As horas passam, sangue correndo nas tuas veias e artérias como um rio calmo em dia de inverno. E tem aquele frio, lá dentro, arrepiando a pele, apertando o peito, uma pressão, como um súcubo ou incubus sentado no peito, olhando-te enquanto dorme. É preciso ter nervos de aço para entender o além de todas as coisas. É preciso astúcia para entender as notas de uma música, e se não conhecê-las, tenha a astúcia para saber senti-las. É necessário o medo, a solidão, a saudade… É necessário um pouco de dor para nos tornarmos fortes, é preciso se encolher na hora de um pesadelo, para abraçarmos a nós mesmos. Que falta de amor próprio, queremos tanto o abraço alheio, mas nós mesmos não nos abraçamos todos os dias. Dias atrás vi em um muro, uma pichação: “Você já amou hoje?”. Já perdi as contas de quantas vezes eu disse não. Já perdi as contas dos dias que o sol não me dá nenhum sorriso. Ele é apenas algo que me esquenta, que aparece todas as manhãs, e no auge das três horas da tarde, ele invade minha sala e me dá aquela vontade de ficar nua no chão, com a luz do sol envolvendo minha pele e tirando aquela tristeza que me entope os poros. É quando eu permito sua luz me abraçar, é como o calor de um abraço. Entende? Não tenho o abraço da pessoa que eu amo, mas eu posso de alguma forma me permitir de usar uma metáfora para representar o calor de seu abraço, mesmo que seja em um dia frio. Eu amo o poder das palavras e toda a luxúria delas transando entre si. Adoro o calor, o amor e o desamor das metáforas. Seria bom se as pessoas fossem como as metáforas… Seria bom…