Acordamos todos os dias pelas manhãs, com exceção dos domingos livres e dos sábados aos quais não temos que dar nos suores para colocar o bom e velho pão com manteiga, leite e café na mesa. E então fica aquela sensação majestosa e muitas vezes edificante de entrar embaixo do chuveiro para espantar o sono e pensar no que vai ser o dia de hoje. Enquanto a água escorre quentinha, um turbilhão de cenas e possibilidades, feedback de erros dos dias anteriores, tarefas a fazer, planejamento do final de semana, um amor que se foi, um amor que chegou, aquele amor que foi mas voltou…enfim, aquilo que nos move surge com o turbilhão de gotas tímidas ou furiosas dos orifícios de um chuveiro velho ou ducha potente. Somos todos diferentes, mas eu duvido que nenhum de nós tem os mesmos pensamentos num dia qualquer de manhã, afinal, queremos todos ser pessoas melhores, queremos todos que dias melhores cheguem como todas as manhãs. Dias melhores, pessoas melhores e dias menos nublados, e se forem dias nublados e tempestuosos, temos de nos lembrar o quanto o cheiro da chuva nos reconforta depois.
2 – Yellow Raven: válvulas de escape
Where do you go, fantastic dreambird?
Take me away to somewhere
Take me away from here!
Where do you go, fantastic dreambird?
Answer to my yearning
Take me away from here!
Este trecho trata-se de uma música dos Scorpions, mas que é muito melhor na voz do Daniel Gildenlow, do Pain of Salvation, que gravaram um cover maravilhoso e sensual. E vamos falar sobre o que essa música fala, que não é sobre corvos amarelos, literalmente. Eu acredito, na minha concepção, o corvo é uma fuga, uma válvula de escape. Todos nós gritamos, chamamos, clamamos, oramos por uma fuga. Queremos algo que nos leve bem longe dos momentos enfadonhos da vida. Aquela coisa, quando se está de saco cheio, quer fugir para uma ilha deserta, ou simplesmente dizer “foda-se” para alguém, ou, radicalmente dizendo “eu quero mais que você morra”. E eu ainda digo, que isso pode ser para uma pessoa, para a bagunça do quarto, para a chuva que não pára há uma semana. Todos nós queremos ter um corvo com olhos gentis…beijando os raios. Uma válvula de escape para ter uma vida mais leve.
3 – A lagarta
Ontem eu acordei de manhã quase rastejando. Sou uma pessoa que ama a madrugada, eu tenho uma relação de amor com a noite. Gosto mesmo, acho sexy, minha mente flui melhor quando o dia começa entardecer. Na verdade eu aprecio o dia como um todo, mas quando começa a chegar o entardecer tudo se transforma(não, não sou uma transformista na noite), mas algo acontece comigo, isso é realidade. Me sinto mais bonita à noite, é como se eu tomasse um banho de inspiração. Enfim, acordei de manhã, me arrastando para o chuveiro. Eu gosto disso, água. Gosto de tomar banho ou caminhar para colocar os pensamentos em orde. Depois de finalmente ter acordado, é hora de se arrumar para o trabalho. Levo em média 30 minutos, no total, coloco aí uns 45 minutos a 1 hora para me arrumar pra começar a vida. Antes de sair, passei na geladeira para pegar um suco de maçã e uma vitamina de maçã, banana e mamão, daquelas em caixinha. Ao dirigir-me para o portão, ao olhar para o chão, encontrei uma linda lagarta. Linda mesmo, preta, um preto bem brilhante, e ela tinha listras verde limão. Fiquei alguns minutos admirando a beleza dela, todas aquelas duas cores. E percebi que ela estava na direção do carro do vizinho que estava a sair. Minutos mais tarde ele iria sair com o carro e ele poderia passar por cima dela. Sendo assim, eu peguei ela e coloquei bem longe de onde o carro poderia passar. Eu peguei ela e ela se contorcia. Pude ver que suas patinhas eram de um tom amarelo-girassol. Coloquei ela em cima do muro, perto de umas plantinhas. Ela poderia comer todas aquelas plantinhas, mas ela era uma lagarta linda, e vai se transformar em borboleta. Eu adoro borboletas…
4 – No terminal Barão Geraldo
Estava com pressa, cansado, eram quase dez horas da noite, e estava voltando pra casa do trabalho. Peguei o 331 na estação do Tapetão, em frente da Medley. Todas as pessoas com suas caras cansadas. Havia uma moça com um livro, um rapaz dormindo com a boca aberta, uma outra mulher com olhos perdidos na janela. Eu estava lá, com meus inseparáveis fones de ouvido, ouvindo Active Child, para ter uma noite mais relax. O ônibus entrou no terminal, eu desci e já fui correndo para o segundo ônibus que finalmente me levaria para casa. Entrei no 326, Vila Independência, que me deixaria quase em frente de casa. O ônibus iria demorar 10 minutos para sair. Fiquei na janela, observando o movimento. Lá fora, chega um rapaz, de cabelos ondulados e docemente bagunçadas. Não era uma beleza comum, não era um rapaz que todas as mulheres torceriam o pescoço para olhar. Era uma beleza exótica, um magnetismo pessoal. Era daqueles tipos de pessoas que possuem algo no qual não conseguimos explicar, pois não é beleza, é simplesmente “alguma coisa”. Ele carregava uma mochila e um violão nas costas, e do nada deu um sorriso cativante. Do outro lado veio uma garota, de cabelos curtos, também levemente cacheados. Não era um mulherão, era uma mulher simples, daquelas que não se preocupam muito, descontraídas, uma beleza natural. Ela chegou devagar e deu um abraço e um beijo calmo e longo no gurizinho de beleza exótica. E então ficaram conversando no pé do ouvido. Ele era mais alto que ela, ela estava conversando com ele na pontinha dos pés. Ele ergueu ela e ela ficou de pé no banco do terminal. Agora ela ficou na mesma altura, rosto colado, olhos nos olhos. Era um casal incomum. Eu vejo muitos casais por aí, mas aquele casal não tinha uma beleza banal. Era um casal que chamava a atenção, pois seus gestos e simplicidade ao demonstrar o afeto, era diferente de todos os demais, era um amor sincero, simples, bonito aos olhos de todos que passavam. Um homem comum, e uma mulher simples.
5 – A relação com a cozinha
Eu sempre gostei de cozinhar. Hoje de madrugada, lá pelas 02h00 da manhã fui preparar algo para comer. Pensei então numa massa. Simples e prático. E quando eu puxei a tampa do fogão para cima, eu acabei de pensar que há tempos eu não fazia aquilo. Desde que eu comecei a morar sozinha, a minha atividade na cozinha diminuiu drasticamente. É chato cozinhar só pra si. A última vez que eu fiz isso, a comida ficou boa, mas não teve graça comer sozinha e ninguém opinar o que fez. É frustrante até!Fiquei 2 horas na cozinha para fazer uma carne na cerveja com ervas e batatas salteadas com nozes. Estava muito gostoso, mas a sensação horrível de comer todo esse requinte sozinha, é a ponto de quase sentar e chorar. Desde então, no meu armário e geladeira só existem coisas práticas. Pão, geléia, creamcheese, biscoito de gergelim(adoro!), cereal, iogurte, suco, Rap10, algum queijo fatiado e frutas. Para preparo, no máximo, macarrão. Quando vou pra casa de meus pais, a vontade de cozinhar volta, pois ali existem pessoas, há uma motivação para fazer aquilo, então eu volto a criar na cozinha. Talvez seja pura preguiça mesmo, mas a real é que não vejo mais sentido em pintar e bordar na cozinha só pra mim. Quero passar longe desta frustração…
Chá. Eis aí uma coisa que Mariana aprecia. Numa tarde de domingo, ao invés de um passeio no parque, resolveu hibernar. “Hibernar”, uma palavra que sua vizinha deu a ela, quando ela perguntou o que estava fazendo no sábado, quando não a viu. Mariana respondeu que ficou escondida, embaixo das cobertas, pensando na vida, no universo e tudo mais. Então, sua vizinha disse: ‘Estava hibernando então?”, e então Mariana gostou desse termo…Hibernar…hibernar. E então ela se lembrou que nesta próxima semana ela vai trabalhar das oito da manhã até as dez da noite. E então de uma certa forma seu corpo avisou que precisará de descanso. Mariana colocou a chavena de água para ferver. Neste domingo ensolarado ela vai tomar chá e comer morangos com açúcar. Ler um livro e escrever uma crônica. Talvez ouvir música. E então ela olha pela janela e vê as pessoas na rua. Um momento só para mim, repetiu baixinho…isso é muito bom. Arrumou a escrivaninha na sua frente com seu bule e sua xícara. Se ela tivesse um quintal com um gramado e árvores floridas, se sentiria uma autêntica inglesa, e não uma moradora de um bairro de subúrbio de uma cidade do interior. Puxou um livro da estante, sentou na escrivaninha e arrumou as folhas de papel e a sua caneta favorita. E colocou-se a pensar em um Amor que está indo embora, e então no primeiro verso ela olhou e pensou: não vale mais a pena. Esse Amor já se foi, como o último gole de chá que sorveu de sua xícara de porcelana inglesa.
Cena 2: Um passeio no parque
Lívia tira seus domingos para dar uma volta no parque. Coloca uma roupa confortável, pega um ônibus e para em frente do bonito parque de sua cidade. Várias pessoas. Tipos diferentes correndo, caminhando, andando de patins. Ela gosta disso, pessoas, pessoas em seus diferentes biotipos, dramas e sorrisos. O que seria do mundo se todo mundo fosse igual, pensou ela. Um rapaz passa ao seu lado e lhe devolve um sorriso. Ela fica envergonhada e pensa que com certeza o sorriso não era pra ela. E então por um instante ela lembra daquela fisionomia, ela o viu na semana passada, naquele mesmo local, naquela trilha cheia de árvores no parque. Então ele se lembrou de mim?De uma certa forma, pensou ela encabulada. E então ela continuou caminhando. Ajustou o IPOD no modo shuffle e colocou-se a caminhar mais rápido. Talvez ela correria, se continuasse no pique, mas não queria calçar seu salto alto na segunda-feira com dores nas pernas. Parou no meio do caminho para avistar um sagui brincalhão na árvore. Em frente da árvore tinha um banco e então ela sentou, e abraçou as pernas. O homem bonito que sorriu passou do seu lado novamente. Parou e perguntou se já estava cansada, e então ela sorriu de volta e disse que não, que apenas parou para admirar um sagui curioso que estava na árvore em frente. E tentou encontrar o tal sagui novamente, mas ele já tinha se retirado. O homem riu e perguntou se ela o acompanhava na última volta no parque. Ela levantou e seguiu com ele, correndo. Definitivamente, ela amava aquele lugar.
Cena 3: Chimarrão e estrangeirismo
*Dedico essa cena para minha amiga Lisiane, guria querida!
O escritório estava ansioso. No meio da metrópole de Porto Alegre, estávamos todos aguardando a visita de uma instrutora da filial de Campinas. Estava tudo pronto, café bem passado, biscoitos dentro do vidro hermeticamente fechado, xícaras especiais para visitantes, toalha bonita na mesa do café. Marcelo chega correndo com sua chimarreira. “Gurizada, está tudo pronto!Comprei a melhor erva-mate e um pouco de erva-doce para misturar. E a cuia mais bonita!”. Era tradição no escritório, e em todo Rio Grande do Sul, todo visitante tinha de tomar chimarrão. A campainha tocou e o porteiro do prédio anunciou que dona Luciana se encontrava no recinto e perguntou se podia subir. Então todo mundo se preparou na frente de seus computadores, afinal, era uma empresa séria que em plena segunda-feira não comentava o último churrasco com chimarrão(churras e chimas) no domingo. No bairro que eu morava, em Porto Alegre, todo domingo, o quarteirão todo cheirava churrasco e o fundo com carros dava para escutar “Canto Alegretense”, ou qualquer outra música gauchesca.
Não me perguntes onde fica o alegrete
Segue o rumo do teu próprio coração…
Nas ruas, senhorezinhos tradicionalmente vestidos, com suas bombachas e o tradicional bigodão na cara. Eu sempre brinco que quem usa bigode ou é militar, encanador ou gaúcho. Voltando para a cena do escritório, Luciana entra na sala e todos se levantam com um “Oi”, tímido e meio seco. Depois de 2 horas de treinamento, a gauchada já estava rindo e contando causos. E o assunto do dia foi o famigerado churrasco paulista. Luciana defendia o churrasco paulista, dizendo que não via diferença entre a peça inteira de picanha no espeto e a mesma cortada em bifes, na grelha. Depois disso, o churrasco no CTG(Centro de Tradições Gaúchas) foi marcado e a presença dela foi obrigatória. Depois do almoço, nós preparamos um mate bem amargo para ajudar na digestão. Com todo carinho arrumamos a erva na cuia, erva da melhor qualidade, nos atentamos para a temperatura da água, para não queimar a erva. Enfim, todo um ritual para receber um “estrangeiro” e o presentear com uma mate bem amargo. Enfim, tudo pronto, a primeira cuia(entende-se a primeira cuia cheia de água), foi oferecida para a visitante. Ela olhou e disse, “Nossa…será que vou gostar disso aí, dizem que é muito amargo…’. Ela pegou com as duas mãos e pegou na bomba, que ela gentilmente chamou de “canudo esquisito” e começou a mexer como se fosse milkshake de ovomaltine do Bob’s (que aliás, é a única coisa que eles tem de bom). Depois da cara de “eu não acredito que esta criatura fez isso” e um facepalm coletivo, seguido de gargalhadas, Marcelo pega a cuia, verifica se não entupiu a bomba, e arruma todo o mate novamente. Oferece novamente para Luciana, dizendo “Regra número 1: não mexas na bomba guria!”, “Você quis dizer, esse canudinho aqui”, “Não, a bomba, esse canudinho que tu disses se chama bomba!”. No meio de tantas gargalhadas espalhafatosas, Luciana deu o primeiro gole. “Toma”, ela disse, oferecendo a cuia de volta, depois de sorver o primeiro gole fazendo caretas de assustar o Tinhoso. A gurizada olhou pra cara dela, se contorcendo em caretas, dignas de dublê de cena do filme do Exorcista, causadas pelo primeiro contato do gosto amargo da erva-mate fresquinha. “Regra número 2: Tu tens que tomar até roncar cabeça!!”, disse Marcelo, rindo. “Ahhhh, mas não dá para por um pouco de açúcar não?”. “Nãoooo guriaaaaa!Regra número 03: tu jamais pedes para colocar açúcar!”. Luciana tomou, a contragosto, e fez a cuia roncar. Todo mundo se divertiu, Luciana respondeu, quando indagada a respeito do chimarrão, se gostou ou não: “Talvez um pouquinho de açúcar ficaria melhor…” E todo mundo em coro: “Bahhhhhhhhhh…esses paulistas!”
Que saudades…que saudades de Porto Alegre, das tardes com chimarrão e vento minuano no Parque da Redenção!Eu sou paulista, mas gaúcha postiça de coração!
Cena 4: Gustavo na yôga
Gustavo entrou para a yôga. Estava cansado da vida devassa dele, e resolveu levar uma vida mais “zen”. Se matriculou numa escola de yôga, depois de várias pesquisas. Na primeira aula, saiu com dores quase espalhafatosas, mas ficou com o corpo deveras são e mais saudável. Ele fazia aulas todos os dias e estava aprendendo sobre bionergia na alimentação, que diz que carnes são prejudiciais para o equilíbrio entre corpo e mente, o que causava uma certa dificuldade na execução dos asánas(“posturas” do yôga). Gustavo adorava carnes. Nada o satisfazia mais que um belo pedaço de picanha mal-passada. Quando ia nos churrascos, a carne era um prazer imenso que ele dividia com copos de cerveja. Saía do restaurante, entrava no carro e desabotoava os botões da calça e da camisa. E já pensava na próxima carne do final de semana. Nas primeiras semanas, ele foi abandonando a carne, vagarosamente. Mas o problema era nos finais de semana. O cheiro de churrasco o enlouquecia. E cada vez mais ele se sentia inclinado a largar as aulas de yôga, todo final de semana era uma tortura, um verdadeiro karma. Ele era sincero, não conseguia mentir, e a cobrança por partes dos instrutores, por um corpo mais bioenergético e saudável, apertava. Um belo dia, ele saiu em um churrasco com os amigos, e ficou somente na maionese(sem carne!) e uma farofa sem linguiça e bacon que ele comprou. Comprou salsichas veganas para por no espeto e espetinho cafta de soja. Todo mundo sorrindo, se esbaldando, bebendo (quem pratica yôga tem de ser abstêmio de álcool também), e Gustavo ali, só nos vegetais e refrigerante(hipocrisia…). Olhou pra tudo, ficou de saco cheio, afinal, vacas são feitas pra quê?Ele olhava as coxas de frango pingando, molhadinhas no espeto e por nenhum momento conseguiu sentir dó de uma galinha. Foi no barril de cerveja, puxou um chopp e deu uma gostosa e viking mordida na costela no bafo que acabou de sair. Nunca mais apareceu nas aulas de yôga. Hoje ele corre ao ar livre.
Cena 05: A passarela
Depois de um dia de trabalho, Sandra está voltando do trabalho pelas escuras ruas próximas de uma rodovia. Ela tem que cruzar uma passarela para chegar ao outro lado. Coloca os fones de ouvido, e respira fundo, “Mais um dia de trabalho”, suspira ela. E então ela respira fundo mais uma vez e agradece aquela brisa noturna suave, misturada com monóxido de carbono vindo da rodovia. E ela vai caminhando, ora com olhos baixos, ora observando ao redor. Passa na passarela, maconheiros aleatórios falam sobre a vida, o universo e tudo mais. Ela para na passarela e observa as luzes furiosas e velozes dos carros, caminhões e ônibus que passam lá embaixo. E a noite para ela é bela, com todas as luzes de neon e as luzes amarelas dos veículos. Ela olha pra cima, e o brilho de um passado muito distante está sorrindo pra ela. “O brilho do passado”, lembra ela, de ter visto isso em um livro sobre o universo, essas enciclopédias que todo mundo tem em casa. E ficou um tempo lá, na passarela, olhando o movimento. Uma moça passa por ela e pergunta se está tudo bem. Ela riu, disse que não iria se matar. Estava apenas observando a vida em movimento…embaixo do brilho de milhões de milhões de anos atrás. Desceu a passarela, seu ônibus passou, ela subiu, e foi dormir…com um sorriso no rosto. Da hora a vida…pensou ela…a vida em movimento.
Cena 06: Coisas pequenas
Esta cena é um relato pessoal. Cheguei do trabalho hoje,(ops…ontem!sou uma eterna escritora nas madrugadas), as 22h00. Sou o tipo de pessoa que não liga de trabalhar até tarde quando precisa. Eu amo meu trabalho, e não vejo nada de mal isso, pois a recompensa sempre volta. Cheguei do trabalho em casa, tirei os sapatos, dei uma espreguiçada básica, e me sentei em frente do meu quase inseparável e sempre conectado notebook. Enfim, entrei no facebook para ver as últimas atualizações e falar com os amigos. Meu irmãozinho criou um facebook pra ele. Ele tem 9 anos. Isso é bom, porque assim eu sempre, de uma forma mais prático, mantenho contato com ele. Eu sou irmã coruja e guardiã, tô sempre “stalkeando” para ver se ele está fazendo coisas erradas, ou se tem algum espertinho. Nos tempos de hoje, todo cuidado é pouco. Ele me mandou uma mensagem perguntando se estava tudo bem e porque eu cheguei do trabalho naquele horário(eu coloquei essa informação no status). Eu disse que estava tudo ok, e que a semana toda ficarei trabalhando neste horário. Meu irmão tem apenas 9 anos, mas a cabeça dele é bem desenvolvida para entender as coisas. Já escrevi aqui, sobre o fato dele viver rodeado de adultos estressados, logo, assim como eu, ele vai amadurecer muito rápido. Para quem não leu, escrevi isso no texto https://suburbanwars.wordpress.com/2012/07/11/cinema-aspirinas-e-urubus/. Sendo assim, eu perguntei pra ele como estavam as coisas em casa. Ele disse que Nicole, minha irmãzinha de 1 ano e 5 meses acabou de dormir e que meu pai estava roncando desde às 20h00. E naquele momento, que ele escreveu que meu pai estava roncando, eu senti muitas, mas muitas saudades do estrondoso ronco do meu pai. Estava conversando com um amigo, e relatei pra ele, sobre a saudade, e ele comentou que, nos tempos de rebelde dele, quando ele chegava na casa dele doidão, ele deitava no sofá e escutava o ronco do pai dele ecoar pela casa. E então ele me disse, que aquele barulho o dava a sensação maravilhosa de segurança. Porque de uma certa forma, enquanto aquele ronco se manifestasse, ele estaria seguro. Eu brinquei dizendo, que ele se sentia seguro porque o pai dele estava em ronco profundo e não saberia que ele chegou doidão em casa. Mas, brincadeiras a parte, ele traduziu exatamente o que eu sentia, e o porquê de tudo isso. Porque, naquelas noites, eu sabia, que enquanto o meu pai roncava assustadoramente, aquele homem ali naquela cama, ao lado da minha minha mãe, está vivo e me protegendo de tudo o que pudesse acontecer. Se eu passasse mal à noite, eu saberia que ele poderia me acudir a qualquer momento. Eu poderia simplesmente levantar da minha cama e dar um beijo nele enquanto ele dormia. Agora que eu moro sozinha, que eu escuto apenas a minha respiração e o cooler do notebook, parece que falta algo…e isso é o ronco do meu pai!Engraçado como, em alguns momentos das nossas vidinhas, sentimos falta das pequenas coisas(nesse caso…estrondosas coisas!).
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle…
Cena 1: A menina no espelho
Lydia se despediu da família. Ela mal conseguiu dormir de noite, por causa da despedida. Despedidas são sempre algo muito doloroso, e então ela imaginou o rosto de sua mãe, na soleira da porta, e ela por instantes se perguntou se suportaria tudo isso. Deitada na sua velha cama ao anoitecer,com os olhos arregalados a fixar o teto, ela percebeu o quanto vai sentir saudades dos lençóis lavados, e do café com bolo que sua mãe sempre lhe deixava em cima da mesa. Se pai, ela nunca conheceu, mas ela mesmo assim se pergunta se ele sentiria saudades. Acordou de manhã, sentou-se na beirada da cama. Ao ver o amontoado de malas, colocou-se a chorar, e num desespero quase por silencioso, ela tirou as roupas e observou-se no espelho: estava envelhecendo, suas pernas, antes de menina serelepe que brincava de pular poças após a chuva, ganharam o torno de uma mulher de 25 anos. Então ela pegou uma cadeira e colocou-se a pentear os cabelos, nua em frente do espelho. A cada escovada, lágrimas de perdão escorriam pelo rosto. E então ela não se reconhecia mais.
Cena 2: 29 de julho
As garotas desfilando
Os rapazes a beber
Já não tenho a mesma idade
Não pertenço a ninguém
Antônio têm 24 anos. Daqui a alguns dias ele fará aniversário. Ele finge não se preocupar com isso, “eu não acredito em inferno astral”, ele diz aos amigos, mas lá no fundo ele se sente velho, e um turbilhão de pensamentos o amedrontam, e então ele se recolhe no seu mundo particular. Há um pequeno mural na parede, cheio de fotografias, e ele olha minuciosamente cada uma delas, “estou ficando velho”, ele diz pra si mesmo. Está chovendo lá fora. Ele coloca as velhas fotografias no lugar e se esparrama na cadeira da escrivaninha em frente a janela, apoiando os pés em cima da mesa. Ele olha lá fora e vê pequenas gotas de chuva escorrendo no vidro. E por instantes ele esqueceu todas as preocupações, ele poderia passar horas ali, apenas observando a chuva. Ele poderia adormecer e tentar sonhar com um mundo menos agressivo e mesquinho. Mas ele queria apenas estar ali, naquele momento, observando a chuva escorrendo no vidro do seu quarto. Foi na cozinha, preparou um chá, tirou um livro da estante e colocou-se a ler, pois é isto que ele gosta de fazer nas horas vagas.
Cena 3: Estação de Trem
When I hear the engine pass
I’m kissing you wide
The hissing subsides
I’m in luck
Letícia vai perder o trem, ela ainda corre desajeitadamente em cima de seu salto alto e saia executiva. Na última estação ela espera seu amigo ligar pra ela. “Hoje vai ter festa!”, murmura ela com um sorriso no rosto. Henrique lhe manda um sms: “Le, a festa começa às 21h00, te pego em casa às 20h30 e depois vamos pra sua casa beber aquela vodka”. Ela ainda estava na estação porque teve que ficar até mais tarde no trabalho. “Bernardo eu te mato!Eu te mato!”, murmurava ela, numa raiva quase visível. Bernardo era seu colega de trabalho desengonçado, tímido e antisocial, que vivia fazendo coisas erradas. E sempre para protegê-lo ela apagava as chamas antes que o incêndio se alastrasse. Bernardo era um homem extremamente desastrado e distraído. Um dia ele esqueceu o celular na gaveta do trabalho, e tinha um problema para ele resolver no final de semana. Eles se odiavam, ela porque ele era estranho, mal falava e fazia as coisas pela metade.
“Tomara que Henrique esteja usando aquele perfume gostoso hoje”, pensou ela, enquanto respondia a mensagem. Henrique e Letícia tinham um caso. Eles não namoravam, eles não se amavam para se transformar em namoro. Era apenas tesão. Ele era um chato, burro e fútil, mas pelo menos ele a satisfazia e era deliciosamente engraçado. E então eles fizeram um trato, enquanto não achavam suas respectivas tampas de panela, um satisfazia os desejos do outro. Não era necessário satisfações, perguntas, ciúmes…apenas um pacote de camisinhas e um lugar que desse para transar.
O trem chegou na estação e estava lotado e ela ficou de pé. Olhou pela janela e viu um belo homem correndo apressado, em direção ao trem. Quando ele se aproximou, ela reconheceu, era Bernardo, o desastrado funcionário correndo. Ele estava diferente, sem as habituais roupas de trabalho, sem os óculos desajeitados e o cabelo lambido de gel. Seu cabelo estava docemente bagunçado. Não parecia o mesmo homem. Ele entrou e ficou do seu lado, apenas acenou com os olhos, pois sabia que Letícia o odiava. Ele tinha um cheiro bom, aquele de quando acaba de sair do banho. O trem estava lotando e ele foi se encostando mais nela. Aquilo a deixava perturbada, pois ela não podia ter aquelas sensações com o cara mais comentado, tido como fracassado e estrambelhado do trabalho. Ele era quieto, estranho e desengonçado. E então para quebrar o gelo ela puxou conversa. E no trajeto de 30 minutos parecia que eles se conheciam há anos. Desceram na última estação, tomaram um café juntos. Letícia mandou uma mensagem para Henrique: “Não vou poder sair hoje”. Tomaram um café e ela chamou Bernardo…para tomar uma vodka.
Cena 4: O Homem que lavava louças.
Meu bem querer
Tem um quê de pecado
Acariciado pela emoção…”
Andréa estava estressada. Seu trabalho é sua paixão, mas muitas horas ela tem vontade de jogar tudo para o alto e pedir as contas. E então, após isso, ela pensa em abrir um pousada em algum lugar paradisíaco. Ser dona do próprio negócio, isto é a real, pensa ela, enquanto manda um status no Facebook sobre o quanto está difícil esta nova fase. Ela encontra seu chefe pelo caminho e pede para adiantar a sua pausa vespertina. Ela segue em direção ao refeitório, mas por um momento percebe que esqueceu o crachá em cima da mesa. Ela dá meia volta, meio sorriso para a secretária gostosa porém burra que só atrasa sua vida. Ouviu a última piada ruim de seu companheiro de trabalho, e lhe disse que um dia vai ter coragem o suficiente para expulsá-lo da sala se mais alguma piada infame de pontinhos surgisse. Ela no fundo, adora piadas sem graça. Seguiu em direção ao refeitório com sua maçã e sua bolacha água-e-sal. “Preciso emagrecer”, pensou ela, e então ela acena para Justina, sua amiga revendedora de coisas de mulher. Ela deixava sempre uma boa quantia de dinheiro com ela. Andréa se dirigiu à máquina de café, escolheu um café longo com pouco açúcar sentou na mesa e então sentiu seus dedos latejarem dentro do sapato apertado, e então lembrou o quão difícil é ser mulher. Resolveu olhar os emails pessoais no celular, enquanto mastigava a bolacha. Enjoou daquilo e resolveu observar ao redor. Na terceira mesa tinha um homem. Ele gesticulava quando conversava, tinha os olhos bonitos, castanhos e não muito grandes. Pele branca e cavanhaque. Um homem docemente comum, vestido em roupas de trabalho. Andréa ficou observando aquele homem, enquanto dois companheiros conversavam. Ela concordava com o que eles falavam, mas ela estava longe com seus olhos de lince. O homem levantou da mesa e se dirigiu para a pia. Poderia passar um palhaço numa bicicleta com uma roda só, fazendo malabarismo, mas Andréa não conseguia tirar os olhos…”Ele tem olhos gentis”, pensou ela, e quando ele olhava nos olhos nela, ela abaixava os olhos e observava o café esfriando no copo, e então ela se lembrou do trecho de uma música:
Lilac wine is sweet and heady, like my love
Lilac wine, I feel unsteady, like my love…
E então ela ficou como um vinho lilás, com um amor instável, e naquele momento nada importava, nem os problemas do trabalho. Nos seus momentos de descanso a beleza era algo a se contemplar, como uma tarde chuvosa. Ele se levantou, pegou seus talheres e potes sujos, e se dirigiu a pia. Ele ficou de costas, mas isso não era um fator para ela abandonar seu voyerismo. Ela o observou, e então olhou para suas mãos com unhas pintadas de vermelho, e em seguida olhou para aquele homem de costas. Deu um riso acanhado, e pensou: “Como sou besta, eu mal o conheço para poder arranhar as costas”. E ela observava quase encolhendo na cadeira, enquanto ele esfregava os talheres vagarosamente, numa malícia sem querer. E ele ficou lá, por vários minutos esfregando a louça numa perfeição vagarosa e úmida. Então ele olhou para o lado e sorriu ao cumprimentar um colega de trabalho…e continuou a esfregar a louça. Depois daquele sorriso, Andréa foi para a cantina: 2 chocolates, por favor!
Cena 5: Amor cego
Eu cuidarei do seu jantar
Do céu e do mar
E de você e de mim…
Paulo chegou correndo na rodoviário. De nada adiantou ele correr, pois o ônibus ele já perdeu. Comprou a passagem, parou em um restaurante, pediu um almoço executivo, leu uma revista comprada numa livraria. No banco de espera em sua frente, havia um casal. Uma mulher de cabelos curtos, com seus 50 anos e um homem. O homem era cego. Então ele começou a observar os dois. Ele pode ver que o homem cego sabia exatamente onde sua amada estava, como se ele pudesse enxergá-la, e ele tocava o rosto dela, e lhe deva beijos. Ela foi em um quiosque buscar uma garrafa de água, e ele soube quando ela estava chegando, e lhe deu um sorriso estendendo a mão para pegar a garrafa de água. O amor entre os dois era muito mais bonito que muito casal com os olhos que enxergam. Então o ônibus de Paulo chegou, e ele não se aguentou de curiosidade. Se dirigiu ao casal cuja beleza muitos olhos não vêem, e perguntou: “Como você sabe quando ela está perto?”, perguntou Paulo. O homem cego então lhe respondeu: “Eu sinto o cheiro e o calor dela quando ela se aproxima.”
Cena 6: Voyeurismo sabor pêssego
Nancy esperava seu amor chegar do trabalho. Já tinha tomado seu banho e vestia uma camiseta e meias 7/8. Sentou na poltrona e começou a ler um livro, enquanto seu Amor não chegava. Talvez ela lhe faria uma massagem após o banho, fariam amor e o veria dormir. Ele chegou, ela pode ouvir o barulho das chaves girando na porta. Ele chegou com sacolas do mercado, deixou-as em cima da mesa e foi em sua direção. Deu-lhe um beijo longo e acariciou os cabelos, e depois os bagunçou para fazer graça. “Gosto de ti, com os cabelos bagunçados”. Ele segue para o balcão da cozinha, para guardar as compras. Ele chegou do trabalho disposto a cozinhar para o jantar, apesar de suas habilidades na cozinha serem praticamente nulas. Nancy o observava da poltrona, rindo das situações cômicas do trabalho que ele estava contando. “Hoje vou fazer um spaghetti querida…acho que aprendi a fazer…Lembra aquela vez que eu joguei o macarrão na água antes de ferver e esqueci de colocar óleo, e ficou tudo unidos venceremos a nação?”, Nancy riu, “E se não bastasse, você simplesmente abriu a lata de molho e jogou em cima sem esquentar…foi tão horrível que nem o cachorro quis!”, então ambos riram e ele jurou que isso não iria acontecer, porque ele finalmente aprendeu. Nancy disse “Veremos”, e riu baixinho. Ele colocou uma panela de água no fogão, e já colocou o óleo e o sal para não se esquecer. Ele comprou pêssegos frescos, grandes e rosados. Pegou um da sacola, lavou na pia, sentou-se num banco em frente ao balcão e abocanhou o pêssego, quase em desespero enquanto folheava uma revista e a água fervia. Nancy observava a cena e a cada mordida naquela fruta e cara de satisfação que seu amado transmitia, ela se encolhia na poltrona com o livro entre as pernas. Ele acabou, limpou os lábios no antebraço e olhou para Nancy. Ela estava estarrecida, derretida no sofá. “Que foi?Você está bem?”. Nancy levantou, tirou o pacote de macarrão das mãos dele e o arrastou para o quarto. Nancy entrou em ebulição, como a água que estava fervendo na panela…
Neste final de semana prolongado, depois de uma ressaca desgraçada fruto de coca-cola com rum, mas enfim, uma sexta-feira muito divertida. Depois destes dias de boêmios, nada como dar uma relaxada. No domingo, levei meu irmãozinho no cinema, para assistir “Era do Gelo 4”. E nesta questão quero explorar o meu ponto de vista sobre as crianças hoje em dia. Eu diria que são crianças do subúrbio. O que aconteceu com a infância de hoje?Meu irmão tem 9 anos, mas vive cercado de adultos estressados demais para dar a devida atenção que merecem. É tão cruel isso não é?Quando eu vou pra casa dos meus pais de final de semana, eu mesmo percebo o quanto nós, adultos, estamos cada vez mais rabugentos, e seriamente, comecei a pensar muito nisso. Quando ele, o meu irmão menor, chega pra mim, e me pergunta:
Ana, vamos brincar?
Eu queria imensamente poder dizer, “Sim vamos!”, mas aí entra a rabugice, eu sempre digo que estou cansada, que tenho coisas pra fazer, o que de certa forma, não é uma mentira, realmente, tem finais de semana que eu até evito sair de tão cansada que eu me encontro. Muitas vezes eu me sinto como uma velha coroca sem-graça. Fico deitada embaixo das cobertas, lendo, dormindo ou escrevendo neste humilde blog. Eu brinco com os amigos que cansei de ser certinha e vou ser boêmia, mas na boa, eis uma imagem que não combina muito comigo. O máximo que eu faço é tomar umas a mais e ficar um pouco alegre, mas no mais, não saio pegando ninguém por aí, nem caindo bêbada na sarjeta. Sim, eu sou chata bagaralho. E tenho tendência em gostar de pessoas que também são chatas, o que gera atritos mal compreendidos, mesquinhos, coisa de amor e ódio. Perdi as contas de quantas pessoas se afastaram de mim, simplesmente por me levarem a mal ou por me achar de uma certa forma, assustadora. Pessoas chatas atraem outras pessoas chatas, é como se fossem imã e ferro. Mas isso é assunto para outro post. Se você for um chato, rabugento, seletivo e introspectivo, eu posso gostar de você e você se tornará meu melhor amigo. O que eu quero chegar aqui, é o fato das crianças de hoje estarem rodeadas de adultos chatos, que muitas vezes esquecem que todos merecem ser criança, no seu tempo certo. Se você tem de 0 a 13 anos, sinto muito, você é criança, todos merecem ter uma vida de criança e não serem emulados precocemente para uma vida adulta. Hoje eu vejo que as crianças estão cada vez mais adultas, pois nós, adultos, queremos que elas sejam “O Homenzinho da casa”, “Uma pequena dama”, estamos transformando as crianças em seres adultos de menos de meia estatura. Nós já queremos colocar na cabecinha inocente delas que o mundo é cruel e o mundo é dos espertos. Nós pegamos todas as crenças delas e jogamos no lixo, quase dizendo para crescerem pois o mundo não tem tempo para criancinhas que correm atrás de pipa. Nós já colocamos na cabeça delas, que elas tem que estudar, porque o mundo é cruel e sem estudo nós morremos de fome. E então, nós apontamos o dedo para um lixeiro na rua e já dizemos para a pobre coitada da criança, que se ela não ler a Scientific American desde os nove anos de idade, ela vai passar o resto da vida dela inteira catando lixo e cortando as mãos nos cacos de vidro das garrafas de champanhe de burgueses metidos a besta. Eu citei a Scientific American, porque um dia meu pai voltou da banca de jornal, dizendo que comprou uma revista para meu irmãozinho. Era uma Scientific American, edição para leigos, cuja capa era sobre a “Teoria das Cordas”. Lembremos que “O Universo numa casca de noz”, que é física teórica para “leigos”, com ilustrações bem bacanas, foi feito com esse intuito também, mas mesmo assim, é tido como uma leitura desafiadora até para as mentes inteligentes. Agora imaginem a mente da pobre criança. Um dia eu cheguei do trabalho, e meu irmãozinho “mandou”(sim, ele manda!), acessar o YouTube, pois ele encontrou um vídeo de um buraco negro engolindo tudo o que vê pela frente. E ainda soltou:
Ana, você sabia que o fim do mundo pode ser um buraco negro, pois o sol é uma estrela e um dia ela vai perder calor…
Eu digo, que sinto muito orgulho do meu irmão, e acho muito fofo ele dizer que quer ser cientista. Eu vejo muito de mim nele. Mas acho que antes de ele ler e compreender a Teoria das Cordas, ele deve ler a coleção “Cachorrinho Samba”, ou “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Quando eu era criança, eu morei com uma família adotiva. Digamos que a história de minha vida é digna de escrever um livro dramático sobre ela. Mas, sintetizando, passei boa parte da minha infância, sozinha, em decorrência da separação de meus pais adotivos. Tanto na minha família adotiva, quanto biológica, os livros foram um incentivo desde cedo. Mas digamos que só eu mesmo preservei esse vício e hoje tenho uma biblioteca considerável. Livros, desde a minha infância funcionam como, além de um prazer inigualável, uma válvula de escape. Quando estou triste, ou quero simplesmente esquecer ou afastar algo que me perturba, eu costumo ler, ler bastante, como se isso espantasse todos os meus demônios pessoais…
Digamos que estou numa época que estou possuída não por um demônio, mas por uma legião deles…
Livros a parte, eu amadureci muito cedo, e de uma certa forma, sofri um bocado por conta disso. E eu não gostaria que meu irmão passasse por isso. Muitas vezes queremos que nossos filhos sejam nossa imagem e semelhança. Pais nerds querem enfiar roupas de jedi nos filhos, sem nem ao mesmo se perguntar se eles têm o direito de escolha. Não vou negar que eu acho isso muito fofo, e que provavelmente se eu encontrar algum doido varrido por aí que me aceite do meu jeitinho desvairado de ser, e que me diga quando eu estiver só de camisa de botão pela manhã com uma xícara de chá, cara amassada e um livro no colo, que quer ter um filho comigo, provavelmente vou comprar um enxoval do Star Wars e colocar “Starway to heaven” versão canção de ninar para ele dormir…bom, vamos acordar, a vida não é da forma como gostaríamos que fosse. Talvez eu seja a tia solteirona com um cachorro. A vida é bem cruel com quem não quer viver de amores fáceis…
No natal passado, eu dei toda a coleção dos livros de Harry Potter pra ele. Embrulhei direitinho e ensinei a ele como cuidar de livros. Quando eu levei ele no cinema, ele me acompanhou na livraria, especificamente, a Nobel, no Tivoli Shopping, em Santa Bárbara, minha terra querida. Lá ele me disse que gosta de vampiros. E se interessou por um livro da série “Vampire Diaries”. Então eu já disse pra ele que quando ele crescer ele vai ler histórias de vampiros de qualidade, como Anne Rice, Bram Stocker, assistir Nosferatu, Entrevista com o Vampiro, e ainda disse que aquilo que ele gostava não eram histórias de vampiros de verdade. Mas o que diabos eu estava fazendo?Onde estava a liberdade dele gostar do que quiser?Quando eu era criança eu gostava de Backstreet Boys, e aquilo era um lixo. E então eu me coloquei a pensar e perguntei se ele queria levar o livro. Então ele disse que precisava terminar de ler Harry Potter e os quadrinhos do Snoopy. E então eu senti muita vergonha de mim mesma por interferir nos gostos dele. Eu chamo a atenção dele porque ele gosta de Gustavo Lima e a música do tchê tchê, tcha tcha, sei lá que merda é essa. E eu olho isso tudo, e vejo o quanto queremos nossa imagem e semelhança nas pessoas que gostamos. E neste domingo, eu o levei para se divertir. E ver a alegria dele, estampada no rosto, ver ele correndo para jogar basquete nos brinquedos, pulando na piscina de bolinha, comendo lanche e se sujando todo, foi uma alegria imensa. Tirar ele do mundinho cercado de adultos, foi muito bonito. Eu gostaria que ele saísse mais, aprendesse a empinar pipa, soltar pião, que ele tivesse uma turminha do barulho, igaul eu dos meus 11 aos 13 anos, quando eu jogava bola, descia de carrinho de rolimã, brincava de esconde-esconde, jogava super nintendo nas horas vagas, e não o dia inteiro. Toda criança deveria ter mais brincadeiras ao ar livre, e hoje o que vemos são sorrisos eletrônicos…
Na sexta-feira, saí com os amigos.Fomos no Thunder, um buraco com um bar, banda tocando e apreciadores de rock’n roll. Este bar tem como proprietário, um velho amigo, já quase cego, do meu irmão, o Alemão. Foi a primeira vez que eu fui pra lá. Desde que eu voltei de Porto Alegre, andei meio reclusa de vida social, mas estou voltando à cena novamente. A noite foi bem divertida, uma “festa estranha com gente esquisita”:
Festa estranha com gente esquisita: um mendigo e um zumbi lá atrás…conseguem ver???
Marquei de encontrar meu irmão, minha cunhada e minha amiga black metal. A noite foi de muita conversa, um complô armado para trazer um velho amigo nosso de volta pro rolê, cerveja e um muitas cubas livres, o que me trouxe um fato engraçado. A Tamirys, minha velha amiga companheira de rolês disse que eu desabei na cama quando chegamos. Só sei que eu acordei e eram 10h30…mas eu lembro de tudo!!Lembro de sentir que ela e o Linardo tiraram minhas botas e a jaqueta e me cobriram e ela disse que eu me encaixei no vão da cama e a parede e que eu dizia algo na língua dos wookies…
Segundo a Tamys…eu murmurava algo assim…Madeiraaaaaaaaaaaa!!!!!
E agora eu entro na segunda parte, ASPIRINAS. É quase insuportável a ressaca que um rum Montilla traz no dia seguinte. Parece que eu tomei uma sussurra, ou um trator de quinhentas ou mais toneladas, passou por cima do meu corpinho singelo. Eu não estava com dor de cabeça, igual ao dia que eu fui forever-alone em um show de Pink Floyd instrumental no Bar do Zé, e passei a noite tomando caipivodka e cerveja irlandesa. O rum me dá moleza e um sono absurdo no dia seguinte, mas dor de cabeça não, ao contrário de qualquer coisa com vodka, seja ela uma Absolut/ Orloff/Natasha/Balalaika(Natasha é a pior que eu já tomei…). Mas mesmo assim, tomei umas aspirinas para aguentar a dor no corpo. A sorte é que a mãe da Tamys fez uma deliciosa limonada com gengibre que curou a ressaca maravilhosamente bem. Quem me lê acha que eu sou uma bêbada, alcóolatra, que só dá trabalho. Mas eu nunca dei B.O. Quando eu vejo as coisas ficarem levemente embaçadas, eu paro com os recursos etílicos. Vou ser bem careta agora, neste momento, beber é bom, é divertido, desde que você não saia por aí desmaiando na sarjeta, tomando glicose na veia e vomitando no pé do amigo. O máximo que acontece comigo, é eu ficar mais alegre e falar sem parar, mais que o anormal.
Entenda…álcool não é “Embelezol”.
Álcool funciona mais no quesito de ensaiar um passo estranho numa festa estranha com gente esquisita, do que qualquer outra coisa.
Bom, já entrei na questão cinema(para abordar a questão “infância”, aspirina (remédio excelente pós-ressaca-vadia) e agora a questão urubus. No domingo para segunda, fui para a casa de meus papis. A noite de sábado para domingo foi deprimente. Fui numa festa em Itu, mas no geral estava chato. O melhor momento foi assistir a luta “ao vivo” do Anderson Silva contra aquele cretino vadio norte-americano. A comida estava muito boa, o quentão e o vinho quente estavam divinos, mas depois dessa noite, eu compreendo que uma das coisas mais chatas do mundo é ir numa festa onde você só conhece uma pessoa, e tem toda uma panelinha formada. Eu me senti uma total estranha no ninho. Não que não tinha gente legal ali, muito pelo contrário, mas digamos que era uma festa para pessoas que já se conheciam há tempos, e ali, eu realmente era a “amiga de fulana”. Depois de uma noite entediante, fui pra casa no domingo, na hora do almoço e depois saí com meu irmãozinho. Na segunda pela manhã fui fazer uma caminhada. Como podem perceber, eu gosto muito de caminhar. Sempre faço isso, é como se eu tirasse um tempo para refletir. Gosto de fazer caminhadas sozinha, pois assim não tenho interrupções nos fluxos mentais, e posso escutar minhas músicas. Eu nunca esqueço uma frase que uma pessoa que eu não me lembro exatamente quem seja, mas essa pessoa me disse:
Ana, você é intensa demais…
Hoje eu vejo, que na época eu dei risada do comentário acima, e levei na brincadeira, mas ele está certo. Muitas vezes nós somos incompreendidos. Somos incompreendidos porque pessoas que pensam demais, pessoas mentalmente hiperativas,pessoas intensas, muitas vezes falam e agem por impulso, pois pensar e ser intenso demais não é necessariamente em pensar e agir da maneira correta. Nós agimos, depois pensamos nas consequências. Nossa mente é como uma bomba relógio, então nos colocamos a mente para trabalhar, muitas vezes dizemos ou fazemos coisas sem sentido, se estou com um poema ruim na cabeça, eu posso voltar para casa e publicá-lo, e nele pode contar verdades ou meia-verdades disfarçadas em sutilezas do dia-a-dia. Eu acordo de madrugada e escrevo a trama de um sonho, antes que eu me esqueça, e isso costuma acontecer, pelas manhãs. Eu posso dizer exatamente o que eu penso, independente do que as pessoas achem ou não. Se eu estou apaixonada, eu não escondo mais. Pessoas intensas, muitas vezes possuem o mal da sinceridade extrema, algo meio “coruja depressão”, falamos o que nos der na cabeça, e muitas vezes uma brincadeira pode ser levada como verdade absoluta, e então perdemos amigos por aí. Muitas vezes gostaria de poder dissimular e fingir, algo como um ciborgue, emular sentimentos e depois, simplesmente apagá-los como algo sem valor, mas eu tenho todas as minhas entranhas para fora, e isso de uma certa forma é algo assustador para muita gente, pois as pessoas se aproximam, interessadas no algo novo e incomum que você tem a oferecer. E então, depois de um certo tempo, elas se afastam feito crianças assustadas, pois pessoas assim possuem as entranhas expostas. Talvez se minhas entranhas não estivessem tão expostas num prato, servido a molho pardo, talvez, quem sabe, a mágoa seria menor. E o mais engraçado, é que eu não consigo sentir ódio dessas pessoas, tão indefesas frente ao fuzilamento de verdades e meia verdades. Elas preferem um mundo onde todo mundo finge, e o tempo todo são banhadas de elogios. Ninguém gosta de ser visto por dentro, ninguém gosta que metam o dedo na ferida. E então, você que me lê me pergunta,
Tá…e onde entra a porra dos urubus?O título dessa merda não é “Cinema, aspirina e urubus”?
Então…voltando, na minha caminhada perto de casa, como lá é um bairro no meio do mato, animais mortos aparecem sempre por ali. Estava andando na estradinha de terra, e encontrei um cachorro morto, com as entranhas para fora, por isso a analogia “pessoas com entranhas expostas”. Em volta dele, do cachorro, tinham vários urubus. Sempre tive um certo fascínio por essas aves horrendas. Elas tem um modo de viver muito peculiar. Quando eu era criança, eu via esses bichos lá no céu, planando em círculos, e de uma certa forma eu queria entender como eles localizavam sua comida, lá de cima. Eu era criança, e naquela época, internet e Discovery Channel era algo para bem poucos. E então eu pegava uma tarde qualquer, deitava bem no meio de uma quadra de basquete que tem em casa, e me fingia de morta. De vez em quando, eu abria os olhos para ver se algum urubu se aproximava, porque na minha cabeça, eles avistavam algo “deitado” no chão. Então, pela minha lógica infantil, eles se aproximavam para ver se estava morto, se sim…comer!Se a premissa for falsa, os urubus fogem para as colinas e tentam outra vez, planando no céu. Obviamente, eu ficava deitada lá feito uma retardada, e nada acontecia. E então, pouco tempo depois, em um livro sobre pássaros que eu encontrei na Biblioteca Municipal de Santa Bárbara, eu li que essas aves tinham visão e olfato apurado. Talvez se eu me esfregasse em algo morto, eu poderia chamar eles mais pra perto. Bom, isso é um detalhe da minha infância, mas onde eu quero deixar, é que quando eu vi o cachorro com as tripas para fora e os urubus grasnando quase parecidos com corvos…aliás, eles não grasnavam…eles crocitavam, então eu me lembrei desse evento, quando eu era criança. E então, eu continuo sempre afirmando…#DA HORA A VIDA NÃO É?E o corvo que viu minhas entranhas, assim, tão de perto, está crocitando de longe: “never more…never more”…
The welts of your scorn, my love, give me more
Send whips of opinion down my back, give me more…
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Sonzinhos aleatórios inspiradores embaladores desse post madrugador : foram várias!!Hoje teve Blue Oyster Cult, Pink Floyd, Jeff Buckley, Sia, Couer de Pirate, The Cure, Pain of Salvation.
Na segunda-feira, dia 02 de julho, resolvi sair do trabalho e pegar um cineminha. Eu estou sem dinheiro, mas pelo menos eu tinha oito “dinheiros” para dar na entrada do cinema. De segunda-feira, é mais barato lá no shopping Dom “Pedra”, e de quebra caiu o meu vale-refeição na segunda. Como eu já costumo dizer, pobre é uma desgraça, vai sempre no dia em que as coisas estão mais baratas. Saí do meu trabalho, atravessei a passarela, onde sempre tem um povinho fumando maconha. Eu já até conheço o pessoal, pois costuma ser sempre os mesmos. Seguro a respiração e sigo o rumo, pois senão dá para ficar meio alterada porque há extensa nuvem desse treco fedido no ar. E sinceramente, não sou fã, acho fedido demais e minha cabeça já tem parafusos a menos sem eu usar nada ilícito. Para isso temos o álcool, que é permitido, muito apreciável(depende da “grife”, não dá para comparar uma Orloff com uma Absolut), gostoso, une as pessoas sem preconceito(todo mundo fica lindo e legal) e o máximo que pode acontecer, como diz minha sábia amiga Lisiane, é você perder o os amigos, o carro, a família e o fígado. Maconheiros e álcool a parte(prometi que vou fazer um post todo especial sobre o “Álcool, o universo e tudo mais”), segui o meu rumo, esperando o ônibus na estação do Tapetão. Peguei o 331, um ônibus maledeto no qual já fui assaltada e quase encontrei a criatura mais linda do universo se eu não fosse distraída e apressada. E mês passado eu tive a visão do inferno, mas essa foi no 332, eu dentro e o ser cuja beleza não pode ser conjugada(beleza defectível) do lado de fora, bem em frente ao prédio de engenharia, para minha alegria ou infelicidade, pois ao certo eu não sei mais de nada, esses dias ele disse que estava vivo, e isso já me deixa um pouquinho feliz. “Never More, Never More”, isso me lembra Edgar Allan Poe…
Aquele momento em que eu vi o bonitão da janela do ônibus. Ohhhh Jesus Christ what do I do?
Fiquei cerca de 3 minutos dentro do 331 até chegar no terminal Barão Geraldo, que estava bufando de gente, inclusive pessoas aromatizadoras de ambiente, que geralmente tem dois aromas: pastel de carne e pastel de queijo. É uma delícia, principalmente quando está com fome e quando é de manhã, depois do banho. Nada como um cheirinho de pastel grudado nos cabelos. Puro Tesão!Quando é depois do trabalho, eu não ligo, posso chegar em casa e “despastelizar” com um banho maravilhoso e depois partir para as cobertas com um livro a tiracolo, ou meditação, ou ouvir um sonzinho.
Fiquei lá no terminal, no ponto do 338, que é a linha do shopping Dom Pedro. Enquanto o ônibus não passava, eu me distraia com Jeff Buckley nos ouvidos e um livro biográfico sobre Giácomo Casanova, o “muleque piranha”, “putón”, de Viena, na era do Iluminismo. O ônibus não chegava, mas lá na frente vinha vindo o 300, então apertei o passo e subi nele. Fiquei de pé no ônibus, guardei o livro na bolsa, e pensei que, apesar de ser segunda-feira, eu não sei bem o motivo, mas estava muito feliz, mesmo naquele momento, apesar de estar ouvindo “We all fall in love sometimes”, interpretada por Jeff, cuja letra, escrita por Elton John, é de derrubar muros, eu estava lá com um sorriso no rosto, talvez um sorriso sádico, mas um sorriso.
We all fall in love sometimes
The full moon’s bright
And starlight filled the evening
We wrote it and I played it…
Duas músicas depois, eu estava no shopping Dom Pedro. E eu ingenuamente imaginei que por ser segunda-feira, e a galera ainda não ter recebido, o shopping não estaria cheio…ohhhh engano meu!!!O shopping estava lotado!Pode ser que todo mundo tenha tido o mesmo pensamento meu, foi aí que eu lembrei o detalhe do recesso escolar. Mas isso não era problema, de vez em quando eu gosto de ver pessoas…Entrei pela entrada das águas, pois é mais próxima do cinema. De longe avistei a fila quilométrica do cinema, mas estava de bom humor, e eu tinha um livro, eu poderia ler ele na fila, enquanto esperava. Chegando no cinema, entrei na fila daqueles terminais de compra com cartão. A fila estava enorme, mas não tão grande quanto a fila do caixa com atendentes. Entrei na fila e tirei o livro da bolsa. Tinha uma moça na minha frente que a princípio estava sozinha. De repente chegam as amigas dela e a cabeçuda deixa elas entrarem na frente. A vontade de mandar as duas vadias entrarem na fila lá atrás era grande, mas mantive meus nervos em ordem. Depois de cerca de 20 páginas lidas, estava perto do meu objetivo, que no momento era comprar o ingresso. Quando chegou na hora das vadias fura-fila, elas eram muito burras e não perceberam que elas teriam que inserir o cartão ao invés de passar o cartão, tendo em vista que era um cartão com chip. Então eu com toda a paciência do mundo:
O cartão de vocês é chipado, vocês terão de inserir o cartão ao invés de usar a tarja magnética…
Enfim, chegou a minha vez e as 3 vadias anencéfalas, mesmo eu tendo passado as manhas, elas insistiram passar a tarja. Eu comprei meu ingresso, e ouvi a vadia nº 02 falar pra vadia nº03: “Aiiiii a moça conseguiu…ACHO que tem que inserir mesmo.” Dei risada, quase dei um troféu jóinha de “parabéns, você finalmente compreendeu”, e segui meu rumo.
Sobre a escolha do filme, eu iria assistir “Sombras da Noite”, mas na real não estava com muito saco, até porque o Depp está fazendo alguns papéis muito repetitivos. Outro fator também, além disso, é que a sessão de “Sombras da Noite” só teria 21h45, e eu sou uma pessoa pobre que depende de ônibus para voltar pra casa. Tendo em vista que o última linha do Vila Santa Isabel sai do terminal as 0h40, eu resolvi não arriscar, até porque eu não teria dinheiro para o táxi. O último dinheiro que eu tive, além da entrada para o cinema, eu gastei no Bar do Zé com cerveja Murph’s e depois com o táxi, porque resolvi não arriscar voltar 04h00 da manhã de domingo, semi-embriagada, a pé para casa. Como eu digo, pobre é uma desgraça, mas eu sou limpinha e feliz.
Pobre só pensa que existe: “Penso, logo existo!”
Estava olhando a programação do cinema e vi que estava passando “Para Roma com Amor”, um filme de Woody Allen. Olhei no elenco, só tinha gente foda, o filme é em italiano e tinha minha musa Penélope Cruz, que simplemente acho a mulher mais linda do universo:
Na pele de Maria Elena, em Vicky Christina Barcelona, também de Woody Allen. Ela ganhou o Oscar pela atuação.
Depois da escolha do filme, cuja sessão começava as 21h15, como era 20h00 ainda, resolvi dar uma voltinha. Pela primeira vez na história deste país, entrei numa livraria e não comprei nada, mas isso aconteceu porque realmente não tinha dinheiro, mas tinha vale-refeição. Meu vale-refeição é até que versátil, pois às vezes ele se transforma em vale-álcool, poderia muito bem servir como “vale-livros”. Levando em conta que uma vez ouvi uma história que tinha um cabeleireiro que aceitava vale-refeição ou vale – alimentação como pagamento de escovas progressivas/definitivas, aquelas que alisam o cabelo da mulherada. É cada uma que se vê por aí…da hora a vida não é?
Então, durante o meu tour, passei a pesquisar(pobre pesquisa) o melhor preço da minha nova loucura (na verdade vou renovar uma atividade que antes já fazia). A nova loucura é voltar a andar de patins street. Eu fazia isso muito bem, descia a toda velocidade, andava muito de patins dos meus 09 aos 15 anos, e eu andava muito bem. Só caí uma vez, quando tinha 10 anos, e foi uma queda bem feia, pois estava a toda velocidade numa ladeira, e no meio do caminho tinha uma pedra…não preciso terminar a história. Me lembro até hoje que naquela época era aqueles merthiolate que tinha álcool na composição. Só sei que quando relaram aquela “coisa antibactericida” nos meus machucados, eu vi Jesus Cristo, Chuck Norris, Maomé…ardeu muito…muito. Os patins que eu quero, que são profissionais para ruas mesmos, daquelas meio termo igual aqui em Barão Geraldo, ora com buraco, ora sem, terrenos acidentados. A faixa de preço está a partir de 280,00. O que eu quero, está 429,00, que é um Rollerblade, um dos melhores para patinação street. Como sempre gostei de andar de patins, e adoro caminhar por aí, estou pensando em voltar nessa vibe. Além de ser extremamente divertido, ajuda a manter a forma, pois é praticamente como estivesse correndo. Tenho pavor de academia, gosto de interação, ar livre, mente, equiçíbrio, expressão, arte. Por isso gosto de dança, yoga, caminhada, até mesmo uma corridinha no Taquaral, acho muito interessante. Eu sou uma pessoa hiperativa, então acredito que essa interação seja um fator para amenizar essa minha “aceleração”. Quando eu danço, por exemplo, tenho um sono mais tranquilo.
Depois de pesquisar patins, nas lojas do gênero, senti meu estômago roncar loucamente. Eu recebi meu vale, logo, como todo pobre que se preze, fui fazer um rango. Shopping lotado, queria um lugar para poder comer sossegada. Vi que lá perto do restaurante “Fogão Mineiro”, tinham várias mesas vazias. Olhei para o restaurante mineiro e pensei: bom, uma comidinha mineira vai bem. Peguei brócolis ao molho e queijo, abóbrinha recheada, batata doce frita, uma salada aleatória, suco de laranja e de sobremesa, manga em pedaços e mousse de limão. Fui pesar e a brincadeira não saiu lá muito agradável, deu 32,00, mas eu esperava que estivesse tudo gostoso. Peguei um copo com bastante gelo, e para a minha infelicidade, ao sair com a bandeja, o desgraçado tombou e foi gelo pra tudo quanto é lado(ok, exagerei um pouco, nem foi tanto gelo assim), o suficiente pra que eu fique envergonhada e todo mundo olhe para minha cara:
Você ri né?Você acha engraçado?Tomara que escorregue no gelo e caia de boca no chão”
Fiquei meio sem reação, mas o rapaz, muito simpático aos olhos do caixa do restaurante me ajudou e me deu um copo novo com gelo, e disse “Não se preocupe moça, acontece…volte sempre”. Ainda envergonhada, eu procurei uma mesa num cantinho, olhando o chão para não pisar em um gelo que eu derrubei e cair de pernas de ar, afinal estava de vestido e salto alto, não seria uma cena muito bonita, apesar de eu estar em forma, não gostaria de ficar exibindo atributos por aí ou a cena ir para alguma vídeo-cassetadas promovida no youtube. Arrumei uma mesa perto do quiosque de cachorro quente, meio escondida, mas dava para observar o movimento sem ter que necessariamente estar no meio da multidão. A comida não estava boa para justificar o preço, mas a sobremesa estava uma delícia. A mistura manga + mousse de limão foi uma boa idéia. A mulher da limpeza levou minha bandeja embora, e lá tinha os talheres que separei para a sobremesa, pois não daria para cortar a manga com aquela colher de plástico, mas tive que me virar. No primeiro pedaço de manga, foi tudo ok, mas no segundo a colher quebrou. Tive que deixar um pedaço da manga lá. Descobri um outro detalhe enquanto esperava o tempo passar, sentada na mesinha, observando o movimento. No shopping Dom Pedro tem uma capela!Sim!Ela fica escondida num corredor próximo aos banheiros, atrás do quiosque de cachorro quente. Na minha próxima ida, pretendo ir lá para ver como que é. Depois de me frustrar com a quebra da colher de sobremesa, fui ao banheiro escovar os dentes, pois uso um maldito e nada esteticamente bonito aparelho ortodôntico, que é um verdadeiro pára-raio de comida. Logo, desenvolvi o tique-nervoso de sempre escovar os dentes depois de comer qualquer coisa., que seja uma bala, por exemplo, pois sempre se tem a sensação que tem algo grudado, mas são apenas as malditas borrachinhas.Manias…manias condicionadas por uma situação, um mal necessário. Mas em breve vou tirar os aparelhos, pelo menos é o que eu acredito. Olhei o relógio, eram 21h00, resolvi ir para minha sessão. Cheguei lá, nem olharam meu ingresso, entrei direto na sala do cinema. Eu achava que pelo número de pessoas na fila do cinema, a sessão teria um número razoável de espectadores…só tinha eu e mais dois forever alone e três casais. Mas isso não foi motivo nenhum para me sentir uma frustrada, aliás, acho maravilhoso poder curtir um filme sozinha, mas não vou negar que ter alguém para segurar sua mão ou dar uns beijinhos em momentos propícios é bem interessante, principalmente em comédias românticas do Woody Allen que é um romance mais real do que os outros filmes água com açúcar. O fime foi muito bom!Me diverti bastante, o filme é ótimo, garante boas risadas. Eu quase me matei de rir nas cenas do cantor de ópera. Recomendo esse filme para quem tem bom gosto. Eu sai da sessão bastante satisfeita e com um sorriso no rosto, e rindo assim, de repente, ao lembrar das cenas cômicas. Procurei a saída das colinas, olhei o relógio, 23h30, precisava correr para não perder o ônibus. Cheguei no ponto de ônibus onde passam as linhas para Barão Geraldo. Chegando lá, fui obrigada a aceitar uma amostra de perfume, desta vez de churrasquinho de gato. Mas não me incomodei, cheguei em casa 00h20 e tomei um banho pré-soninho que não chegava. Enfim, fui dormir, a segunda-feira foi muito agradável, e o amanhã é outro dia. Como eu sempre digo, a vida pode ser muito ingrata, mas basta acariciá-la e não querer brigar com o Tempo. As coisas então tomam o seu rumo, e tudo se acerta. Aproveite o dia!Carpe Diem!
E para encerrar, o trailer do filme e músicas italianas romantiquinhas…sim é gay…eu sei, mas eu confesso que muitas vezes sou uma mulher sentimental e gosto de romantismo…
l’Aurora: Eros Ramazzotti, marcou meus 12-14 anos, por causa do coral da Fundação Romi, comecei a garimpar músicas em italiano por aí. O meu pai tem o cd com essa música, e este cd tocou tanto que quase “furou no meio”. Encontrei esse vídeo da apresentação dele ao vivo. Ficou muito bom, mas muito bom. O cara tem uma bela voz ao vivo também, sem contar que italiano é uma língua muito bonita, e vou parar por aqui ao descrever essa música, antes que eu fique EMO…
Luna: Alessandro Safina. Caramba!!!Eu assisti aquela novela “O Clone” e pirei nessa música. É brega bagaralho, fim de carreira, mas eu gsoto dessa música. ahahahhahahahahaahaha
Nessun Dorma: adoro essa música, e ela já me arrancou lágrimas. No seriado “Six Feet Under” tem um episódio que fazem um réquiem no velório, e um cara canta essa música. Me arrepiei.
Volare: uma versão flamenca, com toques de salsa, letra em espanhol e o refrão em italiano. Pirei nessa versão. Fiquei cantando e dançando isso enquanto fazia uma faxina. E…ahhhh…o violão espanhol, o ritmo quente…ME GUSTA!!!
Cineasta, triatleta, ganhador do TheVoice, Mega Sena da Virada e Prêmio Nobel de Literatura. Coach de Política. Pai do Enzo e Raíssa. Marido da Dani. Vascaíno.
“Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar.” Carl Sagan