Brilho eterno de uma mente de criança

Eram duas crianças, totalmente isentas de conhecimento que atordoa. Crianças apenas. No vai e vem de balanços, sorrindo uma pra outra. Não precisavam do empurre de outra criança ou de um adulto. Lá no alto, indo e voltando, crianças completamente alheias e dispersas nesse nosso mundinho tão perdido. E eu sentada em um banco de praça, observando o movimento, trazendo à tona minhas lembranças de infância. Lembro-me que eu ia à praça comer algodão doce, e quando eu me sentava no banco de concreto, vários pombos se reuniam em volta, pedindo com seus olhos esbugalhados e vermelhos, um pedaço do açúcar em fios cor de rosa que manchavam meus dedos. Eu gosto de algodão doce até hoje, e de lamber meus dedos como uma criança. Mas faz tanto tempo… Tanto tempo que eu não me sinto mais como uma criança. Sinto saudades, muitas vezes, dos tempos em que não éramos atingidos pela malícia, e que pensávamos que a solidão de fato é algo apenas como ficar sem os pais, por exemplo, de acreditar que o brilho das estrelas são pessoas mortas queridas. Hoje sei que as estrelas que estão ali são talvez uma luz que nem exista mais. Mas eu vejo uma linda poesia nessa coisa toda. Eu adoro astronomia. Queria poder ficar num gramado ou um local aberto, longe da civilização e estudar as constelações. Ter uma luneta ou um telescópio. Queria poder viver das estrelas, estudá-las… Mas, eu queria muitas coisas. Ser humano sempre querendo mais e mais, sempre descontente com algo ou, mesmo feliz, tem aquele ingrediente perdido no meio da receita. Entendem? É como ser um bolo de fubá, mas sem erva-doce. Ahhh, minhas abstrações, mas enfim. Minha vida é gostosa como uma bolo de fubá, mas falta algo como erva-doce ou queijo minas frescal.

E a praça, cheia de coisas curiosas, um brinde aos meus pensamentos sobre a vida, o universo e tudo mais. E tinha a inveja infantil… A criançada brincando num canto de areia, construindo castelinhos. E um menino dos olhos claros teve seu castelo destruído pela guriazinha chorona. E ela gritava: ” Seu castelo é mais bonito que o meu.” Num tempo de castelos sem princesas, a inveja e o ego começa a reinar desde cedo. Quando eu estava no jardim, lá na escolinha Sete Anões, em Limeira, eu me lembro dessas intrigas infantis. Tinham os “vendedores” de areia molhada. Eles traziam de casa as garrafas plásticas de refrigerante. Enchiam de água e areia, e passeavam pelo parquinho vendendo suas garrafas para as crianças escultoras ou crianças cozinheiras. Eu fazia dos dois. Bolos de barro e montanhas que eu colocava meus bonequinhos, que eu costumava dizer que eram moradores da “minha montanha”. E o escambo era geral. Nós costumávamos ir para o campo de areia, depois do recreio. E os que estavam interessados em areia molhada trocavam a garrafa com o barro pronto, por balas, chicletes, frutas, chocolate. Tudo dependia do que você tinha a oferecer. Tinha aqueles “Depois eu pago”… E ficavam sempre no depois. E então vinham as brigas, criançada correndo e gritando pelo pátio da escola BRIGAAAAAA!!!!! Os vendedores de areia molhada versus os caloteiros. E a briga corria solta, e as inspetoras vinham correndo. E dá-lhe diretoria! E no dia seguinte, a venda de barro continuava rolando solta, sob olhos atentos das “tias”.

E eu disse que no começo do texto não existia a malícia. Bem tinha um pouco sim. Tinham os beijinhos atrás da moitinha, as flores que os meninos entregavam para as guriazinhas tidas como as mais bonitas. E eu me lembro, hoje, lembrança ao qual eu dou risada. Havia um guri que gostava de mim, e me dava flores todos os dias. Mas ele era bagunceiro e mal criado. Roubava os lanches alheios, batia nos meus amiguinhos e gostava de mim. Um dia, teve o primeiro ensaio da quadrilha da festa junina da escola. A professora, que se chamava Ana, colocou ele como meu par. Eu o odiava, mas ele vibrou e me chamou de “Meu Amor”. E então eu fiz um escândalo. Comecei à chorar. Quiseram me obrigar a dançar com ele, mas eu fiquei muito tristinha e me recusei a ir na escola. Minha mãe, foi à escola e então eu fui a única aluna que não dançou quadrilha. E eu digo, até hoje, não gosto de dançar quadrilha. Tem certas coisas que ficam enraizadas, não digo que seja um trauma de infância, ou seria? Mas foi a primeira vez que eu fui forçada a fazer algo que eu não queria. Eu não queria tomar injeção, mas eu de alguma forma sabia que aquilo era para o meu bem. Aquele menino tentava me beijar a toda hora e dizia que se casaria comigo. E não, aquilo não era agradável, de forma alguma.

Quando eu entrei na minha primeira série, eu tinha seis anos. Entrei mais nova, não fiz o pré, pois já sabia ler e escrever. Lembro-me que meu primeiro amor ( bem, não era amor, mas vamos deixar por assim “amor”) foi um japonês. Ele se chamava ( lembro-me até hoje), Caio Muriel Tanaka. Tudo que ele tinha era do Japão, inclusive a mochila, era uma preta, meio quadradona. Ele tinha o cabelo de tigelinha. Era um linda criança, não sei como, mas lembro-me do rosto dele até hoje. Era o melhor aluno da sala, de longe. Éramos amiguinhos, mas apenas isso. Eu tinha vergonha que ele soubesse que eu “gostava” dele, e naquela época eu seguia o conceito de amor platônico sem nem ao menos saber quem era Platão. Eu gostava do japonês, mas eu tinha um admirador, de seis anos, que me mandava cartas de amor. Chamava-se André Luís, e era loiro dos olhos verdes. Tenho um episódio único de minha infância com esse garotinho…

Um belo dia, estava eu e André Luís voltando da escola. Tínhamos comprado aquelas balas quadradas de doce de leite. No meio do caminho tinha uma pomba, aparentemente “deitada” tal como aves fazem, no meio da calçada. Eu como criança deslumbrada em um mundo de pássaros entre outros bichinhos, me agachei enquanto André Luís permanecia de pé, chupando uma bala atrás da outra. A pomba permanecia quieta, e eu achava que ela estava dormindo. André pegou um graveto e me deu. E quando viramos ela, tinham vermes devorando suas entranhas. Foi o meu primeiro contato com a morte. Aquela coisa efêmera ali na minha frente, trouxe-me uma série de questionamentos, e eu nunca me esqueço, do local, das pedras na calçada, de André Luís e o cheiro de balas quadradas de doce de leite. E até hoje, quando sinto cheiro de doce de leite, lembro do menino André tentando me acalmar, mesmo sendo uma criança. Ele me viu chorar, e me deu a mão até eu chegar em casa. Se despediu com um beijinho no rosto, e me mandava cartas coloridas com letras tortas. Ahhh a infância… Brilho eterno de uma mente… Com lembranças.

Jardim de Infância.

Era de manhã, saiu pra fora no jardim, com os pés descalços, amassando a terra, tatu-bolas de jardim. A doçura da brisa das manhãs bagunçando os cabelos, e a certeza de um amor distante que a observava. Cantou com lábios quase fechados, uma canção que a emocionava, e uma lágrima escorreu, molhou a terra, onde sementes de flores amarelas que ela plantava todos os dias dormiam esperando a hora certa para germinarem. Todos os dias ela pega um regador e molha a beleza com olhos de devoção. Coração quebrado, cabelos cortados, uma Força despretensiosa, sincera, no peito um coração de vitral, colorido intenso. Queria ela dizer que o ama todos os dias, mas sua timidez desajeitada a faz emudecer, por isso ela canta baixinho, e crê ela, que o seu sussurro chegue aos ouvidos dele, o seu Amor, como anjos zombeteiros numa capela abandonada no deserto. E corre, pelo jardim, com seu vestido branco manchado de amarelo, lábios de café, para combater a insônia que tanto a enlouqueceu. E numa multidão de palavras ditas e não ditas, a falta de coragem não a impele de acreditar em dias que ainda nascerão sendo eles chuvosos ou iluminados por infernais raios de sol. E ela continuou agachada no jardim, sujando as mãos de terra, vendo pássaros brincar nas poças que se formavam ao chão. Sujou os pés de barro, e isso era bom, era puro, era ela voltando às origens, desprotegida de sapatos que a protegem de viver. Sujar-se é viver, sentir, no mais íntimo das verdades, quem vive sempre no que é limpo, não conheceu toda a intensidade de viver. Quando ela tiver filhos, permitirá que eles construam castelos, brinquem descalços no jardim, deitem na grama, pulem nas poças. As crianças andam limpas demais, aquela falsa convicção que é saudável viver longe da sujeira, aquelas crianças com roupas e sapatos impecáveis, olhos tristes ao verem as crianças sujas com as mãos de terra, crianças de apartamento, criadas a brinquedos eletrônicos e bonecos de roupas lavadas toda a semana. Sorrisos eletrônicos, falsos, por dentro uma certeza, uma vazio. Sim, crianças sentem tanto o vazio quanto nós os adultos, e naquele jardim, enquanto plantava uma flor, ela agradeceu por ter sido uma criança imunda, e não ter tido apenas um sorriso eletrônico estampado no rosto.

Memórias da madrugada: Onde as flores morrem e a ilusão em alto mar.

Um homem pode ser destruído, mas não derrotado.

Ernest Hemingway

Eu poderia estar dormindo agora sabe?Mas não, é na minha insônia que encontro a paz de espírito, pois faço o balanço das resoluções do meu dia. E o que eu tenho a dizer? No meio de um monte de infinidades que atormentam minha alma, eu confesso aqui em linhas insones que eu poderia ser diferente, do que sou agora, talvez tentar ser normal, mas não, aqui jaz uma alma que tem olhos desacostumados, e sabe por quê? Porque eu tento, nesse mundo tão vazio, cheio de ideais fúteis, que não levam a nada, eu tento, como uma errante, tal como Dom Quixote de saias, montada em meu cavalo, tenta ver um mundo mais cheio de cores, mesmo ele sendo tão monocromático. Eu embaixo de um poço racional, ou escondendo-me por trás de uma muralha de uma mulher forte, dizem por aí “mais macho que muito homem”. Eu ando por aí, com meu guarda-chuva aberto, mesmo em dias de sol, eu já escrevi que estamos constantemente nos protegendo, daquelas coisas que por muitas vezes só são vistas por nossos olhos, ninguém vê, mas está lá, e você sabe que existe, no seu mundo de máscaras, aquela que tanto carregamos no dia a dia, vivemos um dia de sorrisos, uma falsa convicção, um sorriso falso de “Oi querido, tudo bem, comigo está ótimo!”, aquela mesmíssima coisa falsa de sempre. Mas por dentro, nós, humanos tolos e atores de nosso próprio espetáculo de personagens de contos de fada, sabemos que somos todos personagens de Hemingway. Já leram algum conto dele?Experimentem, ali, naquelas palavras estão traçadas a natureza nua e crua do ser humano, sem frescura, personagens com sonhos, mas numa realidade igual a que vivemos, com fracassos, vitórias, amor, desamor, ilusão. Muitas pessoas não gostam desse tipo de leitura, sabe, aquela leitura que te dá chibatadas, aquela que te faz chorar, dá aquela perturbação aquele aperto, o gosto amargo nos lábios, porque sabemos que a verdade não nos é conveniente, sabemos que quando achamos que pescamos um peixe grande em alto mar, podem vir as ilusões, em forma de tubarões, e então você luta, pega os remos da esperança e tenta acabar com cada ilusão que tenta devorar nossa vontade, aquele sonho, fisgado por mãos tão calejadas. Você sonha, você luta, trabalha feito um desgraçado ou uma desgraçada, e quando vê que seus oitenta e quatro dias de espera no mar, estão perdidos, esperamos em vão que algo bom finalmente lhe olhe nos olhos? Não necessariamente, depende dos olhos de cada um. Enquanto isso, navegamos com nossos barcos em alto mar, conversamos com as gaivotas de nossos pensamentos, e são eles, nossos amigos, de todas as horas. No momento que escrevo essa memória, que talvez seja totalmente amaldiçoada ou despercebida, eu estou deitada na minha cama. Eu tentei dormir, isso é fato que venho tentando, sabe?Ter uma noite de sono normal, mas na minha cabeça, eu estou sempre escrevendo, em sonhos, eu escrevo também, e quando não escrevo, eu acordo pensando em escrever, parece tão simples não é? Deixei meus remédios de dormir de lado. Sou teimosa, quando não se pode lutar contra algo, o que fazemos?Entregamos-nos a ela. Existem coisas nessa vida, que tem um propósito. Tal como o Velho de Hemingway, eu mantenho em mim uma Força, e não estou falando da Força tão discutida no universo de George Lucas, eu falo de uma Força frente à realidade. Não acredito em Felicidade eterna, nem em paz na república, conflitos sempre existirão. A vida é feita de momentos, e no meio de tantos momentos, vemos frames de drama, comédia, suspense. Temos sete formas de arte não é?Eu digo que temos oito… A vida integra todas as outras sete, somos atores, pintores, músicos, nós somos toda a maravilha da arte, de forma condensada, conseguem ver isso? Já parou para pensar, para olhar com outros olhos, toda a intensidade e beleza do que está ao teu redor, ou apenas pensou em juntar dinheiro para ter um carro zero? Aí que está… Nós andamos pelas ruas e chutamos as flores que nascem no asfalto. Um dia me escreveram que elas são amaldiçoadas pela falta de atenção. É meus amigos, e você, já deu atenção para as coisas ao teu redor? Já amou alguém, ou Amor é uma palavra tão desconhecida quanto um termo jurídico escabroso qualquer? Muitas pessoas dizem por aí, ahhh eu amo? Você ama o quê?Já parou pra pensar? Ou tem medo de enlouquecer? Sim, evitamos pensar nos dilemas que nos atormentam, fazemos com eles o que fazemos com as flores que nascem no asfalto, ignoramos, ela está lá, vai morrer um dia.

 

Numa manhã, certo dia, eu tirei uma fotografia de uma dessas centenas de flores que nascem por aí. Hoje eu digo centenas, pois eu vi que ela não era única no bairro em que eu moro. Da janela do meu ônibus de todos os dias, eu vi várias, numa imensidão de cores. A flor que eu fotografei, não existe mais, assim como o girassol tão bonito que eu via num jardim todas as manhãs. Mas sei, eu não desisto, eu sei que novas flores nascerão novamente, sei que pássaros brincalhões e com fome, na sua festa, no banquete de seus dias, ao pousar naquele girassol, derrubaram algumas sementes no chão, e ele nascerá lá novamente, tão belo como seu sucessor. Vejo o girassol, como uma metáfora de esperança, de luta. Quando achamos que nossos ideais e sonhos morreram, ou que fomos vencidos pelo Tempo, eis que ressurge uma nova esperança, basta a nós aceitá-la ou não, e por mais que possa vir a ser uma ilusão, quando vistas no horizonte, por outros olhos, ela podem a ser belas, porque não? Ilusões destroem, mas fazem parte dos nossos dias de ir e vir. Quando nos cansamos, vamos deitar, em nossas camas, mesmo elas não sendo feitas de jornais velhos, quando chega a noite, caminhamos em praias de areia branca, cheias de leões, ou qualquer outra coisas que seja agradável, mesmo que fuja de nossa realidade. Mas não nos esqueçamos, de olhar as flores do asfalto. Vamos deixar nossa arrogância de lado, nossa maldição, a falta de atenção. Um dia me disseram que aquela flor não pediu para nascer, mas nasceu, ali, no asfalto, amaldiçoada pela nossa falta de atenção, e não existe nada pior nesse mundo, que o desprezo. Eu sigo minha luta, em alto mar, um pedaço de linha nas mãos, faça sol, chuva, eu sigo, navegando no oceano de minhas convicções, e no meu desconforto, eu sigo com os olhos bem abertos, sou uma mulher forte, que não perde jamais a esperança de dias melhores, me chamem de tola… Os tolos são justamente tolos, por acreditarem sempre que dias melhores virão, mesmo sabendo que os contos de fada existem apenas nos livros. A realidade é bem diferente, a vida nos dá bofetadas no rosto, o príncipe na verdade sempre será sapo, cavalos brancos sempre nascem rebeldes, a beleza não é eterna, dinheiro não traz felicidade, nada é eterno. E a única certeza que temos nessa vida, chama-se Morte, e o Tempo, que tentamos enganar sempre, achando que aqui ele sempre vai existir. Ele é breve, não vamos perdê-lo com coisas mesquinhas, a vida é curta meus amigos, e não se vive sem correr riscos, e a vida é assim, como o oceano, imprevisível… Temos dias calmos, de maré baixa, marolas tímidas, outros amaldiçoados pela falta de sorte e nós não conseguimos prever, nem a sorte, nem a falta dela. Boa noite!

Querida, eu já estive aqui antes Eu vi este quarto, eu andei neste chão Eu vivia sozinho antes de conhecer você E eu vi sua bandeira no arco de mármore E o amor não é uma marcha da vitória É um frio e sofrido Aleluia... Leonard Cohen
Querida, eu já estive aqui antes
Eu vi este quarto, eu andei neste chão
Eu vivia sozinho antes de conhecer você
E eu vi sua bandeira no arco de mármore
E o amor não é uma marcha da vitória
É um frio e sofrido Aleluia…
Leonard Cohen

Dona Rita e a Fonte da Juventude de Lucas Cranach.

Primeiramente, é necessário observar a seguinte obra abaixo, depois, partir para a leitura. É necessário a compreensão da linguagem desse quadro, para que a ideia do texto possa fluir sem complicações. Se estiver muito pequeno, devido ao layout do blog, no google imagens tem em tamanho maior. Esta prosa fala sobre a saudade, sobre o Tempo, emoções, lembranças. Espero que apreciem, sem moderação. Obrigada e boa leitura. Se gostou, comente, críticas são bem vindas!

A fonte da juventude, do pintor renascentista Lucas Cranach.
Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a . Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem, Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos aos, estes ainda reservam prazeres.
Sêneca

Rita sozinha na frente do espelho, aos setenta e cinco anos, sozinha, em seu apartamento localizado no quinto andar de um prédio do subúrbio, onde as flores nascem no asfalto, esperando um pouco de atenção dos olhos incautos, preocupados, com gotas de mau-humor. Transeuntes amanhecidos em dias ensolarados , mas por dentro, coração e alma tão nublados como dias de dilúvio, e às vezes o dilúvio nunca acaba, estamos sempre nos protegendo de nossas tempestades invisíveis, mas que nos molha tanto, é como se fosse uma histeria, real, andamos pelas ruas encharcados pelas águas das dores do mundo. Andamos escondidos embaixo de nossos guarda-chuvas, algumas pessoas possuem guarda-chuvas transparentes, a alma pode ser vista por todos, até aqueles que assistem o espetáculo da vida do alto da sacada do apartamento, tal como fazia Dona Rita, da sacada do quinto andar, recordando-se de histórias tão antigas quanto as cicatrizes rachadas de prédios velhos, aqueles que foram ocupados por aqueles que não tem onde ir. Polícia do outro lado, os donos na rua, de braços cruzados, crianças chorando nos braços da mãe, enquanto os pais apanhavam dos policiais que os tiram à força. Brigas, desespero, alegrias, Amor…Foram muitas coisas que os olhos experientes e cansados de Dona Rita  já vira.  A guerra do Vietnã, a queda do muro de Berlim, a dissolução da União Soviética. Queria ela poder voltar no tempo? “Não”, pensava ela, mas sabe-se que ali naquele rosto existia o peso da dúvida,  mesmo ela sabendo que já viveu tudo o que tinha que viver, muito suor e lágrimas já escorreram ali naquela face, a única coisa que ela precisava era de um pouco de paz. O mundo estava caótico demais, e ela estava cansada.

Era viúva, morava sozinha, já amou muitos homens nessa vida, tomou muitos cafés nas ruas parisienses, chorou ao lado da torre de Londres, apaixonou-se pela vodka e o frio angustiante e inspirador de Moscou. Usou drogas, transou no meio da multidão do Woodstock, gritou paz e amor, viveu, todos os excessos que a vida poderia permitir que ela vivesse, numa fúria quase que beirando o descontrole. Acordava cedo todos os dias, cuidava do pequeno jardim da sacada do apartamento, regava as flores com um regador amarelo de plástico, que muitas vezes deixava ao lado do vaso com Girassol, mas ela gostava mesmo era de pegar um velho balde e fazer uma concha com as mãos, gostava de sentir a água escorrendo pelos dedos. Este ato era pra ela uma forma de felicidade instantânea, mesmo que momentânea. Ela não acreditava na felicidade, aquele tipo de felicidade que acreditamos que seja eterna. Felicidade é um conceito que a vida é feita de momentos, e os momentos são feitos pelo Tempo, tempo de drama, um livro de contos esparsos, várias histórias cheias de verdades, mas que também carregam a dor da mentira e da ilusão, e o que falar das histórias de Amor e Sexo? Muitas vezes não caminharam juntas, pela inabilidade do ser humano separar Sexo de Amor. Rita tentava, mas ela fez Amor com cada homem que passou pelos seus braços, mesmo que pra eles, tenha sido apenas Sexo.

Um velho cão dormia aos seus pés , o gato oportunista aparecia às vezes para comer e deitar em sua colo. Ela tinha três filhos, e todos eles queriam colocá-la em um asilo. Achavam que a companhia de outros “idosos” a faria bem. Acreditavam que ela não estava mais lúcida. “Pobre ser humano, tolo e mesquinho”, pensa ela, mal eles sabem que ela mantinha o vigor, a coerência, tudo o que uma mulher lúcida têm. Ela estava velha? Sim…Mas ela ainda pensava, respirava, sem precisar de balões de oxigênio, mas, as falsas convicções de que todos os velhos a partir dos setenta anos ou menos, não são capazes de distinguir uma pedra de um pedaço de merda. Parou na frente do espelho, pensou no fedor de uma pedaço de merda, e uma pedra, “Será que somos tão estúpidos assim?”, pensou ela, enquanto penteava os cabelos brancos, que caiam na altura dos ombros. Lembrou de seu marido, de todos os anos que ela viveu ao lado dele. Ela acordava primeiro que ele, se arrumava e penteava os cabelos na frente do espelho. Ele levantava da cama e colocava as mãos em cima dos ombros dela: “Bom dia minha senhora”, dizia ele, toda vez que a via pelas manhãs, penteando os cabelos. Ela sentiu uma saudade, a saudade tocava-lhe os ombros…

Depois de cuidar do pequeno jardim, ela sentava-se na cadeira da sacada, com sua xícara de café fumegante nas mãos. Pensava  na vida, com tudo o que já havia vivido, suas alegrias, tristezas, todos os sonhos que ela carregou durante as madrugadas. Todas as suas emoções, estavam estampadas em cada ruga de expressão de seu rosto envelhecido. Ficou lá, sentada, e de repente veio uma vontade de rever álbuns de fotografia, queria uma quinta-feira cheia de lembranças. Pegou um pesado álbum da estante, e ele conservava os cheiros de lembranças e saudades, estampados em páginas amarelas, algumas fotografias em preto e branco. Ela amava o cheiro de livros novos, livros velhos, gostava de cheiros do seu passado, e o perfume das flores que alegravam seu micro jardim de sacada.  Abriu o álbum, começou a folhear as páginas, e chegou numa parte onde lhe trouxe a memória de sua visita à Berlim, aos trinta anos. Havia uma fotografia dela em frente ao museu Gemäldegalerie. Ela lembrou-se de que naquele local foi onde ela se encantou por uma obra de arte específica, um quadro que ficou marcado em sua memória:

Era um quadro de Lucas Cranach, de 1546, chamado “A fonte da Juventude”. Aquelas fotografias naquele álbum no colo de Dona Rita poderiam estar desintegrando-se, perdendo-se na certeza do Tempo, mas o valor e mensagem de uma grande obra é algo que não morre nunca, e quando morre, sempre terá alguém que conserve o registro no baú de memórias. As coisas não se perdem, recriam-se em outro espaço-tempo. O encanto pela obra era tanto, que ela comprou um livro que a tinha, em duas páginas inteiras. Puxou o livro da estante e lá estava o marcador de fita de cetim guiando sua lembrança, estava lá a fonte da juventude.

As velhas sendo trazidas enfermas, em carroças de madeira, pedaços de pano branco na cabeça, elas não queriam mostrar os cabelos brancos, ou a ausência deles. Senhoras de roupas que cobrem o corpo inteiro, sem a formosura e a volúpia dos corpetes onde saltavam seios exuberantes. Os seios caídos de flacidez, o retrato da vergonha, pintado sobre a forma de uma velha sentada na beira da fonte, agachada, seminua, com a vergonha estampada no rosto. Ela parecia olhar para Dona Rita, e dizer que a vergonha a impede de mostrar suas “vergonhas”, que aquele corpo ali já foi “bonito” um dia, a velha agachada olhava para Rita, senhora da era moderna, com os seios flácidos, pele já tão enrugada. Imaginou-se ali, naquele local, em 1546, o senhor de vestes vermelhas, segurando um livro, avaliando se ela podia ou não entrar na fonte da juventude, estaria ela, velha o suficiente para querer ser rejuvenescida? Velha o suficiente para tirar sua roupa, em frente a uma multidão, entrar na fonte, banhar a alma em águas de cirurgia plástica, carregadas de Botox. Rita até então obedecia à lei natural das coisas, pois ao Tempo não podemos enganar, nem a Morte.

Dona Rita dirigiu-se em direção ao espelho. Tirou todas as roupas, soltou os cabelos. Estava ali, em frente ao espelho, nua, crua e…Velha. Os cabelos brancos escorrendo nas costas, os seios flácidos que seu velho Homem tanto amou…Seu velho Homem…

“Estou velho querida…- dizia ele, olhando nos olhos dela, desde os trinta e um anos de idade…balbuciava…”Estou velho, não tenho mais a flor da juventude…”, este Homem, durante todos os anos que passaram juntos, nunca queixou-se da beleza jovial que aos poucos se perdia do corpo dela. Os seios ficaram flácidos, ele continuou amando-os; as rugas apareciam contando histórias no rosto dela, ele continuou beijando-lhe a face; a pela já não era tão mais macia, com a suavidade de uma pétala de flor, ele continuava deslizando os dedos na pele dela. Aquilo o fez único no mundo, ela nunca mais quis homem algum. Depois de tantas aventuras em braços cujas almas não se completavam. Os tempos de procurar um Amor que não fosse mesquinho e vazio foi embora com o sopro do vento que sacudiu os cabelos na noite em que conheceu o elemento saudade, o dono do peso dela nos ombros. Naquela época, seus cabelos não eram louros, mas sim negros, mas ela sentia-se como as ninfas loiras e rejuvenescidas de Lucas Cranach, viu ali o retrato de sua vida, pintado em dois lados, do lado direito, as festas, jantares, bailes, flertes…Músicas de rock’n roll, bossa nova, tropicália, sexo em Woodstock. Do lado esquerdo, ela, sozinha, nua na frente do espelho.

– “Estou velha querido…Estou velha…Agora, EU que me sinto velha. Que saudades…De você, da nossa juventude, da nossa velhice, dos teus olhos…

E nos ombros sentiu a vasta saudade dos seus tempos de ninfa. A saudade galopando na rajada do tempo, o peso dos ponteiros do relógio. Deveríamos nascer velho e morrer jovens, tal como na estória do Fitzgerald. O curioso caso de Rita estava ali, no reflexo do espelho, os ponteiros do relógio não voltavam, sua eloquência em fuso horário, entrando agora em anti-horário. O gato a olhava da janela, e lambia as patinhas. Seu cão, também velho, porém cego de um olho e quase surdo, dormia ao pé da cama, abria os olhos, devagar, ficava observando e depois voltava a dormir.

Rita foi em direção ao banheiro do quarto, tomou um longo banho, a pele já era enrugada o suficiente para se preocupar com o tempo que passaria embaixo do chuveiro. Secou-se, entrou embaixo dos lençóis, nua…Não precisava de pílulas para dormir. Sonhou…Sonhou com a fonte de Cranach. Do lado direito, seu marido rejuvenescido a esperava. Ela estava do outro lado da fonte, tirando as roupas para entrar. Deu um mergulho, lavou o corpo, depois outro mergulho. Chegou do outro lado e entrou com ele numa tenda de veludo vermelho. E desde então, Dona Rita nunca mais acordou. Foi rejuvenescida com massa fúnebre…

Entranhas com alho frito.

Algumas pessoas se autocanibalizam, por falta daqueles que não tem colhões suficientes pra encarar suas verdades estampadas e escarradas pra fora, temos tendência de gostar daquilo que só passa a mão na nossa cabeça, aqueles que cospem sinceridades, são os chatos da vez, tão demodê… Se este termo não existe, autocanibalização eu acabei de inventá-lo agora. Não estou nem aí para o que vão pensar. Enfim, vamos falar de autocanibalização e canibalismo:

Algumas pessoas comem suas próprias entranhas fritas com alho e sal em frigideiras antiaderentes, sim…ANTIADERENTE, temos amor próprio, não queremos nossas tripas grudadas, queimadas. Nós engolimos nossos próprio sentimento. Já engoliu o orgulho?Então, ele tem gosto de fígado acebolado. Paixão tem gosto, olha só que clichê maravilhoso: coração!Ahhhh os clichês, tem horas que não conseguimos escapar deles. Entranhas tem de serem engolidas sem muita frescura sabe? E então, já se perguntou o porquê? Eu lhe digo que é para puramente não se perder a essência. Quando temperamos muito, temos sentimentos mascarados, e as coisas não devem ser assim. Temperamos apenas para não dar um gosto tão horrível, mas se temperarmos demais, nós não conseguiremos sentir textura, sentir nada. Tudo tem de estar em equilíbrio, até porque senão ficaremos loucos, mais do que já somos, enjaulados na clausura de nossa autocomiseração. Sejamos misericordiosos com nós mesmos. Comeremos nossas tripas e lamberemos os beiços, por unicamente, Amor-próprio, coloque um pouco de sal e engula tudo a seco. Se quiser cuspir, cuspa, mas não faça cara de nojo, poupe-me, o mundo já está nojento demais em meio da natureza vazia dos outros. Tem entranhas que são podres, nem precisa chegar perto para sentir o mal cheiro. Mas sempre tem gente que encara, e acha gostoso!Hummm delícia!Depois vem chorar nos ombros. “Comi uma guria, mas ela me usou”… Ohhh pobre coitadinho!As vadias chupam-lhe o pau e depois quando você diz eu te amo, elas te abandonam, como uma cachorrinho na rua. Ou você, guria bonita, inteligente (não vamos falar de vadias burras, eu já escrevi um pouco delas na linha de cima, me poupe), respeita o cara, não faz dele um brinquedinho, uma marionete de seu teatro infame. Você morreria pelo imbecil, mas ele não está nem aí pra você. É sempre assim, o ser humano é foda, gosta daquele que pisa, ou aquele que não lhe dá nem um pouquinho de atenção. E nós, como diz Renato Russo, esperamos um pouco de atenção, e nossa arrogância tem gosto de fel…Aquela bile que fica na boca quando não se tem nada mais pra vomitar.

Sabe, eu queria escrever esse texto nas costas, sair por aí, correndo pelada. Eu poderia colher cada flor do asfalto amaldiçoada pela falta de atenção, porque você estava pensando em comprar um carro zero, e esfregar na cara daqueles que não dão valor pra nada, aquele que não fala bom dia, aquele que não tem consideração nenhuma por quem está sempre do teu lado. Ahhh, mas se nós cuidarmos das flores, vêm a porra de um carneiro e a engole. Então meu querido ser quase dotado de massa cerebral, valeu a pena pra você?Você cuidou bem da sua flor, ela lhe fez sorrir?Sim?Ótimo!É isso que importa, você deu o máximo de si, pra que ficarmos nos lamentando? É eu sei, adoramos lamentar…Adoramos encontrar agulhas em palheiro. Adoramos criar fatos que não existem. Se cuidou da sua flor, chegou um carneiro e comeu, da próxima vez, cuide melhor da sua rosa, do seu girassol, faça menos cagadas, talvez se você tivesse plantado sua flor com um pouco de amor próprio, talvez ela não morreria…

Ando por aí, segurando minhas tripas, que escorrem do meu ventre, aberto, meu peito aberto, rasgado… Olha só…quer comer meu coração com molho pardo e azeitonas? Tem vinho aqui em casa, vinho vai bem com carne, mas segure a taça do vinho pela base. Sou uma puta exigente meu querido. Para devorar minhas entranhas você não pode ser um estúpido mesquinho. Para eu lhe dizer, entre de novo, você tem que me olhar por dentro, eu não sou apenas uma mulher bonita em cima de um salto alto, toda arrumada, eu acordo cedo com a cara amassada, tenho muitas vezes preguiça de tirar a maquiagem pra dormir, e às vezes eu bebo demais e acordo no outro dia de ressaca, com uma dor de cabeça dos infernos. Posso te amaldiçoar, posso chutar-lhe da minha cama, mas depois eu vou lhe estender a mão, e vamos nos amar em meus lençóis velhos, tão cheios de perguntas, muitas sem respostas. Beberemos, vamos brindar…Vamos devorar um ao outro, que tal? Fazer uma salada de entranhas, se você já guardou suas tripas pra dentro, pois já estavas cansado de ser julgado por ser assim, vem aqui, eu vou fazer-lhe um rasgo e colocar uma linda fita de cetim, suas tripas lindamente amarradas, meu presente.  As minhas são amarradas com um pedaço de cetim vermelho escandaloso. Elas estão servidas aqui pra você. Coma-as ou apenas olhe, simples assim, porque as coisas nesta vida tem de ser complicadas? Vem aqui, seu corvo tímido, venha crocitar seus medos e soltar seus demônios em cima de meus ombros. Estou à disposição, corpo, alma…E entranhas, servidas no alho frito.

Ahammmmm...
Ahammmmm…

Incubus

Isabella acordou tarde, queria aproveitar a folga que ganhou do trabalho. Tomou um banho morno para espantar a sonolência depois de uma noite regada a dois comprimidos de Rivotril de meio miligrama, e duas xícaras de chá de erva cidreira. Aprendeu com seu pai a arte de apreciar uma boa xícara de chá. Aprendeu com ele e um amigo que chá e silêncio são grandes aliados. Lembra ela, em tempos de adolescência,, quando passava as tardes de seus dias deitada na rede da varanda da casa dos pais, com seus livros emprestados da biblioteca do colégio, pois naquela época ela não se dava ao luxo de poder comprar os livros que quisesse. Seu amado pai sempre dizia que se ela estudasse, teria tudo aquilo que quisesse, pois o suor de sua labuta sempre valeria à pena, por mais que à princípio tivesse que abrir mão de muitas coisas. Ela, em devaneios de adolescente, imaginava-se tendo em sua casa uma enorme biblioteca, e não hesitaria em pagar caro em um livro, pois livros eram a sua fuga. A realidade sempre foi muito cruel para ser respirada com exclusividade. Ela precisava de uma válvula de escape.

Dez anos se passaram desde seus saudosos quinze anos, e hoje ela toma conta de sua própria vida, mas tinha muitos sonhos a serem realizados pela frente. Era muito jovem para querer ter tudo o que almejava. Ela tem algumas listas mentais de desejos a se realizarem até o dia que não pertencer mais a este mundo.

Naquela manhã de segunda, o dia nasceu indeciso. Era uma manhã cinzenta, intercalada por tímidos raios de sol. O ônibus chegou, ela disse bom dia ao motorista e sentou-se na poltrona da frente. Tirou um livro da bolsa, um livro sobre a temática da abordagem da feiúra em obras de arte. Ela permitia-se em apreciar o feio, o cruel, o anormal…A feiúra também tem sua dádiva, e em uma obra de arte, ela se enche de significados. Chegou em um capítulo que falava sobre demônios, nas mais possíveis esferas do que se pode ser considerado como arte. Havia ali um quadro. Havia uma mulher seminua sendo seduzida por um demônio. Ela encantou-se pela pintura ali refletida, aquele demônio cheio de luxúria apoiado no corpo branco de uma mulher perdida em devaneios oníricos, uma das mãos do demônio, apertava o seio. Olhou aquilo e lembrou-se, que Jung chamava isso de Incubus. São demônios causadores de sonhos eróticos em mulheres. O correspondente ao sonho eróticos dos homens, chama-se Sucubus.

incubus2

Isabella também tinha sonhos eróticos, e confessa que são aqueles que ela mais gosta, pois acorda mais disposta. Ela não tem aquele senso religioso de que está com o capeta no corpo. Sexo é uma necessidade, não é pecado, é prazeroso, bonito, puro. Naquela madrugada ela teve um sonho, permeado por um lindo demônio de olhos azuis, um anjo caído. Jazia ele como uma maldição entre as pernas, e na madrugada de outono ele lhe aquecia, encantava-lhe com o seu sorriso angelical e sua fúria sexual, o calor que precisava naquela noite e nas que viriam também.

Acordou descoberta, nua, cobertores ao chão. Um ventinho frio entrava pela fresta da janela, mas havia um calor úmido entre as pernas, sabia que seu demônio cor de olhos celestes havia lhe feito uma visita. Era como se ele tivesse as cópias das chaves de sua casa, e tivesse entrado de mansinho, dentro de sua casa, no seu caos organizado. Ele a olharia serenamente dormindo esparramada em sua solitária cama de solteiro, e a invadiria, apoiando-se sobre o peito dela, mãos descendo ventre abaixo.

Com aquela lembrança de seu sonho sem vergonha da madrugada, ela tentou mudar de rumo de pensamento. Olhou pela janela e contemplou várias flores que nascem em pleno asfalto. Viu uma senhora regando as plantas com um pequeno regador de plástico, e que via aquela senhora todas as manhãs, exceto em dias chuvosos. Aquela senhora, em dias de chuva, devia apoiar-se janela e contemplar a chuva dando um descanso pra ela. Um presente da natureza, uma dádiva do céu, e enquanto isso, ela tomava goles de café descafeinado  Isabella adorava isso, imaginar situações, reações, mas sem ter aquela neura de ter que comprovar que todas as suas convicções eram verdadeiras.

Voltou para o livro, lá estava a imagem do Incubus invasor, e ele voltou a atormentá-la, olhando nos olhos. Doce tormenta, pensou ela. Contorceu-se, cruzou as pernas no ônibus, eis aí uma tática para estimular o prazer sem ser percebida. Se apertava toda, e sua face pegava fogo. Queria ela que o dia acabasse logo, e que a noite chegasse majestosa, que o Sono a chamasse, um convite para se deitar nua debaixo das cobertas. Quando ela fechasse os olhos e no primeiro suspiro de sono majestoso, seu adorável Incubus a invadiria, deixaria seu corpo úmido como a grama de uma manhã de orvalho, uma tempestade a inundaria, escorrendo do meio de suas pernas. Vergonha…vergonha era algo que Isabella definitivamente não sentia.

girassol..
Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância.
O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.
(Sonho de uma Noite de Verão)
William Shakespeare

A imoralidade mora no céu…E no coração dos homens.

Este texto é a coisa mais imoral que eu já escrevi. Eu sou humana, fraca, eu tento resistir à tentação, mas ela é mais forte do eu. Eu não sou um eco de ninguém, apenas permito-me escrever um fluxo de pensamentos, um fluxo de coisas que fazem parte da minha tão simples vida. Sim , eu escrevo sobre a vida, eu adoro metáforas, eu acho a sutileza algo extremamente elegante. Eu demorei muito para escrever essa metáfora sobre o Sol e a Lua, entre outras coisas da Terra, eu terminei de escrevê-lo eram três horas da manhã. Fiquei por minutos, pensando se valia a pena publicá-lo ou não. Publiquei primeiramente no meu outro blog, que um grupo de escritores e ilustradores. E por que, você se pergunta, que eu fiquei por tempos pensando se publicava ou não? Porque este texto pode ser considerado muito, mas muito, absurdamente imoral. Mas este texto tem alma própria, é bonito, sensível, e se eu pensei em alguém pra escrever isso, não é porque não tenho idéias próprias, mas a partir do momento que algo entra em nossas vidas a ponto de refletirmos sobre nossas atitudes, razões, emoções, que nos traz um sorriso mais largo, enfim, não creio que seja imoral. Pode ser um tentação irresistível, claro, pode mesmo, e o que nos resta, como seres humanos, é quando não podemos vencer nossas convicções, nos entregamos ao pecado. E teria outro jeito? Renunciar, talvez, eu sou teimosa, odeio renúncias, sou uma eterna errante, eu não nego e não renúncio, eu luto até o fim. Não sou de renunciar sentimentos, já machuquei-me muito por ser assim, mas creio que tudo nesta vida vale a pena, tudo nós levamos como uma lição, e não devemos deixar de correr riscos. Sigo por aí, traindo minhas convicções, pecando, mas não deixo de ser única, ter virtudes reais, sentimentos intensos, ideias e pensamentos que voam como uma folha na fúria de um vento. Se deixo-me inspirar, é porque permito-me olhar o que há de Belo nesta vida, e eu não falo só de lindos olhos azuis e um sorriso. Existem muitas coisas além disso,  muitas coisas além do que os nossos olhos enxergam. Somente a Beleza não me basta, é preciso que toque meu coração e que me tire completamente da toca. São bem poucos, não passa nem de uma mão, se eu contar nos dedos, as pessoas que me fizeram crer que nem tudo está perdido. Sou uma eterna errante, tal como Dom Quixote, estou sempre em busca de causas perdidas.

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Este texto que vem logo abaixo é um conceito. Deve ser lido como uma fantasia, um sonho, uma metáfora. O Sol, a Lua, como dois apaixonados, trocando mensagens entre si.  Quem sabe, você, querido (a) leitor (a), leia este texto pensando na pessoa amada, mesmo que ele (a) não esteja anos luz de distância, mas sempre, ao amanhecer, no pôr do sol ou numa noite de lua cheia, quando olhar para o céu, é o sorriso desconcertante do ser amado que lhe surge  na memória. O amanhecer e os primeiros raios da manhã que nos aquece, o entardecer e os raios alaranjados do Soberano Sol, a Lua com suas fases…Todas esses fatores “astronômicos”, influenciam não só o movimento das marés do oceano, mas também os sentimentos e pensamentos dos homens e mulheres na Terra. Já dizia Lord Henry, em “O Retrato de Dorian Gray”, livro de Oscar Wilde:

– Não existe boa influência – respondeu Lord Henry. – Toda influência é imoral – imoral do ponto de vista científico -, porque influenciar uma pessoa é dar-lhe sua própria alma. Ela já não pensa com seus próprios pensamentos nem sente suas próprias paixões. Suas virtudes não são reais para ela. Seus pecados, se existem tais coisas, são emprestados. Torna-se um eco da música de outra pessoa. O objetivo da vida é o autodesenvolvimento. Cumprir a própria natureza perfeitamente – essa é a razão por que estamos aqui. As pessoas têm medo de si mesmas, hoje em dia. Esqueceram-se de seu principal dever. Claro que são caridosas: alimentam os famintos, vestem os mendigos. Mas suas próprias almas morrem de fome e estão nuas. O terror da sociedade, que é a base da moral, e o terror de Deus, que é o segredo da religião, são as duas coisas que nos governam. Mas eu acredito que se um homem vivesse sua vida completamente, desse forma a todo sentimento, expressão a todo pensamento, a realidade a cada sonho, acredito que o mundo ganharia um impulso novo de alegria. Mas o mais corajoso dos homens tem medo de si mesmo. Cada impulso que lutamos para estrangular aninha-se na mente e nos envenena. O corpo peca uma vez e não tem nada mais a ver com o pecado, pois a ação é um modo de purificação. Nada permanece, a não ser a lembrança de um prazer ou desgosto. A única maneira de se livrar de uma tentação é entregar-se a ela…

Quando o Sol ou a Lua não aparecem, é porque estão cansados de ser a inspiração e influência amorosa dos seres da Terra. Eles se entristecem de tal forma, que se escondem por trás de nuvens. Por vezes, a lua fica minguante, ela quer mostrar apenas uma parte da sua saudade, mas ela é amada mesmo assim. Nós, humanos, entregamos todas as nossas tentações e pecados embaixo do calor de uma estrela imponente, e fazemos declarações sob o Luar.

Espero que gostem, e que ao terminarem de ler este texto, pensem na pessoa amada, mandem uma mensagem dizendo “Eu te amo”, ou dizer que está com saudades, e agradeça, de alguma forma, por essa pessoa ter surgido em sua vida e iluminado seu sorriso e razão de viver. E se você, querido (a) leitor (a), que ama alguém, e a pessoa não saiba disso, meu amigo (a), eu digo-lhe que a vida é muito curta para não tentar. Não se vive sem correr riscos, lembrem-se disso. Obrigada e boa leitura!

Prólogo.

– No começo existia apenas a escuridão. Então surgiu o sol, seu nome é Guaraci. Um dia ele ficou muito cansado e precisou dormir. Quando Guaraci fechou os olhos, tudo escureceu. Então, para iluminar a escuridão deixada por ele, enquanto ele fechava os olhos por longo período de tempo, ele criou a lua, e lhe deu Jaci, de alcunha. Ele Guaraci, criou uma Lua tão bonita que imediatamente apaixonou-se por ela. Encantou-se de uma forma tão intensa, que o seu brilho a ofuscava, como se ela estivesse assustada perante tal intensidade de seus raios de sol. Ela, Jaci, era uma menina desajeitada perante o brilho inebriante do Sol, e este, um menino desajeitado perante a intensidade da Lua. A Lua desaparecia tímida, quando o Sol aparecia. Guaraci criou, então, o Amor, deu-lhe o nome de Rudá, e este era seu porta-voz. O Amor até então, a única coisa que ele conhecia, era a Luz ou as Trevas. Não importando as estações do ano, a passagem do tempo, o momento, não importava nada… Rudá sempre podia dizer a Jaci o quanto Guaraci, o rei soberano, era apaixonado por ela. Vendo que a Lua estava sempre sozinha, Guaraci criou também companheiras para ela. Deu-lhe o nome de Estrelas, elas tornaram-se então, suas irmãs. O rei soberano, enquanto dormia, não queria que sua amada ficasse sozinha. Os dois se amavam, apesar de toda distância. Guaraci ama tanto a Jaci, que lhe deu seu brilho e calor enquanto dormia.
De tempos em tempos, os amantes se tocam… E quando eles transformam-se em seres únicos, mesmo na efemeridade deste encontro, visto à unidade de tempo do nosso universo, o Amor, a maneira de como um toca o outro, se torna única. E foi assim, segundo os indígenas, que tudo o que existe quando olhamos o céu, é fruto do Amor de Guaraci e Jaci.

Cartas ao meu Rei Soberano

Esta noite eu me lembrei de você. Não sei por que exatamente escrevo-lhe “Esta noite”, pois você sabe que todas as noites, aqui no nosso céu, você sabe que eu penso em você e que eu posso sentir seus raios me aquecendo mesmo em noites de inverno, mesmo quando as nuvens me encobrem, quando eu me sinto cansada da contemplação dos seres humanos, quando o uivo dos lobos, e o miado dos gatos que namoram nos telhados ou em árvores, enfim, estes sons me enlouquecem e por momentos, meu Amor, eu quero ficar surda. Quero apenas que me toque, e que me aqueça ainda mais. Quero que olhem nosso Amor, e fiquem todos cegos. Alguns humanos, eu percebi, ficam acanhados perante um casal que se ama, os que estão solitários, olham pra mim e me pedem uma paixão, um Amor, alguns, sofrem, platonicamente, e me pedem que lhe trague o ser amado ao qual amam à distância. Eu posso ver o amor platônico deles rolando numa cama iluminada pela minha luz, mas nesta Terra, os humanos acreditam em algo que eles chamam de Esperança. Eu também, todas as noites, eu tenho algo bem semelhante a este sentimento dos terráqueos, seria também, Esperança? Amor, meu rei soberano, queria que o Universo adiantasse nosso encontro. Eu sinto muitas saudades, mesmo você deixando em mim todo o teu calor, eu sinto uma saudade extrema do momento efêmero de deitar-me em teu peito.

Esta noite, quando olhei lá embaixo, num bairro de subúrbio qualquer, eu encontrei uma flor chamada Girassol, dizem por aí que ele é UM flor, e não UMA flor. Ele é lindo, imponente, de uma beleza que o nosso amigo Tempo me contou que é como um verbo que não se conjuga. Alguns humanos se calam perante a Beleza do Girassol, outros dizem, o quanto é belo, tão belo quanto tu. Outros humanos, dizem que seus amados possuem a mesma beleza e sentimentos do Girassol. Um lobo me contou, que o Girassol, em dias chuvosos, murcha e coloca-se a olhar para os pés, tímido, como se estivesse acuado, ou se a chuva trouxesse a ele todos os tons de cinza que ela carrega. Ele, Girassol, agradece pelas gotas de chuva que caem aos pés, se sente pleno com a água escorrendo nas pétalas, mas ele sente falta do teu brilho, sente falta do teu calor aquecendo-lhe as pétalas. Quando você o aquece e ilumina, ele fica altivo e contente.

O lobo contou-me também, que o Girassol também gosta do silêncio. Ele pede para aqueles que pousam em seu ombro, que respeitem seu Silêncio. O Girassol é de poucas palavras, o Silêncio que ele carrega, é como um belo poema. O Girassol se fosse um ser humano, como os homens que caminham na Terra, ele amaria com olhos.

Alguns pássaros pousam nele e comem as sementes que saltam de seu miolo. E ele não esbraveja, sente-se feliz, e um dia, ele finalmente morre. Mas alguns pássaros, distraídos, deixam algumas sementes caírem ao chão.  Depois de alguns dias de chuva, outros dias iluminados com tua Força, Beleza e Calor, outro Girassol surge, mas, todos os Girassóis, me disse o Lobo, ficam extasiantes diante de ti. Eu confesso meu Amor, eu senti uma ponta de ciúme desta flor, pois ela está lá, sempre lhe contemplando, isso me perturba um pouco, pois sou eu, a sua Dama, aquela que lhe espera, sempre nova, para poder me aconchegar-me no teu peito, encher-lhe de beijos, e sussurrar meu êxtase nos teus ouvidos. Mas eu percebo, que da mesma maneira que aparentemente o Girassol lhe contempla, ele também me observa nas noites de minha estação nova ou cheia. Ele me olha, nos olhos, parece que quer me dizer algo, mas não consegue. É como se o Silêncio que ele carrega timidamente, fosse uma forma de aplauso. A Beleza do Girassol me deixa extasiada, por lembrar tanto você, as pétalas do Girassol, lembram-me teus raios, que me envolvem naquele momento que eu tão espero.

Eu te amo meu Amor, eu sei que já lhe escrevi isso, durante toda a nossa existência. As nuvens me dizem que você também sente saudades, que quando fecha os seus olhos e eu abro os meus, é comigo com quem sonha. Peço-lhe meu querido, toda a calma do universo. Eu, sempre mais expressiva, talvez porque os humanos, uma espécie de humano que eles chamam de “Poetas”, dizem que eu tenho alma feminina, que sou como as mulheres na Terra, porque elas, assim como eu, são cheias de fases, mas todas elas querem um abraço, o calor de um homem, que neste caso, dizem por aí, estes mesmos “Poetas”, que você, meu Sol soberano, é como o Homem, pois é de poucas palavras. Você gosta do Silêncio, eu sou verborrágica. Rudá entrega-lhe minhas mensagens em muitas linhas, você é tão calado que sinceramente eu lhe digo que teu silêncio por vezes me corrói. Eu me preocupo contigo, eu sei que estás aí, brilhando alto e imponente, que às vezes, como o Girassol, se esconde encolhendo-se em dias de chuva. Mas você não é sempre assim. Uma coruja buraqueira contou-me, que um dia, estava chovendo, e ela estava tomando um banho no toco de uma cerca na beira da estrada. E você apareceu, no meio da chuva, e fez uma coisa que os humanos chamam de arco-íris. Mas, ela disse-me que você chora toda vez que faz isso, ao entardecer. E você, em seu silêncio, nunca me contou.

Enfim, saiba meu Amado, que enquanto você estiver vivo, radiando seu calor, em Silêncio, eu sei que está por perto, pois eu sinto teu calor toda vez que eu acordo, e ele me lembra do dia em que eu me deitei em teu peito. Fique bem, pois aonde quer que esteja o meu pensamento eu levo junto a ti. 

Cartas do Rei Soberano para sua Rainha.

Olá, tudo bem? Andei muito ocupado. Alguns humanos estão construindo centros que captam minha energia. Chamam isso de Energia Solar, inserido num contexto que eles chamam de sustentabilidade. Eles me sufocam, e eu também os sufoco com o meu calor. Mas eles estão me sufocando tanto, que qualquer hora vai ter daquelas minhas tempestades solares. Ando muito cansado. Desculpa se eu não falo muito contigo. Sabes tu que eu gosto do silêncio, eu não tenho toda a sua intensidade, entenda, este é o meu jeito de ser.

Eu tenho uma surpresa pra você, estive conversando com tal de Deus, e ele me disse que há muito tempo atrás, ele criou uma espécie de flor que se assemelha a mim. O nome dela é Girassol, ele tem minhas cores, é calado. Tu já deves ter olhado para ele, e se sentido estranha alguma vez. Deus me confessou que fez à minha imagem e semelhança, algo que os humanos chamam de metáfora. Conhece essa palavra?Achei-a bem bonita, ME-TÁ-FO-RA, lindo não é? Deus disse que esta flor, fica imponente com meus raios, e quando eu vou dormir, este tal de Girassol fica na terra, e quando você aparece, ele contempla-lhe, e de uma maneira simbólica, “metaforicamente” falando, aquela flor ali, sou eu olhando pra ti. Deus é tão sacana, depois de bilhares de anos, ele foi-me contar isso só agora. Aquele Girassol é um mimo pra você, se você o olhar, e amá-lo, é a mim que está contemplando. Quando eu acordo, o Girassol sempre me fala que você estava linda, com suas manchinhas. Desculpe-me falar disso só agora, eu ando meio esquecido. Eu sempre esqueço as coisas, esses dias eu esqueci um dos meus neutrinos no espaço, achei até que havia esquecido, porém, desta vez eu encontrei.

Esses dias foram chuvosos, eu não apareci no céu, mas tentei pela bilionésima vez deixar um presente pra ti. Eu sou teimoso, eu sei que talvez não vá dar certo nunca, mas eu não desisto. Um dia você vai acordar, e a noite irá nascer duas vezes pra ti. Quando chove, eu saio timidamente da minha toca, e tento criar junto com minha amiga Chuva, um arco de sete cores. Você me disse que gosta de cores, e eu vejo sua alma assim, cheia de cores, nuances. Mas eu fico triste, pois esse arco é efêmero, quando chega o entardecer, ele some. Se você pudesse ver a Beleza dele, se encantaria. Eu sei, eu já lhe disse que a influência é imoral, mas se você pudesse ver o arco-íris, seria tão lindo. Estarei eu traindo a minha convicção?Eu acredito que não poderia ser melhor, mas eu confesso, eu sou como o Homem lá na Terra. Dizem os humanos, que o homem perante do que é belo e caótico, sente-se como um menino desajeitado. Eu não lhe prometo a mesma intensidade verborrágica, não tenho a mesma coragem que tu. Meus instantes, talvez sejam mal traduzidos, mas é minha forma de ser. Peço que releve isso. Boa noite querida.