Estou andando pela cidade, procurando uma nova razão para estar nesse mundo, pensando nos meus últimos passos, o quanto fazer giro, nas aulas de flamenco é tão difícil, procurando emoções inexistentes, um grito aonde eu posso dizer que tudo o que eu sinto é verdadeiro. E não me perguntem o porque disso. Quando se ama, não temos que procurar explicações, não temos que explicar aos outros porque nos sentimos dessa forma. E quando me perguntam o porque eu amo, eu sempre digo para não tentar entender. Eu digo que mulheres são uma espécie complicada. Nós somos complicados, homens e mulheres. E isso não é uma desculpa, porque se eu tivesse uma explicação, também teria um motivo para esquecer. Eu não tenho nenhum dos dois, então, eu não perco meu tempo criando desculpas, razões e o caramba a quatro. Quando resolvemos uma equação, ela tem seu resultado exato, a não ser que o lápis escorregue milagrosamente e trace um sinal negativo na frente ou transforme o número 1 em 7. Todo mundo me pergunta o que é necessário fazer para se esquecer alguém. E então eu digo, “eu não sei”. E eu ainda digo que não quero esquecer, porque aquilo que nós perdermos pode não ter volta, e aquilo que a gente acredita, há sempre algo de belo. E então eu me pego pensando, se realmente vale a pena abrirmos mãos de nossas crenças e conceitos porque as pessoas disseram que aquilo não é real. Somente nossas sentimentos nos dizem o que é bom para nós. Se existe a tormenta no que sentimos, se existem lágrimas em nossos olhos, se quando nós vemos traçando rumo seguindo os pontilhados da incerteza, eu não costumo dizer…eu não costumo pensar nisso. Minha mãe um dia me disse que temos várias pedras nas mãos. Nós atiramos aquelas que não nos interessam, ou que nunca nos fizeram nada de mão. Mas sempre há aquela que não sabemos ao certo porque carregamos ela conosco. Ela é pesada, mas há algo ali que a torna irresistível. Eu gosto de pedras. Eu costumava colecionar elas. Quando eu era criança, passava horas procurando pedras com cores bonitas. E eu ficar em uma cachoeira, chafurdando o fundo, no meio das águas gélidas, para procurar pedras. E quando eu encontrava a pedra perfeita, eu guardava ela, e quando chegava a noite, eu a guardava perto do peito, porque disseram que aquela pedra, como foi retirada da natureza, ela era algo puro, estava energizada. E então eu deveria cuidar bem dela, por mais pesada que seja, aquilo pra mim era real. E eu amava…eu amava aquela pedra. E eu deixava ela embaixo de meu travesseiro.
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Amanheceu e estou pensando em Amor,
E estou me perguntando porque eu adormeci,
Enquanto tentava meditar com incensos espanhóis ao fundo.
Porque eu sonho com aquilo que devo esquecer,
Porque sonhamos com coisas impossíveis?
A mente gosta de pregar peças, e ela é o palhaço que ri,
Quando você acorda e vê que nada aquilo aconteceu.
E então ela me oferece balões coloridos…
[Você quer um balão Ana?Eles flutuam…eles flutuam]
E eu sigo acompanhando meu barquinho,
Até ele cair em um bueiro, pode ser…porque não?
Que quando ele cair no bueiro, eu queira resgata-lo
E pode ser que alguém pise nele também,
As pessoas gostam de pisar em cima de sentimentos,
É engraçado isso, quando não pisam perguntam o porquê,
Mas eu não sei responder, não tente entender, é apenas um barco,
E quem está guiando ele, é apenas eu e minhas crenças.
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A luz da manhã está entrando agora pela minha janela,
Me convidando para sair andando por aí,
Pensando em qualquer coisa, em qualquer pessoa
Há pessoas praticando coisas chinesas no gramado,
Há a garota das roupas e modos esquisitos,
E há a senhora que disse que eu posso pegar o ônibus,
Em qualquer lado da rua, para qualquer lado eu posso ir,
[“Moça, qualquer lado te leva para o terminal Barão!”]
Para qualquer lado eu posso ir…qualquer lugar…
Another Time, Another Place, Out of this world!
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Não importa as razões que procuramos obter,
Nas árvores de maio, as folhas estão caindo,
Os pássaros estão cantando uma canção
E nós, e nós estamos apenas nos lamentando.
Lamentando a vida, a falta de dinheiro,
Lamentando a existência do cansaço,
Lamentando a falta de beleza, e a beleza das celebridades,
Lamentando a alta dos preços,
Lamentando o fato de pegar ônibus,
E lamentando o trânsito, e o precço do combustível.
E mamãe dizia: Pessoas ingratas…
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Me avisaram para tomar cuidado!
Mamãe disse “Se cuida minha filha”
Me escreveram também “Tome cuidado”,
Mas eu sou teimosa, e eu digo, eu sempre
Sempre estou indo na contramão daquilo que me dizem,
Mas não é porque eu quero, é porque este é o meu jeito.
Eu estava dentro do ônibus, e achei que aquele era o meu lugar.
Eu desci correndo, pensando “Ohhh…cheguei no meu lugar”
Mas quando olhei ao redor, eu me preocupei de verdade.
Não é certo marcar o ponto por causa de um muro cinza,
Muros cinzas estão por toda a parte, em todo tempo.
Fui parar numa rua escura com luzes pintando.
Não havia ninguém ali, apenas eu e o meu medo.
Eu não poderia ficar ali naquele lugar, estava frio.
Precisava encontrar o meu lugar, então comecei a caminhar.
Em alguns metros dali, havia uma avenida com vários carros.
Eram 22h30 da noite e eu precisava encontrar o meu lugar.
E na Avenida Santa Isabel eu precisava tomar meu rumo,
Segurando minha saia por causa do vento frio e malandro,
E minhas pernas sentiam dor por causa do salto alto,
E os meus pés doiam porque bati eles com força,
Por que no tablado Flamenco eu descarrego minhas emoções.
[E naquelas ruas escuras eu sentia apenas medo e tudo era frio]
[O que mais pode acontecer enquanto o meu suor descia frio?]
E então eu vi o supermercado Dia logo em frente, todo iluminado.
E eu pensei, eu me lembro desse lugar, me disseram uma vez:
[“De sexta-feira tem pastéis deliciosos naquela barraca ali”]
[“Pegue a rua paralela e siga ela em frente, há umas kitnets lindas ali”]
E na esquina eu encontrei a rua das kitnets lindas, mas eu não encontrava,
Eu não encontrava o meu lugar, e eu apertava os meus passos,
Eu tenho a pele branca normalmente, mas eu parecia um fantasma.
Ninguém poderia me ajudar ali, naquele local, o que eu podia fazer?
Segui meu instinto e poucas orientações, tentei ignorar o Medo
Haviam pessoas sorridentes nos bares, pessoas me chamando
[” Morena linda, venha aqui, para que ter pressa!”]
Eu quero apenas chegar em casa…chegar em casa e descansar os pés.
E então o ônibus aparece. Eu o vejo descer uma rua abaixo,
Eu sigo aquela rota e quando olho a placa no muro,
O meu Medo vai embora e eu penso: estou no caminho certo.
E logo em frente eu vejo a casa de portão e muros verdes,
E o maldito muro cinza…