No meio de rostos embriagados, canecas vazias, música deprê de um cantor noir fracassado drogado e bêbado ou apenas drogado, ou apenas bêbado, ou ele era daquele jeito mesmo, vai saber… Em suma, decadente, tal como ela, “A Escritora Fracassada” com olheiras profundas e bafo de blend. Passou o dia sem seu English Breakfast, e se você leitor não sabe o que é English Breakfast, ou acha que é aqueles chás gostosos importados, aí meu caro, você se engana.


Enfim, nossa personagem, a “Escritora Fracassada”, ficou com seu café da manhã incompleto. O feijão enlatado já aberto, estava estragado na geladeira e talvez seja por isso que a frase “I can smell a raspbery!”, quando ela abria a geladeira era tão repetida pelas festas de final de semana, regadas a cervejas, whisky e cigarros. O pão que ia sempre à fatídica torradeira estava colonizado por simpáticos fungos verdes que diziam “Hello your bastard!”, se ao menos fossem fungos alucinógenos, poderia render um chá de pão. Fazem isso com os cogumelos colhidos na região de Glastonbury, onde seu tio tinha um pequeno sítio. Mas tinha chá inglês, porém o leite estava talhado e o limão acabou. Naquele dia, no seu café da manhã, ficou apenas com salsichas enlatadas fritas em gordura, ovos fritos na gordura da salsicha enlatada e purê de batatas com molho de sobra de carne com cebolas. Sentiu falta do feijão, molho sauce e pão. Estava cansada, cinzenta e então começou a beber naquele dia bem cedo. O pub abriu pontualmente às oito horas e quarenta e cinco segundos da manhã em Soho, a pontualidade britânica tão irritante. Um dia, marcou um encontro com um brasileiro às sete e quinze da noite em frente da universidade Oxford. Ele atrasou-se dez minutos e ela achou isso uma afronta. Deixou-o lá perdido e sem entender porra nenhuma. Sentou no balcão jogou uma nota de vinte euros no balcão e pediu um canecão de stout e um pedaço de torta :
“Pie and pint please”
“Lager, ale or stout?”
“Stout”


Leu os jornais diários cheios de notícias patéticas. Cansou-se, foi para casa no leste de Londres, Shoreditch, esboçou sua coluna da semana para uma revista semanal de mulherzinha que lhe rendia seus trocados de bar, além do seu trabalho de escritora de obituários no pior jornal londrino, que as velhinhas adoravam ler no chá da tarde. Sua casa em Shoreditch era uma autêntica casa “Ctrl C + Ctrl V”, herança de sua mãe. Shoreditch não era um bairro nobre, mas tinha a boemia e o caos que precisava. Não conseguia enxergar-se morando em bairros politicamente corretos como Hampstead Heath ou Notthing Hill. Talvez, quando envelhecesse, optaria em morar num cottage na área rural.


Ela era uma atriz cujo papel era “dar uma de colunista cool entendida de moda”, e achava aquilo um saco. Mas era sua fonte de renda até uma revista decente reconhecer seu talento, ou até a falta dele para ganhar um pouco mais. Existem pessoas que escrevem bem ganhando uma miséria e escritos ridículos que ganham rios de dinheiros escrevendo “coisas sérias”. Ela queria ser da “panelinha”, mas ela não tem saco pra ficar puxando saco, entende? Com o tempo ela vai levando os louros miúdos da fama. As mulherzinhas gostam do papo infame de qual guarda chuva combina com seus eternos casacos pretos de inverno e sapatos impermeáveis ou aquelas dicas de sexo ridículas que ela escreve bêbada altas horas da madrugada, sentada no sofá.
Tempos atrás, uma leitora escreveu para a coluna do leitor, que o marido adorou a ideia do sexo “Bangers and Mash”.

Dicas de como fazer um “Bangers a Mash” com seu pobre coitado lindo english lord:
- Não coloque o purê quente no sausage dele, coloque levemente morno, tendendo ao frio;
- Cuidado com os dentes;
- Não coloque molho gravy de cebolas no purê pois dá bafo e ele não vai querer beijar você depois;
- Ao final do sexo, peça pizza e cerveja Guinness.

A única coisa real que ela escreveu para ser levada a sério, era a regra dois, e a pizza com cerveja pós-sexo. Ela esperava ser demitida, mas pelo jeito isso rendeu até um aperto de mãos da chefe perua de voz estridente e sotaque de Manchester e um “Congratulations” . Quando ela escrevia coisas sérias, ela nunca recebia um parabéns. A vida é assim, damos mais valor ao ridículo. Mas enfim, rende boas piadas de pub regadas a pie and pint com os amigos. Mal esperavam a sessão de cartas da edição posterior e a caixa de e-mail lotada da “Escritora Fracassada” para darem altas risadas dos agradecimentos de dicas de sexo e moda. Ela queria, por vezes, morrer, mas se divertia e ainda por cima ganhava uns trocados para curtir a vida nos pubs de Soho e Shoreditch.

Voce merece. Espero que goste. Vai hoje.
❤ Inglaterra!
Qualquer dia eu vou pra lá, mas não comerei English Breakfast… Ou comerei, vai saber. Vai que é gostoso, apesar de eu achar que feijão enlatado NUNCA é gostoso. Numa das minhas pesquisas, vi uma brasileira contando que lá eles acham que fazer feijão é algo assim… IMPOSSIBLE!
Conheço uma pessoa muito querida que me contou um pouco sobre a cultura britânica, e quando ele falou “eles comem um tal do english breakfast”, e eu ignorante: “é aquele chá?”… Ele sugeriu por no google e ver com meus próprios olhos. Minha vida nunca mais foi a mesma. Existe o antes e o depois do English Breakfast…
eu tenho uma paixão secreta por feijão enlatado, principalmente a feijoada =P mesmo sendo o líquido mais viscoso, nojento, com rolhas de gordura branca e entesada flutuando no que quase parece ser óleo usado de um carro…
Mas esse English Breakfast deve ser bom sim… Não foge muito do que comemos aqui no almoço… Tenta pensar nele como almoço, que você vai ver como melhora 😉
o que eu nunca encararia são os chás… Nada revolta mais o meu estômago do que água fervida com gosto de mato!
Muito bom! Estilo próprio, criativo. Texto escorreito. Seus escritos merecem estar num lugar mais amplo. Estou com vontade de chamá-la a “Amy Winehouse” das crônicas, no bom sentido.
P.S.: Calma, a minha opinião não é tão importante assim…
Adoro a Amy!E sua opinião é sim, muito importante!!! 😀
Estou escrevendo um livro em que um dos meus personagens é um homem britânico, só que ele é, digamos “anti britânico”, um “britânico às avessas”. Ando lendo muito sobre cultura britânica e apara exercitar escrevi essa crônica cujo intuito é humor, algumas curiosidades e uma crítica às revistas de mulherzinha e suas matérias esdrúxulas.
Já leu o meu livro? Não? Então, vou lhe dar de presente. Escreva para o meu e-mail: adlerpqd@ig.com.br informando o seu endereço p/correspondência. Remeterei como carta registrada. P. S.: Escreva seu livro. Aproveita essa paixão por ler e escrever. Sugestão: Faça um arquivo para cada página: essa dissecação torna mais fácil a releitura e as correções. E não esqueça de ler as páginas em voz alta, para sentir o ritmo da escrita.
Nossa!Obrigada pelas dicas!Realmente, estava precisando!Vou-lhe mandar o endereço!Escreva uma dedicatória bem bonita, adoro dedicatórias. Gosto de ir em sebos e ficar lendo as dedicatórias escritas em livros velhos, e não há coisa mais emocionante do que ganhar um livro!