Cenas e pensamentos avulsos

1 – O mundo é um moinho?

Na madrugada a rolar pela cama. Entre uma coceira de ansiedade e outra, a cabeça martelando 1 milhão de pensamentos após uma sessão de terapia. Tentou ouvir uma música, para relaxar, acendeu seu incenso favorito, ficou deitada na cama olhando para o teto. Acendeu a luz, eis que então uma barata atrevida entrou quando abriu a porta pra tomar um ar. Matou a barata, com uma frieza atípica, ao invés de um escândalo típico de mulheres. Sentou-se na escadinha na porta de casa, a rua vazia, com suas teimosas luzes amarelas. O ventinho da madrugada chegou, como uma carícia no seu rosto, e então abraçou os joelhos e se colocou a chorar, um choro quieto, silencioso e isento de lágrimas, como um poço que secou, vazio mas com aquele cheiro úmido da umidade das paredes. Nenhuma viva alma nas ruas às quatro da manhã, contemplou mais um pouco o silêncio e beleza da madrugada solitária. Entrou pra dentro, tirou as roupas, ligou o chuveiro e tomou um longo banho. Ela gosta de água, ajuda a colocar as idéias no lugar, inclusive a pensar que se continuar com as crises de insônia misturadas à doença autoimune que atormenta sua noite. E então ela pensa no trabalho, será que conseguirá realizar todas as suas tarefas tendo virado a noite?Os minutos vão passando, como gotas de chuvas, minuto a minuto…E a manhã chega, ela toma mais um banho, umas gotas de perfume atrás da orelha, e sai de volta a vida. Há milhares de moinhos lá fora, e ela acredita que todos eles são dragões.

Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinhos.
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés

2- Madrugada

Mostrando sua face, pouco a pouco, o mundo girando atordoado. Ela largada em sua velha poltrona, com suas crenças, mágoas, amores e desamores. Na madrugada quente, silenciosa, sem brisa, apenas o pio da coruja contando o tempo, os minutos e segundos se passando, as lues apagadas no vizinho, e uma lua cheia e solitária lá fora. É tênue a linha do sofrimento, na pele, o desespero. Os pios da coruja continuam ecoando na madrugada, como os passos desesperados da consciência, sincronizados com as danças atordoadas de um mente perturbada. Daqui a pouco amanhece, o sol irá sair e o mundo estará lá fora, esperando mais uma sucessão de erros ou acertos.

3 – Apenas um copo de sakê

Chegou cansada do trabalho, jogou os sapatos para o canto, perto da cama, ligou o ventilador, pois sentia o corpo todo derretendo, como um sorvete. Estava feliz, apesar do calor quase que insuportável e a falta de dinheiro devido ao final de mês. Acessou a página de notícias e viu que este fatídico dia era o mais quente do ano, marcando trinta e sete graus nos termômetros e que um ciclone extratropical de nome enfadonho “Sandy”, estava causando problemas nos States.
Um banho gelado lhe cairia bem. Deixou as roupas caírem no meio do caminho, mudou a chave do chuveiro, colocou um Coltrane para relaxar, e começou a cantar, pois cantar lhe fazia bem, apesar de sua voz não ser tão agradável, mas pra ela, isto era apenas um detalhe do qual não havia o porquê se preocupar, pois dizem por aí que o importante é ser feliz, e ela é feliz assim, deste jeito, cantando desafinadamente enquanto as gotas calmas e geladas caem calmamente no corpo, enquanto fecha os olhos e pensa no passado, presente e futuro. O que será daqui pra frente, quais os planos, será que um dia irá casar, ter filhos, fazer um doutorado?Irá estar presente no fim do mundo?Com esses pensamentos martelando na cabeça, ao final ela apenas ri, pois ela vai apenas vivendo, dia após dia, com as tristezas e alegrias, uma nova estória a contar, um sorriso, uma fúria. Assim é a vida, pensa ela, passando como uma folha arrastada pelos ventos de inverno, ou apenas como um copo de sake, bebido lento e aquecendo-lhe a alma.

4 – Philander

And I’m always gonna love you
And I’m always gonna stay
Here with my Philander
Up here on this platter
And I’m laid out for Philander

Havia um casal em um restaurante. Não era um restaurante popular, era um desses requintados, bem arrumados, com bom gosto, mas não exorbitantemente caro. Era algo que era possível de ir mais que uma vez no mês. Havia uma moça, sentado no canto, estava bonita, com lábios pintados, olhos marcados e uma roupa sensual, não beirando a vulgaridade. Estava nervosa, contorcendo as mãos e olhando constantemente o relógio no celular. Ela havia pedido uma água, um copo com bastante gelo e 2 rodelas de limão. Quando entornava o copo para beber, era possível observar suas mãos tremularem, e o esmalte vermelho nas unhas. Ficou desta forma, transbordando sua ansiedade, as mãos tremulas, os pés batendo freneticamente no chão. E em um momento um sorriso abriu-lhe na face. Pela porta do restaurante entrou um rapaz, de altura mediana, não era belo, daquela beleza de se encher o olhos, mas era belo, uma beleza simples, comum, um homem com barba a fazer e bem vestido. Ela se levantou para cumprimentá-lo. Ele beijou a face segurando o rosto dela com uma das mãos, algo que aparentemente ela não esperava. Havia ali, naquela mesa, uma tensão, quase sexual, olhos nos olhos, os pés dele apontando pra ela, ambos com o corpo inclinado na direção um do outro. Ela sempre molhando os lábios, e ele sempre conversando tocando nela, de leve. E a cada toque dele parecia que ela iria morrer, de desejo, paixão, pois seu rosto incendiava com o rubor. Talvez ele soubesse disso, pois talvez ele tenha visto os pelinhos do braço dela arrepiar. Era o flerte…Philander…

Vou estrelar você no meu filme
Eu sou a criação agora
Então vamos lá, o ator que pouco
Não me decepcione, flerte

Random Memories, Random Life…

1 –  Pelas manhãs

Acordamos todos os dias pelas manhãs, com exceção dos domingos livres e dos sábados aos quais não temos que dar nos suores para colocar o bom e velho pão com manteiga, leite e café na mesa. E então fica aquela sensação majestosa e muitas vezes edificante de entrar embaixo do chuveiro para espantar o sono e pensar no que vai ser o dia de hoje. Enquanto a água escorre quentinha, um turbilhão de cenas e possibilidades, feedback de erros dos dias anteriores, tarefas a fazer, planejamento do final de semana, um amor que se foi, um amor que chegou, aquele amor que foi mas voltou…enfim, aquilo que nos move surge com o turbilhão de gotas tímidas ou furiosas dos orifícios de um chuveiro velho ou ducha potente. Somos todos diferentes, mas eu duvido que nenhum de nós tem os mesmos pensamentos num dia qualquer de manhã, afinal, queremos todos ser pessoas melhores, queremos todos que dias melhores cheguem como todas as manhãs. Dias melhores, pessoas melhores e dias menos nublados, e se forem dias nublados e tempestuosos, temos de nos lembrar o quanto o cheiro da chuva nos reconforta depois.

2 – Yellow Raven: válvulas de escape

Where do you go, fantastic dreambird?
Take me away to somewhere
Take me away from here!
Where do you go, fantastic dreambird?
Answer to my yearning
Take me away from here!
Este trecho trata-se de uma música dos Scorpions, mas que é muito melhor na voz do Daniel Gildenlow, do Pain of Salvation, que gravaram um cover maravilhoso e sensual. E vamos falar sobre o que essa música fala, que não é sobre corvos amarelos, literalmente. Eu acredito, na minha concepção, o corvo é uma fuga, uma válvula de escape. Todos nós gritamos, chamamos, clamamos, oramos por uma fuga. Queremos algo que nos leve bem longe dos momentos enfadonhos da vida. Aquela coisa, quando se está de saco cheio, quer fugir para uma ilha deserta, ou simplesmente dizer “foda-se” para alguém, ou, radicalmente dizendo “eu quero mais que você morra”. E eu ainda digo, que isso pode ser para uma pessoa, para a bagunça do quarto, para a chuva que não pára há uma semana. Todos nós queremos ter um corvo com olhos gentis…beijando os raios. Uma válvula de escape para ter uma vida mais leve.


 3 – A lagarta


Ontem eu acordei de manhã quase rastejando. Sou uma pessoa que ama a madrugada, eu tenho uma relação de amor com a noite. Gosto mesmo, acho sexy, minha mente flui melhor quando o dia começa entardecer. Na verdade eu aprecio o dia como um todo, mas quando começa a chegar o entardecer tudo se transforma(não, não sou uma transformista na noite), mas algo acontece comigo, isso é realidade. Me sinto mais bonita à noite, é como se eu tomasse um banho de inspiração. Enfim, acordei de manhã, me arrastando para o chuveiro. Eu gosto disso, água. Gosto de tomar banho ou caminhar para colocar os pensamentos em orde. Depois de finalmente ter acordado, é hora de se arrumar para o trabalho. Levo em média 30 minutos, no total, coloco aí uns 45 minutos a 1 hora para me arrumar pra começar a vida. Antes de sair, passei na geladeira para pegar um suco de maçã e uma vitamina de maçã, banana e mamão, daquelas em caixinha. Ao dirigir-me para o portão, ao olhar para o chão, encontrei uma linda lagarta. Linda mesmo, preta,  um preto bem brilhante, e ela tinha listras verde limão. Fiquei alguns minutos admirando a beleza dela, todas aquelas duas cores. E percebi que ela estava na direção do carro do vizinho que estava a sair. Minutos mais tarde ele iria sair com o carro e ele poderia passar por cima dela. Sendo assim, eu peguei ela e coloquei bem longe de onde o carro poderia passar. Eu peguei ela e ela se contorcia. Pude ver que suas patinhas eram de um tom amarelo-girassol. Coloquei ela em cima do muro, perto de umas plantinhas. Ela poderia comer todas aquelas plantinhas, mas ela era uma lagarta linda, e vai se transformar em borboleta. Eu adoro borboletas…


4 – No terminal Barão Geraldo


Estava com pressa, cansado, eram quase dez horas da noite, e estava voltando pra casa do trabalho. Peguei o 331 na estação do Tapetão, em frente da Medley. Todas as pessoas com suas caras cansadas. Havia uma moça com um livro, um rapaz dormindo com a boca aberta, uma outra mulher com olhos perdidos na janela. Eu estava lá, com meus inseparáveis fones de ouvido, ouvindo Active Child, para ter uma noite mais relax. O ônibus entrou no terminal, eu desci e já fui correndo para o segundo ônibus que finalmente me levaria para casa. Entrei no 326, Vila Independência, que me deixaria quase em frente de casa. O ônibus iria demorar 10 minutos para sair. Fiquei na janela, observando o movimento. Lá fora, chega um rapaz, de cabelos ondulados e docemente bagunçadas. Não era uma beleza comum, não era um rapaz que todas as mulheres torceriam o pescoço para olhar. Era uma beleza exótica, um magnetismo pessoal. Era daqueles tipos de pessoas que possuem algo no qual não conseguimos explicar, pois não é beleza, é simplesmente “alguma coisa”. Ele carregava uma mochila e um violão nas costas, e do nada deu um sorriso cativante. Do outro lado veio uma garota, de cabelos curtos, também levemente cacheados. Não era um mulherão, era uma mulher simples, daquelas que não se preocupam muito, descontraídas, uma beleza natural. Ela chegou devagar e deu um abraço e um beijo calmo e longo no gurizinho de beleza exótica. E então ficaram conversando no pé do ouvido. Ele era mais alto que ela, ela estava conversando com ele na pontinha dos pés. Ele ergueu ela e ela ficou de pé no banco do terminal. Agora ela ficou na mesma altura, rosto colado, olhos nos olhos. Era um casal incomum. Eu vejo muitos casais por aí, mas aquele casal não tinha uma beleza banal. Era um casal que chamava a atenção, pois seus gestos e simplicidade ao demonstrar o afeto, era diferente de todos os demais, era um amor sincero, simples, bonito aos olhos de todos que passavam. Um homem comum, e uma mulher simples.


5 – A relação com a cozinha


Eu sempre gostei de cozinhar. Hoje de madrugada, lá pelas 02h00 da manhã fui preparar algo para comer. Pensei então numa massa. Simples e prático. E quando eu puxei a tampa do fogão para cima, eu acabei de pensar que há tempos eu não fazia aquilo. Desde que eu comecei a morar sozinha, a minha atividade na cozinha diminuiu drasticamente. É chato cozinhar só pra si. A última vez que eu fiz isso, a comida ficou boa, mas não teve graça comer sozinha e ninguém opinar o que fez. É frustrante até!Fiquei 2 horas na cozinha para fazer uma carne na cerveja com ervas e batatas salteadas com nozes. Estava muito gostoso, mas a sensação horrível de comer todo esse requinte sozinha, é a ponto de quase sentar e chorar. Desde então, no meu armário e geladeira só existem coisas práticas. Pão, geléia, creamcheese, biscoito de gergelim(adoro!), cereal, iogurte, suco, Rap10, algum queijo fatiado e frutas. Para preparo, no máximo, macarrão. Quando vou pra casa de meus pais, a vontade de cozinhar volta, pois ali existem pessoas, há uma motivação para fazer aquilo, então eu volto a criar na cozinha. Talvez seja pura preguiça mesmo, mas a real é que não vejo mais sentido em pintar e bordar na cozinha só pra mim. Quero passar longe desta frustração…

Cinema, aspirinas e urubus

So can you understand
Why I want a daughter while I’m still young?
I want to hold her hand
And show her some beauty,
before all this damage is done

Neste final de semana prolongado, depois de uma ressaca desgraçada fruto de coca-cola com rum, mas enfim, uma sexta-feira muito divertida. Depois destes dias de boêmios, nada como dar uma relaxada. No domingo, levei meu irmãozinho no cinema, para assistir “Era do Gelo 4”.  E nesta questão quero explorar o meu ponto de vista sobre as crianças hoje em dia. Eu diria que são crianças do subúrbio. O que aconteceu com a infância de hoje?Meu irmão tem 9 anos, mas vive cercado de adultos estressados demais para dar a devida atenção que merecem. É tão cruel isso não é?Quando eu vou pra casa dos meus pais de final de semana, eu mesmo percebo o quanto nós, adultos, estamos cada vez mais rabugentos, e seriamente, comecei a pensar muito nisso. Quando ele, o meu irmão menor, chega pra mim, e me pergunta:

Ana, vamos brincar?

Eu queria imensamente poder dizer, “Sim vamos!”, mas aí entra a rabugice, eu sempre digo que estou cansada, que tenho coisas pra fazer, o que de certa forma, não é uma mentira, realmente, tem finais de semana que eu até evito sair de tão cansada que eu me encontro. Muitas vezes eu me sinto como uma velha coroca sem-graça. Fico deitada embaixo das cobertas, lendo, dormindo ou escrevendo neste humilde blog. Eu brinco com os amigos que cansei de ser certinha e vou ser boêmia, mas na boa, eis uma imagem que não combina muito comigo. O máximo que eu faço é tomar umas a mais e ficar um pouco alegre, mas no mais, não saio pegando ninguém por aí, nem caindo bêbada na sarjeta. Sim, eu sou chata bagaralho. E tenho tendência em gostar de pessoas que também são chatas, o que gera atritos mal compreendidos, mesquinhos, coisa de amor e ódio. Perdi as contas de quantas pessoas se afastaram de mim, simplesmente por me levarem a mal ou por me achar de uma certa forma, assustadora. Pessoas chatas atraem outras pessoas chatas, é como se fossem imã e ferro. Mas isso é assunto para outro post. Se você for um chato, rabugento, seletivo e introspectivo, eu posso gostar de você e você se tornará meu melhor amigo. O que eu quero chegar aqui, é o fato das crianças de hoje estarem rodeadas de adultos chatos, que muitas vezes esquecem que todos merecem ser criança, no seu tempo certo. Se você tem de 0 a 13 anos, sinto muito, você é criança, todos merecem ter uma vida de criança e não serem emulados precocemente para uma vida adulta. Hoje eu vejo que as crianças estão cada vez mais adultas, pois nós, adultos, queremos que elas sejam “O Homenzinho da casa”, “Uma pequena dama”, estamos transformando as crianças em seres adultos de menos de meia estatura. Nós já queremos colocar na cabecinha inocente delas que o mundo é cruel e o mundo é dos espertos. Nós pegamos todas as crenças delas e jogamos no lixo, quase dizendo para crescerem pois o mundo não tem tempo para criancinhas que correm atrás de pipa. Nós já colocamos na cabeça delas, que elas tem que estudar, porque o mundo é cruel e sem estudo nós morremos de fome. E então, nós apontamos o dedo para um lixeiro na rua e já dizemos para a pobre coitada da criança, que se ela não ler a Scientific American desde os nove anos de idade, ela vai passar o resto da vida dela inteira catando lixo e cortando as mãos nos cacos de vidro das garrafas de champanhe de burgueses metidos a besta.  Eu citei a Scientific American, porque um dia meu pai voltou da banca de jornal, dizendo que comprou uma revista para meu irmãozinho. Era uma Scientific American, edição para leigos, cuja capa era sobre a “Teoria das Cordas”. Lembremos que  “O Universo numa casca de noz”, que é física teórica para “leigos”, com ilustrações bem bacanas, foi feito com esse intuito também, mas mesmo assim, é tido como uma leitura desafiadora até para as mentes inteligentes. Agora imaginem a mente da pobre criança. Um dia eu cheguei do trabalho, e meu irmãozinho “mandou”(sim, ele manda!), acessar o YouTube, pois ele encontrou um vídeo de um buraco negro engolindo tudo o que vê pela frente. E ainda soltou:

Ana, você sabia que o fim do mundo pode ser um buraco negro, pois o sol é uma estrela e um dia ela vai perder calor…

Eu digo, que sinto muito orgulho do meu irmão, e acho muito fofo ele dizer que quer ser cientista. Eu vejo muito de mim nele. Mas acho que antes de ele ler e compreender a Teoria das Cordas, ele deve ler a coleção “Cachorrinho Samba”, ou “Sítio do Pica-Pau Amarelo”.  Quando eu era criança, eu morei com uma família adotiva. Digamos que a história de minha vida é digna de escrever um livro dramático sobre ela. Mas, sintetizando, passei boa parte da minha infância, sozinha, em decorrência da separação de meus pais adotivos. Tanto na minha família adotiva, quanto biológica, os livros foram um incentivo desde cedo. Mas digamos que só eu mesmo preservei esse vício e hoje tenho uma biblioteca considerável. Livros, desde a minha infância funcionam como, além de um prazer inigualável, uma válvula de escape. Quando estou triste, ou quero simplesmente esquecer ou afastar algo que me perturba, eu costumo ler, ler bastante, como se isso espantasse todos os meus demônios pessoais…

Digamos que estou numa época que estou possuída não por um demônio, mas por uma legião deles…

Livros a parte, eu amadureci muito cedo, e de uma certa forma, sofri um bocado por conta disso. E eu não gostaria que meu irmão passasse por isso. Muitas vezes queremos que nossos filhos sejam nossa imagem e semelhança. Pais nerds querem enfiar roupas de jedi nos filhos, sem nem ao mesmo se perguntar se eles têm o direito de escolha. Não vou negar que eu acho isso muito fofo, e que provavelmente se eu encontrar algum doido varrido por aí que me aceite do meu jeitinho desvairado de ser, e que me diga quando eu estiver só de camisa de botão pela manhã com uma xícara de chá, cara amassada e um livro no colo, que quer ter um filho comigo, provavelmente vou comprar um enxoval do Star Wars e colocar “Starway to heaven” versão canção de ninar para ele dormir…bom, vamos acordar, a vida não é da forma como gostaríamos que fosse. Talvez eu seja a tia solteirona com um cachorro. A vida é bem cruel com quem não quer viver de amores fáceis…

No natal passado, eu dei toda a coleção dos livros de Harry Potter pra ele. Embrulhei direitinho e ensinei a ele como cuidar de livros. Quando eu levei ele no cinema, ele me acompanhou na livraria, especificamente, a Nobel, no Tivoli Shopping, em Santa Bárbara, minha terra querida. Lá ele me disse que gosta de vampiros. E se interessou por um livro da série “Vampire Diaries”. Então eu já disse pra ele que quando ele crescer ele vai ler histórias de vampiros de qualidade, como Anne Rice, Bram Stocker, assistir Nosferatu, Entrevista com o Vampiro, e ainda disse que aquilo que ele gostava não eram histórias de vampiros de verdade. Mas o que diabos eu estava fazendo?Onde estava a liberdade dele gostar do que quiser?Quando eu era criança eu gostava de Backstreet Boys, e aquilo era um lixo. E então eu me coloquei a pensar e perguntei se ele queria levar o livro. Então ele disse que precisava terminar de ler Harry Potter e os quadrinhos do Snoopy. E então eu senti muita vergonha de mim mesma por interferir nos gostos dele. Eu chamo a atenção dele porque ele gosta de Gustavo Lima e a música do tchê tchê, tcha tcha, sei lá que merda é essa. E eu olho isso tudo, e vejo o quanto queremos nossa imagem e semelhança nas pessoas que gostamos. E neste domingo, eu o levei para se divertir. E ver a alegria dele, estampada no rosto, ver ele correndo para jogar basquete nos brinquedos, pulando na piscina de bolinha, comendo lanche e se sujando todo, foi uma alegria imensa. Tirar ele do mundinho cercado de adultos, foi muito bonito. Eu gostaria que ele saísse mais, aprendesse a empinar pipa, soltar pião, que ele tivesse uma turminha do barulho, igaul eu dos meus 11 aos 13 anos, quando eu jogava bola, descia de carrinho de rolimã, brincava de esconde-esconde, jogava super nintendo nas horas vagas, e não o dia inteiro. Toda criança deveria ter mais brincadeiras ao ar livre, e hoje o que vemos são sorrisos eletrônicos…

Na sexta-feira, saí com os amigos.Fomos no Thunder, um buraco com um bar, banda tocando e apreciadores de rock’n roll. Este bar tem como proprietário, um velho amigo, já quase cego, do meu irmão, o Alemão. Foi a primeira vez que eu fui pra lá. Desde que eu voltei de Porto Alegre, andei meio reclusa de vida social, mas estou voltando à cena novamente. A noite foi bem divertida, uma “festa estranha com gente esquisita”:

Festa estranha com gente esquisita: um mendigo e um zumbi lá atrás…conseguem ver???

Marquei de encontrar meu irmão, minha cunhada e minha amiga black metal. A noite foi de muita conversa, um complô armado para trazer um velho amigo nosso de volta pro rolê, cerveja e um muitas cubas livres, o que me trouxe um fato engraçado. A Tamirys, minha velha amiga companheira de rolês disse que eu desabei na cama quando chegamos. Só sei que eu acordei e eram 10h30…mas eu lembro de tudo!!Lembro de sentir que ela e o Linardo tiraram minhas botas e a jaqueta e me cobriram e ela disse que eu me encaixei no vão da cama e a parede e que eu dizia algo na língua dos wookies…

Segundo a Tamys…eu murmurava algo assim…
Madeiraaaaaaaaaaaa!!!!!

E agora eu entro na segunda parte, ASPIRINAS. É quase insuportável a ressaca que um rum Montilla traz no dia seguinte. Parece que eu tomei uma sussurra, ou um trator de quinhentas ou mais toneladas, passou por cima do meu corpinho singelo. Eu não estava com dor de cabeça, igual ao dia que eu fui forever-alone em um show de Pink Floyd instrumental no Bar do Zé, e passei a noite tomando caipivodka e cerveja irlandesa. O rum me dá moleza e um sono absurdo no dia seguinte, mas dor de cabeça não, ao contrário de qualquer coisa com vodka, seja ela uma Absolut/ Orloff/Natasha/Balalaika(Natasha é a pior que eu já tomei…).  Mas mesmo assim, tomei umas aspirinas para aguentar a dor no corpo. A sorte é que a mãe da Tamys fez uma deliciosa limonada com gengibre que curou a ressaca maravilhosamente bem. Quem me lê acha que eu sou uma bêbada, alcóolatra, que só dá trabalho. Mas eu nunca dei B.O. Quando eu vejo as coisas ficarem levemente embaçadas, eu paro com os recursos etílicos. Vou ser bem careta agora, neste momento, beber é bom, é divertido, desde que você não saia por aí desmaiando na sarjeta, tomando glicose na veia e vomitando no pé do amigo. O máximo que acontece comigo, é eu ficar mais alegre e falar sem parar, mais que o anormal.

Entenda…álcool não é “Embelezol”.
Álcool funciona mais no quesito de ensaiar um passo estranho numa festa estranha com gente esquisita, do que qualquer outra coisa.

Bom, já entrei na questão cinema(para abordar a questão “infância”, aspirina (remédio excelente pós-ressaca-vadia) e agora a questão urubus. No domingo para segunda, fui para a casa de meus papis. A noite de sábado para domingo foi deprimente. Fui numa festa em Itu, mas no geral estava chato. O melhor momento foi assistir a luta “ao vivo” do Anderson Silva contra aquele cretino vadio norte-americano. A comida estava muito boa, o quentão e o vinho quente estavam divinos, mas depois dessa noite, eu compreendo que uma das coisas mais chatas do mundo é ir numa festa onde você só conhece uma pessoa, e tem toda uma panelinha formada. Eu me senti uma total estranha no ninho. Não que não tinha gente legal ali, muito pelo contrário, mas digamos que era uma festa para pessoas que já se conheciam há tempos, e ali, eu realmente era a “amiga de fulana”. Depois de uma noite entediante, fui pra casa no domingo, na hora do almoço e depois saí com meu irmãozinho. Na segunda pela manhã fui fazer uma caminhada. Como podem perceber, eu gosto muito de caminhar. Sempre faço isso, é como se eu tirasse um tempo para refletir. Gosto de fazer caminhadas sozinha, pois assim não tenho interrupções nos fluxos mentais, e posso escutar minhas músicas. Eu nunca esqueço uma frase que uma pessoa que eu não me lembro exatamente quem seja, mas essa pessoa me disse:

Ana, você é intensa demais…

Hoje eu vejo, que na época eu dei risada do comentário acima, e levei na brincadeira, mas ele está certo. Muitas vezes nós somos incompreendidos. Somos incompreendidos porque pessoas que pensam demais, pessoas mentalmente hiperativas,pessoas intensas, muitas vezes falam e agem por impulso, pois pensar e ser intenso demais não é necessariamente em pensar e agir da maneira correta. Nós agimos, depois pensamos nas consequências. Nossa mente é como uma bomba relógio, então nos colocamos a mente para trabalhar, muitas vezes dizemos ou fazemos coisas sem sentido, se estou com um poema ruim na cabeça, eu posso voltar para casa e publicá-lo, e nele pode contar verdades ou meia-verdades disfarçadas em sutilezas do dia-a-dia. Eu acordo de madrugada e escrevo a trama de um sonho, antes que eu me esqueça, e isso costuma acontecer, pelas manhãs. Eu posso dizer exatamente o que eu penso, independente do que as pessoas achem ou não. Se eu estou apaixonada, eu não escondo mais. Pessoas intensas, muitas vezes possuem o mal da sinceridade extrema, algo meio “coruja depressão”, falamos o que nos der na cabeça, e muitas vezes uma brincadeira pode ser levada como verdade absoluta, e então perdemos amigos por aí. Muitas vezes gostaria de poder dissimular e fingir, algo como um ciborgue, emular sentimentos e depois, simplesmente apagá-los como algo sem valor, mas eu tenho todas as minhas entranhas para fora, e isso de uma certa forma é algo assustador para muita gente, pois as pessoas se aproximam, interessadas no algo novo e incomum que você tem a oferecer. E então, depois de um certo tempo, elas se afastam feito crianças assustadas, pois pessoas assim possuem as entranhas expostas. Talvez se minhas entranhas não estivessem tão expostas num prato, servido a molho pardo, talvez, quem sabe, a mágoa seria menor. E o mais engraçado, é que eu não consigo sentir ódio dessas pessoas, tão indefesas frente ao fuzilamento de verdades e meia verdades. Elas preferem um mundo onde todo mundo finge, e o tempo todo são banhadas de elogios. Ninguém gosta de ser visto por dentro, ninguém gosta que metam o dedo na ferida. E então, você que me lê me pergunta,

Tá…e onde entra a porra dos urubus?O título dessa merda não é “Cinema, aspirina e urubus”?

Então…voltando, na minha caminhada perto de casa, como lá é um bairro no meio do mato, animais mortos aparecem sempre por ali. Estava andando na estradinha de terra, e encontrei um cachorro morto, com as entranhas para fora, por isso a analogia “pessoas com entranhas expostas”. Em volta dele, do cachorro, tinham vários urubus. Sempre tive um certo fascínio por essas aves horrendas. Elas tem um modo de viver muito peculiar. Quando eu era criança, eu via esses bichos lá no céu, planando em círculos, e de uma certa forma eu queria entender como eles localizavam sua comida, lá de cima. Eu era criança, e naquela época, internet e Discovery Channel era algo para bem poucos. E então eu pegava uma tarde qualquer, deitava bem no meio de uma quadra de basquete que tem em casa, e me fingia de morta. De vez em quando, eu abria os olhos para ver se algum urubu se aproximava, porque na minha cabeça, eles avistavam algo “deitado” no chão. Então, pela minha lógica infantil, eles se aproximavam para ver se estava morto, se sim…comer!Se a premissa for falsa, os urubus fogem para as colinas e tentam outra vez, planando no céu. Obviamente, eu ficava deitada lá feito uma retardada, e nada acontecia. E então, pouco tempo depois, em um livro sobre pássaros que eu encontrei na Biblioteca Municipal de Santa Bárbara, eu li que essas aves tinham visão e olfato apurado. Talvez se eu me esfregasse em algo morto, eu poderia chamar eles mais pra perto. Bom, isso é um detalhe da minha infância, mas onde eu quero deixar, é que quando eu vi o cachorro com as tripas para fora e os urubus grasnando quase parecidos com corvos…aliás, eles não grasnavam…eles crocitavam, então eu me lembrei desse evento, quando eu era criança. E então, eu continuo sempre afirmando…#DA HORA A VIDA NÃO É?E o corvo que viu minhas entranhas, assim, tão de perto, está crocitando de longe: “never more…never more”…

The welts of your scorn, my love, give me more

Send whips of opinion down my back, give me more…

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Sonzinhos aleatórios inspiradores embaladores desse post madrugador : foram várias!!Hoje teve Blue Oyster Cult, Pink Floyd, Jeff Buckley, Sia, Couer de  Pirate, The Cure, Pain of Salvation.

Enquanto isso, numa segunda-feira à noite…

Na segunda-feira, dia 02 de julho, resolvi sair do trabalho e pegar um cineminha. Eu estou sem dinheiro, mas pelo menos eu tinha oito “dinheiros” para dar na entrada do cinema. De segunda-feira, é mais barato lá no shopping Dom “Pedra”, e de quebra caiu o meu vale-refeição na segunda. Como eu já costumo dizer, pobre é uma desgraça, vai sempre no dia em que as coisas estão mais baratas. Saí do meu trabalho, atravessei a passarela, onde sempre tem um povinho fumando maconha. Eu já até conheço o pessoal, pois costuma ser sempre os mesmos. Seguro a respiração e sigo o rumo, pois senão dá para ficar meio alterada porque há extensa nuvem desse treco fedido no ar. E sinceramente, não sou fã, acho fedido demais e minha cabeça já tem parafusos a menos sem eu usar nada ilícito. Para isso temos o álcool, que é permitido, muito apreciável(depende da “grife”, não dá para comparar uma Orloff com uma Absolut), gostoso, une as pessoas sem preconceito(todo mundo fica lindo e legal) e o máximo que pode acontecer, como diz minha sábia amiga Lisiane,  é você perder o os amigos, o carro, a família e o fígado. Maconheiros e álcool a parte(prometi que vou fazer um post todo especial sobre o “Álcool, o universo e tudo mais”), segui o meu rumo, esperando o ônibus na estação do Tapetão. Peguei o 331, um ônibus maledeto no qual já fui assaltada e quase encontrei a criatura mais linda do universo se eu não fosse distraída e apressada. E mês passado eu tive a visão do inferno, mas essa foi no 332, eu dentro e o ser cuja beleza não pode ser conjugada(beleza defectível) do lado de fora, bem em frente ao prédio de engenharia, para minha alegria ou infelicidade, pois ao certo eu não sei mais de nada, esses dias ele disse que estava vivo, e isso já me deixa um pouquinho feliz. “Never More, Never More”, isso me lembra Edgar Allan Poe…

Aquele momento em que eu vi o bonitão da janela do ônibus. Ohhhh Jesus Christ what do I do?

Fiquei cerca de 3 minutos dentro do 331 até chegar no terminal Barão Geraldo, que estava bufando de gente, inclusive pessoas aromatizadoras de ambiente, que geralmente tem dois aromas: pastel de carne e pastel de queijo. É uma delícia, principalmente quando está com fome e quando é de manhã, depois do banho. Nada como um cheirinho de pastel grudado nos cabelos. Puro Tesão!Quando é depois do trabalho, eu não ligo, posso chegar em casa e “despastelizar” com um banho maravilhoso e depois partir para as cobertas com um livro a tiracolo, ou meditação, ou ouvir um sonzinho.

Fiquei lá no terminal, no ponto do 338, que é a linha do shopping Dom Pedro. Enquanto o ônibus não passava, eu me distraia com Jeff Buckley nos ouvidos e um livro biográfico sobre Giácomo Casanova, o “muleque piranha”, “putón”, de Viena, na era do Iluminismo. O ônibus não chegava, mas lá na frente vinha vindo o 300, então apertei o passo e subi nele. Fiquei de pé no ônibus, guardei o livro na bolsa, e pensei que, apesar de ser segunda-feira, eu não sei bem o motivo, mas estava muito feliz, mesmo naquele momento, apesar de estar ouvindo “We all fall in love sometimes”, interpretada por Jeff, cuja letra, escrita por Elton John, é de derrubar muros, eu estava lá com um sorriso no rosto, talvez um sorriso sádico, mas um sorriso.

We all fall in love sometimes
The full moon’s bright
And starlight filled the evening
We wrote it and I played it…
Duas músicas depois, eu estava no shopping Dom Pedro. E eu ingenuamente imaginei que por ser segunda-feira, e a galera ainda não ter recebido, o shopping não estaria cheio…ohhhh engano meu!!!O shopping estava lotado!Pode ser que todo mundo tenha tido o mesmo pensamento meu, foi aí que eu lembrei o detalhe do recesso escolar. Mas isso não era problema, de vez em quando eu gosto de ver pessoas…Entrei pela entrada das águas, pois é mais próxima do cinema. De longe avistei a fila quilométrica do cinema, mas estava de bom humor, e eu tinha um livro, eu poderia ler ele na fila, enquanto esperava. Chegando no cinema, entrei na fila daqueles terminais de compra com cartão. A fila estava enorme, mas não tão grande quanto a fila do caixa com atendentes. Entrei na fila e tirei o livro da bolsa. Tinha uma moça na minha frente que a princípio estava sozinha. De repente chegam as amigas dela e a cabeçuda deixa elas entrarem na frente. A vontade de mandar as duas vadias entrarem na fila lá atrás era grande, mas mantive meus nervos em ordem. Depois de cerca de 20 páginas lidas, estava perto do meu objetivo, que no momento era comprar o ingresso. Quando chegou na hora das vadias fura-fila, elas eram muito burras e não perceberam que elas teriam que inserir o cartão ao invés de passar o cartão, tendo em vista que era um cartão com chip. Então eu com toda a paciência do mundo:
O cartão de vocês é chipado, vocês terão de inserir o cartão ao invés de usar a tarja magnética…
 Enfim, chegou a minha vez e as 3 vadias anencéfalas, mesmo eu tendo passado as manhas, elas insistiram passar a tarja. Eu comprei meu ingresso, e ouvi a vadia nº 02 falar pra vadia nº03: “Aiiiii a moça conseguiu…ACHO que tem que inserir mesmo.” Dei risada, quase dei um troféu jóinha de “parabéns, você finalmente compreendeu”, e segui meu rumo.
Sobre a escolha do filme, eu iria assistir “Sombras da Noite”, mas na real não estava com muito saco, até porque o Depp está fazendo alguns papéis muito repetitivos. Outro fator também, além disso, é que a sessão de “Sombras da Noite” só teria 21h45, e eu sou uma pessoa pobre que depende de ônibus para voltar pra casa. Tendo em vista que o última linha do Vila Santa Isabel sai do terminal as 0h40, eu resolvi não arriscar, até porque eu não teria dinheiro para o táxi. O último dinheiro que eu tive, além da entrada para o cinema, eu gastei no Bar do Zé com cerveja Murph’s e depois com o táxi, porque resolvi não arriscar voltar 04h00 da manhã de domingo, semi-embriagada, a pé para casa. Como eu digo, pobre é uma desgraça, mas eu sou limpinha e feliz.
Pobre só pensa que existe: “Penso, logo existo!”
Estava olhando a programação do cinema e vi que estava passando “Para Roma com Amor”, um filme de Woody Allen. Olhei no elenco, só tinha gente foda, o filme é em italiano e tinha minha musa Penélope Cruz, que simplemente acho a mulher mais linda do universo:
Na pele de Maria Elena, em Vicky Christina Barcelona, também de Woody Allen. Ela ganhou o Oscar pela atuação.

Depois da escolha do filme, cuja sessão começava as 21h15, como era 20h00 ainda, resolvi dar uma voltinha. Pela primeira vez na história deste país, entrei numa livraria e não comprei nada, mas isso aconteceu porque realmente não tinha dinheiro, mas tinha vale-refeição. Meu vale-refeição é até que versátil, pois às vezes ele se transforma em vale-álcool, poderia muito bem servir como “vale-livros”. Levando em conta que uma vez ouvi uma história que tinha um cabeleireiro que aceitava vale-refeição ou vale – alimentação como pagamento de escovas progressivas/definitivas, aquelas que alisam o cabelo da mulherada. É cada uma que se vê por aí…da hora a vida não é?

Então, durante o meu tour, passei a pesquisar(pobre pesquisa) o melhor preço da minha nova loucura (na verdade vou renovar uma atividade que antes já fazia). A nova loucura é voltar a andar de patins street. Eu fazia isso muito bem, descia a toda velocidade, andava muito de patins dos meus 09 aos 15 anos, e eu andava muito bem. Só caí uma vez, quando tinha 10 anos, e foi uma queda bem feia, pois estava a toda velocidade numa ladeira, e no meio do caminho tinha uma pedra…não preciso terminar a história. Me lembro até hoje que naquela época era aqueles merthiolate que tinha álcool na composição. Só sei que quando relaram aquela “coisa antibactericida” nos meus machucados, eu vi Jesus Cristo, Chuck Norris, Maomé…ardeu muito…muito. Os patins que eu quero, que são profissionais para ruas mesmos, daquelas meio termo igual aqui em Barão Geraldo, ora com buraco, ora sem, terrenos acidentados. A faixa de preço está a partir de 280,00. O que eu quero, está 429,00, que é um Rollerblade, um dos melhores para patinação street. Como sempre gostei de andar de patins, e adoro caminhar por aí, estou pensando em voltar nessa vibe. Além de ser extremamente divertido, ajuda a manter a forma, pois é praticamente como estivesse correndo. Tenho pavor de academia, gosto de interação, ar livre, mente, equiçíbrio, expressão, arte. Por isso gosto de dança, yoga, caminhada, até mesmo uma corridinha no Taquaral, acho muito interessante. Eu sou uma pessoa hiperativa, então acredito que essa interação seja um fator para amenizar essa minha “aceleração”. Quando eu danço, por exemplo, tenho um sono mais tranquilo.

Depois de pesquisar patins, nas lojas do gênero, senti meu estômago roncar loucamente. Eu recebi meu vale, logo, como todo pobre que se preze, fui fazer um rango. Shopping lotado, queria um lugar para poder comer sossegada. Vi que lá perto do restaurante “Fogão Mineiro”, tinham várias mesas vazias. Olhei para o restaurante mineiro e pensei: bom, uma comidinha mineira vai bem. Peguei brócolis ao molho e queijo, abóbrinha recheada, batata doce frita, uma salada aleatória, suco de laranja e de sobremesa, manga em pedaços e mousse de limão. Fui pesar e a brincadeira não saiu lá muito agradável, deu 32,00, mas eu esperava que estivesse tudo gostoso. Peguei um copo com bastante gelo, e para a minha infelicidade, ao sair com a bandeja, o desgraçado tombou e foi gelo pra tudo quanto é lado(ok, exagerei um pouco, nem foi tanto gelo assim), o suficiente pra que eu fique envergonhada e todo mundo olhe para minha cara:

Você ri né?Você acha engraçado?Tomara que escorregue no gelo e caia de boca no chão”

Fiquei meio sem reação, mas o rapaz, muito simpático aos olhos do caixa do restaurante me ajudou e me deu um copo novo com gelo, e disse “Não se preocupe moça, acontece…volte sempre”. Ainda envergonhada, eu procurei uma mesa num cantinho, olhando o chão para não pisar em um gelo que eu derrubei e cair de pernas de ar, afinal estava de vestido e salto alto, não seria uma cena muito bonita, apesar de eu estar em forma, não gostaria de ficar exibindo atributos por aí ou a cena ir para alguma vídeo-cassetadas promovida no youtube. Arrumei uma mesa perto do quiosque de cachorro quente, meio escondida, mas dava para observar o movimento sem ter que necessariamente estar no meio da multidão. A comida não estava boa para justificar o preço, mas a sobremesa estava uma delícia. A mistura manga + mousse de limão foi uma boa idéia. A mulher da limpeza levou minha bandeja embora, e lá tinha os talheres que separei para a sobremesa, pois não daria para cortar a manga com aquela colher de plástico, mas tive que me virar. No primeiro pedaço de manga, foi tudo ok, mas no segundo a colher quebrou. Tive que deixar um pedaço da manga lá. Descobri um outro detalhe enquanto esperava o tempo passar, sentada na mesinha, observando o movimento. No shopping Dom Pedro tem uma capela!Sim!Ela fica escondida num corredor próximo aos banheiros, atrás do quiosque de cachorro quente. Na minha próxima ida, pretendo ir lá para ver como que é. Depois de me frustrar com a quebra da colher de sobremesa, fui ao banheiro escovar os dentes, pois uso um maldito e nada esteticamente bonito aparelho ortodôntico, que é um verdadeiro pára-raio de comida. Logo, desenvolvi o tique-nervoso de sempre escovar os dentes depois de comer qualquer coisa., que seja uma bala, por exemplo, pois sempre se tem a sensação que tem algo grudado, mas são apenas as malditas borrachinhas.Manias…manias condicionadas por uma situação, um mal necessário. Mas em breve vou tirar os aparelhos, pelo menos é o que eu acredito. Olhei o relógio, eram 21h00, resolvi ir para minha sessão. Cheguei lá, nem olharam meu ingresso, entrei direto na sala do cinema. Eu achava que pelo número de pessoas na fila do cinema, a sessão teria um número razoável de espectadores…só tinha eu e mais dois forever alone e três casais. Mas isso não foi motivo nenhum para me sentir uma frustrada, aliás, acho maravilhoso poder curtir um filme sozinha, mas não vou negar que ter alguém para segurar sua mão ou dar uns beijinhos em momentos propícios é bem interessante, principalmente em comédias românticas do Woody Allen que é um romance mais real do que os outros filmes água com açúcar. O fime foi muito bom!Me diverti bastante, o filme é ótimo, garante boas risadas. Eu quase me matei de rir nas cenas do cantor de ópera. Recomendo esse filme para quem tem bom gosto. Eu sai da sessão bastante satisfeita e com um sorriso no rosto, e rindo assim, de repente, ao lembrar das cenas cômicas. Procurei a saída das colinas, olhei o relógio, 23h30, precisava correr para não perder o ônibus. Cheguei no ponto de ônibus onde passam as linhas para Barão Geraldo. Chegando lá, fui obrigada a aceitar uma amostra de perfume, desta vez de churrasquinho de gato. Mas não me incomodei, cheguei em casa 00h20 e tomei um banho pré-soninho que não chegava. Enfim, fui dormir, a segunda-feira foi muito agradável, e o amanhã é outro dia. Como eu sempre digo, a vida pode ser muito ingrata, mas basta acariciá-la e não querer brigar com o Tempo. As coisas então tomam o seu rumo, e tudo se acerta. Aproveite o dia!Carpe Diem!

E para encerrar, o trailer do filme e músicas italianas romantiquinhas…sim é gay…eu sei, mas eu confesso que muitas vezes sou uma mulher sentimental e gosto de romantismo…

l’Aurora: Eros Ramazzotti, marcou meus 12-14 anos, por causa do coral da Fundação Romi, comecei a garimpar músicas em italiano por aí. O meu pai tem o cd com essa música, e este cd tocou tanto que quase “furou no meio”. Encontrei esse vídeo da apresentação dele ao vivo. Ficou muito bom, mas muito bom. O cara tem uma bela voz ao vivo também, sem contar que italiano é uma língua muito bonita, e vou parar por aqui ao descrever essa música, antes que eu fique EMO…

Luna: Alessandro Safina. Caramba!!!Eu assisti aquela novela “O Clone” e pirei nessa música. É brega bagaralho, fim de carreira, mas eu gsoto dessa música. ahahahhahahahahaahaha

Nessun Dorma: adoro essa música, e ela já me arrancou lágrimas. No seriado “Six Feet Under” tem um episódio que fazem um réquiem no velório, e um cara canta essa música. Me arrepiei.

Volare: uma versão flamenca, com toques de salsa, letra em espanhol e o refrão em italiano. Pirei nessa versão. Fiquei cantando e dançando isso enquanto fazia uma faxina. E…ahhhh…o violão espanhol, o ritmo quente…ME GUSTA!!!

CARPE DIEM!

 

Solitude – Nosce te Ipsum

Este bichinho simpático é conhecido como Eremita. Ele vive sozinho dentro de sua concha, mas ele necessita da interação da Anêmona. Isso se chama Simbiose. Nós, humanos, assim como o Bernardo-Eremita aí da foto, temos que aprender a conviver sozinhos e ao mesmo tempo conviver com outras pessoas ao nosso redor. A solidão não é benéfica quando vista da perspectiva da redoma de vidro.

We sail,
through endless skies,
stars shine like eyes,
the black night sighs.

Estive muito tempo pensando sobre a solidão. Aquela questão de se aprender a conviver bem consigo mesmo, sem ter que viver dentro de um escudo de isolamento. Aquela coisa de se conhecer. Quantas pessoas já separaram um tempo para colocar a vida em ordem, tirar um tempo para si, mas sem ter que se afastar de tudo e de todos? Isso não significa ser uma pessoa egoísta e anti-social, que não quer ver outras pessoas pela frente, não significa que você odeia as pessoas ou que é uma pessoa triste e infeliz, apesar de neste período normalmente diminuirmos bem as interações sociais, por estar num profundo momento de reflexão pessoal. Estou falando de solidão, em ambos os sentidos, digamos, espiritual e pessoal também, não somente na condição de relacionamentos amorosos, capiche?

Conhece a ti mesmo?Não somos meros coadjuvantes nessa vida, a vida é como uma simbiose entre uma anêmona e um paguro-eremita, ela é harmoniosa e recíproca quando sabemos viver respeitando os espaços um do outro, sem exigências e sem exigir nada em troca, trocando experiências de vida, de maneira que os indivíduos cresçam. O paguro tem a proteção da anêmona que protege sua estrutura frágil, a anêmona se beneficia do deslocamento do paguro para obter alimentos de maneira mais ágil. Vivemos em simbiose, uma proto-cooperação. Quem vive em uma redoma de vidro, é sufocado pela própria existência. A solidão só é benéfica quando temos um tempo para aprendermos mais sobre nós mesmos e nos tornarmos atores principais de nosso próprio palco, afinal nós nascemos sozinhos, e isso é uma condição natural do homem. Quando aprendemos a lidar com nossa solidão, nos tornamos fortes o suficiente para sermos anêmonas ou paguros na vida de outras pessoas.
Como eu já escrevi no post anterior, eu costumo fazer uns programas “alone”. Eu gosto de por exemplo, entrar numa livraria ou numa FNAC da vida e ficar horas e horas lá dentro, ou sair para caminhar, 1 ou 2 horas de caminhada diárias. Eu faço isso para colocar os pensamentos em ordem, para ter novas idéias, pensar e repensar em atitudes, e muitas vezes apenas observar ao redor. É um tempo que reservo pra mim, esqueço trabalho, esqueço tudo. Eu vou para a aula de flamenco, e depois faço uma caminhada em Barão Geraldo, até chegar em casa. Já me falaram que é perigoso, mas enfim, existem pessoas que certas coisas só na base da porrada mesmo. Eu gosto de caminhar, e gosto de caminhadas noturnas. Eu sempre achei a noite uma coisa belíssima, assim como finais de tarde, quando fica aquele clima barroco no ar, jogos de sombra e luz, aquele céu meio laranja, ou arroxeado.
Quando saio, depois das horas na livraria e algumas vezes cinema, eu gosto de sair para tomar um vinho e comer alguma coisa, fazer uma “gordice” solitária. Costumo ir no restaurante Monte Bello, no Parque Dom Pedro. Lá tem rodízio de pizza por preços bem acessíveis, e tem aquele suco de uva integral Mitto, que é uma delícia. Vinhos eu costumo tomar no Giovanneti, que possui uma carta de vinhos de melhor qualidade, ou compro uma garrafa e levo pra casa, para tomar enquanto leio ou escrevo algo, ou simplesmente ficar sentada largadamente na minha cama pensando na vida. Vinho é uma bebida para se tomar vagarosamente, pensando na vida, uma bebida para se tomar sozinha(o) com no máximo mais uma pessoa, se é que me entendem…sabe…o clímax…vinho vermelho igual paixão…capiche?São nestes locais, dentro de restaurantes, que eu me sinto julgada. É engraçado a reação das pessoas ao ver uma pessoa comendo pizza sozinha, parece bizarro, mas acontece mesmo. Quando eu entro no restaurante, depois de ter escolhido a mesa e disposto as minhas comprinhas numa cadeira ao lado, o garçom pergunta se estou esperando alguém e eu respondo que não. No restaurante Monte Bello, como já sou cliente assídua, na última semana o garçom perguntou se poderia fazer uma pergunta pessoal: ele me perguntou se eu não me sentia sozinha, e eu sempre fui pra lá sozinha, de noite, aos finais de semana, em um lugar cheio de pessoas confraternizando, casais trocando juras e carinhos suaves no rosto, dividindo garrafas de vinho, tomando na mesma taça, ou entrelaçando as taças, ou muitas vezes discutindo a relação.  As pessoas olham para você como se fosse uma pobre coitada,  elas te olham e comentam a sua “solidão” com as pessoas ao lado, e eu apenas observo ou simplesmente tiro um livro da sacola e me coloco a ler, intercalando a leitura com algumas espiadinhas ao redor. Sou uma pessoa detalhista. Eu gosto de detalhes, gosto de observar. Eu sento em uma mesa, gosto de observar o movimento, o comportamento das pessoas, seus gestos, peculiaridades e eu me sinto absurdamente viva, e acho engraçado a reação das pessoas: “Ana você vai num rodízio sozinha?”, falou um amigo meu com cara de espanto, como se isso fosse a pior coisa do mundo que acontecesse na vida de alguém. Eu vi, algum tempo atrás, um trecho do livro “Quando Nietzsche chorou”, do Irvin Yalom, que falava sobre a solidão. Dizia o trecho que a pessoa que sabe abraçar a solidão, que sabe viver como uma águia, será uma pessoa mais forte em um próximo relacionamento, porque não usará o(a) companheiro(a) como um escudo anti-isolamento. Eu vejo muitas pessoas por aí em um desespero quase doentio, em um medo intenso de ficarem sozinhas, como se a solidão fosse um bicho de sete cabeças e que a vida será assim sempre, como se a pessoa será “forever-alone” para a vida toda. Eu tenho uma amiga que brinca que ela vai ser daquelas pessoas que sentem compulsão em pegar animais, ela diz: “Eu vou ser aquelas tias com mais de 100 gatos e muitos cachorros cagando alucinadamente no quintal e eu a recolher fezes o dia inteiro, porque a única coisa que me restará é o amor dos animais, pois eles não pedem nada em troca, faça um simples afago diário, os leve para passear, água e comida, apenas isso”. Concordo sobre a opinião dela sobre o amor incondicional dos animais…Mas acredito que não é bem assim que funciona. As coisas apenas acontecem na hora e momentos certos que tem que acontecerem, as consequências que vêm depois são unicamente culpa de nossos atos. Se agirmos corretamente e sermos sensatos, as coisas vão se encaminhando, mas…é tão difícil não tropeçarmos e deixar de sorrir para a impulsividade, deixar de agir sem pensar…

Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo e não no outro.

A grande maioria das pessoas vêem a solidão, tanto amorosa quanto “social” como uma espécie de morte, e querem desesperadamente preencher o vazio que sentem com a primeira pessoa disponível que aparece pela frente, muitas vezes, brincando com sentimentos ou no caso da solidão “social”, o fato de não serem capazes de ir numa sessão de cinema desacompanhadas, por exemplo. Lógico que Amar é bom, sair com os amigos, todo mundo quer uma pessoa ao lado certo?Todo mundo fica angustiado quando está amando alguém e não pode ter a pessoa ao lado, afinal, é bom ter alguém para partilhar as emoções do dia a dia, ou quando não tem nenhum amigo para acompanhar numa festa, ou assistir um filme e rachar a pipoca.
Quando falamos sobre os relacionamentos amorosos, pessoas que conseguem lidar com a solidão,  sabem respeitar melhor os espaços, sufocam menos o relacionamento, pois passam a enxergar que todo mundo precisa de um tempo para si. Eu confesso que o sufocamento e a pressa foi um dos fatores que me fez terminar um longo relacionamento. Eu tenho colhões o suficiente para admitir, que o fato de eu não ter aprendido a conviver com a solidão, como hoje estou sabendo lidar, me fez sufocar o meu companheiro de uma certa forma, e eu não enxergava que eu conseguiria fazer as coisas sem depender dele. Uma amiga me disse um dia que eu era muito dependente, na época eu discordei, mas hoje eu vejo que sim, eu era muito dependente, e eu não precisava disso. Claro, isso não foi, o fator principal do término, mas colaborou para o desgaste, para as brigas intermináveis, a falta de diálogo, troca de ofensas.
Depois que terminei o meu relacionamento e voltei para minha cidade natal, me senti desnorteada. Muitas vezes sentei e chorei porque não sabia o que seria da minha vida dali em diante, porque toda a minha vida virou de pernas para ar. Foi como se eu fosse uma criança perdida. Aos poucos e com apoio de minha família e amigos, fui reconstruindo minha vida, e foi como se eu tivesse renascido. Quando eu arrumei um emprego, decidi que sairia da casa de meus pais, até porque nos últimos 2 anos, morei fora, tinha uma certa independência. A princípio eu queria dividir um apê ou uma casa com alguém. Mas depois, eu repensei e decidi morar sozinha. Hoje eu digo que foi a melhor escolha que eu fiz. Nunca amadureci tanto em curto espaço de tempo. Hoje eu me amo mais, enxergo o mundo com outros olhos. Eu posso dizer com todas as palavras que nunca me senti tão mulher como eu me sinto hoje. Hoje eu sou uma mulher que acredita no meu poder pessoal, muito mais segura de minhas atitudes, uma pessoa sem medo. Antes eu tinha muito receio de demonstrar uma atitude, de demonstrar sentimentos. Hoje eu não perco mais o meu tempo, me escondendo atrás de um muro alto. Eu aprendi a dar a cara para bater, é como ligar o botãozinho foda-se. Antes eu me preocupava muito com o que os outros vão achar. Hoje não mais. Eu escrevo neste humilde blog, e não estou preocupada com estatísticas, não estou preocupada se alguém ou ninguém vai ler, se vão falar a la Bocage, “Esses poema “ficaro” uma bosta”. Antes, eu escrevia meus poemas e jogava fora, porque eu achava que ninguém ligaria para o que estava escrito ali, porque eu achava que tudo o que eu fazia teria de ser importante para os outros. Escrever me faz bem, me lava a alma, me deixa mais leve, porque eu tiro tudo aquilo que eu gostaria de dizer, de uma certa forma é a forma de me mostrar quem eu sou para o mundo. É muito mais fácil me conhecer pelos meus textos, pois tem muitas coisas que eu demonstro ser somente aqui (“Nossa Ana…não sabia que você era romântica…”). É neste endereço humilde e gratuito que eu mostro todas as minhas cores, e lá fora, muitas vezes eu estou apenas em preto e branco. Ficaria muito feliz se alguém elogiasse tudo isso aqui, se tivesse mais comentários, se a pessoa que eu amo e destino 99,9 por cento dos meus poemas não profissionais mas não tão horríveis assim, porém extremamente sinceros, desse mais atenção para o que está escrito aqui, e aparecesse fazendo algum comentário extremamente sutil (eu adoro sutilezas, acho extremamente elegante) ou apenas escrevesse qualquer, mas qualquer coisa,poderia ser “Esses poema “ficaro” uma bosta” , mas isso não é mais um fato de exclusão, de jogar tudo num buraco e colocar fogo, como fiz com meus escritos que eu tinha dos meus 15 aos 20 anos. Eu não vou excluir o blog porque ele não passa da média de 5 a 15 acessos. Aprender a conviver com a solidão, me fez enxergar que a vida está aí para darmos a cara pra bater, e como diz o sábio médico  Flavio Gikovate, a solidão não é vergonha, é dignidade.
E para encerrar o texto de hoje, eu sou teimosa e não aprendo, eu não posso encerrar isso sem falar de Amor, mesmo que seja um Amor que muito provavelmente nunca vai dar em nada, talvez porque deveria ter ficado quieta como sempre, pois eu nunca dei a cara para bater, e nunca fui de demonstrar sentimentos, pois tinha muito medo de julgamentos. Um dia uma pessoa muito especial e que hoje está desaparecida a dias, muito provavelmente ao inferno de final de semestre ou outro motivo qualquer(talvez alguma abdução alienígena, vai saber…), me disse que estava brincando de ser eremita, e eu me lembro(tenho memória de elefante) que ele disse “quando eu brinco de eremita…”. E foi com ele que eu aprendi que brincar de eremita é uma coisa muito bonita e capaz de mudar a forma de enxergar a vida. E desde então eu vivo aqui na minha casinha, na minha montanha particular observando um lago azul imaginário lá embaixo. Talvez eu encontre este belo ermitão por aí, sentado nas pedras(conversando com os musgos, quem sabe, ele disse que ainda não chegou ao ponto de conversar com pedras musguentas), pensando longe, muito longe. Eu daria tudo por pelo menos 1 por cento do que se passa naquela cabecinha complexa e adorável. Talvez, um dia, caso nos encontrarmos, poderíamos acender uma fogueira, sentarmos os dois numa pedra, e então eu vou contar uma história, pois um dia este velho homem me disse que gostava de história…

“Ele não sabe mais nada sobre mim. Não sabe que o aperto no meu peito diminuiu, que meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos melancólicos. Ele não sabe quantos livros pude ler em algumas semanas. Não sabe quais são meus novos assuntos nem os filmes favoritos. Ele não sabe quantos amigos desapareceram desde que me desvencilhei da minha vida social intensa. Ele não sabe que eu nunca mais me atentei pra saudade. Que simplesmente deixei de pensar em tudo que me parecia instável. Que aprendi a não sobrecarregar meu coração, este órgão tão nobre. Ele não sabe que tenho estado tão só sem a devastadora sensação de me sentir sozinha. Ele não sabe que desde que não compartilhamos mais nada sobre nós, eu tive que me tornar minha melhor companhia: ele nem imagina que foi ele quem me ensinou esta alegria.”

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Primeira citação: Trecho de Planet Caravan, do Black Sabbath.

Segunda Citação: Flávio Gikovate, médico psicoterapeuta especialista em relacionamentos humanos. O cara é genial e tem argumentos e contra argumentos sobre tudo no que se diz respeito a relacionamentos.

Terceira Citação: Marla de Queiroz, dona deste blog aqui, que a propósito, escreve muito bem: http://doidademarluquices.blogspot.com.br/