Encontro

Tentei encontrar abrigo na ponta dos dedos. A língua salivante no céu da boca enquanto a noite de verão tece seus desejos e infortúnios e a fome e loucura assombra-me entre as pernas. Tento, talvez em vão, encontrar o momento de sobriedade na realidade além daquele quarto quente cujo ventilador exausto espalha o vento quente e viciado. Na penumbra deste quarto pestilento de desejos não realizados e versos mal construídos e sem compromisso, vejo minhas fotografias de criança penduradas na parede, próximas ao espelho. Aquela menininha banguela, pirracenta e cheia de ironia me dá um sorriso envolto de sarcasmo. Entro então em uma prosa em primeira pessoa, uma lembrança de um tempo em que a vida consistia em ficar em cima do telhado de casa, era a vida vista de cima, sob o olhar curioso de uma criança cheia de perguntas e que na maior parte do tempo, passava sozinha, tentando entender  algumas metáforas que surgiam naquele pequeno mundinho que a cercava. Aquela criança que me encarava naquele papel antigo de fotografia, achava que beijos apaixonados era nojento. A saliva quente se misturando nas bocas alheias não era o que hoje é pra mim uma sinfonia gostosa escorrendo em baixo ventre. Diante de fantasias e pensamentos eróticos, uma banho frio nesta noite pestilenta traria-me novamente a razão e a sanidade. Voltei a lembrar da enorme ratazana que eu e os vizinhos encontramos no quintal… Um café me faria bem agora. Um café forte, quente e denso…

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