1- Moacyr Franco
Eu me lembro bem, quando ainda morava com meus pais, meu pai colocava a coletânea de ouro do Moacyr Franco. A minha vontade de morrer era imensa, e o sono também. Às vezes, meu pai me convocava para cortar cebola, em cubinhos pequenos e minuciosos. Eu não sabia se chorava por causa da maldita cebola roxa ou da música que me irritava. Bom, vamos lá, a cebola nos faz chorar porque ela tem camadas e quando rompemos suas camadas, é liberado um gás, derivado, adivinhem, do ácido sulfúrico. Bom, química a parte, que a propósito, era uma matéria que eu gostava muito, escutar Moacyr Franco era um sofrimento comparado a cortar minuciosamente uma cebola roxa em cubinhos, com a supervisão do pai. Teve um episódio engraçado, uma vez, em um final de ano, quando fomos a praia. Estava eu e meus irmãos num “rolê” na praia, e iria ter daqueles shows aleatórios. Todo mundo foi se aproximando do palco, pois iria ter um super show, segundo o anunciante. E então, ficaram todos lá na expectativa de ter um Led Zeppelin no palco (ok,exagerei), e eu me lembro que neste momento, eu estava com minha sobrinha numa roda gigante, apavorando ela, pulando igual besta retardada no banco, pra fazer a cadeira balançar e ela gritar de medo. Eis aí um motivo da minha carta de morada no inferno já estar assinada em três vias autenticadas no reino do Belzebu. Mas enfim, todo mundo lá na expectativa. Eu desci com minha com minha sobrinha do passeio na roda gigante, e fui atrás de meus outros irmãos que tomavam cerveja lá do outro lado. E toda aquela expectativa de quem iria se apresentar na bagaça. E eis que o apresentador anunciou, “E com vocês, para alegrar a noite, o ator, comediante e cantor, Moacyr Francooooooooooooo!”
E eis que ele aparece lá no palco, vestido de “Jeca Gay”. Para quem não lembra, Jeca Gay era um personagem de “A praça é nossa”, programa sem-graça do SBT. O trágico e engraçado ao meso tempo, foi o pessoal indo embora após as piadas, que foi quando ele começou a cantar. Me lembro bem, que ali, ao redor do palco, ficou apenas os maiores de 50 anos.

Brincadeiras a parte, aquela coisa de só pessoas com mais de 50 anos, gostarem de Moacyr Franco, eu venho através deste humilde blog, talvez confessar uma vergonha alheia. As músicas dele podem ser sonolentas, mas eu confesso que ele tem o talento pouco reconhecido.Não é algo que eu vou baixar a discografia e ficar ouvindo, mas é algo que meus velhos apreciam, e não é algo de má qualidade, muito pelo contrário. Tem uma música que ele regravou, que eu gosto muito, fala sobre a loucura, e eu pago um pau imenso para a letra. A música se chama “Balada para um louco”, a música original é de Astor Piazzolla, um cara que tem uns tangos maravilhosos.
Num dia desses ou, numa noite dessas
você sai pela sua rua ou, pela sua cidade ou,
ou, sei lá, pela sua vida, quando de repente,
por detrás de uma árvore, apareço eu!!!Mescla rara de penúltimo mendigo
e primeiro astronauta a pôr os pés em vênus.
Meia melancia na cabeça, uma grossa meia sola em cada pé,
as flôres da camisa desenhadas na própria pele
e uma bandeirinha de táxi livre em cada mão.Ah! ah! ah! Você ri… você ri porquê só agora você me viu.
Mas eu flerto com os manequins,
o semáforo da esquina me abre três luzes celestes.
E as rosas da florista estão apaixonadas por mim, juro,
vem, vem, vamos passear. E assim meio dançando, quase voando eu
te ofereço uma bandeirinha e te digo:Já sei que já não sou, passei, passou.
A lua nos espera nessa rua é só tentar.
E um coro de astronautas, de anjos e crianças
bailando ao meu redor, te chama: vem voar.Já sei que já não sou, passei, passou.
Eu venho das calçadas que o tempo não guardou.
E vendo-te tão triste, te pergunto: O que te falta?
…talvez chegar ao sol, pois eu te levarei.Ah! Ah! Ah! Ah!
Louco, louco, louco! Foi o que me disseram
quando disse que te amei.
Mas naveguei as águas puras dos teus olhos
e com versos tão antigos, eu quebrei teu coração.Ah! Ah! Ah! Ah!
Louco, louco, louco, louco, louco! Como um acróbata demente saltarei
dentro do abismo do teu beijo até sentir
que enlouqueçi teu coração, e de tão livre, chorarei.Vem voar comigo querida minha,
entra na minha ilusão super-esporte,
vamos correr pelos telhados com uma andorinha no motor.
Ah! Ah! Ah!
Do Vietnã nos aplaudem: Viva! viva os loucos que inventaram o amor!
E um anjo, o soldado e uma criança repetem a ciranda
que eu já esqueci…
Vem, eu te ofereço a multidão, rostos brilhando, sorrisos brincando.
Que sou eu? sei lá, um… um tonto, um santo, ou um canto a meia voz.Já sei que já não sou, nem sei quem sou.
Abraça essa ternura de louco que há em mim.
Derrete com teu beijo a pena de viver.
Angústias, nunca mais!!! Voar, enfim, voaaaarrr!!!Ama-me como eu sou, passei, passou.
Sepulta os teus amores vamos fugir, buscar,
numa corrida louca o instante que passou,
em busca do que foi, voar, enfim, voaaaarrr!!!Ah! Ah! Ah! Ah!…
Viva! viva os loucos!!! Viva! viva os loucos que inventaram o amor!
Viva! viva! viva!
Tem várias composições dele, que foram gravadas por vários outros artistas. Essa música em especial, eu, como já escrevi, acho a letra sensacional. A interpretação dele pode soar brega e extremamente antiga, coisa de avó, mas se eu acho o máximo escutar Bilie Holiday, Nina Simone, sem me sentir velha, porque não dar uma chance?E de pensar que hoje, eu até sinto saudades das músicas sonolentas e meio deprê do Moacyr, porque queira ou não, eu só escutava quando ficava perto do meu pai, e escutar isso, é lembrar do meu pai.
2 – Beirut, Caetano e Roberto Carlos
Hoje é domingo(ops…nem é mais!) e eu me lembrei de uma história, que um amigo deveras especial me contou, e eu achei incrível e meio vergonha alheia de não conhecer a história…bem vamos começar do começo, com Beirut e a voz maravilhosa do Zach Condon, um moleque que você não dá nada, mas que quando abre a boca se apaixona e a paixonite só tem começo, mas fim, nunca mais!
Encontrei este vídeo, que ele conta sobre a dificuldade de cantar em português. Eu amo Beirut, e adoro esta música do Caetano. E então, meu amigo perguntou se eu sabia a história dela, e eu que adoro uma história, quis saber. Bem, vamos para as conexões. Tem uma música chamada “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar de um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um instante
Ok, vamos lá para as conexões, essa música, indevidamente apelidada nas piadas ruins da vida, como “o melô do absorvente”(quem nunca ouviu essa, seguida de um facepalm sonoro na testa?), foi uma música que o Rei Roberto Carlos fez para…adivinhem!!!Yesssss!Caetano Veloso!!Na época, segundo o Denis contador de histórias, senhor enciclopédia musical ambulante, estava saindo para divulgação no exterior, e então o Robertão fez uma homenagem pra ele. Oras, todo mundo sabe que o Caetano tinha uma vasta cabeleira cacheada!

E o seu olhar tristonho
Deixa sangrar no peito
Uma saudade, um sonho
Um dia vou ver você
Chegando num sorriso
Pisando a areia branca
Que é seu paraíso
Olha só, o melhor, é que depois que você conhece a história por trás da música, tudo fica até mais bonito, faz sentido: “Um dia vou ver você, chegando num sorriso, pisando na areia branca”, o rei se referia quando Caetano voltasse para o Brasil, depois de divulgar a Tropicália mundo afora. Vamos lá que ainda não acabou!Caetano, emocionado, não deixou de homenagear o rei:
*****Pós-script: Denis interveio dizendo que eu errei, e e venho por essa humilde linha dizer que não foi Tropicália porra nenhuma, o Caetano foi exilado por causa da ditadura militar…então…esqueçam a Tropicália acima. O negócio mesmo foi fugir pra não morrer!
Gosto de ficar ao sol, leãozinho
De molhar minha juba
De estar perto de você e entrar no mar
Agora vamos lá: Leão, sol, juba…leão rei da floresta…incrível não é?A música “Leãozinho” foi o agradecimento do Caetano para o rei Roberto Carlos. E eu não posso deixar de dizer, que isso para mim foi genial, e surpreendente. Bom, eu adoro histórias…da hora…a vida!
E para finalizar, ontem foi dia dos pais. De presente para o meu querido pai, eu gravei a discografia do Cat Stevens pra ele. Father and Son, é uma música linda, e esta é minha homenagem pro meu velho, que eu fui visitar hoje e já estou com saudades:
It’s not time to make a change
Just sit down and take it slowly
You’re still young that’s your fault
There’s so much you have to go through
Find a girl, settle down
If you want, you can marry
Look at me, I am old
But I’m happy