Há meses a água me acalmava. Há meses ela me era suficiente todas as noites e amanheceres. Ela sempre foi um toque delicado, um pacto com minha pele, um beijo, um abraço, uma carícia. Nas noites quentes de verão, a água fria escorrendo nas costas era tudo o que eu poderia ter de melhor. Chegou o outono e a água morna me acalentou, como um abraço, e eu me sentia como se fosse abraçada pelas folhas de outono. Centenas de folhas coloridas, tal como minha infância, embaixo de árvores. Gosto de ver as folhas caírem e me alegra sentar no chão coberto de folhas, e jogá-las para o alto. O sol bate nelas, por entre os galhos de árvores, e as cores brincam.
A água sorri pra mim, cada vez que eu vejo as pequenas gotas d’água escorrendo pelo meu corpo, cada gota daquela que preenche meus poros, é um sorriso, é uma cócega, uma dádiva de estar viva e vendo algo tão pequeno como uma gotícula, algo tão comum… Era a paz que eu precisava, para este meu corpo tão cansado, minha alma já tão envergonhada do caos, do barulho, da falta de afeto, da falta de respeito, da falta de Amor… Ou de um Amor? A água trazia-me de volta a consciência que eu poderia ser amada de novo. Ela fazia amor comigo, e eu com ela. Ela me bastava. Não importava as estações do ano, o calor, o frescor, a pressão, o toque: poucos minutos para eu fugir do mundo lá fora e me sentir plena. Algo tão simples, mas que nos meus dias cinzentos, era como um abraço. Mas ela não me basta mais. Falta algo nesta dinâmica toda, neste palco úmido das pequenas coisas que nos trazem felicidade. Todas aquelas gotas beijavam cada poro de meu corpo, cada toque delas no meu ventre era suficiente para que as mariposas dançassem. Era como se eu sentisse Amor. Amor por aquele momento. Hoje sinto falta de alguém, que contemple esta forma de amor comigo. Amor com Amor.
Aos meus olhos, o Amor é uma espécie de objeto disposto numa prateleira trancada dentro de uma loja empoeirada de souvenires, tal como um quadro inacabado, abandonado, com cores desbotadas. Ou aquela outra metáfora, o Amor em campo de batalha, agonizando na sarjeta, tomando injeções de morfina apenas para suportar a dor e aceitar que não vai sobreviver muito tempo. Qual o preço que eu poderia pagar para obtê-lo? Porque Amar é tão dolorido?
Se dói, então não é Amor…
Algo (in)delicado poderia chegar sem pedir permissão. O verbo delicado sem conjecturas, sem conjugações, que percorrerá minha pele com a mesma delicadeza selvagem da água que hoje não me basta mais. Entre uma tentativa frustrada de escrever algum poema com métrica perfeita, voltei para minha prosa singela. Eu queria escrever um poema com métricas e sonoridades perfeitas, tal como o barulho da chuva, apenas para metaforizar a minha sede por Amor. Um Amor que dê certo. Mas tenho apenas minhas metáforas expressas em linhas insones e totalmente (in) delicadas como numa tempestade carregada de desejos. Essa, é a minha dinâmica do afeto. Esta é minha forma (in)delicada de sentir algum Amor, mesmo que seu dono não tenha nome. Ele é um completo estranho.
MINHA QUERIDA , VOCÊ É O MÁXIMO,
SE EXISTE UMA FORMA DE AMOR E ELE TAMBÉM FOR ADMIRAÇÃO , ENTÃO TE AMO MUITO , POIS PRA MIM VOCÊ É A POETA MAIS COMPLETA QUE JÁ TIVE OPORTUNIDADE DE LER E SENTIR, VOCÊ TOCA MEUS OLHOS QUANDO LEIO , E O MEU CORAÇÃO SE ENCHE DE ALEGRIA DE SABER QUE NÃO ESTOU SÓ, EM MINHA JORNADA E POSSO CONTAR COM SUAS PALAVRAS PRA ACALENTAR MINHA SOLIDÃO, OBRIGADA MINHA AMIGA QUERIDA…