assim?
Pela primeira vez nesta vida eu fui mulher, talvez…Meu Velho amor, eu deveria,
Eu deveria ter silenciado como uma noite fria e vazia, eu deveria meu querido,
Ter te amado como todas as paixões furtivas de meus velhos 15 anos,
Paixões platônicas de uma colegial tímida, com livros a tiracolo e blocos de anotações,
Apenas te amar no silêncio devastador, eu estaria talvez, menos triste agora,
Esta noite eu poderia escrever um poema mais alegre, não sincero e insensato,
Esta noite eu poderia amar qualquer outro homem, brincar de gente adulta sem compromisso.
Esta noite eu poderia negar todo e qualquer sentimento por ti nos braços de outro homem,
Mas esta noite, meu Amor, meus olhos grandes alegremente tristes, são somente teus.
Se tu ao menos me olhasse nos olhos, mas você é apenas minha velha incógnita,
E como você disse, “nós não nos conhecemos não é?”, eu deveria ter lhe escutado,
E me ausentado por um longo tempo, até que meus sentimentos fossem embora,
Mas eu me aproximei demais e agora eu não tenho mais forças, eu já estou perdida.
Eu queria apenas me encostar em teus ombros e te contar alguma história,
Eu queria apenas te fazer rir, eu ficaria feliz se eu te fizesse sorrir,
Eu queria apenas lhe dar as mãos e te desejar boa noite todos os dias,
Eu queria apenas que tu afastasse meus cabelos de meus olhos, e me pedisse,
Que eu não me esconda mais, porque você nunca me olhou nos olhos.
Eu não tenho mais forças para ser sensata e deixar de te amar, talvez, eu deveria,
Gastar todo meu amor nos braços de outro homem, mas esta noite meu Amor,
Nesta velha esquina com luzes amarelas, eu apenas espero com todo o meu Amor,
Este velho homem que um dia me disse que não entendia como eu poderia amar, se…
Nós nem ao menos…nos conhecemos…nem ao menos fomos apresentados, um ao outro.
Nem ao menos…nem ao menos…mas você me cativou e por isso meu querido,
Por isso que agora você é único neste mundo…ao menos, aceite isso, sem me julgar.
E quando se perguntar porque eu te amo, lembre-se disso,
Não é algo tão difícil de entender, lembre-se disso minha doce incógnita,
Lembre-se disso quando me ver atravessando a rua, com pressa e distraída.
Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro…
Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…
…Se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol! Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros.
Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música…
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1ª citação: Trecho da música “All Flowers In Time Bend Towards The Sun”, cover de Jeff Buckley, com participação especial de Elizabeth Fraser. A música é composição de Jeff Beck, mas como sempre, os covers de Jeff Buckley são muitas vezes melhores que o original.
2ª Citação: livro infantil que serve para uma vida toda: “O Pequeno Princípe”, de Antoine de Saint-Exupéry.
E o tema de hoje será: Fluxograma…MEU FUTURO NÃO MUITO DISTANTE
E hoje não vou vou ficar somente nos meus poemas horríveis, dignos do meme Bocage dizendo “Esses poema ficaro uma bosta”. Vou voltar para a prosa durante um tempo, porque faz tempo que tenho algumas coisas a serem publicadas neste formato. Navegando a toa(como sempre) no Facebook, eu encontrei a historinha acima da Mafalda. Nem preciso dizer que eu achei genial, e quase bati palmas para toda a ironia contida na história, obviamente fui obrigada a compartilhar. E isso me fez pensar muito, sobre aquilo que pensamos para o nosso futuro. Fiquei pensando neste tema o dia inteiro, limpando minha humilde kitnet escutando as músicas super-otimistas e fofinhas do Pain of Salvation (sarcasm detected my dear?)… É engraçado como a maioria das coisas que nós planejamos saem completamente diferentes. Um exemplo, eu já quis ser médica e trabalhar em IML e investigações criminais…coisa puramente C.S.I. Claro, analisando a historinha da Mafalda, nos deparamos com aquelas coisinhas dignas de um conto de fada modificado (para bons entendedores, sabe-se que os contos de fada não são nada daquilo na real), e infelizmente(ou seria…felizmente?) ainda existem pessoas que acreditam que vão ser felizes e bonitas para sempre, ao lado do homem/mulher perfeita, com muito dinheiro e filhinhos lindos, asseados e que nunca pegarão resfriado, porque a mamãe perfeita não quer limpar nariz melequento de criança birrenta. No meu atual fluxograma a única coisa que eu quero mesmo é quando eu tiver uma casa que não seja uma kitnet minúscula, eu queria um atelier e uma biblioteca separada. A casa pode ter apenas um quarto, cozinha, banheiro, sala, mas terá que ter um espaço para as minhas tranqueiras e livros…muitos livros. E um cachorro, e um gato para que eu possa rir das desavenças entre eles e também pelo fato de eu amar animais, sempre gostei de bichos, e eu posso dizer que com certeza eles fazem parte do meu fluxograma. E para não falarem que eu sou um ser cruel e sem coração, um homem que me ature e me ame do jeito que eu sou, não precisa me dar jóias, não precisa ter carro, pode ser pobre igual eu, mas que me aceite do jeito que eu sou, com todos os meus defeitos e minha chatice, e que aceite meu Amor também, porque afinal eu quero Amar e não ter um gigolô ao meu lado para me dar doses de amor, carinho, sexo e compreensão, afinal, a idéia de homem-objeto só é legal quando o homem para chamar de seu diz: “Meu bem, hoje quem manda é você”, mas quando o assunto é gigolô por uma noite, não fica legal, porque afinal, para usar e abusar de um homem, você tem que conhecê-lo, enfim, é o que eu penso, na real, quem me conhece, sabe que eu não costumo me aventurar em sexo casual, e muito menos sexo pago, talvez algum dia eu mude de idéia…ahhahahahahahahaha. Bem, a situação nesse caso(relacionamento) é difícil, pois nesse mundinho mundano, é difícil encontrar alguém que não queira apenas te comer como um pedaço de picanha com gordurinha, e quando você encontra aquela pessoa que está configurada de acordo com todas as suas condições normais de temperatura e pressão, para gerar cálculos amorosos-sexuais-apaixonantes de extrema precisão, aquela que você acha que vale a pena, que tem um pouco de cérebro e que entende as coisas que você faz ou diz, a pessoa é mais complicada que cálculo diferencial com trigonometria ou métodos de cálculo para equações sem solução(meu pesadelo na faculdade), digamos que a pessoa é um número imaginário na sua vida, ela está lá, mas ao mesmo tempo não está, então você se conforma, chora as mágoas e torce para que o infeliz nunca seja feliz com alguém sem ser você (muahahhahahahahahaa!!!!VINGANÇAAAAA)…Bem não é assim, isso foi uma piada-pretexto para que eu possa usar a “onomatopeia da vingança”(muahhhaahahaha), mas eu acho engraçada e inútil essa coisa ridícula de vingar o Amor que não deu certo, essa coisa de por o nome do infeliz na boca do sapo porque você não teve feromônios suficientes para atraí-lo. Mas voltando, quando isso acontece, quando você gosta da desgraçada da pessoa complicada, e ela te ignora, se você for besta igual eu, pode até acreditar que um dia, talvez, quem sabe, num futuro não muito distante essa pessoa te enxergue, enquanto isso, toca a vida para frente, até trombar(eu não procuro, eu tropeço nesses tipos de pessoas) com uma pessoa igual ou mais complicada ainda ou um perfeito idiota porque você não espera mais nada dessa vida(eu ainda não cheguei neste ponto, espero nunca chegar nisso). Mas na verdade eu queria apenas pensar: FODA-SE ESSA MERDA…FODA-SE VOCÊ, mas não é bem assim que funciona, e como eu falei, eu sou um ser besta, então eu mereço isso mesmo. Nessas situações, apenas o Tempo pode curar, fazer o quê?Isso é parte do meu fluxograma-amoroso: gostar de pessoas complicadas, o que é bom, porque quando você tem tendência a gostar de pessoas complicadas, você aceita melhor os defeitos, até porque o fato da pessoa ser complicada é porque o gênio dela…digamos, não é dos mais fáceis de se lidar. Isso é explicado em psicologia. Mulheres buscam homens que se assemelhem a sua figura paterna, e homem, na figura materna. Meu pai é de gênio difícil…sendo assim, FREUD EXPLICA!!!Enquanto tem várias pessoas de fácil acesso a seu dispor, que você não precisa fazer esforço nenhum para tentar entender, eu sou uma pessoa que nem Freud explica, por isso eu quero quem não me quer. E quero aquele “boy magia”(adoro esse termo), leonino, genioso, adorável, inteligente, difícil, meu inferno astral(eu não acredito em horóscopo),complicado, aquele meus amigos mais próximos dizem que deve ser uma bichona, MF(SIGLA PARA “Morde Fronha”): “mas Ana, você é linda, inteligente, qualquer um já teria sucumbido, ele deve ser MF e está com medo de sair do armário”, e então todo mundo ri da minha cara e eu entro na brincadeira: “Ana, você ainda gosta daquele viado?”, “Sim, eu amo aquela bichona, uiiiiiiiiii”, “Ana, seu amor é platônico!”, “É, pois é…concordo contigo…mas foda-se essa merda, o Amor é meu, e eu curto Platão, ele era da hora!”. Essa é uma qualidade minha: tenho muito senso de humor, e aprecio Humor-Negro, sarcasmo, ironia…eu também não tenho um gênio muito fácil, mas fora isso sou uma mulher simples e afável na grande maioria das vezes.
Bom o fluxograma parte 1 é: uma casa com espaço para biblioteca particular e um cantinho para sujar de tinta e fazer coisas malucas. Esses dias, eu comentei que gostaria de viver de arte. Acho sensacional, de verdade, eu já fiz minhas coisinhas, sempre gostei de desenhar, me sujar de tinta, mesmo que eu não tenha lá tanto talento. Nessa semana, eu comprei papel especial e lápis para desenho artístico. Estou sem desenhar há 1 ano meio, desde que eu fiquei gorda e ferrada dos rins, com insuficiência renal(uma doencinha de nome muito bonito: Nefrite Intersticial Aguda), internada 2 semanas e meia no Hospital das Clínicas de Porto Alegre. Lá tinha um programa social que era uma sala para os pacientes terem momentos de lazer. Me lembro até hoje, eu cheia dos soros pendurados, gorda, desenhando, enquanto uns tricotavam, outro rapaz com uma bolsa de colostomia jogava videogame…Desenhar, não era uma coisa que eu fazia bem, mas digamos que dava para o gasto e as pessoas diziam que eu desenhava bem(porque elas não devem ter conhecido uma pessoa que de fato desenhava bem). Eu penso, algum dia, estudar Artes Visuais, mas é aquela coisa, que eu comentei, se eu tivesse escolhido Artes, ao invés de Análise de Sistemas, eu poderia estar passando fome. É uma situação tragicômica, mas eu escuto isso das pessoas que fazem cursos legais. Tenho um amigo que é filósofo, muito inteligente, mas ele diz que só não passa fome porque os pais ajudam ele. Definitivamente, cursos legais não dão dinheiro. Eu gosto de História, Filosofia, Letras, Artes…mas…é complicado né, e como fica o “leitinho das criança”? Sendo assim, outra parte do meu fluxograma, era fazer um curso legal, que eu realmente gostasse. Muitas vezes, quando eu vou numa livraria e fico namorando aqueles livros lindos, cheirosos e absurdamente caros de História da Arte, as pessoas me perguntam se eu estudo Arte. Então eu digo, “Eu sou Analista de Sistemas na verdade…”, então a pessoa faz cara de espanto e deduz que eu quero comprar algo pra dar de presente para alguém, elas não se convencem que aquilo é pra mim, porque afinal eu sou Analista de Sistemas e a coisa mais artística que eu deveria me aproximar, dado a estereótipos, seria a sessão de quadrinhos…
Outra coisa no meu fluxograma, são viagens. Eu ainda pretendo fazer minha viagem para Europa, mesmo que seja sozinha, afinal, estou me virando bem na solidão. As pessoas, cada vez mais eu vejo que elas não sabem lidar com a solidão. Todo mês eu vou dar uma voltinha sozinha. Ando fazendo muito disso ultimamente. Antigamente eu era uma pessoa que só saia para os lugares se alguém fosse junto, pois eu não queria que as pessoas achassem que eu era uma garota sozinha e triste. Sendo assim, este ano, depois da minha reviravolta, um dos motivos por ter escolhido morar sozinha, ao invés de dividir um espaço com alguém, foi a oportunidade de me conhecer. Existe aquela frase: “Conhece a Ti mesmo?”, e desde então eu descobri que boa parte dessa minha pessoinha era desconhecida e que muitas coisas eu deixava ocultas por vergonha, ou medo de que me interpretassem mal. Eu tenho agora aquele meu momento de paz, eu, meus livros, chá a todo momento, eu posso pendurar as coisas pela parede, posso andar pelada ou seminua, posso espalhar meus livros pela cama, posso cantar no chuveiro sem acharem que eu sou louca, posso escrever meus poemas e pendurá-los na parede para ficar lendo ao longo do dia e decidir se publico ou não(eu sempre publico, por mais péssimo que tenham ficado, afinal, FODA-SE ESSA MERDA), se eu quiser passar o dia na Lagoa do Taquaral, no gramado, observando o cotidiano das pessoas e fazendo anotações ridículas para um dia sair algum texto bom dessa merda toda, ou simplesmente ler um livro embaixo de uma árvore, enfim, eu peguei esses 6 meses de solidão para me conhecer e nunca me senti tão a flor da pele, sendo que foram 3 meses morando com meus pais e 3 meses na minha kitnet, onde estou agora, embaixo das cobertas tomando um chá de camomila. Até minha mãe disse que eu mudei, como pessoa, ela diz que eu fiquei mais sensata e madura. Considero que eu deixei aquela garotinha medrosa para trás, hoje sou mulher o suficiente para admitir meus erros, não negar mais sentimentos(mesmo que seja platônico), hoje eu posso pegar uma mochila e sair por aí sem rumo, com todo o meu “não senso” de direção, mas ainda vou bem em Geografia. E é aí que o Velho Continente entra. Qualquer dia farei um mochilão pela Europa, ver “O Jardim das Delícias” no museu do Prado, em Madri, conhecer Praga, Amsterdam, Berlim, Lisboa, Andorra, toda a região da Andaluzia, Paris, Londres, Dublin…lógico que acredito que não dê para fazer isso numa viagem só, mas é algo que tenho em mente. Claro que nas minha atuais condições financeiras, não vai ser algo a se fazer nas próximas férias(nas próximas férias, pretendo ir para o Chile e Argentina). Outra coisa que eu quero fazer é ir para algum retiro espiritual onde se pratique a arte do silêncio. Tem um em Nazaré Paulista. Nesses retiros, você não pode falar absolutamente nada, você conversa apenas com os olhos e gestos. Tendo em vista que eu sou mulher, e como mulher, eu falo mais que a média, tendo em vista que tenha hiperatividade, tomo essa viagem espiritual algo como incrivelmente desafiador. Essa viagem é algo que pretendo fazer até o final deste ano. E esta viagem vai ganhar um post todo especial.
Resumindo, se eu fizesse um fluxograma para minha vida, eu entendo isso como uma espécie de modelagem, um planejamento. Eu creio que o que eu quero não é nada demais, nada absurdo. Eu cansei de fazer grandes planos, na verdade, nunca tive grandes planos, que eu quisesse tanto levar pra frente. Na maioria das vezes, eu desistia alguns dias ou meses depois. Mas hoje, com uma mente mais sensata, eu consigo planejar um fluxograma possível, que vou jogar dentro de um poema que provavelmente vai ficar uma bosta, mas como eu sempre digo: “FODA-SE ESSA MERDA”
Eu gostaria de ter uma casa, uma casa simples,
Não necessariamente num lugar bucólico, surreal,
Pode ser no caos de uma metrópole, eu não me importo,
Quero um canto só meu, para minha paz de espírito,
E nas tardes chuvosas eu posso me sentar num velho sofá,
Depois de puxar um livro velho e cheiroso da estante,
Eu posso viajar longe em páginas e páginas de emoções.
Eu olho o cachorro a dormir e os olhos brilhantes do gato,
A brincar com um velho papel de um rabisco em giz carvão.
E parado na janela eu lhe vejo observar a chuva lá fora,
Eu poderia lhe perguntar o que você pensa, mas eu apenas te observo,
E então eu poderia me lembrar o quanto eu amo e odeio seu silêncio,
Mas um dia eu fiz uma viagem, num lugar no alto da serra,
Enquanto eu esperava entender as minhas dores e meu amor não correspondido,
Foi neste lugar que eu aprendi a conversar com os olhos,
Então você olha pra mim, e me dá um sorriso, como se quisesse me dizer,
“Desculpe eu sou um chato”, e eu dou risada como se eu nunca soubesse disso,
E então eu te olho de novo, e verás que meus olhos lhe dirão: “Seu Tolo”
E eu lhe perguntarei, se eu já lhe contei alguma vez,
Que eu estava a andar de bicicleta nas ruas de Amsterdam,
Minha bicicleta tinha uma cestinha de tulipas que eu comprei de mercador de flores,
E então eu me empolguei e quis conhecer ruas e mais ruas, e me perdi em Amsterdam,
Então eu fiquei com medo, pois estava escurecendo e eu não sabia onde estava,
E então você me dirá: “Eu te disse para tomar cuidado, mas você é teimosa”,
E então vamos rir, como duas crianças e nos amar como adultos,
Uma vida simples, num lugar simples…um amor simples.
Ficou uma bosta, mas foda-se essa merda!!hahahahahahahahahaha
Cineasta, triatleta, ganhador do TheVoice, Mega Sena da Virada e Prêmio Nobel de Literatura. Coach de Política. Pai do Enzo e Raíssa. Marido da Dani. Vascaíno.
“Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar.” Carl Sagan