Ainda…

(…) que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem Amor…Eu nada seria.

 

José Saramago em “O Ensaio sobre a Cegueira” não deu nome para os seus personagens, porque ele dizia que somos uma coisa que não tem nome:

Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.

Começo aqui o texto deste dia, não dando nome aos personagens. Segue abaixo um fluxo de pensamentos, uma criação por hora, um flash, palavras esparsas, eu poderia ainda não dar nome para este texto, mas achei válido…Eu não falo a língua dos anjos, e muitas vezes, nem as língua dos homens…

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Ela, está deitada embaixo de uma árvore. Uma sombra fresca num dia qualquer. Não importa o dia aqui, apenas os momentos, e naquele momento ela está sendo invadida por pensamentos que a corroem por hora, outros, um belo sorriso sai sem querer. São tantos pensamentos naquela cabeça, que ela pode escutar o eco deles por horas e horas. As pessoas passam por ela, e ela apenas observa. O silêncio dela é uma incógnita, uma equação mal resolvida. Mas ela ali, tagarela com ela mesmo, e aquilo é bom, como um presente inesperado. Precisamos de um tempo sozinhos, ela pensa. A solidão não é tão ruim assim, solidão e um pouco de silêncio, todos nós precisamos disso um pouco, o barulho de milhão de passos e palavras expelidas pelos outros muitas vezes nos dá vontade de sumir e desaparecer, talvez pela nossa incrível sensação de não poder ser feliz o tempo inteiro. E debaixo daquela árvore, ela está deitada observando os galhos das árvores balançando, e folhas tímidas caindo em seu cabelo. O outono está chegando, e com ele, um vento tímido que por vezes a faz arrepiar os pelos dos braços, mas ali, naquele local, tal arrepio era bem vindo. Lhe traz lembranças doces, não tão distantes, mas pra Ela, parece que a saudade é maior do que sua capacidade de julgar quanto tempo duram alguns dias, poucos dias.

Tempo, Ela pensou, Ela gosta de pensar sobre o tempo.  Esses dias ela viu a foto de um relógio em Praga, e achou aquilo tão sublime, que ela já imaginava-se de frente pra aquele relógio, parada, contemplando aquela engenharia de horas, minutos e segundos, os ponteiros que jamais voltariam pra trás. Ela quer um relógio de pulso. Nos tempos modernos, muitas pessoas esqueceram a engenharia tão minimalista e simbólica, e carregam o comodismo de sempre olhar as horas no celular. Relógios de pulso lhe dá uma sensação efêmera e gostosa que o Tempo passa mais devagar, e lhe traz lembranças de seu velho pai, e sua coleção de relógios na parede, e um dos inúmeros sonhos dela é um dia ter um relógio de cuco na parede. Quando for oito horas da manhã e o cuco lhe avisar oito vezes em seu linguajar tão clichê, ela irá levantar-se da cama, e o cheiro de café fresco e pão na chapa com manteiga a tiraria o sono, assim como o perfume das damas da noite que florescem na morada de seus pais. Saudades daquele tempo distante da selva de pedra, de céus estrelados e galo cantando. Ela fez download de um som de cuco no seu celular de última geração, mas aquilo pra ela soava falso. Ela prefere um cuco ou um galo cantando na janela. Ela quer um relógio de pulso, colocou isso naquela cabecinha tão nebulosa, talvez compre um ainda naquela semana. Um relógio deixa os pulsos mais bonitos…Ahhhh as linhas de braço, pensou ela.

Ela gosta disso…Linhas de braços, veias e tendões aparentes. Muitas vezes os homens pensam que nós mulheres só vemos as coisas óbvias, assim como dizem por aí que todo homem primeiro olha a bunda, os peitos e só depois a cara. Ela gosta de linhas de pescoço, as veias fazendo um rio azul nobre, subindo braço acima, os tendões sutilmente aparentes que partem do pulso, surgem dos dedos. E a linha do pescoço, um pescoço branco, poderia ver a veias aparentes também, e sentir um cheiro natural atrás dos lóbulos da orelha. Ela aprecia ver os braços dele ao volante, ou quando carregam algo que faz os tendões ou veias aparecerem mais, ou quando lhe estende a mão, aparecendo o dorso do braço. Melhor que ver, com todo o disfarce por vezes desajeitado, os olhos baixos e um certo rubor na face, borboletas no estômago, um contorcionismo por dentro, era sentir os braços e suas trilhas pecaminosas. Escorregar vagarosamente as mãos, os dedos, subir da linha de pulso até os ombros, por vezes as mãos entrando por baixo das mangas de camiseta. Esquentar os braços dele, trêmulos e pelos arrepiados, numa noite gelada. Ela tão acostumada com os ventos minuanos do sul, não poderia deixar aqueles braços nus arrepiarem-se de frio. Ela acredita no poder dos centros energéticos, e é uma forma de carinho e gratidão esfregar os braços um do outro. Não há nada melhor que o calor humano. Ela queria estar ali, embaixo daquela árvore, deitada em seu peito, ele com os braços envolvendo-a, e ela delicadamente percorrendo os braços nus dele, ela poderia beijar cada trilha desenhada ali, anatomicamente perfeitas, o corpo humano pra ela, é uma maravilha ainda muito mal compreendida. E quando a noite caiu, as luzes noturnas e tímidas dos postes de uma rua do subúrbio, iluminou uma trilha de pecado, que vai da nuca até os ombros…Ombros que ela daria um reino por um beijo ou vários beijos que começam tímidos e por vezes desajeitados, com o medo de marcar a pele, o cheiro dele era tão profundo que ela tinha inconscientemente uma necessidade sinestésica de devorar o cheiro dele com seu beijo, mas ela se controlou. E por momentos, efêmeros, fitou bem de perto aquela trilha de pecado, e ela queria que ele devorasse seu pescoço ali, que a mordesse com uma selvageria dócil, descarada. Ela tem lenços e cabelos compridos para esconder as marcas, que cada vez que ela olhasse seu corpo desnudo e manchado no espelho, uma lembrança imoral com tons carmim invadiria os pensamentos, e enquanto o espelho fosse embaçando, a última coisa que desaparecia naquele espelho, seria seu sorriso, fruto de uma lembrança, que lhe pinta a memória como um quadro ou poema inacabado,” um pornô aristocrático”, um gozo perdido entre linha de pescoço e trilhas nobres de veias e tendões…

A semiótica de uma mosca delirante na janela através dos olhos de uma mulher.

Serei eu meu próprio delírio?

Do alto da sacada de seu apartamento, Lola colocou-se a pensar no tempo e em delírios. Havia uma varejeira grande e verde rodeando o vidro da janela. Sorte que a porta está fechada…Aquela mosca nojenta poderia entrar e pousar na sua comida, ou nas suas emoções perdidas durante a noite de sono. Segurava uma xícara de café, sua vida insone clamava por cafeína todas as manhãs. A insônia era uma (in)sanidade que a perseguia de noite, debaixo de cobertas, embaixo das hélices barulhentas de seu ventilador de teto, mas dentro dela, um silêncio devastador, que pode ser escutado na banda de pensamentos tão altos quanto o barulho de uma fanfarra em dia da independência. Era um silêncio, quieto, e muitas vezes inoportuno. Seu grito é uma canção muda, escutado por poucas pessoas. Talvez aquela mosca na janela a compreendesse. Porque não? A mosca oportunista esfregava as patinhas, e talvez, se existisse alguma aranha por perto, com suas teias, talvez aquela mosca poderia ser um lanche matinal. Uma aranha, grande, peluda e misteriosa, chegaria na surdina e nhac!Envolveria a pobre mosca em teias, e a mosca estaria lá, sonhando, com alguns restos de comida em cima da mesa que ela via através do vidro. Ela poderia ser atacada, a vítima do próprio sonho. Somos todos predadores, mas há sempre um caçador à espreita, e no delírio daquela mosca, estavam farelos de comida em cima da mesa. Era algo tão simples, bastava atravessar a janela.

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O vento balançava seus cabelos, do alto daquela sacada a vida era miúda, mas não deixava de ser bonita. Era como suas olheiras no espelho do banheiro. Era fruto de algo tão trágico, mas ela gostava do seu rosto. A insônia não a tornava mais feia, a Beleza é relativa. Noites mal dormidas tinham seu “q” de beleza e importância. Ela poderia tirar o sábado para dormir, deitar um pouco de suas emoções na luz do dia, e acordar de madrugada para fazer uma xícara de chá e sentar-se na sacada do apartamento, para observar as estrelas e imaginar uma cena de um quadro de Salvador Dali, e talvez cantarolar alguma canção oportuna para aquele dia, cantar baixinho, pois sua timidez não permitia barulhos mais altos do que o zunzum da mosca inquieta e gulosa que rodeava o vidro. A mosca estava faminta, se Lola tivesse olhos de microscópio, poderia ver a salivação daquela mosca, suas 4 pupilas dilatadas, lembrou das aulas de Biologia…Uma mosca pode ter de dois a quatro olhos. Era o prazer da fome, esfregando as patinhas umas nas outras, seus pelos eriçados, e aquilo pra ela era como sexo. A fome e o ato de comer quando se está faminta, libera endorfinas tão boas quanto a ocitocina liberada numa noite de prazer. Lola queria ocitocina, mas aquele café já frio por causa dos pensamentos oblíquos e dissimulados, já lhe causava uma dor de estômago. E ela queria ser um farelo, tão desejado nos sonhos de mosca de alguém, ela imaginou aquela mosca ali, passeando sobre a comida, esfregando as pernas, beijando cada parte de seu desejo, os pelos da mosca contra seu pedaço, seu pedaço de emoção. Ohhhh, seria tão bom, pensou ela…E bebeu um gole frio e forte de café. Era aquele último gole, e ele desceu e caiu no estômago, e se juntou as borboletas que dançavam em seu ventre ativadas com a simples imagem de um pensamento, ela, Lola, um farelo de pão em cima da cama, amado e desejado por uma mosca. Ou em cima da mesa, debaixo de um chuveiro, porque sexo, pra ela, era como um slogan dos produtos da Teka…Cama, mesa e banho…Se ela tivesse um namorado, gostaria que ele a chamasse de Teka, e ela seria o lençol macio que deslizaria sobre o corpo, a toalha que envolve o corpo molhado, a toalha de mesa onde a gula poderia ser ignorada como um pecado capital.

Em cima da cama, em cima da mesa, embaixo de um chuveiro de água fria ou quente. Sexo é algo que não deveria ter divisão de cômodos...
Em cima da cama, em cima da mesa, embaixo de um chuveiro de água fria ou quente. Sexo é algo que não deveria ter divisão de cômodos…

E o mundo continuava lá fora, debaixo de sua sacada as pessoas e as coisas eram formigas. Os sonhos lá fora eram minúsculos, ela via o caos de um formigueiro remexido. Pessoas trabalhando para ter um lugar para chamar de seu, carregando o alimento em marmitas, cada dia uma luta, travada entre um chute e outro. Quando Lola era pequena, na esquina de sua casa tinha um formigueiro. Na sua inocência e curiosidade infantil, ela chutava o formigueiro com seus velhos tênis Ked’s, sentava na beira da calçada, e via a dança das formigas, carregando seus ovinhos brancos, carregando grãos de terra. Era preciso colocar as estruturas abaladas de novo no lugar. E quando o caos se instalasse novamente, sempre haveria força para continuar. Ela, Lola, é como uma formiga. Convive no meio do caos, carregando suas emoções e delírios nas costas, e tem horas, que seu formigueiro está quieto e silencioso, em outras horas, um turbilhão de chutes no escuro a traz pra fora.

E agora só ficou os restos de açúcar mal dissolvidos em sua xícara. E o seu olhar perdido no horizonte, e a mosca naquele vidro, excitada e louca para entrar. Lola poderia atiçá-la com o resto de açúcar em sua xícara, poderia deixar a xícara intencionalmente descansando na sacada, seria a mosca então atraída por ela?Não, talvez atrairia um linda abelha, abelhas clichês, amarelas com listras pretas. Aquela mosca não era fácil, era determinada. Ela quer o desafio, e fica ali, pacientemente pousada no vidro, esperando que Lola abra o caminho. Era uma mosca em chamas, o calor da fome a consumia. E ela não desistiria, ela quer o farelo de pão em cima da mesa, e o Tempo para aquela mosca não era um empecilho. Esperaria o tempo que fosse, ela não quer aquele açúcar fácil em cima da sacada. Coisas fáceis não atrai os sonhos daquela varejeira. Estava ali, no vidro, uma mosca…Seria Lola, um delírio dela?

Os homens são delírios das moscas, que não passam de uma ilusão dos homens

Domingo chuvoso, visões aleatórias numa janela.

Sim, minha letra é feia bagaralho, principalmente quando estou com a hiperatividade mental em nível absurdo.
Sim, minha letra é feia bagaralho, principalmente quando estou com a hiperatividade mental em nível absurdo.

Então, vamos lá!Antes que comece este texto, que provavelmente vai ser a coisa mais insana e débil que eu já escrevi nesse humilde espaço, tenho que explicar a situação. No último domingo eu estava numa pizzaria muitíssimo bem acompanhada. Estava com fome, muita fome, o queijo gorgonzola e a pizza de banana nunca tiveram um gosto tão divino. Dias de chuva me inspiram, alguns me deixam cinzenta, mas neste domingo não tinha como e nem porquê de encarnar “Ana, a cinzenta”, afinal, como eu disse, estava bem acompanhada. Em cima da mesa que sentamos tinha um bloco de papel, e nós sentamos ao lado de uma janela panorâmica. Estava chovendo lá fora, e dava pra ter uma visão maravilhosa da rua, dos carros, das pessoas, ou seja, a vida lá no mundo exterior. Nas Tags da postagem, contém as anotações que fiz no restaurante, enquanto olhava lá fora e mastigava um pedaço de pizza de pepperoni, minha pizza favorita. No meio de gravuras de arte, uma conversa agradável e pensamentos aleatórios, pedi uma caneta para o garçom. Espero que gostem, mas digamos que o que vai sair daqui pra baixo, poderá não ter sentido nenhum. Então, se não tiver uma mente, digamos, expandida, por favor, pule o que vêm daqui pra frente e vá ler Cinquenta Tons de Cinza.


1 – Mingau de Aveia

Na mesa da frente, havia uma família sentada com três crianças. Crianças bem alegres, falantes. Uma delas não queria comer a pizza de brocólis. E o pai dessa criança dizia: “Vamos papar, só um pouquinho”. Foi esse o estopim para trazer a tona uma memória perdida. Eu tinha de quatro a seis anos, e lembro-me de meu pai, que fazia mingau de aveia ou mingau com farinha láctea, não me lembro ao certo qual dos dois, mas lembro-me que era por volta das sete horas. Eu não comeria o mingau se não houvesse uma chantagem emocional. Naquela época, eu queria ser bailarina. Meu pai, um dia, me levou para ver uma apresentação de balé, o lago dos cisnes, nunca esqueço. Era o meu sonho, calçar sapatilhas e sair dançando por aí…

No fim, não realizei o meu sonho de ser bailarina. Mas acredito que sei dançar igual o Timão aí...
No fim, não realizei o meu sonho de ser bailarina. Mas acredito que sei dançar igual o Timão aí…

A chantagem emocional ficava por conta de um porta jóias que eu tinha. Quando ele abria, tinha uma bailarina que dançava. A chantagem era a seguinte: “Coma duas colheradas de mingau, e eu te mostro a bailarina”. E eu engolia as duas colheres de mingau, e meu pai colocava a bailarina pra dançar. Eu ficava na pontinha dos pés, e imitava toscamente a bailarina que dançava no espelho. A música que tocava, consigo lembrar-me dela até hoje, até poderia assovia-la, se eu soubesse assoviar, mas como eu, mulher com 25 anos, não sei assoviar, vou deixar a música daquele porta jóias, guardado no confim da minha memória. E eu me lembrei, naquele exato momento, no meio da pizza de marguerita, que meu pai dizia, “Vamos papar, e então eu coloco a bailarina pra dançar”…

2 – Picape Amarela

Naquele tempo chuvoso lá fora, passou uma picape amarela, mas daquelas bem amarelas mesmo, amarelo igual um girassol. E eu lembrei do girassol plantado no quintal da casa dos meus pais. Eu não sei se aquela grande e bela flor ainda existe, ali, plantado naquele lugar que eu amo tanto. E vendo aquela picape amarelo-girassol, eu me lembrei de um quadro do Van Gogh, “Doze girassóis numa jarra”. Enquanto eu estava ali, tinha um girassol pensando no refúgio da arte, em meio de tantas páginas de arte e semiótica. E eu fiz minha analogia ali, aquela picape amarela, o girassol no jardim do meu pai, e o girassol como um refúgio de arte. E ele não estava encolhido, como o girassol do jardim do meu pai, em tempos indecisos. Ali naquele momento, ele estava belo e incógnito.

Girassóis...
Girassóis…Doze girassóis numa jarra…

3 – Luzes Verdes

Na praça de convivência de Campinas tem luzes verdes. Essas luzes verdes combinam muito com toda a variedade de flora que existe naquele local. Dava inclusive um tom psicodélico para as folhas e flores de tons lilás-violeta, que estavam naquele local e com a echarpe verde-musgo que eu trazia no pescoço.

4 – Guarda Chuva discreto, medo da chuva, gente aleatória, gordinho corredor, a mulher com sacola de supermercado na cabeça.

As pessoas passavam naquele local, e havia ali vários perfis delas. Existiam aquelas que não se intimidavam pela chuva. Passavam ali deixando as gotas de chuva limparem seus pecados ou trazer, quem sabe, um pouco de dignidade, ou a simples sensação gostosa de estar na chuva e se molhar. Passou um gordinho correndo, não sabia se ele suava por conta da atividade ou se era a chuva que o deixou molhado, naquela confusão ali, acreditei que fosse os dois. E eu lá fazendo gordisse, mal pensando em exercícios, já estava com o corpo dolorido devido ao exercício daquela manhã de domingo. Eram muitas pessoas, passeando por ali, cada uma com suas manias e atitudes randômicas, inclusive usando guarda-chuvas de cores incomuns, verde-água. Eu vi aquilo e pensei no mar, naquelas praias paradisíacas . Mas a que mais me trouxe um “q” de “inacreditável”, foi uma mulher caminhando na praça com uma sacola de supermercado na cabeça. Nós vimos aquilo e eu tive uma crise de riso. E tentávamos até então entender o que leva uma pessoa num domingo chuvoso, meter uma sacola de supermercado na cabeça e sair pra caminhar. Não é mais válido pegar um guarda-chuva ou simplesmente adotar a frase “Se está na chuva, deixe-se molhar!”. Mas, vai ver que aquilo era uma nova moda. Novidades vivem surgindo por aí, mas aí está uma moda que eu não seguiria. Fazer amor embaixo da chuva é uma coisa que eu quero fazer um dia, mas sem sacolas na cabeça. Isso foi uma frase que eu escrevi no papel. Eu gosto de chuva, mesmo me deixando cinza, tempos de chuva são inspiradores e extremamente sensuais.


5 – Garibaldo e placas amarelas de trânsito.

Isso aqui vai ser curto e sem nexo, talvez tenha um sentido apenas pra mim…Eu lembrei do nome do personagem que eu associei às placas amarelas de aviso de obras, que eu vi na estrada. O pior foi eu falando “Como é mesmo aquele personagem que é um pintão amarelo cheio de penas?”, e eis que no restaurante o Garibaldo apareceu. Vila Sésamo!

Isto é uma placa de advertência de sinalização de trânsito.
Isto é uma placa de advertência de sinalização de trânsito.
Isto é o Garibaldo do Vila Sésamo.
Isto é o Garibaldo do Vila Sésamo.

Resumindo, eu via aquele bando de placas amarelas e pensava no Garibaldo. Cores, sempre me trazendo associações um pouco medonhas. Eu via as placas amarelas e pensava no Garibaldo pedindo carona na estrada. Mas estava chovendo, e ele poderia estar com cheiro de galinha molhada. Não, isto não faz nenhum sentido. Mas pra mim teve, então isso é importante. Quando as coisas da nossa própria cabeça não fazem sentido nenhum para nós, é hora de se internar.

6 – Red Hot Chili Peppers, Blade Runner.

Tocou uma música do Red Hot, ao qual eu gosto muito. Isso me lembrou dos tempos de colegial. Pessoas passavam embaixo da chuva pedalando na praça. Um senhor com um guarda-chuva prateado passou duas vezes por ali. Na primeira, passou de mãos vazias, na segunda, com três sacolas de supermercado cheias. O guarda-chuva prateado dele me fez lembrar de Blade Runner, e num universo onde não teríamos capacidade de distinguir humanos de androides. Talvez aquele senhor ali fosse uma máquina perfeita de forma humana, mas era apenas um senhor de idade de ritmo calmo e cabelos brancos.

Fly away on my Zephyr…

7 – Um milhão e meio de gatos mortos.

Além de desviar os pensamentos para os antigos cachos da minha irmã, eu tenho o costume de pensar em gatos mortos, quando preciso que algo saia da minha casa. Eu fico repetindo na minha cabeça, ‘Um milhão e meio de gatos mortos”. Eu ouvi a frase “Eu sou guloso”. Pra quê??Por quê?E na minha cabeça, um milhão de gatos mortos precisaram entrar em frames por segundo, antes que eu fique ruborizado e mais úmida do que o tempo que estava lá fora. E então no meio do pensamento dos gatos mortos e tentando me concentrar no sabor do suco de melão que estava na minha frente, eu me peguei pensando que não haveria a possibilidade de existir a possibilidade de “um milhão e meio de gatos mortos”, porque simplesmente não existe a possibilidade de um gato estar apenas meio morto. Depois veio um “Ana, como você é besta”. Então eu voltei a pensar em gatos mortos, mas desta vez, apenas em um milhão. A tática dos antigos cachos não funcionava mais. Naquela hora eu fiquei com a aura vermelha, e pensando no teu olhar debaixo da renda da minha blusa. Mas aí eu tive que pensar em gatos atirados da janela do segundo andar. Talvez eles caíssem de pé, mas e se tivesse um pão com manteiga amarrado nas costas? A manteiga sempre cai pra baixo, para a infelicidade de nossas mães. Talvez o gato caísse de costas, e morresse, ou, segundo a tese da gravidade, teríamos um gato que flutua. Quando eu penso em sexo, em lugares indevidos, eu penso em gato morto. Fora isso, eu não me preocupo muito. Dessa vez eu pensei em milhares de gatos mortos com pedaço de pão nas costas, alguns flutuando, outros mortos, outros atirados da janela do segundo andar…

Na idade média, ninguém tinha coragem de olhar nos olhos do rei. Apenas os gatos faziam isso.

Na minha cabeça, gatos flutuavam enquanto algumas cenas inapropriadas para menores teimavam em surgir.
Na minha cabeça, gatos flutuavam enquanto algumas cenas inapropriadas para menores teimavam em surgir.

8 – Clichês

Na frente da pizzaria, tinham cones listrados. Pensei em abelhas africanas. Sim, isso foi um clichê, e por um instante tive vontade de comer panquecas com mel.

Isto é um cone...
Isto é um cone…
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Isto são lindas abelhas fabricantes de mel, que nada mais é que vômito de abelha. Aprendi isso no “Mundo de Beakman”.


9 – Verbo irregular no presente do indicativo

Presente do Indicativo
tu colores
ele colore
nós colorimos
vós coloris
eles colorem

Cadê o eu aí?Impossível conjugar. Aprendi isso na quinta série e nunca mais esqueci. Quando eu estou em frente de uma beleza desconcertante, eu costumo dizer que tal beleza é como o verbo colorir na primeira pessoa do singular do presente do indicativo…Tal beleza é impossível de ser conjugada. Tuas cores são bonitas, tal como um arco-íris. E quando estiveres cinza e olhando para os pés, continuarás bonito. A vida é feita de cores escuras e vibrantes…O segredo da vida é saber compor uma arte utilizando todas as cores.

10 – Cabelo bom o nosso…

Essa foi a frase aleatória que eu ouvi na mesa ao lado. Haviam duas mulheres loiras de farmácia comentando sobre cabelos e chuva. Elas se sentiam abençoadas por terem o cabelo liso, provavelmente liso por efeito de chapinha. Como se o tipo de cabelo nos trouxesse a sorte ou a falta dela. Vai entender!

11 – Raio

Toda vez que eu vejo um raio, eu conto os segundos para saber se ele caiu por perto ou não. Toda vez que eu vejo o belo clarão e o sinto o cheiro de ozônio que ele libera, eu lembro-me de “O curioso caso de Benjamin Button”.

Já Ihe disse que fui atingido por um raio sete vezes?
Uma vez, eu estava no campo, cuidando das vacas.
Uma vez eu estava sentado no meu caminhão, tranqüilo.
Alguma vez já te contei que fui atingido por um raio 7 vezes?
Uma vez, eu estava passeando com o cachorro.
Sou cego de um olho, ouço muito mal.
Eu tenho tremedeiras de repente, sempre esqueço o que estava dizendo.
Mas sabe de uma coisa?
Deus vive me lembrando que tenho sorte por estar vivo.
Está vindo uma tempestade…

E então quando eu vejo esse diálogo, me faz pensar no trecho de “O velho e o Mar”, que fala sobre a sorte:

(…)Gostaria de comprar um pouco de sorte se houvesse um lugar onde a vendessem. Mas com que eu poderia comprá-la? Poderia comprá-la com um arpão perdido, com a faca partida ou com estas duas mãos em carne viva?Talvez…Você tentou comprá-la com oitenta e quatro dias no mar. Quase que lhe venderam.
Não posso continuar a pensar nestes disparates. A sorte é uma coisa que vem de muitas formas, e quem é que pode reconhecê-la? Por mim aceitaria um bocado de sorte fosse qual fosse a forma como viesse e pagaria o que me pedissem por ela. Gostaria de poder ver o brilho das luzes. Estou sempre desejando coisas. Mas essa é a que mais desejaria agora.

12 – Casal Táxi Lunar

Na praça estava passando um casal, e eles não tinham medo da chuva. A moça, muito bonita por sinal, tinha um longo cabelo vermelho. Quando eu vi aquele casal e aquela mulher do cabelo vermelho, eu lembrei de Zé Ramalho. E comecei a cantarolar baixinho e mentalmente a música Táxi Lunar, enquanto eu umedecia minha boca com suco de caju…

Pela sua cabeleira, vermelha
Pelos raios desse sol, lilás
Pelo fogo do seu corpo, centelha
Belos raios desse sol

13 – Bananas de Juquiá

Chegou a pizza de banana. Então me recordei das viagens com minha família, em direção ao litoral do extremo sul. Sempre passamos por Juquiá, que é uma cidadezinha produtora de bananas. Fica na serra, e os bananais crescem entre corredeiras e casinhas humildes. Eles colocam saco de lixo preto envolvendo o cacho de banana. Querem impedir os pássaros de se alimentarem. Pobre sabiá, terá que voar um pouco mais longe para encontrar um pedaço de amarelo ouro.

14 – A fonte da juventude e Mark Twain

A fonte da juventude, do pintor renascentista Lucas Cranach.
A fonte da juventude, do pintor renascentista Lucas Cranach.

“A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18”

Sem mais…A imagem e a frase falam por si mesmas…

6 Cenas do Subúrbio

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle…

Cena 1: A menina no espelho

Lydia se despediu da família. Ela mal conseguiu dormir de noite, por causa da despedida. Despedidas são sempre algo muito doloroso, e então ela imaginou o rosto de sua mãe, na soleira da porta, e ela por instantes se perguntou se suportaria tudo isso. Deitada na sua velha cama ao anoitecer,com os olhos arregalados a fixar o teto, ela percebeu o quanto vai sentir saudades dos lençóis lavados, e do café com bolo que sua mãe sempre lhe deixava em cima da mesa. Se pai, ela nunca conheceu, mas ela mesmo assim se pergunta se ele sentiria saudades. Acordou de manhã, sentou-se na beirada da cama. Ao ver o amontoado de malas, colocou-se a chorar, e num desespero quase por silencioso, ela tirou as roupas e observou-se no espelho: estava envelhecendo, suas pernas, antes de menina serelepe que brincava de pular poças após a chuva, ganharam o torno de uma mulher de 25 anos. Então ela pegou uma cadeira e colocou-se a pentear os cabelos, nua em frente do espelho. A cada escovada, lágrimas de perdão escorriam pelo rosto. E então ela não se reconhecia mais.

Cena 2: 29 de julho

As garotas desfilando
Os rapazes a beber
Já não tenho a mesma idade
Não pertenço a ninguém

Antônio têm 24 anos. Daqui a alguns dias ele fará aniversário. Ele finge não se preocupar com isso, “eu não acredito em inferno astral”, ele diz aos amigos, mas lá no fundo ele se sente velho, e um turbilhão de pensamentos o amedrontam, e então ele se recolhe no seu mundo particular. Há um pequeno mural na parede, cheio de fotografias, e ele olha minuciosamente cada uma delas, “estou ficando velho”, ele diz pra si mesmo. Está chovendo lá fora. Ele coloca as velhas fotografias no lugar e se esparrama na cadeira da escrivaninha em frente a janela, apoiando os pés em cima da mesa. Ele olha lá fora e vê pequenas gotas de chuva escorrendo no vidro. E por instantes ele esqueceu todas as preocupações, ele poderia passar horas ali, apenas observando a chuva. Ele poderia adormecer e tentar sonhar com um mundo menos agressivo e mesquinho. Mas ele queria apenas estar ali, naquele momento, observando a chuva escorrendo no vidro do seu quarto. Foi na cozinha, preparou um chá, tirou um livro da estante e colocou-se a ler, pois é isto que ele gosta de fazer nas horas vagas.

Cena 3: Estação de Trem

When I hear the engine pass
I’m kissing you wide
The hissing subsides
I’m in luck

Letícia vai perder o trem, ela ainda corre desajeitadamente em cima de seu salto alto e saia executiva. Na última estação ela espera seu amigo ligar pra ela. “Hoje vai ter festa!”, murmura ela com um sorriso no rosto. Henrique lhe manda um sms: “Le, a festa começa às 21h00, te pego em casa às 20h30 e depois vamos pra sua casa beber aquela vodka”. Ela ainda estava na estação porque teve que ficar até mais tarde no trabalho. “Bernardo eu te mato!Eu te mato!”, murmurava ela, numa raiva quase visível. Bernardo era seu colega de trabalho desengonçado, tímido e antisocial, que vivia fazendo coisas erradas. E sempre para protegê-lo ela apagava as chamas antes que o incêndio se alastrasse. Bernardo era um homem extremamente desastrado e distraído. Um dia ele esqueceu o celular na gaveta do trabalho, e tinha um problema para ele resolver no final de semana. Eles se odiavam, ela porque ele era estranho, mal falava e fazia as coisas pela metade.
“Tomara que Henrique esteja usando aquele perfume gostoso hoje”, pensou ela, enquanto respondia a mensagem. Henrique e Letícia tinham um caso. Eles não namoravam, eles não se amavam para se transformar em namoro. Era apenas tesão. Ele era um chato, burro e fútil, mas pelo menos ele a satisfazia e era deliciosamente engraçado. E então eles fizeram um trato, enquanto não achavam suas respectivas tampas de panela, um satisfazia os desejos do outro. Não era necessário satisfações, perguntas, ciúmes…apenas um pacote de camisinhas e um lugar que desse para transar.
O trem chegou na estação e estava lotado e ela ficou de pé. Olhou pela janela e viu um belo homem correndo apressado, em direção ao trem. Quando ele se aproximou, ela reconheceu, era Bernardo, o desastrado funcionário correndo. Ele estava diferente, sem as habituais roupas de trabalho, sem os óculos desajeitados e o cabelo lambido de gel. Seu cabelo estava docemente bagunçado. Não parecia o mesmo homem. Ele entrou e ficou do seu lado, apenas acenou com os olhos, pois sabia que Letícia o odiava. Ele tinha um cheiro bom, aquele de quando acaba de sair do banho. O trem estava lotando e ele foi se encostando mais nela. Aquilo a deixava perturbada, pois ela não podia ter aquelas sensações com o cara mais comentado, tido como fracassado e estrambelhado do trabalho. Ele era quieto, estranho e desengonçado. E então para quebrar o gelo ela puxou conversa. E no trajeto de 30 minutos parecia que eles se conheciam há anos. Desceram na última estação, tomaram um café juntos. Letícia mandou uma mensagem para Henrique: “Não vou poder sair hoje”. Tomaram um café e ela chamou Bernardo…para tomar uma vodka.

Cena 4: O Homem que lavava louças.

Meu bem querer
Tem um quê de pecado
Acariciado pela emoção…”

Andréa estava estressada. Seu trabalho é sua paixão, mas muitas horas ela tem vontade de jogar tudo para o alto e pedir as contas. E então, após isso, ela pensa em abrir um pousada em algum lugar paradisíaco. Ser dona do próprio negócio, isto é a real, pensa ela, enquanto manda um status no Facebook sobre o quanto está difícil esta nova fase. Ela encontra seu chefe pelo caminho e pede para adiantar a sua pausa vespertina. Ela segue em direção ao refeitório, mas por um momento percebe que esqueceu o crachá em cima da mesa. Ela dá meia volta, meio sorriso para a secretária gostosa porém burra que só atrasa sua vida. Ouviu a última piada ruim de seu companheiro de trabalho, e lhe disse que um dia vai ter coragem o suficiente para expulsá-lo da sala se mais alguma piada infame de pontinhos surgisse. Ela no fundo, adora piadas sem graça. Seguiu em direção ao refeitório com sua maçã e sua bolacha água-e-sal. “Preciso emagrecer”, pensou ela, e então ela acena para Justina, sua amiga revendedora de coisas de mulher. Ela deixava sempre uma boa quantia de dinheiro com ela. Andréa se dirigiu à máquina de café, escolheu um café longo com pouco açúcar sentou na mesa e então sentiu seus dedos latejarem dentro do sapato apertado, e então lembrou o quão difícil é ser mulher. Resolveu olhar os emails pessoais no celular, enquanto mastigava a bolacha. Enjoou daquilo e resolveu observar ao redor. Na terceira mesa tinha um homem. Ele gesticulava quando conversava, tinha os olhos bonitos, castanhos e não muito grandes. Pele branca e cavanhaque. Um homem docemente comum, vestido em roupas de trabalho. Andréa ficou observando aquele homem, enquanto dois companheiros conversavam. Ela concordava com o que eles falavam, mas ela estava longe com seus olhos de lince. O homem levantou da mesa e se dirigiu para a pia. Poderia passar um palhaço numa bicicleta com uma roda só, fazendo malabarismo, mas Andréa não conseguia tirar os olhos…”Ele tem olhos gentis”, pensou ela, e quando ele olhava nos olhos nela, ela abaixava os olhos e observava o café esfriando no copo, e então ela se lembrou do trecho de uma música:

Lilac wine is sweet and heady, like my love
Lilac wine, I feel unsteady, like my love…
E então ela ficou como um vinho lilás, com um amor instável, e naquele momento nada importava, nem os problemas do trabalho. Nos seus momentos de descanso a beleza era algo a se contemplar, como uma tarde chuvosa. Ele se levantou, pegou seus talheres e potes sujos, e se dirigiu a pia. Ele ficou de costas, mas isso não era um fator para ela abandonar seu voyerismo. Ela o observou, e então olhou para suas mãos com unhas pintadas de vermelho, e em seguida olhou para aquele homem de costas. Deu um riso acanhado, e pensou: “Como sou besta, eu mal o conheço para poder arranhar as costas”. E ela observava quase encolhendo na cadeira, enquanto ele esfregava os talheres vagarosamente, numa malícia sem querer. E ele ficou lá, por vários minutos esfregando a louça numa perfeição vagarosa e úmida. Então ele olhou para o lado e sorriu ao cumprimentar um colega de trabalho…e continuou a esfregar a louça.  Depois daquele sorriso, Andréa foi para a cantina: 2 chocolates, por favor!

Cena 5: Amor cego

Eu cuidarei do seu jantar
Do céu e do mar
E de você e de mim…

Paulo chegou correndo na rodoviário. De nada adiantou ele correr, pois o ônibus ele já perdeu. Comprou a passagem, parou em um restaurante, pediu um almoço executivo, leu uma revista comprada numa livraria. No banco de espera em sua frente, havia um casal. Uma mulher de cabelos curtos, com seus 50 anos e um homem. O homem era cego. Então ele começou a observar os dois. Ele pode ver que o homem cego sabia exatamente onde sua amada estava, como se ele pudesse enxergá-la, e ele tocava o rosto dela, e lhe deva beijos. Ela foi em um quiosque buscar uma garrafa de água, e ele soube quando ela estava chegando, e lhe deu um sorriso estendendo a mão para pegar a garrafa de água. O amor entre os dois era muito mais bonito que muito casal com os olhos que enxergam. Então o ônibus de Paulo chegou, e ele não se aguentou de curiosidade. Se dirigiu ao casal cuja beleza muitos olhos não vêem, e perguntou: “Como você sabe quando ela está perto?”, perguntou Paulo. O homem cego então lhe respondeu: “Eu sinto o cheiro e o calor dela quando ela se aproxima.”

Cena 6: Voyeurismo sabor pêssego

Nancy esperava seu amor chegar do trabalho. Já tinha tomado seu banho e vestia uma camiseta e meias 7/8. Sentou na poltrona e começou a ler um livro, enquanto seu Amor não chegava. Talvez ela lhe faria uma massagem após o banho, fariam amor e o veria dormir. Ele chegou, ela pode ouvir o barulho das chaves girando na porta. Ele chegou com sacolas do mercado, deixou-as em cima da mesa e foi em sua direção. Deu-lhe um beijo longo e acariciou os cabelos, e depois os bagunçou para fazer graça. “Gosto de ti, com os cabelos bagunçados”. Ele segue para o balcão da cozinha, para guardar as compras. Ele chegou do trabalho disposto a cozinhar para o jantar, apesar de suas habilidades na cozinha serem praticamente nulas. Nancy o observava da poltrona, rindo das situações cômicas do trabalho que ele estava contando. “Hoje vou fazer um spaghetti querida…acho que aprendi a fazer…Lembra aquela vez que eu joguei o macarrão na água antes de ferver e esqueci de colocar óleo, e ficou tudo unidos venceremos a nação?”, Nancy riu, “E se não bastasse, você simplesmente abriu a lata de molho e jogou em cima sem esquentar…foi tão horrível que nem o cachorro quis!”, então ambos riram e ele jurou que isso não iria acontecer, porque ele finalmente aprendeu. Nancy disse “Veremos”, e riu baixinho. Ele colocou uma panela de água no fogão, e já colocou o óleo e o sal para não se esquecer. Ele comprou pêssegos frescos, grandes e rosados. Pegou um da sacola, lavou na pia, sentou-se num banco em frente ao balcão e abocanhou o pêssego, quase em desespero enquanto folheava uma revista e a água fervia. Nancy observava a cena e a cada mordida naquela fruta e cara de satisfação que seu amado transmitia, ela se encolhia na poltrona com o livro entre as pernas. Ele acabou, limpou os lábios no antebraço e olhou para Nancy. Ela estava estarrecida, derretida no sofá. “Que foi?Você está bem?”. Nancy levantou, tirou o pacote de macarrão das mãos dele e o arrastou para o quarto. Nancy entrou em ebulição, como a água que estava fervendo na panela…

Cinema, aspirinas e urubus

So can you understand
Why I want a daughter while I’m still young?
I want to hold her hand
And show her some beauty,
before all this damage is done

Neste final de semana prolongado, depois de uma ressaca desgraçada fruto de coca-cola com rum, mas enfim, uma sexta-feira muito divertida. Depois destes dias de boêmios, nada como dar uma relaxada. No domingo, levei meu irmãozinho no cinema, para assistir “Era do Gelo 4”.  E nesta questão quero explorar o meu ponto de vista sobre as crianças hoje em dia. Eu diria que são crianças do subúrbio. O que aconteceu com a infância de hoje?Meu irmão tem 9 anos, mas vive cercado de adultos estressados demais para dar a devida atenção que merecem. É tão cruel isso não é?Quando eu vou pra casa dos meus pais de final de semana, eu mesmo percebo o quanto nós, adultos, estamos cada vez mais rabugentos, e seriamente, comecei a pensar muito nisso. Quando ele, o meu irmão menor, chega pra mim, e me pergunta:

Ana, vamos brincar?

Eu queria imensamente poder dizer, “Sim vamos!”, mas aí entra a rabugice, eu sempre digo que estou cansada, que tenho coisas pra fazer, o que de certa forma, não é uma mentira, realmente, tem finais de semana que eu até evito sair de tão cansada que eu me encontro. Muitas vezes eu me sinto como uma velha coroca sem-graça. Fico deitada embaixo das cobertas, lendo, dormindo ou escrevendo neste humilde blog. Eu brinco com os amigos que cansei de ser certinha e vou ser boêmia, mas na boa, eis uma imagem que não combina muito comigo. O máximo que eu faço é tomar umas a mais e ficar um pouco alegre, mas no mais, não saio pegando ninguém por aí, nem caindo bêbada na sarjeta. Sim, eu sou chata bagaralho. E tenho tendência em gostar de pessoas que também são chatas, o que gera atritos mal compreendidos, mesquinhos, coisa de amor e ódio. Perdi as contas de quantas pessoas se afastaram de mim, simplesmente por me levarem a mal ou por me achar de uma certa forma, assustadora. Pessoas chatas atraem outras pessoas chatas, é como se fossem imã e ferro. Mas isso é assunto para outro post. Se você for um chato, rabugento, seletivo e introspectivo, eu posso gostar de você e você se tornará meu melhor amigo. O que eu quero chegar aqui, é o fato das crianças de hoje estarem rodeadas de adultos chatos, que muitas vezes esquecem que todos merecem ser criança, no seu tempo certo. Se você tem de 0 a 13 anos, sinto muito, você é criança, todos merecem ter uma vida de criança e não serem emulados precocemente para uma vida adulta. Hoje eu vejo que as crianças estão cada vez mais adultas, pois nós, adultos, queremos que elas sejam “O Homenzinho da casa”, “Uma pequena dama”, estamos transformando as crianças em seres adultos de menos de meia estatura. Nós já queremos colocar na cabecinha inocente delas que o mundo é cruel e o mundo é dos espertos. Nós pegamos todas as crenças delas e jogamos no lixo, quase dizendo para crescerem pois o mundo não tem tempo para criancinhas que correm atrás de pipa. Nós já colocamos na cabeça delas, que elas tem que estudar, porque o mundo é cruel e sem estudo nós morremos de fome. E então, nós apontamos o dedo para um lixeiro na rua e já dizemos para a pobre coitada da criança, que se ela não ler a Scientific American desde os nove anos de idade, ela vai passar o resto da vida dela inteira catando lixo e cortando as mãos nos cacos de vidro das garrafas de champanhe de burgueses metidos a besta.  Eu citei a Scientific American, porque um dia meu pai voltou da banca de jornal, dizendo que comprou uma revista para meu irmãozinho. Era uma Scientific American, edição para leigos, cuja capa era sobre a “Teoria das Cordas”. Lembremos que  “O Universo numa casca de noz”, que é física teórica para “leigos”, com ilustrações bem bacanas, foi feito com esse intuito também, mas mesmo assim, é tido como uma leitura desafiadora até para as mentes inteligentes. Agora imaginem a mente da pobre criança. Um dia eu cheguei do trabalho, e meu irmãozinho “mandou”(sim, ele manda!), acessar o YouTube, pois ele encontrou um vídeo de um buraco negro engolindo tudo o que vê pela frente. E ainda soltou:

Ana, você sabia que o fim do mundo pode ser um buraco negro, pois o sol é uma estrela e um dia ela vai perder calor…

Eu digo, que sinto muito orgulho do meu irmão, e acho muito fofo ele dizer que quer ser cientista. Eu vejo muito de mim nele. Mas acho que antes de ele ler e compreender a Teoria das Cordas, ele deve ler a coleção “Cachorrinho Samba”, ou “Sítio do Pica-Pau Amarelo”.  Quando eu era criança, eu morei com uma família adotiva. Digamos que a história de minha vida é digna de escrever um livro dramático sobre ela. Mas, sintetizando, passei boa parte da minha infância, sozinha, em decorrência da separação de meus pais adotivos. Tanto na minha família adotiva, quanto biológica, os livros foram um incentivo desde cedo. Mas digamos que só eu mesmo preservei esse vício e hoje tenho uma biblioteca considerável. Livros, desde a minha infância funcionam como, além de um prazer inigualável, uma válvula de escape. Quando estou triste, ou quero simplesmente esquecer ou afastar algo que me perturba, eu costumo ler, ler bastante, como se isso espantasse todos os meus demônios pessoais…

Digamos que estou numa época que estou possuída não por um demônio, mas por uma legião deles…

Livros a parte, eu amadureci muito cedo, e de uma certa forma, sofri um bocado por conta disso. E eu não gostaria que meu irmão passasse por isso. Muitas vezes queremos que nossos filhos sejam nossa imagem e semelhança. Pais nerds querem enfiar roupas de jedi nos filhos, sem nem ao mesmo se perguntar se eles têm o direito de escolha. Não vou negar que eu acho isso muito fofo, e que provavelmente se eu encontrar algum doido varrido por aí que me aceite do meu jeitinho desvairado de ser, e que me diga quando eu estiver só de camisa de botão pela manhã com uma xícara de chá, cara amassada e um livro no colo, que quer ter um filho comigo, provavelmente vou comprar um enxoval do Star Wars e colocar “Starway to heaven” versão canção de ninar para ele dormir…bom, vamos acordar, a vida não é da forma como gostaríamos que fosse. Talvez eu seja a tia solteirona com um cachorro. A vida é bem cruel com quem não quer viver de amores fáceis…

No natal passado, eu dei toda a coleção dos livros de Harry Potter pra ele. Embrulhei direitinho e ensinei a ele como cuidar de livros. Quando eu levei ele no cinema, ele me acompanhou na livraria, especificamente, a Nobel, no Tivoli Shopping, em Santa Bárbara, minha terra querida. Lá ele me disse que gosta de vampiros. E se interessou por um livro da série “Vampire Diaries”. Então eu já disse pra ele que quando ele crescer ele vai ler histórias de vampiros de qualidade, como Anne Rice, Bram Stocker, assistir Nosferatu, Entrevista com o Vampiro, e ainda disse que aquilo que ele gostava não eram histórias de vampiros de verdade. Mas o que diabos eu estava fazendo?Onde estava a liberdade dele gostar do que quiser?Quando eu era criança eu gostava de Backstreet Boys, e aquilo era um lixo. E então eu me coloquei a pensar e perguntei se ele queria levar o livro. Então ele disse que precisava terminar de ler Harry Potter e os quadrinhos do Snoopy. E então eu senti muita vergonha de mim mesma por interferir nos gostos dele. Eu chamo a atenção dele porque ele gosta de Gustavo Lima e a música do tchê tchê, tcha tcha, sei lá que merda é essa. E eu olho isso tudo, e vejo o quanto queremos nossa imagem e semelhança nas pessoas que gostamos. E neste domingo, eu o levei para se divertir. E ver a alegria dele, estampada no rosto, ver ele correndo para jogar basquete nos brinquedos, pulando na piscina de bolinha, comendo lanche e se sujando todo, foi uma alegria imensa. Tirar ele do mundinho cercado de adultos, foi muito bonito. Eu gostaria que ele saísse mais, aprendesse a empinar pipa, soltar pião, que ele tivesse uma turminha do barulho, igaul eu dos meus 11 aos 13 anos, quando eu jogava bola, descia de carrinho de rolimã, brincava de esconde-esconde, jogava super nintendo nas horas vagas, e não o dia inteiro. Toda criança deveria ter mais brincadeiras ao ar livre, e hoje o que vemos são sorrisos eletrônicos…

Na sexta-feira, saí com os amigos.Fomos no Thunder, um buraco com um bar, banda tocando e apreciadores de rock’n roll. Este bar tem como proprietário, um velho amigo, já quase cego, do meu irmão, o Alemão. Foi a primeira vez que eu fui pra lá. Desde que eu voltei de Porto Alegre, andei meio reclusa de vida social, mas estou voltando à cena novamente. A noite foi bem divertida, uma “festa estranha com gente esquisita”:

Festa estranha com gente esquisita: um mendigo e um zumbi lá atrás…conseguem ver???

Marquei de encontrar meu irmão, minha cunhada e minha amiga black metal. A noite foi de muita conversa, um complô armado para trazer um velho amigo nosso de volta pro rolê, cerveja e um muitas cubas livres, o que me trouxe um fato engraçado. A Tamirys, minha velha amiga companheira de rolês disse que eu desabei na cama quando chegamos. Só sei que eu acordei e eram 10h30…mas eu lembro de tudo!!Lembro de sentir que ela e o Linardo tiraram minhas botas e a jaqueta e me cobriram e ela disse que eu me encaixei no vão da cama e a parede e que eu dizia algo na língua dos wookies…

Segundo a Tamys…eu murmurava algo assim…
Madeiraaaaaaaaaaaa!!!!!

E agora eu entro na segunda parte, ASPIRINAS. É quase insuportável a ressaca que um rum Montilla traz no dia seguinte. Parece que eu tomei uma sussurra, ou um trator de quinhentas ou mais toneladas, passou por cima do meu corpinho singelo. Eu não estava com dor de cabeça, igual ao dia que eu fui forever-alone em um show de Pink Floyd instrumental no Bar do Zé, e passei a noite tomando caipivodka e cerveja irlandesa. O rum me dá moleza e um sono absurdo no dia seguinte, mas dor de cabeça não, ao contrário de qualquer coisa com vodka, seja ela uma Absolut/ Orloff/Natasha/Balalaika(Natasha é a pior que eu já tomei…).  Mas mesmo assim, tomei umas aspirinas para aguentar a dor no corpo. A sorte é que a mãe da Tamys fez uma deliciosa limonada com gengibre que curou a ressaca maravilhosamente bem. Quem me lê acha que eu sou uma bêbada, alcóolatra, que só dá trabalho. Mas eu nunca dei B.O. Quando eu vejo as coisas ficarem levemente embaçadas, eu paro com os recursos etílicos. Vou ser bem careta agora, neste momento, beber é bom, é divertido, desde que você não saia por aí desmaiando na sarjeta, tomando glicose na veia e vomitando no pé do amigo. O máximo que acontece comigo, é eu ficar mais alegre e falar sem parar, mais que o anormal.

Entenda…álcool não é “Embelezol”.
Álcool funciona mais no quesito de ensaiar um passo estranho numa festa estranha com gente esquisita, do que qualquer outra coisa.

Bom, já entrei na questão cinema(para abordar a questão “infância”, aspirina (remédio excelente pós-ressaca-vadia) e agora a questão urubus. No domingo para segunda, fui para a casa de meus papis. A noite de sábado para domingo foi deprimente. Fui numa festa em Itu, mas no geral estava chato. O melhor momento foi assistir a luta “ao vivo” do Anderson Silva contra aquele cretino vadio norte-americano. A comida estava muito boa, o quentão e o vinho quente estavam divinos, mas depois dessa noite, eu compreendo que uma das coisas mais chatas do mundo é ir numa festa onde você só conhece uma pessoa, e tem toda uma panelinha formada. Eu me senti uma total estranha no ninho. Não que não tinha gente legal ali, muito pelo contrário, mas digamos que era uma festa para pessoas que já se conheciam há tempos, e ali, eu realmente era a “amiga de fulana”. Depois de uma noite entediante, fui pra casa no domingo, na hora do almoço e depois saí com meu irmãozinho. Na segunda pela manhã fui fazer uma caminhada. Como podem perceber, eu gosto muito de caminhar. Sempre faço isso, é como se eu tirasse um tempo para refletir. Gosto de fazer caminhadas sozinha, pois assim não tenho interrupções nos fluxos mentais, e posso escutar minhas músicas. Eu nunca esqueço uma frase que uma pessoa que eu não me lembro exatamente quem seja, mas essa pessoa me disse:

Ana, você é intensa demais…

Hoje eu vejo, que na época eu dei risada do comentário acima, e levei na brincadeira, mas ele está certo. Muitas vezes nós somos incompreendidos. Somos incompreendidos porque pessoas que pensam demais, pessoas mentalmente hiperativas,pessoas intensas, muitas vezes falam e agem por impulso, pois pensar e ser intenso demais não é necessariamente em pensar e agir da maneira correta. Nós agimos, depois pensamos nas consequências. Nossa mente é como uma bomba relógio, então nos colocamos a mente para trabalhar, muitas vezes dizemos ou fazemos coisas sem sentido, se estou com um poema ruim na cabeça, eu posso voltar para casa e publicá-lo, e nele pode contar verdades ou meia-verdades disfarçadas em sutilezas do dia-a-dia. Eu acordo de madrugada e escrevo a trama de um sonho, antes que eu me esqueça, e isso costuma acontecer, pelas manhãs. Eu posso dizer exatamente o que eu penso, independente do que as pessoas achem ou não. Se eu estou apaixonada, eu não escondo mais. Pessoas intensas, muitas vezes possuem o mal da sinceridade extrema, algo meio “coruja depressão”, falamos o que nos der na cabeça, e muitas vezes uma brincadeira pode ser levada como verdade absoluta, e então perdemos amigos por aí. Muitas vezes gostaria de poder dissimular e fingir, algo como um ciborgue, emular sentimentos e depois, simplesmente apagá-los como algo sem valor, mas eu tenho todas as minhas entranhas para fora, e isso de uma certa forma é algo assustador para muita gente, pois as pessoas se aproximam, interessadas no algo novo e incomum que você tem a oferecer. E então, depois de um certo tempo, elas se afastam feito crianças assustadas, pois pessoas assim possuem as entranhas expostas. Talvez se minhas entranhas não estivessem tão expostas num prato, servido a molho pardo, talvez, quem sabe, a mágoa seria menor. E o mais engraçado, é que eu não consigo sentir ódio dessas pessoas, tão indefesas frente ao fuzilamento de verdades e meia verdades. Elas preferem um mundo onde todo mundo finge, e o tempo todo são banhadas de elogios. Ninguém gosta de ser visto por dentro, ninguém gosta que metam o dedo na ferida. E então, você que me lê me pergunta,

Tá…e onde entra a porra dos urubus?O título dessa merda não é “Cinema, aspirina e urubus”?

Então…voltando, na minha caminhada perto de casa, como lá é um bairro no meio do mato, animais mortos aparecem sempre por ali. Estava andando na estradinha de terra, e encontrei um cachorro morto, com as entranhas para fora, por isso a analogia “pessoas com entranhas expostas”. Em volta dele, do cachorro, tinham vários urubus. Sempre tive um certo fascínio por essas aves horrendas. Elas tem um modo de viver muito peculiar. Quando eu era criança, eu via esses bichos lá no céu, planando em círculos, e de uma certa forma eu queria entender como eles localizavam sua comida, lá de cima. Eu era criança, e naquela época, internet e Discovery Channel era algo para bem poucos. E então eu pegava uma tarde qualquer, deitava bem no meio de uma quadra de basquete que tem em casa, e me fingia de morta. De vez em quando, eu abria os olhos para ver se algum urubu se aproximava, porque na minha cabeça, eles avistavam algo “deitado” no chão. Então, pela minha lógica infantil, eles se aproximavam para ver se estava morto, se sim…comer!Se a premissa for falsa, os urubus fogem para as colinas e tentam outra vez, planando no céu. Obviamente, eu ficava deitada lá feito uma retardada, e nada acontecia. E então, pouco tempo depois, em um livro sobre pássaros que eu encontrei na Biblioteca Municipal de Santa Bárbara, eu li que essas aves tinham visão e olfato apurado. Talvez se eu me esfregasse em algo morto, eu poderia chamar eles mais pra perto. Bom, isso é um detalhe da minha infância, mas onde eu quero deixar, é que quando eu vi o cachorro com as tripas para fora e os urubus grasnando quase parecidos com corvos…aliás, eles não grasnavam…eles crocitavam, então eu me lembrei desse evento, quando eu era criança. E então, eu continuo sempre afirmando…#DA HORA A VIDA NÃO É?E o corvo que viu minhas entranhas, assim, tão de perto, está crocitando de longe: “never more…never more”…

The welts of your scorn, my love, give me more

Send whips of opinion down my back, give me more…

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Sonzinhos aleatórios inspiradores embaladores desse post madrugador : foram várias!!Hoje teve Blue Oyster Cult, Pink Floyd, Jeff Buckley, Sia, Couer de  Pirate, The Cure, Pain of Salvation.

Ordinary World, C’est fini! C’est la vie: silêncio,velha infância, pieguice, o encontro com a barata, pastéis matutinos e Heath Ledger.

Essa imagem ilustra como eu me senti essa semana!^^
But i won’t cry for yesterday
There’s an ordinary world
Somehow i have to find
And as i try to make my way
To the ordinary world
I will learn to survive…
1 – O Silêncio…
Esta semana foi intensa. Muito trabalho, muitas reflexões, e um encontro com uma barata na cozinha. Um sentimento “Kafka”…hehehehhe. Esta semana trabalhei até tarde, fiz minhas aulas de flamenco, andei lendo bastante e meditando em silêncio, até procurei quando vai ter o próximo retiro espiritual Vipassana, um lugar onde você fica afastado de tudo e todos. Uma semana em silêncio, meditando, e rigorosa dieta(frutas e água). Não pode levar celular, nada eletrônico. Escrever pode, desde que seja papel e caneta e não se utilize disso para conversar, e isso me fez lembrar dos tempos de adolescente, nas aulas que não podia conversar, nós costumávamos fazer chat via papel e a conversa fiada passava na sala toda, e o tempo todo nós achávamos que a professora nunca desconfiava de nada.  O fato de poder levar papel é muito bom, pois quando eu for vou descrever a experiência do silêncio total, mas ao mesmo tempo isso implica de uma certa forma, na quebra do silêncio, pois vou usar isso para comunicação certo?O ruim é que no momento não tem nenhuma data definida para o próximo retiro, mas enfim, até o final do ano, gostaria de participar, e muito, até porque os retiros são de graça, você ao final, pode fazer alguma doação se achar que a experiência foi válida. Um amigo meu disse uma coisa engraçada, quando eu comentei que vou fazer um retiro:
“Esses encontros devem ser daqueles retiros muito loucos, onde se toma aqueles chás estranhos e onde todo mundo sai transando com tudo e com todos…só que em silêncio!”.
Obviamente, eu, criatura besta que só eu, e digamos com um bom senso de humor, fiz a minha cara habitual de poker face e depois um facepalm e depois caí na gargalhada e ainda completei “Só se eu for comer a Tia do Batman…em silêncio”. Eu até tentei explicar o intuito da coisa, que de putaria não tem nada, mas eu entrei numa crise de riso tão grande, que mal consegui me segurar. Isso porque, nos retiros Vipassanas, homem e mulher são separados, ou seja, nem que eu fosse com um namorado(se eu tivesse), nada de sexo…nem tântrico…para se ter uma idéia, nenhum contato corporal, nem aperto de mão. A castidade é mental(eu fico me perguntando se isso é possível), visual, física…em todos os sentidos!Resumindo, são 7 dias acordando quatro horas da matina, meditação, leituras e dormindo cedo. Talvez isso melhore a insônia!
2 – A Pieguice e memórias de uma Ana quando jovem(muito jovem!)
Insônia: outro problema. Podem ver, são cerca de 01h30 da manhã, eu trabalhei das 09h00 até as 22h00 e não estou com sono. Estou cansada?Sim, estou, mas ao mesmo tempo minha mente está voando e acelerada. Estou nesse humilde blog escrevendo coisas aleatórias, com o Itunes no modo shuffle, e neste exato momento, neste parágrafo estou ouvindo Tribalistas, Velha Infância. Eu ouço isso e sinto saudades da época que música brasileira não se resumia a Michel Teló e música do tchu-tcha…
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Penso em você
Desde o amanhecer
Até quando me deito
Eu gosto de você
Eu gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo
É o meu Amor
 Está aí uma música cuja letra é simples e piegas, mas a sonoridade eu considero muito, mas muito bonita, principalmente nesta parte que eu citei, que é o Arnaldo Antunes recitando. Eu penso a mesma coisa quando penso em Djavan. E as pessoas me olham embasbacadas quando eu digo que gosto de Djavan. Eu gosto, eu confesso, EU FICO PIEGAS!EU SOU PIEGAS! As pessoas me vêem com uma mulher sem coração que só curte sons agressivos, com gritaria, letras tristes e revoltadas, mas lá no fundo eu sou um ser sentimental. Não é pelo fato de eu ser a única mulher em um setor só de homens, que eu tenho que ser uma ogra com peitos. E particularmente, “Um Amor puro” é uma música que me derrete igual chocolate no sol(péssima analogia…péssima). A letra é muito simples, coisa que meu irmãozinho de nove anos faria para a namoradinha dele:

O que há dentro do meu coração
Eu tenho guardado pra te dar
E todas as horas que o tempo
Tem pra me conceder
São tuas até morrer

E a tua história, eu não sei
Mas me diga só o que for bom
Um amor tão puro que ainda nem sabe
A força que tem é teu e de mais ninguém

Te adoro em tudo, tudo, tudo
Quero mais que tudo, tudo, tudo
Te amar sem limites
Viver uma grande história

Aqui ou noutro lugar
Que pode ser feio ou bonito
Se nós estivermos juntos
Haverá um céu azul

Um amor puro
Não sabe a força que tem
Meu amor eu juro
Ser teu e de mais ninguém
Um amor puro

Em falar nisso, na última vez que eu fui na minha casa, em Santa Bárbara, eu encontrei na gaveta do quarto do meu irmãozinho, um poema que ele escreveu pra uma guria da escola. Ele me pegou lendo e ficou todo tímido, e ele disse que aquilo foi uma canção que ele escreveu. Então ele arrancou o papel da minha mão e ficou todo envergonhado. Eu ri muito da situação, mas eu ri porque achei aquilo muito bonitinho, não por maldade, até porque naquele momento eu me enxerguei ali. Quando eu era criança, eu tinha um amiguinho de 7 /08 anos, chamado André Luís, que enviava cartinhas se dizendo apaixonado por mim e que nós iríamos nos casar. Era com ele que eu estava neste acontecimento aqui:

https://suburbanwars.wordpress.com/2012/01/17/sobre-o-efemero/

Eu estava voltando da escola, com ele e a irmã dele, que se chamava Graziele(eu acho…não me lembro ao certo o nome dela) e nós encontramos um pássaro no chão(leiam a história, pois não vou repetir). E eu me lembro que  naquele momento ele estava comendo aquelas balas quadradinhas de doce de leite (ele adorava essas balas, e eu gostava de dadinho!). E toda vez que eu sinto esse cheiro, dessas balas, eu me lembro desse momento. Eu me lembro que ele colocava uns versinhos e desenhava eu e ele na versão “Desenho Universal”: um homem palito e uma mulher palito, e ele sempre me desenhava segurando uma flor. Então teve um dia que ele me deu uma flor, que ele arrancou do jardim de uma mulher muito brava, pois eu costumava roubar as flores dela para dar de presente para minha mãe. E então, todos os dias ele me dava uma flor, e eram flores diferentes, pois ele não gostava de repetir. E o mais engraçado é que nem selinho de criança rolava. Nós namorávamos do nosso jeito, e para nós, namorar era ir e voltar da escola junto, de mãozinhas dadas.

Ele apenas me dava flores, arrancadas sem culpa,
Das casas ao redor do caminho da escola,
De mãos dadas, despreocupados, caminhamos,
Nós nunca nos beijamos, e ele dizia,
“Então nós vamos nos casar…”
E quando isso acontecer, eu vou te dar um beijo…

Vamos descrever o que é piegas?Piegas é aquela pessoa melodramática, “dramaqueen”. Hoje eu fui piegas, quando fui tomar danone e só tinha meio copo…e eu estou sem grana para comprar danone, e mesmo se eu tivesse, cheguei tarde do trabalho e estava com preguiça($) de ir no Dalben, que fecha meia noite. Enfim, fiquei de bibibi porque fui seca no danone e não tinha mais. E a vida é assim, quando você está com vontade, pode ficar apenas chupando dedo. Me contentei então com leite e ovomaltine…oh como sou juvenil!!!

“Tudo os aluno criado a leite com pêra, a ovomaltino, a pão com mortandela!”,  Prof. Gilmar

Neste caso, fui piegas também, mas isso não é só no sentido dramaqueen. Temos a pieguice no sentido do ser romântico. Todo poeta é romântico de uma certa forma. Eu não sou poeta, mas me arrisco, mas não ao ponto de ser poeta, mas quando eu sou, eu uso a pieguice romântica sentimental ultra-esquerdista.  Ser piegas é se emocionar escutando Daniela Mercury, “A primeira vista”, de madrugada, cantando desafinado mentalmente, para não acordar os vizinhos, ou querer sair correndo na rua, ou quase chorar de emoção escutando Ney Matogrosso interpretando Cazuza, naquela música, “Poema”:

Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança…

Esse detalhe me lembra do desenho do pica-pau…episódio clássico, mas sem backing vocals, roupas pretas e luvas brancas. Sinto saudades do pica-pau, mas vejamos…na merda da história toda, estou mais para o índio. Ba tum disssss!O que vai querer meu chapa?Ah, bravo Figaro!Bravo, bravissimo!Bravo! La la la la la la la!

3 – A Barata: o processo na cozinha

Nesta semana, especificamento na terça-feira, saí do trabalho e fui para a aula de Flamenco. A aula começa as 20h30, saí dela as 21h30 e voltei pra casa. Resolvi ir na cozinha pra comer um iogurte com cereais. A cozinha do lugar que eu moro é compartilhada, e fica do lado de fora. Não costumo ir muito lá, porque quase não paro em casa em dias de semana. Praticamente, é muito difícil eu fazer alguma refeição em casa. Sempre compro coisas práticas, como pão, leite, iogurte, cereal, sucos. Nada além disso, até porque acredito que não daria muito certo, até porque o meu senso de “fazer comida somente e exclusivamente para minha adorável pessoa”, ainda não foi configurado. Eu cheguei, coloquei minhas coisas do trabalho em cima da cama, peguei meu livro do Stieg Larsson e levei pra cozinha. Gosto de ler enquanto como alguma coisa. Eu sei que é errado, mas não tem coisa mais prazerosa do que comer cereal lendo. Tirei os sapatos, coloquei algo confortável e fui para a cozinha. Primeira coisa foi abrir a geladeira e tirar a garrafa de iogurte. A tigela de cereais estava me aguardando toda sorridente e bonitona. Ela esperava ansiosamente para enchê-la de Amor, que neste caso é o meu adorável sucrilhos com mel da Nestlè. Mas eis que me deparo com uma baratona nojenta, enorme, marrom e cascuda, em cima da mesa de mármore. Quem lê, imagina que o lugar é sujo, mas não é, está sempre bem limpo, mas o fato da cozinha ser do lado de fora, acaba complicando. Naquele momento, ao ver aquele ser das trevas, eu entrei em choque. Foi cômico, pois eu fiquei encarando aquela coisa horrível, com uma garrafa de danone na mão e na outra a caixa de cereais. E por um instante eu achei que aquela coisa fosse voar pra cima de mim. E então eu permaneci em silêncio, achando que ela iria se tocar da minha presença e iria se mandar dali, afinal, eu precisava pegar o meu livro em cima da mesa. Mas não adiantava, aquele bicho asqueroso, como diz o meu amigo Brunão, sobre a vida o universo e tudo mais:

Queria o meu corpinho nu, banhado no óleo de dendê

E eu fiquei lá, e a maldita barata me encarando, e chegando cada vez mais perto do meu livro. E eu queria pegar o livro, mas ela estava lá e a Lei de Murph caminha comigo desde quando eu nasci, logo a probabilidade dela voar pra cima de mim, poderia ser particularmente altas.

Você quer uma barata Ana???Elas voam Ana, elas voam, e você pode voar com ela também!

“Cê ri né?Cê acha engraçado!” Andersão sobre tudo…

Enfim, ela ficou lá me olhando, e então eu pensei que se bicho continuasse vivo, mais tarde ela poderia entrar por baixo de minhas cobertas, ou caminhar nos meus pés, como aconteceu uma vez lá em Porto Alegre, quando uma barata resolveu subir nas minhas pernas dentro de uma loja. Obviamente, nunca mais voltei naquela loja. Quando eu resolvi criar vergonha nessa minha cara e e deixar de ser mulherzinha, a desgraçada fugiu. Fui lá, peguei o meu livro, enchi a tigela, guardei o danone e fui para o quarto ler meu livro. Eu e aquela barata não podemos ocupar o mesmo ambiente. E toda vez que eu vejo insetos asquerosos e tenho de matá-los, eu lembro da filosofia budista. Reza a lenda que eles não matam uma barata, pois pode ser um tio que já se foi…batumdissss!

Eu não corro essa risco, pois minha risada é huahuahuahuahuahuaa, e quando o assunto é vingança, minha risada é “muahahahahaha”….

4 – Pastéis Matutinos

Imaginem o seguinte cenário. Você acorda pela manhã, quase morrendo, principalmente se for um ser que “morcega” na madrugada. Você tem que ir trabalhar, porque afinal, como diz a minha sábia e querida mãe:

Mente vazia minha filha, oficina do diabo!!!

Então, imaginem, acordar, se arrastar no quarto e partir para o chuveiro. Eu como mulher, tenho meu arsenal de coisas cheirosas, tal como perfumes, águas de banho, óleos perfumados, coisas de mulherzinha. Então é nesse momento que acabo acordando de vez, ou muitas vezes puxo um livro da cabeceira, leio algumas páginas e depois vou para o banho. Sendo assim , me arrumo para ir trabalhar. Passo um perfume, creme nos cabelos, creme hidratante que combine com o perfume(aqueles que é da mesma linha, eu tenho o creme e o perfume de sândalo do águas de Natura…muito bom!), enfim, eu gosto dessa coisa, adoro “memórias olfativas”. Cheiros me remetem a lugares remotos, lembranças, logo, eu sou alvo fácil em lojas de perfumes, cosméticos em geral. Pronto, depois de meia hora, me perfumei e me arrumei para ir trabalhar. Passo na cozinha, tomo alguma coisa, e vou para o ponto de ônibus que é quase em frente de casa, coisa de 15-20 metros de distância do portão. Coloco meus fones no ouvido e se tiver um solzinho em alguma região da parada de ônibus, eu fico lá no solzinho, pois acho divino um sol de inverno pela manhã. Eu pego o 326(Vila Independência) ou 325(Vila Isabel). Ambos vão para o Terminal Barão Geraldo. E aí que entra a questão “Pastel”. Do lado de fora do terminal Barão Geraldo tem uma pastelaria do lado de fora, atravessando a rua, em frente ao ponto de táxi. Até aí, tudo bem!Pastel é uma delícia, coisinha linda e iluminada de Deus, principalmente se for acompanhado por um caldo de cana com limão, suco de laranja ou refri de garrafinha, conhecido como caçulinha, na minha cidade é o  Esportivo, que é muitoooo bom!!!!Ohhhhh Santa Bárbara queridaaaaaaa!!!

Voltando, chego no terminal, e pego 134, ou 333 ou 331, esses param num ponto de ônibus bem próximo de onde eu trabalho, sendo que em agosto, vai ser quase em frente, pois a churrascaria Coxilha dos Pampas vai sumir dali e nós vamos expandir. Então, onde quero chegar com os pastéis?É muito simples. Eu tomo banho, eu me arrumo, fico cheirosa. Aí entra no ônibus uma maldita pessoa enviada pelo demônio, comendo pastel, 08h00 da manhã…e eu, a estas horas, estou azul de fome. E o cheiro de pastel é algo muito bom, soberbo, excitante, do ponto de vista alimentar(eu não quero nenhum corpinho nu banhado num oléo de pastel…). O problema disso tudo, é que todo o seu investimento para ficar agradavelmente perfumada, vai por água abaixo. A lei de Murph me persegue, e as pessoas pastelentas sentam DO MEU LADO, ou seja…eu fico cheirando pastel!!!!!

Ana, que perfume você passou hoje????

Hoje eu estou usando o “Pastelon de Carné”, é francês, da marca L’entraîneur Baron Gérard…

Resumindo…o cheiro de pastel impregna sua roupa, seu cabelo, sua pele e você fica passando vontade o dia inteiro!#CHATEADA COM ISSO TUDO!

Prefiro Frango com Catupiry ou calabresa…

5 – Heath Ledger

O Joker era a única pessoa deste mundo que ficava muito bonito sem maquiagem!Se é que vocês me entendem…

Se tem um homem que eu perderia as estribeiras, que eu entraria em estado de graça, este é Heath Ledger(o outro é o Ewan Mcgregor). E nesta semana eu entrei em um cômico estado de ebulição. Estava eu lá, no hemocentro do hospital Vera Cruz, em Campinas. Faz tempo que eu não doo sangue, então como tenho hora-extra bagaralho, resolvi fazer uma boa ação. Eu deveria ter chegado cedo, o hemocentro estava cheio, então tive que esperar alguém terminar a doação. Sentei lá na salinha de espera e fiquei lendo “Os homens que não amavam as mulheres”. Eis que de repente a porta se abre e um cheiro muito bom de perfume masculino(estou chutando que seja o “Quasar” azul, da Boticário) entra na sala. Disfarçadamente eu levanto os olhos do livro e…NOSSA SENHORA DA BATATINHA PODRE EM CONSERVA…NOSSA SENHORA DOS OVINHOS COLORIDOS EM CONSERVA DO BUTECO DA ESQUINA!!!O ser era a cara d Heath Ledger…sem tirar nem por.

Entrei em estado de graça…
You’re just too good to be true…can’t take my eyes of you!

Eis que meus hormônios chegaram no pico do Everest. Então eu dei um sorriso sem graça, porque o filho da manhã disse “Bom dia” e eu acredito que o meu riso ficou largo igual a cicatriz do Coringa quando eu vi tamanha belezura australiana(Heath Ledger era australiano). Ele pegou uma revista e sentou do meu lado. Deu uma folheada na revista e eu lá, quietinha com os olhos nas páginas do livro(nessa altura do campeonato eu nem sabia mais o que eu estava lendo ali…). De repente: “Gosta de ler?O que está lendo aí?”, então eu sorri e mostrei a capa do livro, “Eu tenho os três, adoro esse livro!”, “Stieg Larsson escreve muito bem!Você está gostando?”

Sim…adoro ler…adoro…

Depois que o ser iluminado me disse isso, eu me senti como uma adolescente besta, fechei o livro e começamos a falar a respeito, E AINDA PERGUNTOU SE EU ESTAVA ATRAPALHANDO A LEITURA!Eu disse que não, óbvio. Então ele disse que tem a trilogia em filme, de um diretor sueco, que ele aconselhava eu assistir. E falamos sobre Lisbeth Salander,  e ele então construiu uma visão brutal da personagem, e disse me perguntou se eu também tinha vontade de conhecer a Suécia ao ler o livro. E não foi só isso, falamos sobre a vida, o universo e tudo mais. Ele está fazendo mestrado em letras e vai para portugal dentro de 2 meses e depois para a Alemanha. E então eu perguntei se ele sempre doava sangue. Aí ele disse que era a primeira vez, pois o NAMORADO dele…isso…isso mesmo caros colegas…sofreu um acidente e o sangue dele era compatível. Ele estava internado no hospital Vera Cruz e a cirurgia seria nesta próxima segunda, e muito provavelmente ele precisaria de sangue, mas disse que estava fora de risco, não precisaria de muito. E então ele pegou o celular ( um Samsung S3) e começou a mostrar as fotos dele com o namorado(uma delas em Amsterdam, na Holanda). E pasmem…o namorado dele era lindo também, mas ao contrário dele, tinha um “q” que gostava da coisa. Então ele foi chamado para a triagem e me desejou boas leituras e boa sorte na vida. E finalizou que me achou muito bonita. E eu fiquei o dia inteiro me perguntando se por um acaso eu joguei saquinhos com urina na cruz, porque Jesus Amado…o que eu fiz de errado?

Eu, por dentro fiquei exatamente deste jeito quando ele mostrou ele e o namorado pelas ruas de Amsterdam…

E foi assim. Voltei para o trabalho #CHATEADA, contei a história para os miguxos e vou resumir numa imagem já repetida neste post, sobre o que eles acharam disto tudo:

Hahahahahhahahahahaha!Se fodeu!!!!!Fuuuuuuuuuu!

Como meu amigo Brunão diz, homem que é homem chega na mina coçando o saco e diz: “E aí mina, tamo aí nessas carne?”. Homem que chega e diz que gosta de ler, escreve, curte música de qualidade e não quer somente teu corpinho nu banhado no óleo de dendê, segundo ele, é apenas seu amiguinho gay, que vai fazer francesinha na sua unha aos finais de semana. o.O

E para encerrar esse abençoado e enorme post, vai a música cuja refrão eu fiquei na cabeça a semana toda e que deu parte do título desse post. Eu digo, esse mundo é ordinário, mas eu amo infinitamente tudo isso. Coloquei os outros vídeos inspiração também. C’est fini! C’est la vie !

When I was a child…

“We’ll be together with a roof right over our heads?”

Está tudo tão alto agora – eu pensava quando criança.
Quando eu era criança, eu queria subir no telhado de casa.
Eu queria fazer isso quando meus pais não estivessem em casa,
As emoções são maiores quando fazemos coisas proibidas não é?
E então um dia, eu subi no muro, apoiei meus pés num encosto,
E lá estava eu no telhado de minha velha casa, eu poderia ser a dona,
Eu me sentia como se pudesse ver tudo lá de cima, eu tinha poder,
Eu era a dona daquele lugar, junto ao ninho de pombas e pardais sujos
E assim, tão alto, tão alto, eu me senti livre, tão alto…tão solitária,
Como um gato, no silêncio, sentada em cima de telhas que poderiam se quebrar,
E algumas se quebravam, mas eu nunca, eu nunca tive medo de cair lá de cima.

E eu gostava daquilo, de ficar lá sozinha, apenas observando os detalhes,
Os carros passando, os cachorros fuçando as lixeiras, a vida lá embaixo,
Essa vida lá embaixo, era tão divertida, e eu apenas ria baixinho, lá de cima.
E foi então que percebi, nos meus tenros 9 anos de idade,
Que as pessoas estão sempre com pressa, com suas sacolas de supermercado,
Muitas vezes cabisbaixas, perplexas, presas em preocupações que eu nem imaginava
Nenhuma delas viu a menininha banguela risonha em cima do telhado, ainda bem…
E então todos os dias, pelas manhãs, eu brincava com meus cães no quintal,
E no meio da manhã, eu subia no telhado de minha velha casa, e lá ficava,
Eu tinha um velho relógio infantil no pulso, quando estava na hora de descer,
Eu esquentava a comida que minha mãe deixava, e partia para a escola.

Então às vezes eu me lembro dessa história, todos possuem algum segredo infantil,
E esse segredo nunca ninguém soube, eles ainda acham que as telhas quebradas,
Era apenas um casal de gatos bagunceiros que se divertiam pela madrugada.
Eu gostava daquele lugar, algumas telhas estavam ou eram quebradas, eu poderia trocá-las.
Mas se eu contasse isso, mamãe poderia descobrir meu segredo, e eu não queria,
Porque quando mamãe brigava comigo, eu subia no telhado, e ela me procurava,
Eu escondia minha velha bicicleta amarela, e então ela achava que eu estava às voltas,
Com minha velha bicicleta naquele bairro, me desviando de carros para comprar doces.
Mas eu apenas estava chorando lá do alto, quando minha mãe brigava comigo,
Eu chorava escondido, olhando ao meu redor, a vizinha e seus cães fugindo do banho,
A vida do alto meu Amor, era muito bonita…a vida do alto era tão diferente!

“Since I’ve been loving you
I’m about to lose my worried mind
Said I’ve been crying, my tears they fell like rain
Don’t you hear, don’t you hear them falling”

Todas as manhãs no meu mundinho particular. Todas as malditas manhãs que eu me levanto de minha cama sem sentido, entorpecida em sonhos de verão, primavera, outono e inverno. Não me importa se as folhas que caem são vermelhas, se as tulipas esarão amarelas o bastante, se o meu corpo vai ficar dourado no próximo verão. É vivendo os dias, um dia após o outro, que vou me rastejando feito um verme, um verme tão feliz, mas porém um verme. Aquele verme que vai te perfurando as entranhas, sugando sua alma. Lá no escuro está eu gritando, uma súplica silenciosa que se arrasta com a treva do tempo. E naquele calor de verão, eu sinto um suor frio escorrer pelas minhas costas, e o meu coração palpita. O médico me disse uma vez: “Ana, pelos seus exames, você está com uma leve arritmia. Está apaixonada?”, eu me lembrava disso quando tomava meus remédios. Era uma época de depressão leve, crise de pânico e muito estresse. Hoje não tomo mais remédios, hoje sou uma mulher com o coração normal, mente sã!Amor estou mentindo, eu lhe digo isso, estou bem amor…amor estou mentindo. Está tudo bem, mas falta algo, falta aquele com uma charmosa pintinha no lado esquerdo do teu rosto e barba por fazer. E eu me pego todos os dias com o coração apertado, meus olhos marejam quando acordo, quando acordo e vejo que cada maldito sonho é apenas uma projeção do meu inconsciente, que pega aquelas coisas lá no fundo, escondidas, coisas inimagináveis, e mistura-se com as coisas reais. Pega tudo isso e joga no meu teatrinho inconsciente com trilha sonora, cores e sensações. Os meus olhos se movimentam loucamente durante a noite, R.E.M…Não…Não estou perdendo minha religião.  Meus dançam e o meu inconsciente me engana, ele adora me enganar, E o maldito celular velho com DDD 51 desperta enquanto eu arranho suas costas. E com todo o meu ódio comedido eu amaldiçoo o passar das horas. Cada minuto em um sonho, corresponde a 1 segundo aqui, no real. Sabia disso?Enquanto você sonha com uma noite inteira de amor, se passou apenas 2 minutos no mundo real. Se eu pegasse um papel, um crayon e tivesse algum talento para desenhar, eu seria como Hyeronymus Bosh, eu iria descarregar toda minha tensão, minha loucura, minhas objeções, minha tristeza, meu riso e meu grito numa maldita folha de papel, ou em qualquer coisa, qualquer coisa que me dessem, mas isso sem nenhum pingo de moralidade. Mas isso seria no mundo real, porque no lugar mais obscuro dentro de mim, cada pedacinho de suas costas é um caminho que eu percorro. Eu faço desenhos imaginários com a ponta dos dedos, faço um entalhe com as unhas, um pincel molhado de aquarela com a língua.O papel ronrona feito um gato…ele tem um leve relevo, são bolinhas de calafrio. Eu adoro calafrios, porque vivem nos pregando peças. No calor de 40 graus, todo mundo tem um arrepio, ele surge nos pés e sobe até a nuca. Quando passa pelas costas ele faz uma pausa, e percorre mais devagar no pequeno abismo na cova do caminho da espinha dorsal. E quando ele chega na nuca, eu tenho mania de esfregar o pescoço, atrás, bem na nuca. Se me ver fazer isso, é porque senti um calafrio. E eu senti isso atravessando a rua, com pressa, numa quarta-feira. Eu não estava no meu melhor dia. Eu não queria que me visse daquele jeito. Eu estava no meu dia mais sem-graça. Aquele dia em que eu acordo e pego a primeira roupa que vejo pela frente, o primeiro sapato, passo um batom de qualquer jeito só para evitar os lábios ressecados por causa do ar-condicionado de todos os dias. Foi o dia que eu liguei o botão foda-se a aparência, hoje eu vou de qualquer jeito trabalhar. Eu estava cansada, com pressa e desleixada. Um dia depois eu estava de saia e salto alto. Era assim que eu queria que tu me visse. Cansada, distraída, com pressa, mas irresistível aos olhos. Bem, aos meus olhos, eu me acho linda. Eu me amo, de verdade. Mas tem aqueles dias em que me machuco, aqueles dias em que evito me olhar no espelho. Eu me olho e penso porque meu rosto foi construído em grandes proporções, nariz, boca de caçapa, olhos arregalados. Mulher é um bicho desgraçado, que nunca está contente com a aparência. Tem dias em que eu me amo, e dias em que me odeio. E você me viu justamente no dia em que eu acordei e pensei “foda-se o universo, foda-se o mundo, eu não estou preocupada com minha aparência hoje, afinal quem liga pra essa bosta?”. Eu fui lá, trabalhei, fiz meus companheiros de trabalho rir, eu dei risada das piadas ruins(eu confesso que tenho muito senso de humor, mas muito mesmo). Foi um dia como os outros, a diferença é que nesse dia eu pedi pra te ver, eu não lhe vi, mas como sempre estão zombando de mim e me privando das coisas belas, me deixando sempre a última a saber, eu estou aqui, amaldiçoando minha blusa listrada horrorosa, minhas pernas cobertas pela calça jeans aleatoriamente puxada do gaveteiro. E culpando meus olhos de coruja(meu pai me disse um dia que tenho olhos de coruja), por nesse dia não ter olhado na direção certa. E então eu fico apenas me perdendo tentando adivinhar como você estava naquele dia. Mas pra mim não importa, em traje de gala ou dentro de um escafandro, você será sempre irresistível. Basta apenas sorrir e me mostrar-me as covinhas que forma em teu rosto.

Hoje, eu não estou preocupada com estética textual, estou apenas escrevendo exatamente, exatamente aquilo que vai aparecendo. O meu estômago roncou agora, e a preguiça me impede que eu pause o Itunes, me levante da cama, abra a porta do quarto, e me arraste até a cozinha. Esse tipo de fome eu sei que posso saciar abrindo a geladeira, pegando uma faca, cortar um pedaço de queijo branco e um pedaço de goiabada bem vermelha. Papai pode acordar no meio da noite e me criticar, porque comer altas horas da noite faz mal. Eu iria segurar meu pratinho de goiabada com queijo, sorrir com cara de falso sono e dizer “Tá bom pai!”. E quando ele virasse as costas, eu abriria a geladeira e pegaria um pedaço bem grande de queijo e outro igualmente maior de goiabada. Meu Bem eu sou exagerada. Eu vou da treva, do abismo, à ultima camada da atmosfera, eu gosto dos extremos, mas transito também no meio termo. É como a iluminação, há a luz matinal, a penumbra e a escuridão. Não me fale que eu não consigo fazer uma coisa. Aí é que eu vou fazer mesmo. Não me provoque, por mais que eu não consiga, eu vou ter que arrumar um jeito de pelo menos tentar. E se eu não conseguir, eu vou ser aquela que vai fazer troça de minha própria desgraça. Eu me divirto Amor, eu me arrisco, eu não sou mais daquelas que tem medo de me dar mal. Eu dou risada de  meus erros, afinal, aprendi muito com ele. Eu acho graça quando vejo que estou sendo ridícula. Aí eu penso: hoje eu fui uma cretina, e isso não acontecerá mais. E assim vai ser. Eu não costumo cair no mesmo erro. Sou um ser orgulhoso, e muitas, muitas vezes, sou chata pra caramba. Um dia um amiga chegou e me disse que leu no horóscopo que ela teria uma surpresa agradável. Aí eu lhe disse: “Você acredita nessa merda?Você acredita mesmo sabendo que o universo está em expansão e os planetas e estrelas não ocupam mais a mesmíssima posição, e que a posição de estrelas, planetas e tudo mais tem mais a ver com física teórica do que com sua maldita personalidade?”. Sim, eu estava de mal humor. Isso acontece, e nessas horas a gente machuca as pessoas. Eu pedi desculpas e então ela continuou com o histórico dela de acontecimentos da semana, e o que o horóscopo acertou, que sempre, sempre são coisas óbvias. E em todo horóscopo, desde aqueles gerados pelo gerador de lero-lero 2.0 até os daquele astrólogo famoso, virgem sempre será considerado o mais sem graça de todos, aquele signo insuportável, cheio de burocracias e aquele que faz sexo por conveniência, e não porque gosta, e tem que se tudo muito limpo e devidamente higienizado. Você quer me Amar? Amor, quer que eu seja sua Garotinha, aquela que morde o lábio superior cada vez que te vê?Assine aqui então esse papel com 5 vias que diz que você pode fazer o que quiser comigo, desde que tenha tomado 3 banhos e esticado os lençóis da cama. E se for me jogar contra a parede, assine mais umas 10 vias. E não deixe as roupas espalhadas no chão, e não jogue meus livros no chão caso queira que a sobremesa seja servida em cima da mesa. Virginianos de modo geral, odeiam o caos. Talvez esse seja o motivo de fazer troça das pessoas que leem o horóscopo. Eu adoro o Caos, adoro supresas, odeio burocracia. Se você pudesse me ver agora meu Amor, você me veria deitada no meio das cobertas, com o lençol emaranhado, com os livros jogados em cima da cama. É no meio do caos que eu encontro minha paz de espírito. Na minha bagunça eu sei exatamente onde as coisas se encontram, mas tem dias que me dá branco e eu fico em uma procura frenética. É como sonhar. Quando eu acordo imediatamente,no meio da madrugada, eu lembro cada centímetro do que eu toquei, a música de fundo, a cor do gato Stalker que apareceu na janela e que se encrespava com nossa dança, mas logo adormeço de novo e acordo sem lembrar de quase nada. Apenas pedaços, apenas pedaços me restam. Eu odeio isso, Amor, como eu odeio. Uma fisionomia eu nunca esqueço, porque sonhos não podem ser assim também?Minha cabeça é tão hiperativa, porque eu não consigo fazer todas as minhas sinapses inconscientes tirarem uma foto do seu sorriso imaculado que sempre insiste aparecer, mesmo que seja bem rápido, perdido na multidão, e eu te procurando, te procurando. Mas não, não, eu só consigo me lembrar daquele sonho ridículo em que eu era adestradora de marmotas coloridas, numa escola para…MARMOTAS! Marmotas…marmotas são engraçadas. Dois dias depois eu sonhei que estava dormindo e tinha uma marmota em cima da minha cama, e ela não tirava os olhos de mim. Ficava lá parada, sem se mexer. Maldita marmota perturbadora…Parecia que estava me dizendo: “Eu sei…eu sei o que você quer”. Sim, sim, maldita marmota, eu quero aquele garoto com barba por fazer. Como você sabe disso?Nunca te vi mais marrom na minha frente. Some daqui, e deixe meu garoto se deitar. Mas a infeliz continuou lá e eu lembro exatamente cada centímetro desse sonho. Nunca vi aquela Marmota, mas ela me conhecia e sabia o que eu queria.

E agora eu me cansei, o sono veio. Eu vou olhar mais uma vez aquelas fotografias que me levaram para o inferno do êxtase neste final de semana. E cada vez que eu olhos para aquelas fotos, eu vou me derretendo, eu pego uma faca e corto meu coração em pedaços, jogo na chapa quente(está quente Meu Amor, muito quente), e disponho num prato. Ele está esperando você tocar sua canção e acomodar ele dentro de meu peito novo. Ele se recusa a voltar pra mim. Amor, ele quer que você o toque, cada pedacinho dele. Ele é sádico meu Amor, cada pedacinho que você juntar dele, ele vai dar um grito de extâse. Ele é tão bobo, tão bobo!!Estou ficando angustiada meu Amor…angustiada, porque eu sei que vou me deitar agora e vou sonhar com você. Mas eu sou sádica meu amor…eu gosto de sofrer ao lembrar que te amei um dia, mesmo que não tenha sido aqui e agora no universo real. Se ele veio do meu inconsciente, ele é um doce desejo oculto que quer se realizar…Desde quando você me disse: Prazer, eu sou o Fígaro!

Há dez anos atrás, a menininha pirava no menininho que cantava uma ópera no coral INFANTO JUVENIL. Ela não sabia quem era, ela apenas o admirava enquanto mexia suas mãozinhas dentro das luvinhas brancas que seu pai comprou só para aquela ocasião. Ela estava de preto, com luvinhas brancas, ela cantava com seus olhões perdidos no Fígaro. Mas eu era criança…eu era criança. O tempo passou…o menininho cresceu e apareceu do nada…Prazer, eu sou o Fígaro…E a menina do vestido amarelo, que mais parecia um quindim ambulante está te chamando pra dançar, mas ela precisa deixar seu vestido bonito de novo. A dança da vida judiou um pouco dela, mas ela está ressurgindo de novo, e ela quer ser seu raio de sol…

“Figaro quà, Figaro là!
Figaro quà, Figaro la!
Figaro sù, Figaro giù!
Figaro sù, Figaro giù!”

La la la la la la la la la la!

La la la la la la la la la la!

Física Bêbada e castelo de cartas.

Num pub estranho num sonho do cochilo vespertino,

Cartas de baralho sendo dispostas em forma de um castelo,

Enquanto a Garota lambe as pontas dos dedos para separar as cartas,

Ao seu redor inúmeros personagens há garrafas e rostos embriagados.

Isaac chega com sua maçã dentro de um vidro com formol,

[Segurando um taco de bilhar]

Ele o carrega preso às suas calças de linho, impecáveis e desnecessárias,

Toma o seu litro de conhaque, provando a sua teoria da gravidade,

Ao Cair no chão, seu vidro com formol estoura, sua maçã rola pelo chão,

Numa mesa cheia de garrafas, Stephen, ri alto, na sua cadeira de rodas motorizada,

-“ HA…HA..HA…Isso foi engraçado…HA HA HA…” – diz o computador

– Cala sua boca filho da puta, você ocupa meu lugar em Cambridge!Me ajude a levantar!

– Sarcasmo? – diz Schrödinger, batendo as mãos na mesa e virando mais uma tequila.

– En-gra-ça-do…Mui-to en-gra-ça-do! – diz Stephen em tom de raiva.

– Eu te ajudo Isaac,  diz Schrödinger,

[“desde que me arrume mais um gato”]

[ “E uma caixa de aço hermeticamente isolada”]

– Schrödinger e mais um de suas idéias malucas. Não tem medo daquelas associações?

[Protetoras de Animais?] – diz Isaac

-“Protetores de animais?Eles me amam!E é tudo por amor a ciência!Preciso de mais tequila”

-“CRU-EL, CRU-EL” – Stephen sussurra triste…

– “E eu de mais conhaque…e formol para minha pobre maçã…Oh Jesus!Cadê minha peruca!!!”

– “Dê graças a Deus, sua peruca era…arghhhhhh…” – Schrödinger desmaia num coma alcóolico…

-“Ri-dí-cu-la…pa-re-cia um…poo-dle, HA-HA-HA” –  Stephen ri alto…através de seu computador,

No pesadelo alcoólico de Schrödinger, ele sonha com a Incerteza de Heisenberg…

[Mas sua incerteza é sempre errada]

[Pois o gato tem sete vidas…]

[E ele rasteja com pelos eriçados…no seu corpo]

Mas ele está Caído no chão, com a cara machucada e fedendo a tequila de 10 reais,

Isaac: – Estou muito bêbado…

Isaac: [ sem Força alguma para ficar em pé, nem minhas 3 leis funcionam agora!]

Isaac: Estou bêbado demais, e está tocando… Disco Queen!

Stephen: [“TEN-SO…TEN-SO…FES-TA ES-TRA-NHA…”]

[“com gen-te es-qui-si-ta”]

Isaac: “Eu não estou legal…”

Isaac: Oh God…olha lá quem tá dançando, com uma garrafa de gim na mão…

[Disco Queen, Let’s Disco…Disco Queen]

E lá na pista de dança, dançando como um pêndulo, em todas as direções,

Estava Jean Bernard Léon Foucault…

Isaac: [A experiência dele está deixando ele maluco…vamos embora Stephen!]

– Esta festa parece uma viagem de ácido, diz Isaac

– Sin-gu-la-ri-da-de…diz Stephen,

– Sim, tudo o que acontece aqui parece contrariar as leis da física!Como o colapso de uma estrela…

Isaac acorda Schrödinger, chutando-lhe o traseiro…

[“Baby, you’re just what I need…You purr when I make you bleed”]

[Gatos…não…não…sai daqui pelo amor de Deus!] – grita Schrödinger

[Já me arranhou o suficiente… Chega… Chega…Desisto]

[- Schrödinger,é apenas uma música feliz-deprimente…Vamos pra casa todos nós,
Tomar um banho frio e tomar uma coca-cola] – diz Isaac

Schrödinger: -Isaac…Esquece aquilo OK?

Isaac: Aquilo o quê?

Schrödinger: -Gatos…não preciso mais de gatos…nem caixas…nem pote de veneno…OK?

– O-lha…o-lha os Spins…Na-que-le Cas-te-lo…De car-tas, de ba-ra-lho – diz Stephen,

Schrödinger: -“Esquece Gostosão!…ela não leu seu livro!Por mais ilustrado que seja!”

Isaac: “Vixe…aí vêm o Jean Bernard…”

Schrödinger: “O cara se acha o Disco Man…Você quer cara ou coroa que aí vêm merda?”

“Stephen, fique aí cara, pedi uma música pra você!!!” – diz Focault,

“Le-gal!ha-ha-ha” – diz Stephen,

[“For millions of years mankind lived just like animals

Then something happened which unleashed the power of our imagination

We learned to talk”]

Isaac: [Maldito Heisenberg, Maldito David Gilmour…agora temos a incerteza de ir embora daqui cedo…]

Schrödinger: “O que faremos?Vamos olhar o castelo de cartas…Há vários bêbados como nós em volta…”

E o castelo de cartas fica cada vez mais alto, a Garota está concentrada,

No seu castelo de cartas e no Garoto sentado na meia luz,

Ele tem os olhos tão perdidos, está branco feito cera,

Ela o observa pelos vãos de seu castelo de carta, ele parece um rei,

Mesmo com seu galão de plástico, cheio de vinho causador de enxaqueca,

[Procedência duvidosa – ela pensa rindo]

[Eu não me importo!Eu não me importo]

[Hey garoto, me dê um gole desse vinho!]

[Vamos nos embebedar juntos, não precisa de outra taça!]

[Vamos beber na mesma taça, simples assim!]

[“Lilac wine is sweet and heady, where’s my love?”]

[“Lilac wine I feel unsteady, where’s my love?”]

A velha Johanne

A Velha Johanne está sentada no banco,
Lendo seu velho jornal de 1955.
Com o velho Seamus deitado ao seus pés,
Nos seus olhos há um brilho morto
O médico lhe avisou da catarata,
E das suas veias pulsam o Tic-tac,

Tic-tac , Tic-Tac
O cuco canta,
O Silêncio mata,
A Saudade cura
O Amor derruba!
Tic-tac, Tic-tac

Velha Johanne observa um quadro,
Nas úmidas paredes rachadas do seu quarto,
Cheios de fotografias velhas e outras boas lembranças,
Deus levou seu marido e depois seu filho
O que restou agora Velha Johanne?

Anoiteceu e Velha Johanne se prepara pra deitar,
Todas as luzes da casa estão acesas,
Ela está sozinha agora…Toda noite Velha Johanne chora!
Apenas o tempo ameniza nossas dores! – disse Mamãe
Faz 15 anos e eu nunca me esqueci! – disse Velha Johanne!

Velha Johanne está sonhando agora,
Ela está fazendo o jantar da ceia de Natal.
Seu filho adora Arroz a Grega, seu marido também
Eles beijam cada um, um lado do seu rosto,
E assim dorme a Velha Johanne…
Com os olhos bem abertos e um sorriso nos lábios!

Tic-Tac – Tic-Tac…