Se nós vamos fazer
Atravesse esse rio vivo
Precisamos pensar como um barco
E ir com a maré
O que estamos fazendo, enquanto os rios correm em direção ao mar?
O que estamos fazendo, desperdiçando sorrisos por preocupações mesquinhas?
Vamos encontrar nossas razões perdida, abandonadas num latão de lixo,
Talvez nos sentiríamos melhores se nossos olhos guiassem nossas almas,
Mas estamos tão cegos a frente de todos os problemas do mundo,
Que nos esquecemos de quem realmente somos e o porque de estarmos vivos
Dê-me a mão, e talvez vamos poder sair por aí, rindo de nossas desgraças.
Sorrindo por motivos torpes que antes nos davam raiva, a vida passa, rápido,
Como os ponteiros de um relógio apressado, rápido como o vento de uma tempestade.
E este silêncio nos deixando imune, quietos, junto ao medo de nossas almas,
Tão inquietos, e então podemos dizer falsamente que está tudo bem,
E que as nossas águas estão calmas, mas na verdade, apenas sabemos,
Que nossa mente está como um oceano revolto, violento, inquieto,
E a nossa vontade de ficarmos sozinhos, na escuridão somente os pensamentos,
E então distribuímos falsos sorrisos, fingimos que está tudo bem, e então
Quando todo mundo vai embora, respiramos os ar de liberdade que há tanto,
Tanto tempo deixamos pra trás, um cheiro triste mas porém reconfortante.
E neste silêncio escrevemos nossa paz, com crayons de dúvida…
É tênue este linha que desce delgada, curvilínea,
Nesse pedaço de tua pele branca, um delírio,um toque,
Um beijo, suave, molhado…ou apenas um sopro,
Estes olhos tão divinos, que me olham de longe,
Eu estou pedindo para ficar, olhe-me doces olhos,
Dessa boca carnuda, um riso, um beijo, um sussurro,
E então eu poderia olhar-te e lhe beijar esta linha tênue.
Então eu poderia ter-lhe me meus braços apenas alguns minutos,
E talvez eles poderiam durar uma eternidade inteira,
Mas eu estou aqui a esperar, um delicado sopro deste coração,
Uma palavra, e então me chame noite adentro para ficar,
Mas eu estou apenas a observar ao longe a linha tênue,
E posso passar a noite toda assim, inquieta, palpitante,
Eu poderia chegar pra ficar, mas não esta noite…
Talvez devêssemos fazer o que é certo
Talvez não esta noite
Talvez devêssemos ambos apenas fazem o que é certo
Baby não, hoje à noite
Na madrugada a rolar pela cama. Entre uma coceira de ansiedade e outra, a cabeça martelando 1 milhão de pensamentos após uma sessão de terapia. Tentou ouvir uma música, para relaxar, acendeu seu incenso favorito, ficou deitada na cama olhando para o teto. Acendeu a luz, eis que então uma barata atrevida entrou quando abriu a porta pra tomar um ar. Matou a barata, com uma frieza atípica, ao invés de um escândalo típico de mulheres. Sentou-se na escadinha na porta de casa, a rua vazia, com suas teimosas luzes amarelas. O ventinho da madrugada chegou, como uma carícia no seu rosto, e então abraçou os joelhos e se colocou a chorar, um choro quieto, silencioso e isento de lágrimas, como um poço que secou, vazio mas com aquele cheiro úmido da umidade das paredes. Nenhuma viva alma nas ruas às quatro da manhã, contemplou mais um pouco o silêncio e beleza da madrugada solitária. Entrou pra dentro, tirou as roupas, ligou o chuveiro e tomou um longo banho. Ela gosta de água, ajuda a colocar as idéias no lugar, inclusive a pensar que se continuar com as crises de insônia misturadas à doença autoimune que atormenta sua noite. E então ela pensa no trabalho, será que conseguirá realizar todas as suas tarefas tendo virado a noite?Os minutos vão passando, como gotas de chuvas, minuto a minuto…E a manhã chega, ela toma mais um banho, umas gotas de perfume atrás da orelha, e sai de volta a vida. Há milhares de moinhos lá fora, e ela acredita que todos eles são dragões.
Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinhos.
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés
2- Madrugada
Mostrando sua face, pouco a pouco, o mundo girando atordoado. Ela largada em sua velha poltrona, com suas crenças, mágoas, amores e desamores. Na madrugada quente, silenciosa, sem brisa, apenas o pio da coruja contando o tempo, os minutos e segundos se passando, as lues apagadas no vizinho, e uma lua cheia e solitária lá fora. É tênue a linha do sofrimento, na pele, o desespero. Os pios da coruja continuam ecoando na madrugada, como os passos desesperados da consciência, sincronizados com as danças atordoadas de um mente perturbada. Daqui a pouco amanhece, o sol irá sair e o mundo estará lá fora, esperando mais uma sucessão de erros ou acertos.
3 – Apenas um copo de sakê
Chegou cansada do trabalho, jogou os sapatos para o canto, perto da cama, ligou o ventilador, pois sentia o corpo todo derretendo, como um sorvete. Estava feliz, apesar do calor quase que insuportável e a falta de dinheiro devido ao final de mês. Acessou a página de notícias e viu que este fatídico dia era o mais quente do ano, marcando trinta e sete graus nos termômetros e que um ciclone extratropical de nome enfadonho “Sandy”, estava causando problemas nos States.
Um banho gelado lhe cairia bem. Deixou as roupas caírem no meio do caminho, mudou a chave do chuveiro, colocou um Coltrane para relaxar, e começou a cantar, pois cantar lhe fazia bem, apesar de sua voz não ser tão agradável, mas pra ela, isto era apenas um detalhe do qual não havia o porquê se preocupar, pois dizem por aí que o importante é ser feliz, e ela é feliz assim, deste jeito, cantando desafinadamente enquanto as gotas calmas e geladas caem calmamente no corpo, enquanto fecha os olhos e pensa no passado, presente e futuro. O que será daqui pra frente, quais os planos, será que um dia irá casar, ter filhos, fazer um doutorado?Irá estar presente no fim do mundo?Com esses pensamentos martelando na cabeça, ao final ela apenas ri, pois ela vai apenas vivendo, dia após dia, com as tristezas e alegrias, uma nova estória a contar, um sorriso, uma fúria. Assim é a vida, pensa ela, passando como uma folha arrastada pelos ventos de inverno, ou apenas como um copo de sake, bebido lento e aquecendo-lhe a alma.
4 – Philander
And I’m always gonna love you
And I’m always gonna stay
Here with my Philander
Up here on this platter
And I’m laid out for Philander
Havia um casal em um restaurante. Não era um restaurante popular, era um desses requintados, bem arrumados, com bom gosto, mas não exorbitantemente caro. Era algo que era possível de ir mais que uma vez no mês. Havia uma moça, sentado no canto, estava bonita, com lábios pintados, olhos marcados e uma roupa sensual, não beirando a vulgaridade. Estava nervosa, contorcendo as mãos e olhando constantemente o relógio no celular. Ela havia pedido uma água, um copo com bastante gelo e 2 rodelas de limão. Quando entornava o copo para beber, era possível observar suas mãos tremularem, e o esmalte vermelho nas unhas. Ficou desta forma, transbordando sua ansiedade, as mãos tremulas, os pés batendo freneticamente no chão. E em um momento um sorriso abriu-lhe na face. Pela porta do restaurante entrou um rapaz, de altura mediana, não era belo, daquela beleza de se encher o olhos, mas era belo, uma beleza simples, comum, um homem com barba a fazer e bem vestido. Ela se levantou para cumprimentá-lo. Ele beijou a face segurando o rosto dela com uma das mãos, algo que aparentemente ela não esperava. Havia ali, naquela mesa, uma tensão, quase sexual, olhos nos olhos, os pés dele apontando pra ela, ambos com o corpo inclinado na direção um do outro. Ela sempre molhando os lábios, e ele sempre conversando tocando nela, de leve. E a cada toque dele parecia que ela iria morrer, de desejo, paixão, pois seu rosto incendiava com o rubor. Talvez ele soubesse disso, pois talvez ele tenha visto os pelinhos do braço dela arrepiar. Era o flerte…Philander…
Vou estrelar você no meu filme
Eu sou a criação agora
Então vamos lá, o ator que pouco
Não me decepcione, flerte
Nesta casa no alto do verão, sorrisos desordeiros,
Eu já estive aqui antes do último entardecer,
Correndo pela orla como uma menina de 7 anos,
Cabelos bagunçados e um sorriso bobo na cara,
A fazer castelos de areia, cheios de espelhos,
Assim eu pensava, um castelo, onde eu veria,
Através do espelho, toda a Beleza e simplicidade,
De meu mundo tão singelo, com 7 pecados capitais…
Observo a janela da noite chuvosa lá fora,
Eu vejo no reflexo do vidro que meu lado Mulher está a sorrir
E o sorriso dela nunca me pareceu tão bonito,
E então eu me lembro, do meu tempo de criança,
Em que pegava os sapatos e jóias de minha mãe,
E nos espelhos eu olhava meus sonhos de mulher,
Eu era apenas uma doce criança com os lábios pintados,
Brilhos no pescoço e pés pequeninos num sapato 39.
E perto de minha saudosa casa, há uma estrada de terra,
Onde eu apreciava tirar meus sapatos e andar descalço,
Entre um pé de fruta e outra, eu encontrava minha felicidade,
Em meio a natureza, minha criança sorria timidamente,
E o vento de fim de tarde acariciava meu rosto, e então,
As folhas balançavam e faziam uma canção, naquela tarde,
O céu de cores pintaram meu horizonte e a minha alma se engrandeceu
Como um quadro impressionista, cheio de cores esparsas…
Talvez haja um Deus lá em cima
Mas tudo que eu já aprendi sobre o Amor
Era como atirar em alguém que desarmou você
E não é um choro que você pode ouvir de noite
Não é alguém que viu a luz
É um frio e sofrido Aleluia
No amanhecer na carícia dos raios tímidos de sol, almas inquietas e passageiras dão seus passos ora calmos como um oceano em um dia sem vento, ora violento e rápido como os raios de uma tenmpestade desavisada. Pessoas passam, pensativas, homens com seus jornais nas mãos, a serem lidos acompanhados com goles de café: forte, quente, confortante. E então discutiriam política e falariam de épocas passadas, onde os tempos eram difíceis.
Pela janela do ônibus, paixões desenfreadas passavam como frames na sua cabeça. E o Tempo tão elucidante apareceu como um bálsamo e lhe acalmou a alma inquieta, triste. E quando ela voltou a andar naquelas tristes ruas onde as folhas caem numa paz inquieta e dissonante, era como se todas as pessoas ao seu redor, estivessem a sorrir novamente, era uma vida nova, cheia de risos e novas anotações em seu bloco de papel. A vida ao redor, mais colorida e real, sem dor. E um dia sua mãe lhe disse, que Amor não é dor, sofrimento, e então, no primeiro vento frio que lhe tocou a face, ela viu que nunca sentiu Amor. Ele então ainda lhe é um Velho desconhecido, e sua face está nua, esperando um toque ou um tapa…ou…um doce e sofrido Aleluia?
Querida, eu já estive aqui antes
Eu vi este quarto, eu andei neste chão
Eu vivia sozinho antes de conhecer você
E eu vi sua bandeira no arco de mármore
E o Amor não é uma marcha da vitória
É um frio e sofrido Aleluia
Ela se move pelas frestas, no escuro ela tira o véu Talvez há algo ali que ninguém vê, uma suavidade inquietante, Atrás de sua minuciosa dança, há mariposas, triviais, sensuais Dançando na luxúria das luzes amareladas nas ruas de bordéis Ela e o seu vestido vermelho, olhos indecentes, E então ela costumava dizer que andaria debaixo da chuva Despreocupada como uma mulher desacreditada, talvez Ela esboçaria um sorriso de escárnio ao olhar pra trás, E quando olhar seu fantasma a se arrastar nos lençóis, Corpo úmido de suor a deslizar numa paz bruta, surreal? Tão indecente aos olhos, está errado aos olhos de Deus? Escorrega em tua pele, pelos, suor…o que está errado aqui? Ela dança na sombra dos seus passos, o prazer, o desejo, o Amor.
Qual o melhor lugar para dizer a uma alma inquieta? O quão bonito tua alma nas entrelinhas de um sorriso, Quando à noite os anjos cantam teu nome, sensual, Uma pele encarnada, intocável, a tremer de frio, Tenso calafrio, pele branca, um convite tão distante, ressonante, Abra teu coração lindo amante, canções ensurdecedoras pairam, Na calada da noite o voyeurismo se encosta nas janelas, incólume, Amores brutos, indefesos, delicados?Talvez…
Volte, mostre sua face, contra o espelho, calado,
Impessoal, talvez eu apenas observe escondida,
Na calada da noite, pensamentos, devaneios, consentidos…
Para meu paraíso impessoal, estou eu sofrendo em silêncio,
Em passos ruidosos, na calada da noite, o vento sopra,
Em meus ouvidos, aquela velha canção, uma velha piada,
Alma minha, inquieta, na tua paz petulante, ruidosa,
A coragem a cantar seus medos pueris no silêncio.
Para amar, levante-se, como um anjo ou um demônio,
O Amor tem duas faces, bruta e delicada, na pressa e na calma,
As mãos correm devagar, ou se mudam para a correnteza da fúria,
Consegue ver o quão dúbio, a sensatez do sentimento mais bonito,
E minha mãe dizia, que os amantes sofrem em silêncio, eu acredito,
Que meu silêncio se desfez como uma neve nos primeiros raios de sol,
E meu ardor corre como um rio de águas cristalinas…
Na escuridão de minha alma, eu chamo um nome,
Desconhecido para o mundo, minha alma inquieta,
Está a cantar uma dor no meu peito, ressonante?Dissonante…
E os anjos cantam uma canção tão zombeteira…Levante-se
Meu Amor desconhecido desceu ao sétimo inferno.
E ele me olha nos olhos como se me conhecesse,
E minha alma tão inquieta se encolhe como um grão,
Regado pelos dedos tão magras do tempo…
O tempo me olha o tempo todo nos meus olhos, brincalhão,
E a vida me prega uma grande peça, cheia de espetáculos.
Desmistifique-me, tire meu véu absorto em meus desejos, Sou véu de alma inconstante, desejo em chama, Os anjos escutam e tocam com suas liras envenenadas, O belo frêmito ensurdecedor do meu desejo mais íntimo, Toque-me como um fruto proibido da casca lisa e brilhante.
Meu corpo lhe pede sua mão que acalma, linda alma, Deitaste em meu colo e eu lhe acariciei os cabelos e beijei tua face, E em um louvor carnal nossos corpos se entrelaçaram, E as nossas chamas de desejo se misturaram na carícia do sexo, E agora o Tempo consome meu êxtase e transforma-o em saudade, Tempo…desmistifique-me…
Tenho em meu peito o Amor mais bonito. A honra, a fidelidade, o sentimento mais puro. Vamos dar uma volta por aí, caminharmos juntos, talvez contar alguma piada ruim, daquelas de envergonhar e rir por vergonha. Para quê termos medo, aflições, coisas tolas e mesquinhas cantando uma canção de escárnio e notas desafinadas?Deitamos nossas cabeças no travesseiro e estamos apenas a nos lamentar, mas o que nós fizemos para melhorar isso?Meu amigo, meu Amor, eu poderia descrever em poucas palavras, todos os meus anseios e preocupações, e eu quero apenas ser cada vez mais humana, sejamos humanos meu Amor, o mundo está girando como as hélices de um velho moinho, aquele que Dom Quixote achou que era um dragão. Olhe pra mim querido, se eu chorar, é simplesmente porque me sinto plena em minhas emoções, e eu então vejo teus olhos tão aflitos, e você então se cala no teu silêncio que me fere tanto a alma a ponto de perder a paciência. Então eu saio, eu poderia te xingar, amaldiçoar teu velho maldito silêncio, por mais que seja apenas para me proteger das velhas discussões tão desnecessárias. Velho Amor, eu sou sua âncora, teu cais, o barco em que navegas. Seria pedir-lhe muito que faça de meus braços sua morada?Dizer que meu corpo é como uma água calma, seria muito vergonhoso pedir-lhe que navegue em mim?Eu poderia dizer-lhe que suas mãos são como meu bálsamo, eu posso te pedir que faça da minha pele o teu encanto, com um toque mais profundo, ora tão tranquilo, ora selvagem. Tua voz em meus ouvidos, entra em minha alma, teu sussurro, uma canção velha amiga a ecoar. E eu me lembro, desse cheiro que me invade, que emoção!E esses olhos tão bonitos, profundos e misteriosos, quando olham pra mim, sem nenhum pudor, eu baixo os olhos envergonhada, e então você chega sem avisar e me toma pelos braços, e toda a sua dança sensual me convidando para amar, me seduz e então eu me entrego. Homem Belo, minha alma plena, meu encanto, meu prazer, meu amigo…onde estás agora?
Consegue sentir minha fria pele?
Nesta noite de primavera,
Meu silêncio é tua essência,
Amor distante que me acalenta,
Me abraça e me põe no colo,
Conte-me uma história para dormir,
E observe meu corpo passear nos lençóis,
Até que eu durma, me observe sem vergonha,
São seus olhos desavergonhados que eu quero.
Cineasta, triatleta, ganhador do TheVoice, Mega Sena da Virada e Prêmio Nobel de Literatura. Coach de Política. Pai do Enzo e Raíssa. Marido da Dani. Vascaíno.
“Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar.” Carl Sagan