Eu perdi o alvorecer desses dias tristes de inverno e a neblina indecorosa
Mal conseguia aceitar meus olhos lacrimosos diante de meu desconcerto
Esperei por dias melhores durante amanheceres estoicos, sonhei… Outrora…
Outrora caminhei por onde as folhas indecisas e coloridas do outono agonizaram
Rasguei papéis amarelados com poemas manuscritos e malsucedidos, puro e sádico prazer
Acariciei milhões de grãos de areia dispersos em sonhos ásperos e úmidos de desejo
Sonhei com teus cabelos ao vento, teus passos indecentes embalados sem razão
Mas, tudo foi embora na fração de segundos naquela noite indecente, ainda era Verão
Era verão, outrora sonhei com teus lábios tremendo de frio e almejei a razão e a cura
Silenciei, minha loucura estendeu o chapéu e o brilho de teus olhos. Enlouqueci.
Outrora relembrei aquela ventania com tímidas luzes amarelas no horizonte
Lembranças… Agonizei na maresia gélida, como um animal perdido com fome
Disperso na noite a sentir frio, desprotegido, estrofes sem metáforas e métricas
Poderia ter escutado tua voz, seria como uma canção improvisada e talvez desafinada
Qual foi a última vez que eu escutei teu silêncio falar alto? Esqueci-me, irônica…
Apenas escuto o meu orgulho gritar minha sanidade ao longe, desejo cálido…
Um eco insano eu posso escutar ao longe, nas ondas do mar… Palavras cantadas
Jogadas ao vento, maresia ensolarada que me traz as carícias de lembranças
Lembranças que me atormentam nas úmidas noites que tanto desejei indecorosa
Tuas reticências embaladas à vácuo, uma sutil entrega de suas tímidas palavras.
O Amor em um campo de batalha, moinhos de vento são sempre dragões
Derrotas me trouxeram toda a minha razão já perdida em carícias de silêncio
Trouxeram meu ego enterrado debaixo da areia trazida pelo Tempo desajeitado
A saudade ainda permanece numa caixa obscura, trancada, surda e mentirosa
Meu sol de janeiro a abril desvaneceu como as últimas estações de meu amor
No próximo verão estarei a pensar na chuva rápida que me acalma, um desamor
Dilúvio a escorrer em minha janela, teu cheiro esmaecido na memória, amor…
Amor que eu trago, uma construção inacabada, um idioma sem tradução,
Uma flor seca na janela pedindo gotas tímidas que escorrem pelos meus dedos
O Amor em um campo de batalha, agonizando e desejando injeções de morfina.
A verdade tão inconveniente de teus pensamentos de instantes mal traduzidos
Caiu em meus ombros já tão pesados, talvez pelas tuas dores sem respostas
Sobrou em mim um resquício de minha natureza crédula e petulante, desnecessária?
Adormeci embaixo daquela árvore onde meu dia nasceu duas vezes, ensolarado
Em tons cinzentos, estendo meu desapego, sou incoerente diante tua distância
A saudade é apenas um eco de uma mentira que já foi uma verdade coerente
Encontrei em velhos poemas as mentiras confortáveis que me pertencem
Outrora eu almejei teus olhos insanos de tempestade e tua culpa, escárnio
Culpa… Culpa de se sentir calado perante os dias chuvosos, silêncio, escárnio…
Descansa alma intensa… Na calada da noite a saudade é apenas uma ironia… Escárnio?
Ironia… Estrelas provavelmente já mortas
Mas o brilho delas ainda nos pertence…
Ironia?
Não…
Saudade…
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Nihil sub sole novi – expressão em latim que significa: “Não há nada de novo debaixo do sol”.