Majestade.

MAJESTADE

Deite-se deleito
Sussurros suspeitos.
Gritos na madrugada
Teu corpo por cima
Uma tonelada de terra
Cadáver sou eu?
Cubra-me com teu ímpeto
Rasteja como um verme
Pele deslizante, pelos a fazer
Teu suor, minha umidade
Deita aqui em meu peito
Aureolas despudoradas
Face rosácea, amor rubro
Vinho seco derramado
Costas nuas etílicas
Teus lábios manchados
Doce trilha desalmada
Meu sexo descoberto
Madrugada fria
Imortal doce amante
Relembro-te em linhas
Imoralidade sem-vergonha
Poema escarrado
Sem remédio para dor
Canto a saudade em verso
Passo desritmado
Pisa em meus pés
Derreto teu desejo
Engulo tuas emoções
Olhos desacostumados
Candelabros não morrem
Nos sonhos dos homens
Uma única vela acesa
Chama de desejo
E nunca acaba…
Nunca acaba
Saudade Manchada
Duas rosas na garrafa
Hemingway na estante
Teu cheiro pelos cantos
Olhos de dilúvio
Chove lá fora
Girassol cabisbaixo
Felicidade úmida
Amor na chuva
Silêncio…
Somente raios e trovões
Quatro paredes de um quarto
Ajoelho eis sua súdita
Minha Majestade.

ANA IDRIS.

Dona Rita e a Fonte da Juventude de Lucas Cranach.

Primeiramente, é necessário observar a seguinte obra abaixo, depois, partir para a leitura. É necessário a compreensão da linguagem desse quadro, para que a ideia do texto possa fluir sem complicações. Se estiver muito pequeno, devido ao layout do blog, no google imagens tem em tamanho maior. Esta prosa fala sobre a saudade, sobre o Tempo, emoções, lembranças. Espero que apreciem, sem moderação. Obrigada e boa leitura. Se gostou, comente, críticas são bem vindas!

A fonte da juventude, do pintor renascentista Lucas Cranach.
Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a . Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem, Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos aos, estes ainda reservam prazeres.
Sêneca

Rita sozinha na frente do espelho, aos setenta e cinco anos, sozinha, em seu apartamento localizado no quinto andar de um prédio do subúrbio, onde as flores nascem no asfalto, esperando um pouco de atenção dos olhos incautos, preocupados, com gotas de mau-humor. Transeuntes amanhecidos em dias ensolarados , mas por dentro, coração e alma tão nublados como dias de dilúvio, e às vezes o dilúvio nunca acaba, estamos sempre nos protegendo de nossas tempestades invisíveis, mas que nos molha tanto, é como se fosse uma histeria, real, andamos pelas ruas encharcados pelas águas das dores do mundo. Andamos escondidos embaixo de nossos guarda-chuvas, algumas pessoas possuem guarda-chuvas transparentes, a alma pode ser vista por todos, até aqueles que assistem o espetáculo da vida do alto da sacada do apartamento, tal como fazia Dona Rita, da sacada do quinto andar, recordando-se de histórias tão antigas quanto as cicatrizes rachadas de prédios velhos, aqueles que foram ocupados por aqueles que não tem onde ir. Polícia do outro lado, os donos na rua, de braços cruzados, crianças chorando nos braços da mãe, enquanto os pais apanhavam dos policiais que os tiram à força. Brigas, desespero, alegrias, Amor…Foram muitas coisas que os olhos experientes e cansados de Dona Rita  já vira.  A guerra do Vietnã, a queda do muro de Berlim, a dissolução da União Soviética. Queria ela poder voltar no tempo? “Não”, pensava ela, mas sabe-se que ali naquele rosto existia o peso da dúvida,  mesmo ela sabendo que já viveu tudo o que tinha que viver, muito suor e lágrimas já escorreram ali naquela face, a única coisa que ela precisava era de um pouco de paz. O mundo estava caótico demais, e ela estava cansada.

Era viúva, morava sozinha, já amou muitos homens nessa vida, tomou muitos cafés nas ruas parisienses, chorou ao lado da torre de Londres, apaixonou-se pela vodka e o frio angustiante e inspirador de Moscou. Usou drogas, transou no meio da multidão do Woodstock, gritou paz e amor, viveu, todos os excessos que a vida poderia permitir que ela vivesse, numa fúria quase que beirando o descontrole. Acordava cedo todos os dias, cuidava do pequeno jardim da sacada do apartamento, regava as flores com um regador amarelo de plástico, que muitas vezes deixava ao lado do vaso com Girassol, mas ela gostava mesmo era de pegar um velho balde e fazer uma concha com as mãos, gostava de sentir a água escorrendo pelos dedos. Este ato era pra ela uma forma de felicidade instantânea, mesmo que momentânea. Ela não acreditava na felicidade, aquele tipo de felicidade que acreditamos que seja eterna. Felicidade é um conceito que a vida é feita de momentos, e os momentos são feitos pelo Tempo, tempo de drama, um livro de contos esparsos, várias histórias cheias de verdades, mas que também carregam a dor da mentira e da ilusão, e o que falar das histórias de Amor e Sexo? Muitas vezes não caminharam juntas, pela inabilidade do ser humano separar Sexo de Amor. Rita tentava, mas ela fez Amor com cada homem que passou pelos seus braços, mesmo que pra eles, tenha sido apenas Sexo.

Um velho cão dormia aos seus pés , o gato oportunista aparecia às vezes para comer e deitar em sua colo. Ela tinha três filhos, e todos eles queriam colocá-la em um asilo. Achavam que a companhia de outros “idosos” a faria bem. Acreditavam que ela não estava mais lúcida. “Pobre ser humano, tolo e mesquinho”, pensa ela, mal eles sabem que ela mantinha o vigor, a coerência, tudo o que uma mulher lúcida têm. Ela estava velha? Sim…Mas ela ainda pensava, respirava, sem precisar de balões de oxigênio, mas, as falsas convicções de que todos os velhos a partir dos setenta anos ou menos, não são capazes de distinguir uma pedra de um pedaço de merda. Parou na frente do espelho, pensou no fedor de uma pedaço de merda, e uma pedra, “Será que somos tão estúpidos assim?”, pensou ela, enquanto penteava os cabelos brancos, que caiam na altura dos ombros. Lembrou de seu marido, de todos os anos que ela viveu ao lado dele. Ela acordava primeiro que ele, se arrumava e penteava os cabelos na frente do espelho. Ele levantava da cama e colocava as mãos em cima dos ombros dela: “Bom dia minha senhora”, dizia ele, toda vez que a via pelas manhãs, penteando os cabelos. Ela sentiu uma saudade, a saudade tocava-lhe os ombros…

Depois de cuidar do pequeno jardim, ela sentava-se na cadeira da sacada, com sua xícara de café fumegante nas mãos. Pensava  na vida, com tudo o que já havia vivido, suas alegrias, tristezas, todos os sonhos que ela carregou durante as madrugadas. Todas as suas emoções, estavam estampadas em cada ruga de expressão de seu rosto envelhecido. Ficou lá, sentada, e de repente veio uma vontade de rever álbuns de fotografia, queria uma quinta-feira cheia de lembranças. Pegou um pesado álbum da estante, e ele conservava os cheiros de lembranças e saudades, estampados em páginas amarelas, algumas fotografias em preto e branco. Ela amava o cheiro de livros novos, livros velhos, gostava de cheiros do seu passado, e o perfume das flores que alegravam seu micro jardim de sacada.  Abriu o álbum, começou a folhear as páginas, e chegou numa parte onde lhe trouxe a memória de sua visita à Berlim, aos trinta anos. Havia uma fotografia dela em frente ao museu Gemäldegalerie. Ela lembrou-se de que naquele local foi onde ela se encantou por uma obra de arte específica, um quadro que ficou marcado em sua memória:

Era um quadro de Lucas Cranach, de 1546, chamado “A fonte da Juventude”. Aquelas fotografias naquele álbum no colo de Dona Rita poderiam estar desintegrando-se, perdendo-se na certeza do Tempo, mas o valor e mensagem de uma grande obra é algo que não morre nunca, e quando morre, sempre terá alguém que conserve o registro no baú de memórias. As coisas não se perdem, recriam-se em outro espaço-tempo. O encanto pela obra era tanto, que ela comprou um livro que a tinha, em duas páginas inteiras. Puxou o livro da estante e lá estava o marcador de fita de cetim guiando sua lembrança, estava lá a fonte da juventude.

As velhas sendo trazidas enfermas, em carroças de madeira, pedaços de pano branco na cabeça, elas não queriam mostrar os cabelos brancos, ou a ausência deles. Senhoras de roupas que cobrem o corpo inteiro, sem a formosura e a volúpia dos corpetes onde saltavam seios exuberantes. Os seios caídos de flacidez, o retrato da vergonha, pintado sobre a forma de uma velha sentada na beira da fonte, agachada, seminua, com a vergonha estampada no rosto. Ela parecia olhar para Dona Rita, e dizer que a vergonha a impede de mostrar suas “vergonhas”, que aquele corpo ali já foi “bonito” um dia, a velha agachada olhava para Rita, senhora da era moderna, com os seios flácidos, pele já tão enrugada. Imaginou-se ali, naquele local, em 1546, o senhor de vestes vermelhas, segurando um livro, avaliando se ela podia ou não entrar na fonte da juventude, estaria ela, velha o suficiente para querer ser rejuvenescida? Velha o suficiente para tirar sua roupa, em frente a uma multidão, entrar na fonte, banhar a alma em águas de cirurgia plástica, carregadas de Botox. Rita até então obedecia à lei natural das coisas, pois ao Tempo não podemos enganar, nem a Morte.

Dona Rita dirigiu-se em direção ao espelho. Tirou todas as roupas, soltou os cabelos. Estava ali, em frente ao espelho, nua, crua e…Velha. Os cabelos brancos escorrendo nas costas, os seios flácidos que seu velho Homem tanto amou…Seu velho Homem…

“Estou velho querida…- dizia ele, olhando nos olhos dela, desde os trinta e um anos de idade…balbuciava…”Estou velho, não tenho mais a flor da juventude…”, este Homem, durante todos os anos que passaram juntos, nunca queixou-se da beleza jovial que aos poucos se perdia do corpo dela. Os seios ficaram flácidos, ele continuou amando-os; as rugas apareciam contando histórias no rosto dela, ele continuou beijando-lhe a face; a pela já não era tão mais macia, com a suavidade de uma pétala de flor, ele continuava deslizando os dedos na pele dela. Aquilo o fez único no mundo, ela nunca mais quis homem algum. Depois de tantas aventuras em braços cujas almas não se completavam. Os tempos de procurar um Amor que não fosse mesquinho e vazio foi embora com o sopro do vento que sacudiu os cabelos na noite em que conheceu o elemento saudade, o dono do peso dela nos ombros. Naquela época, seus cabelos não eram louros, mas sim negros, mas ela sentia-se como as ninfas loiras e rejuvenescidas de Lucas Cranach, viu ali o retrato de sua vida, pintado em dois lados, do lado direito, as festas, jantares, bailes, flertes…Músicas de rock’n roll, bossa nova, tropicália, sexo em Woodstock. Do lado esquerdo, ela, sozinha, nua na frente do espelho.

– “Estou velha querido…Estou velha…Agora, EU que me sinto velha. Que saudades…De você, da nossa juventude, da nossa velhice, dos teus olhos…

E nos ombros sentiu a vasta saudade dos seus tempos de ninfa. A saudade galopando na rajada do tempo, o peso dos ponteiros do relógio. Deveríamos nascer velho e morrer jovens, tal como na estória do Fitzgerald. O curioso caso de Rita estava ali, no reflexo do espelho, os ponteiros do relógio não voltavam, sua eloquência em fuso horário, entrando agora em anti-horário. O gato a olhava da janela, e lambia as patinhas. Seu cão, também velho, porém cego de um olho e quase surdo, dormia ao pé da cama, abria os olhos, devagar, ficava observando e depois voltava a dormir.

Rita foi em direção ao banheiro do quarto, tomou um longo banho, a pele já era enrugada o suficiente para se preocupar com o tempo que passaria embaixo do chuveiro. Secou-se, entrou embaixo dos lençóis, nua…Não precisava de pílulas para dormir. Sonhou…Sonhou com a fonte de Cranach. Do lado direito, seu marido rejuvenescido a esperava. Ela estava do outro lado da fonte, tirando as roupas para entrar. Deu um mergulho, lavou o corpo, depois outro mergulho. Chegou do outro lado e entrou com ele numa tenda de veludo vermelho. E desde então, Dona Rita nunca mais acordou. Foi rejuvenescida com massa fúnebre…

Shuffle

Estou andando pela cidade, procurando uma nova razão para estar nesse mundo, pensando nos meus últimos passos, o quanto fazer giro, nas aulas de flamenco é tão difícil, procurando emoções inexistentes, um grito aonde eu posso dizer que tudo o que eu sinto é verdadeiro. E não me perguntem o porque disso. Quando se ama, não temos que procurar explicações, não temos que explicar aos outros porque nos sentimos dessa forma. E quando me perguntam o porque eu amo, eu sempre digo para não tentar entender. Eu digo que mulheres são uma espécie complicada. Nós somos complicados, homens e mulheres. E isso não é uma desculpa,  porque se eu tivesse uma explicação, também teria um motivo para esquecer. Eu não tenho nenhum dos dois, então, eu não perco meu tempo criando desculpas, razões e o caramba a quatro. Quando resolvemos uma equação, ela tem seu resultado exato, a não ser que o lápis escorregue milagrosamente e trace um sinal negativo na frente ou transforme o número 1 em 7. Todo mundo me pergunta o que é necessário fazer para se esquecer alguém. E então eu digo, “eu não sei”. E eu ainda digo que não quero esquecer, porque aquilo que nós perdermos pode não ter volta, e aquilo que a gente acredita, há sempre algo de belo. E então eu me pego pensando, se realmente vale a pena abrirmos mãos de nossas crenças e conceitos porque as pessoas disseram que aquilo não é real. Somente nossas sentimentos nos dizem o que é bom para nós. Se existe a tormenta no que sentimos, se existem lágrimas em nossos olhos, se quando nós vemos traçando rumo seguindo os pontilhados da incerteza, eu não costumo dizer…eu não costumo pensar nisso. Minha mãe um dia me disse que temos várias pedras nas mãos. Nós atiramos aquelas que não nos interessam, ou que nunca nos fizeram nada de mão. Mas sempre há aquela que não sabemos ao certo porque carregamos ela conosco. Ela é pesada, mas há algo ali que a torna irresistível. Eu gosto de pedras. Eu costumava colecionar elas. Quando eu era criança, passava horas procurando pedras com cores bonitas. E eu ficar em uma cachoeira, chafurdando o fundo, no meio das águas gélidas, para procurar pedras. E quando eu encontrava a pedra perfeita, eu guardava ela, e quando chegava a noite, eu a guardava perto do peito, porque disseram que aquela pedra, como foi retirada da natureza, ela era algo puro, estava energizada. E então eu deveria cuidar bem dela, por mais pesada que seja, aquilo pra mim era real. E eu amava…eu amava aquela pedra. E eu deixava ela embaixo de meu travesseiro.

———————————————————————————————-

Amanheceu e estou pensando em Amor,

E estou me perguntando porque eu adormeci,

Enquanto tentava meditar com incensos espanhóis ao fundo.

Porque eu sonho com aquilo que devo esquecer,

Porque sonhamos com coisas impossíveis?

A mente gosta de pregar peças, e ela é o palhaço que ri,

Quando você acorda e vê que nada aquilo aconteceu.

E então ela me oferece balões coloridos…

[Você quer um balão Ana?Eles flutuam…eles flutuam]

E eu sigo acompanhando meu barquinho,

Até ele cair em um bueiro, pode ser…porque não?

Que quando ele cair no bueiro, eu queira resgata-lo

E pode ser que alguém pise nele também,

As pessoas gostam de pisar em cima de sentimentos,

É engraçado isso, quando não pisam perguntam o porquê,

Mas eu não sei responder, não tente entender, é apenas um barco,

E quem está guiando ele, é apenas eu e minhas crenças.

———————————————————————————

A luz da manhã está entrando agora pela minha janela,

Me convidando para sair andando por aí,

Pensando em qualquer coisa, em qualquer pessoa

Há pessoas praticando coisas chinesas no gramado,

Há a garota das roupas e modos esquisitos,

E há a senhora que disse que eu posso pegar o ônibus,

Em qualquer lado da rua, para qualquer lado eu posso ir,

[“Moça, qualquer lado te leva para o terminal Barão!”]

Para qualquer lado eu posso ir…qualquer lugar…

Another Time, Another Place, Out of this world!

——————————————————————————————

Não importa as razões que procuramos obter,

Nas árvores de maio, as folhas estão caindo,

Os pássaros estão cantando uma canção

E nós, e nós estamos apenas nos lamentando.

Lamentando a vida, a falta de dinheiro,

Lamentando a existência do cansaço,

Lamentando a falta de beleza, e a beleza das celebridades,

Lamentando a alta dos preços,

Lamentando o fato de pegar ônibus,

E lamentando o trânsito, e o precço do combustível.

E mamãe dizia: Pessoas ingratas…

—————————————————————————————-

Me avisaram para tomar cuidado!

Mamãe disse “Se cuida minha filha”

Me escreveram também “Tome cuidado”,

Mas eu sou teimosa, e eu digo, eu sempre

Sempre estou indo na contramão daquilo que me dizem,

Mas não é porque eu quero, é porque este é o meu jeito.

Eu estava dentro do ônibus, e achei que aquele era o meu lugar.

Eu desci correndo, pensando “Ohhh…cheguei no meu lugar”

Mas quando olhei ao redor, eu me preocupei de verdade.

Não é certo marcar o ponto por causa de um muro cinza,

Muros cinzas estão por toda a parte, em todo tempo.

Fui parar numa rua escura com luzes pintando.

Não havia ninguém ali, apenas eu e o meu medo.

Eu não poderia ficar ali naquele lugar, estava frio.

Precisava encontrar o meu lugar, então comecei a caminhar.

Em alguns metros dali, havia uma avenida com vários carros.

Eram 22h30 da noite e eu precisava encontrar o meu lugar.

E na Avenida Santa Isabel eu precisava tomar meu rumo,

Segurando minha saia por causa do vento frio e malandro,

E minhas pernas sentiam dor por causa do salto alto,

E os meus pés doiam porque bati eles com força,

Por que no tablado Flamenco eu descarrego minhas emoções.

[E naquelas ruas escuras eu sentia apenas medo e tudo era frio]

[O que mais pode acontecer enquanto o meu suor descia frio?]

E então eu vi o supermercado Dia logo em frente, todo iluminado.

E eu pensei, eu me lembro desse lugar, me disseram uma vez:

[“De sexta-feira tem pastéis deliciosos naquela barraca ali”]

[“Pegue a rua paralela e siga ela em frente, há umas kitnets lindas ali”]

E na esquina eu encontrei a rua das kitnets lindas, mas eu não encontrava,

Eu não encontrava o meu lugar, e eu apertava os meus passos,

Eu tenho a pele branca normalmente, mas eu parecia um fantasma.

Ninguém poderia me ajudar ali, naquele local, o que eu podia fazer?

Segui meu instinto e poucas orientações, tentei ignorar o Medo

Haviam pessoas sorridentes nos bares, pessoas me chamando

[” Morena linda, venha aqui, para que ter pressa!”]

Eu quero apenas chegar em casa…chegar em casa e descansar os pés.

E então o ônibus aparece. Eu o vejo descer uma rua abaixo,

Eu sigo aquela rota e quando olho a placa no muro,

O meu Medo vai embora e eu penso: estou no caminho certo.

E logo em frente eu vejo a casa de portão e muros verdes,

E o maldito muro cinza…