Depois de andar por um caminho cheio de folhas coloridas,
Já não é mais outono, é apenas um inverno ambíguo, cheio de sol e calor,
E os olhos azuis, grandes e tão perdidos, a fala mansa e o andar calmo,
Um homem incomum tão próximo, a alguns poucos centímetros,
E o sorriso na indelicadeza desconcertante de uma boca carnuda…desnuda,
Tão doce, bruta, elegante, curiosidade, os olhos, os olhos nus,
Fitando a boca voraz, era o desejo e a malícia no pensamento,
E a pele desnuda, a boca e a língua divina, e o cheiro natural,
A linha do pescoço que sobe até o rosto a emociona,
Ela estava então na cova do leão…
A vida, as pessoas, o caos, caminhando todos juntos de mãos dadas,
Os ventos de fim da noite os carregam, assim como as folhas,
Caindo calmamente, quase uma heresia,
Uma heresia calma e ao mesmo tempo bruta,
A folha toca o chão numa leveza simples, as mãos lhe tocam a pele,
Numa beleza ímpar, um gemido alto de prazer enlouquecedor,
São jovens demais para deixar a natureza emudecer noite afora,
Às vezes um homem deixa seus medos e ansiedade para trás,
Não há nada a temer, olhos nos olhos há sempre uma razão, ainda que febril,
E os olhos nus, encantados, e os corpos nus, se contorcendo,
Numa dança erótica, a indecência e o desejo tem cheiro de jasmim.
Há um sorriso tímido nos lábios, um enrubescer no rosto, um jogo de poder e sedução,
E ela sente os pelos do rosto dele junto ao pescoço, corpo estremecido e sem rumo,
E enquanto ele tira as suas roupas, ela se despe da vergonha,
E a noite segue tímida nos gemidos, enquanto as mãos firmes escorregam,
Como num torpor, num deslize, o suor sagrado se mistura mãos fortes e brutas,
No corpo tão frágil e delicado de mulher, as garras do leão lhe marcam a pele,
E as marcas na pele dela, um sorriso sádico no espelho pela manhã,
Ela fecha os olhos e se entrega, e então ela acredita, que ali naquele erotismo,
Naquela cama, com aquele homem, ela encontrou sua paz de espírito.
E o gosto sincero do medo, tão natural, ansioso, e latejante,
Num grito noturno sufocado pelo silêncio, uma mulher aflita,
Ao lembrar-se da cova do leão, o tremor, o desejo e o paladar visual,
Na madrugada afora o corpo clama por um pouco mais de amor,
Seja ele sensato ou insensato infiel ou fiel, perigoso e delicado,
A luta entre amor e razão é fado pesado e dói o peito,
O peso de uma incerteza silenciosa carregando um coração tão maltratado,
O rosto queima com a lembrança do beijo molhado, quente e profundo.
E a lembrança de um gosto amargo lhe traz uma saudade,
E o peso de um corpo sobre o seu nunca foi tão intenso e excitante,
Tão profundo, úmido, na meia luz, um gemido abafado e solitário,
É na cova do leão, a saudade, a lascívia, e o cheiro do jasmim,
Ela o amou, fez do seu desejo sua morada, bebeu do seu cálice até a última gota,
E ele fez do corpo dela seu altar, com uma fúria docemente obscena,
Um altar do desejo na cova do leão, quente, úmido e delicado.
